Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

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1 Outubro de 216 Expectativa de safra recorde aponta avanço da renda no campo em 217 e retomada das vendas de máquinas agrícolas Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos O plantio da safra 216/17 está começando no Brasil, com expectativas de área recorde, incentivada pelo bom nível de rentabilidade, o que, combinado à tendência de boas condições climáticas, deve permitir o retorno ao nível de produtividade alcançado antes da quebra de 216. Assim, é estimada safra recorde, com manutenção dos bons níveis de rentabilidade e com ampliação da renda agrícola. Após seis anos consecutivos de safras recordes, o Brasil sofreu relevante quebra de produtividade neste ano, afetada pela estiagem, no Nordeste e em algumas cidades do Centro-Oeste, pelo excesso de chuva no Sul, e pelas geadas no Sul e no Sudeste. A produção, inicialmente estimada em 211,9 milhões de toneladas, atingiu 186,4 milhões. Assim a quebra chegou a 21,5 milhões de toneladas, o equivalente a um recuo de 1,3%, ante a safra passada. Isso ocorreu a despeito da expansão de,7% da área plantada. O uso de fertilizantes foi menor no preparo do solo, com queda de 6,2% das vendas, contribuindo para o recuo da produtividade, que retraiu 11,%. Por outro lado, as condições para a safra 216/17 são mais positivas: (i) incremento mais significativo da área plantada; (ii) ampliação do uso de fertilizantes; (iii) condições climáticas mais amenas e (iv) recuo dos preços de fertilizantes. A primeira estimativa de intenção de plantio divulgada pela Conab apontou ampliação de 1,3% da área plantada, considerando a média entre o limite inferior e superior, devendo alcançar 59,1 milhões de hectares. As principais culturas com expansão prevista de área são o feijão (3,8%), o arroz (2,%), a soja (1,6%) e o milho 1ª safra (1,4%), incentivados pela boa rentabilidade. As vendas de fertilizantes no ano até agosto estão 1,3% maiores ante o mesmo período do ano passado. Após os efeitos climáticos provocados pelo El Niño, o NOAA (serviço de meteorologia dos EUA) apontava probabilidade de 75% de ocorrência de La Niña em meados do ano. Recentemente o órgão reduziu para 5% a probabilidade de ocorrência desse fenômeno, e indicou que os efeitos poderão ser percebidos mais para o último trimestre. Ademais, sua intensidade deve ser moderada, reduzindo o risco de estiagem no Sul do Brasil. Assim, com a expectativa de clima mais regular durante o desenvolvimento da safra, é esperado o retorno aos bons níveis de produtividade alcançados antes da quebra de 216, com ampliação de 12,6%. Por fim, mas não menos relevante, o plantio da atual safra está contando com o atenuante de custos mais baixos, quando comparados com a safra passada. Segundo o IEA 1, os preços médios dos fertilizantes em São Paulo caíram 21% de outubro do ano passado a agosto deste ano. Adicionalmente, a taxa de câmbio está em nível menos depreciado, contribuindo para o alívio dos preços das matérias primas importadas. Assim, em que pese os preços das commodities acomodados em níveis mais baixos, a descompressão vinda dos custos deverá permitir boas margens operacionais. 1 IEA Instituto de Economia Agrícola de São Paulo 1

2 Produção Nacional de Grãos - em mil toneladas /91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/ /1 1/2 2/3 3/4 4/5 5/6 6/7 7/8 8/9 9/1 1/11 11/12 12/13 Nesse contexto, a estimativa para a safra 216/17 divulgada pela Conab aponta para um recorde de 212,5 milhões de toneladas, o que representa uma ampliação de 14,1% ante a safra de 2, considerando o valor médio entre os limites inferior e superior. As estimativas são de expressiva expansão de produção para todos os grãos. Para a soja é esperada produção recorde, devendo alcançar 12,9 milhões de toneladas, com alta de 7,9%. A produção de milho deverá somar 83,1 milhões de toneladas, avançando 24,6% ante a safra passada. A produção de feijão, de arroz e de algodão deverá crescer 19,9%, 11,3% e 12,1% nessa ordem. Vale ressaltar que as lavouras de milho 2ª safra e de algodão foram as que mais sofreram com as intempéries climáticas recentemente. A seca ocorrida entre abril e maio no Sudeste, Nordeste e em algumas cidades do Centro-Oeste e as geadas ocorridas em junho no Paraná afetaram o desenvolvimento da 2ª safra de milho e do algodão, principalmente na Bahia, mas as demais culturas já estavam em fase final de colheita. Com as estimativas de clima mais regular durante o desenvolvimento da próxima safra, essas duas culturas, o milho e o algodão, são as que deverão apresentar alta mais relevante de produtividade, de 24,% e de 15,9% respectivamente. Grãos Var. % Arroz ,3% Feijão ,9% Milho ,6% 1ª safra ,4% 2ª safra ,3% Soja ,9% Trigo ,5% Algodão ,1% Total ,1% Produção de grãos - em mil toneladas Produtividade de grãos - em kg por ha /91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/ /1 1/2 2/3 3/4 4/5 5/6 6/7 7/8 8/9 9/1 1/11 11/12 12/13 2

3 A produção de milho deve alcançar 83,1 milhões de toneladas, com expansão de 24,6% ante a safra passada, considerando o valor médio entre os limites inferior e superior. A estimativa é de expansão em todas as regiões: Nordeste (48,9%), Centro-Oeste (41,8%), Sudeste (19,2%) e Sul (3,3%). A 1ª safra, que não sofreu quebra de produtividade, deve somar 27 milhões de toneladas, com alta de 4,4%. Já a 2ª safra, que sofreu quebra acentuada da produtividade, afetada por estiagem, deve recuperar o potencial produtivo, alcançando 56 milhões de toneladas, chegando a um recorde, com expansão de 37,3%. O crescimento da produção é esperado para todas as regiões do País, com maior destaque para o Nordeste (59,4%) e para o Centro-Oeste (2,9%), regiões que sofreram quebra acentuada de produtividade como resultado da seca deste ano, mas devem voltar ao nível normal de produtividade. Já o Sudeste e o Sul devem registrar elevações mais modestas, embora também relevantes, pois não tiveram quebra de safra intensa relativamente às demais regiões. Mais especificamente, no Mapitoba 2 a estimativa é de produção de 18,3 milhões de toneladas, o que representa uma ampliação de 5,6% ante a safra passada, que foi muito impactada pela seca. Ainda assim, esse nível de produção será mais baixo do que o recorde anterior de 2, de 19,6 milhões de toneladas, com destaque para as culturas soja, milho e algodão Evolução da produção agrícola por região Soja Milho Arroz Trigo Feijão Algodão Fonte: CONAB Com esse cenário de safras muito boas no Brasil e também nos EUA, onde a colheita já está em fase final, os preços internacionais e nacionais devem manter a tendência de acomodação em níveis mais baixos. Apesar disso, ainda permanecerão em patamares que permitam boa rentabilidade ao produtor. Assim, a combinação de safra recorde com preços remuneradores deverá levar a renda agrícola a um novo recorde. Estimamos alta de 8,2% da renda no campo em 217, podendo somar R$ 19 bilhões, considerando o aumento da safra e certa estabilidade dos preços. Em razão da expansão mais expressiva da produção de grãos no Nordeste e no Centro-Oeste, como já citado, esperamos ampliação mais relevante da renda agrícola nessas regiões. Por fim, o plantio da atual safra conta com o atenuante de custos mais baixos, quando comparado com a safra passada. Segundo o IEA 3, os preços médios dos fertilizantes em São Paulo caíram 21% desde outubro do ano passado até agosto deste ano. Além disso, a taxa de câmbio está em nível menos depreciado, que embora reduza a rentabilidade das exportações, contribui para o alívio dos custos com fertilizantes importados. Assim, em que pese os preços acomodados em patamares mais baixos, o alívio vindo dos custos deverá permitir boas margens operacionais / /3 23/4 24/5 25/6 2 Mapitoba, sigla dos estados: Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. 3 IEA Instituto de Economia Agrícola de São Paulo 26/7 27/8 28/9 29/1 21/11 211/12 212/ Renda agrícola de grãos - em R$ milhões * Projeção de produção: Conab * Projeção de preços: BRADESCO Fonte: CONAB, DERAL, CEPEA 3

4 Renda agrícola por região - em R$ milhões Fonte: CONAB, DERAL, CEPEA NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE Essas estimativas positivas, por sua vez, estão ancoradas nas condições climáticas e, portanto, o acompanhamento das chuvas será primordial nos meses à frente para calibrar a produtividade e, consequentemente, as tendências para os preços. Importante salientar também que as estimativas da Conab estão baseadas em pesquisas de intenção de plantio dos produtores rurais e consideram a produtividade média dos últimos anos, excluindo variações fora do padrão. Respondendo à safra recorde, os volumes exportados no próximo ano também deverão ser maiores. As estimativas da Conab são de embarques de 57 milhões de toneladas de soja, com ampliação de 5,4%, ante os 54,1 milhões embarcados na safra passada e de 24 milhões de toneladas de milho, avançando 2%, em relação aos 2 milhões embarcados na safra anterior. Em suma, para 217 as condições são favoráveis para a colheita de uma safra recorde, com ampliação da renda agrícola e continuidade de margens operacionais positivas. Assim, após três anos de queda acentuada das vendas de máquinas agrícolas 4, esperamos sua retomada a partir do próximo ano, com crescimento de 2%, iniciando um novo ciclo de renovação do parque agrícola. 4 Vendas de máquinas agrícolas caíram 17,3% em 214, 34,5% em 215 e devem fechar 216 com recuo de 9%. 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa Superintendente Executivo Economistas: Ana Maria Bonomi Barufi / Andréa Bastos Damico / Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancso / Daniela Cunha de Lima / Ellen Regina Steter / Estevão Augusto Oller Scripilliti / Fabiana D Atri / Igor Velecico / Leandro Câmara Negrão / Marcio Aldred Gregory / Myriã Tatiany Neves Bast / Priscila Pacheco Trigo / Regina Helena Couto Silva / Thomas Henrique Schreurs Pires Estagiários: Bruno Sanchez Honório / Christian Frederico M. Moraes / Fabio Rafael Otheguy Fernandes / Mariana Silva de Freitas / Rafael Martins Murrer O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5