Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

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1 Novembro de 2012 Crise econômica global alterou a dinâmica do consumo de proteínas animais em favor da carne avícola, movimento que deverá continuar em 2013 Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos A crise econômica global de alterou o perfil do consumo mundial de carnes em favor da carne de frango, movimento que deverá prosseguir em 2013, como reflexo do ajuste nas economias desenvolvidas e da continuidade de mobilidade social nos países emergentes, que permitiu à população de baixa renda ter acesso ao consumo de proteínas animais principalmente de carne avícola, cujos preços são mais acessíveis. Isso é o que aponta a análise dos dados do relatório semestral de carnes divulgado em outubro pelo USDA 1. Nesse sentido, analisando a evolução do consumo global de carnes do período pré-crise compreendido entre e, comparativamente ao pós-crise, definido como -2012, percebemos que a taxa de crescimento do consumo de todos os tipos de carnes desacelerou de 2,0% para 1,7% no período analisado, devendo desacelerar para 0,7% em 2013, segundo o USDA, refletindo a demanda fraca na Europa e nos EUA que juntos respondem por 1/3 do consumo mundial de carnes. Entre os tipos de carnes este movimento 4,0% 3,0% 2,0% 1,0% 0,0% -1,0% 1,4% 0,1% 3,6% 3,2% 1,6% -0,8% Carne Bovina Carne Avícola Carne Suína Complexo Carnes 1,3% 2,0% é bastante distinto, com expansão mais robusta para a carne de frango e perda de mercado para a carne bovina. Entre e 2012 o consumo global de todos os tipos de carnes cresceu 9% o consumo de carne de frango cresceu 17,1%, seguido pela carne suína que subiu 10,4%, enquanto o consumo de carne bovina caiu 4%. No entanto, a taxa de crescimento do consumo global de carne avícola também apresenta movimento decrescente passando de uma média de expansão de 3,6% entre - para 3,2% entre e para uma expectativa de expansão de 1,6% em Este movimento marcado por desaceleração da taxa de expansão do consumo e pela substituição entre as proteínas, em favor da carne de frango deverá continuar em 2013, como apontam as estimativas do USDA: o consumo global de carnes deverá crescer 0,7%, com maior elevação para a carne de frango com uma expansão estimada em 1,6%, seguida pela suína com 0,4% e pela bovina em apenas 0,1%. 0,4% Var. % do consumo - Var. % do consumo Var. % do consumo ,0% 1,7% 0,7% Variação % do Consumo Global de Carnes Fonte e (*) projeção: USDA 1 USDA Sigla em inglês do Departamento de Agricultura dos EUA. 1

2 Variação % do Consumo Global de Carnes Consumo - Consumo Consumo Fonte e Projeção: USDA 0 Carne Bovina Carne Avícola Carne Suína Complexo Carnes Neste contexto, a participação da carne bovina no consumo global de carnes caiu de 26,1% em para 23,1% em 2012, devendo retrair para 23% em 2013, ao passo que a participação da carne avícola subiu de 31,6% para 33,7% no mesmo período, devendo chegar a 34% em Já a participação da carne suína ficou estável na média de 43%. 47,0% 44,5% 42,0% 45,7% 45,3% 44,7% Carne Bovina Carne de Frango Carne Suína 44,0% 42,3% 43,0% 43,2% 43,6% 43,1% Participação % no Consumo mundial de carnes ,0% 33,6% 33,7% 34,0% 32,0% 29,9% 28,2% 28,1% 28,4% 29,4% 31,6% 31,6% 32,6% 27,0% 25,7% 25,4% 27,9% 27,1% 26,1% 26,3% 25,3% 24,5% 23,4% 23,1% 23,0% 22,0% Fonte e projeção: USDA Consumo mundial de carnes - em mil toneladas Carne Bovina Carne de Frango Carne Suína Fonte: USDA Leste Asiático UE América do Norte América do Sul CEI Oriente Médio África Consumo mundial de carne bovina - em mil toneladas Fonte e projeção: USDA

3 O movimento de substituição da carne de bovina pela avícola foi bem claro nos países desenvolvidos, que passam por ajustes econômicos e enfrentam elevadas taxas de desemprego. De fato, desde o consumo de carne bovina na América do Norte e na Europa caiu 8,2% e 9,6% nessa ordem juntas estas regiões somam 40% do total de carne bovina consumida no mundo, enquanto que no mesmo período o consumo de carne de frango cresceu 1,5% na América do Norte e 9,2% na Europa. Nos países emergentes o consumo de carne bovina ficou estável, cresceu apenas na América do Sul onde a expansão foi de 5%, com destaque para o Brasil que elevou o consumo de carne bovina em 10% no período. Já o consumo de carne de frango foi alavancado pelos países emergentes, onde o consumo se expandiu 24,0% entre e 2012, ao passo que nos países desenvolvidos subiu apenas 4%. No Oriente Médio, o consumo cresceu 37,7% e no Leste Asiático 18,4%. Nesse cenário o Brasil foi beneficiado, tendo em vista que o Oriente Médio responde por 38% das exportações brasileiras de carne de frango e a Ásia por 26%. O consumo de carne suína cresceu 10%, também com forte expansão nos emergentes, onde cresceu quase 20% enquanto caiu 4% nos desenvolvidos Consumo de carnes na Europa e na América do Norte - em mil toneladas Carne Bovina Carne de Frango Carne Suína Fonte e projeção*: USDA Consumo mundial de carne avícola - em mil toneladas Leste Asiático UE América do Norte América do Sul CEI Oriente Médio África Fonte e Projeção: USDA Esse cenário tem levado a uma dinâmica de exportações do complexo carnes no Brasil mais centrada na carne avícola em detrimento da carne bovina. Claramente, desde as exportações brasileiras de carne bovina caíram 40% em volume, ao passo que, no mesmo período, os embarques de carne avícola cresceram 16%. Em que pese a elevação de consumo global de carne suína no período analisado, mesmo assim as exportações deste tipo de carne caíram 21%, como reflexo principalmente da retração das compras pela Rússia, que vem reduzindo sua dependência externa, investindo na produção doméstica O mercado brasileiro de carnes tem forte dependência da demanda russa, o que representa um risco, dado que 20% das nossas exportações de carnes tem como destino este mercado. Mas, de todo modo, essa concentração vem se reduzindo nos últimos anos, com a conquista de outros mercados, o que possibilitou um pouco mais de pulverização, aspecto bastante positivo para setores exportadores. Prova disso, é que, em 55% das exportações brasileiras de carne suína estavam concentradas na Rússia. No ano passado essa concentração se reduziu 3

4 para 24,5%. Outros mercados como Hong Kong, Ucrânia, Angola, Cingapura, Uruguai e Venezuela ganharam participação, que passou de 22% para 54% no período. No caso da carne de frango o Brasil perdeu importantes mercados consumidores como a Europa que respondia por 20% das exportações em e passou para 6% em. A Rússia, que neste segmento não tinha forte concentração, também perdeu participação saindo de 7,7% para pouco menos de 2%. Houve maior pulverização dos mercados de destino, e dois países que ganharam relevância foram a China e a África do Sul que respondem cada um por 5%, antes uma participação de 1,5%. A carne bovina também perdeu mercados relevantes como a Europa, que respondia por quase 40% das exportações em, e passou para 9% em. Os EUA também, que já responderam por 7% e caíram para 1,2% no período. Em sentido contrário, o risco se concentrou na Rússia, que passou de 0,4% para 21,7% no período entre e. Apesar disso, essa participação na pauta exportadora do Brasil vem se reduzindo desde, quando foi de 28,6%, visto que a Rússia vem reduzindo sua dependência externa Hong Kong Ucrania Rússia Argentina Exportações brasilieras de carne suína por países de destino (soma 70% das exportações brasileiras de carne suína) em toneladas - Fonte: Secex Exportações brasilieras de carne bovina por países de destino (soma 70% das exportações brasileiras de carne suína) em toneladas Rússia Irã Europa Hong Kong Egito Fonte: Secex Japão Hong Kong China Arábia Saudita Emirados Árabes Exportações brasilieras de carne avícola por países de destino (soma 70% das exportações brasileiras de carne suína) em toneladas - Fonte: Secex 4

5 Segundo apontam as estimativas do USDA, este cenário deverá ter continuidade em 2013, sendo que o consumo global de carne de frango continuará crescendo acima do consumo das demais proteínas animais, com taxa estimada em 1,6%, frente à expansão esperada para a carne suína de apenas 0,4% e de estabilidade para a carne bovina em 0,1%. As estimativas do USDA apontam continuidade de retração do consumo de carne bovina na Europa e na América do Norte em 1,3% e 2,3% respectivamente em 2013, comparativamente a este ano, a exemplo do que já vem ocorrendo desde. Em sentido contrário as estimativas são de elevação nos emergentes, com destaque para o Leste Asiático e a América do Sul, expansão de 1,1% e 1,7%, que respondem por quase 40% do consumo global. O consumo de carne suína deverá seguir este mesmo movimento, com retração de consumo na Europa (-1,1%) e na América do Norte (-0,8%) e expansão nos emergentes em média de 1%. Para a carne avícola está estimada expansão de consumo em todas as regiões, com exceção para os EUA, onde é esperado recuo do consumo em 0,7%. Assim, o contexto global deverá continuar ditando a dinâmica das exportações brasileiras em 2013, mais direcionadas para a carne de frango. No entanto, as projeções do USDA apontam expansão mais robusta das exportações de carne suína pelo Brasil alta de 7% em volume, que deverá se beneficiar da abertura do mercado japonês para a carne do Estado de Santa Catarina a partir do ano que vem, seguida pela carne bovina elevação de 4%, ganhando mercado de exportação dos EUA por conta da seca que reduziu a produção local. Por fim, as exportações de carne de frango deverão crescer 3%. Com esta configuração, as exportações de carne de frango serão recorde, ao passo que a carne bovina embora em crescimento, não recuperará o nível exportado em Bovina Frango Suínos Exportações brasileiras do complexo carnes - em mil toneladas Fonte e projeção*: USDA As estimativas do USDA para consumo brasileiro são de elevação de 1,6% para a carne avícola, 1,4% da bovina e 1,1% da suína em Para atender o incremento de exportações e de demanda doméstica, o USDA projeta uma expansão de 2% da produção brasileira de carnes, na seguinte ordem: expansão de 2,0% da carne avícola, de 2,1% da suína e de 1,8% da bovina. Desde o consumo brasileiro de carnes cresceu a uma taxa média de 5% ao ano, com destaque para a carne de frango, cujo consumo se expandiu em média 6,8% no período, ao passo que o consumo de carne bovina registrou menos da metade desse crescimento, se expandiu em média 3,1% anualmente no mesmo período. O consumo de carne suína subiu 4,6% em média. Nesse contexto, enquanto a participação da carne avícola no consumo total brasileiro passou de 37,4% em para 48% em 2012, a participação da carne bovina caiu de 44,8% para 36,8%. A participação da carne suína também se retraiu de 17,8% para 15% no mesmo período. Isso é reflexo do incremento de renda da população e do efeito da mobilidade social nos últimos 10 anos mais de 40 milhões de pessoas ingressaram na classe média e ampliaram seu acesso ao consumo de proteínas animais, entrando no mercado consumidor de proteínas de preço mais acessível. 5

6 Bovina Avícola Suína Consumo nacional de carnes em mil toneladas Fonte e projeção*: USDA Em suma, o complexo carnes brasileiro deverá registrar ampliação de consumo doméstico e expansão das exportações em 2013, beneficiados pelo incremento de renda e do emprego tanto no Brasil quanto nos demais países emergentes. As exportações para os países desenvolvidos ainda deverão continuar se retraindo, refletindo a fase de ajustes econômicos e as elevadas taxas de desemprego vigentes. Somado a isso, os insumos da produção de carnes, principalmente ração à base de milho e soja, deverão exercer menor pressão de custos no próximo ano, favorecendo o alívio das margens que ficaram muito apertadas e até negativas neste ano, por conta da forte elevação dos preços internacionais dos grãos. Retrato do Setor Carne bovina Oferta EUA, Brasil e União Europeia respondem por 51% da produção total; Brasil, Austrália e EUA respondem por 53% das exportações mundiais; O Brasil exporta 18% da sua produção, a Austrália 65% e os EUA 7%. A Argentina exporta 16% da sua produção doméstica; Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango; Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo. Demanda EUA e União Europeia (juntos 36%), Brasil e China são os maiores consumidores mundiais, com 60% do mercado; A China importa 3% do seu consumo doméstico; Os maiores importadores são EUA, Rússia e Japão, que juntos respondem por 42% das importações mundiais; O Japão importa 49% do seu consumo interno, a Rússia 41% e os EUA 10%; Os principais países de destino das exportações brasileiras de carne bovina in natura são: Rússia 27% e Irã 21%. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne bovina são: 21,7% Rússia, 17,2% Hong Kong, 12% Irã. Carne avícola Oferta EUA, China e Brasil respondem por 55% da produção total; Brasil e EUA respondem por 70% das exportações mundiais; O Brasil exporta 26% da sua produção e os EUA 18%; 6

7 Demanda China, EUA, União Europeia e Brasil são os maiores consumidores mundiais, com 58% do mercado; Os maiores importadores são: Japão, UE, Arábia Saudita e Rússia, que juntos respondem por 1/3 das importações mundiais; O Japão importa 38% do seu consumo interno e a Rússia 21%; A China importa 3% do seu consumo interno. Os principais países de destino das exportações brasileiras de carne avícola são: Oriente Médio 38% e Ásia 26%. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne avícola são: 16,8% Arábia Saudita, 12% Japão, 9% Hong Kong, 5,8% Emirados Árabes. Carne suína Oferta China e União Europeia respondem por 71% da produção total; EUA, UE e Canadá respondem por 78% das exportações mundiais; A UE exporta 8% da sua produção e os EUA 20%; O Canadá não é um grande produtor mundial (2%), porém exporta 63% da sua produção interna e portanto se configura como o 3º maior exportador; Brasil é o 4º exportador mundial e exporta 23% da sua produção. Demanda China e UE são os maiores consumidores mundiais, com 70% do mercado; Os maiores importadores são Japão e Rússia, que juntos respondem por 37% das importações mundiais; O Japão importa 46% do seu consumo interno e a Rússia 28%. Os principais países de destino das exportações brasileiras de carne bovina são: Rússia 57% e China 12%. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne suína são: 25,2% Hong Kong, 24,5% Rússia, 12% Ucrania. 7

8 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Leandro de Oliveira Almeida/ Felipe Wajskop França/ Andrea Marcos Angelo Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico / Ellen Regina Steter / Myriã Bast / Priscila Pereira Deliberalli Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Ana Beatriz Ract Pousada / Thiago Chaves-Scarelli / Andre Kengi Alves Hirata / Henrique Araújo da Silva / Elias Celestino Cavalcante / Alex Panoni Furtado/ Laura Marsiaj Ribeiro O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 8