Destaque Setorial - Bradesco Siderurgia

Transcrição

1 Siderurgia 03 de agosto de 2016 Indústria siderúrgica brasileira começa a dar sinais de retomada Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Após forte retração, a indústria siderúrgica brasileira começou a apresentar sinais de retomada desde o segundo trimestre do ano. Essa recuperação tem se sustentado por uma combinação de (i) avanço das exportações, principalmente para a América Latina (ex-argentina), Ásia e Turquia, (ii) recuo das importações e (iii) melhora dos principais segmentos demandantes de aço, alavancados também pelas exportações. Nos meses recentes, a indústria de bens de capital, de linha branca e a indústria automotiva estão registrando avanço da produção, impulsionada pela ampliação das exportações, ainda que o consumo doméstico nesses segmentos continue enfraquecido. Para o próximo ano, avaliamos que o mercado doméstico deverá começar a reagir, embora ainda em ritmo lento, favorecendo a demanda doméstica por aço. Nesse contexto, estimamos para este ano recuo de 15,5% do consumo doméstico de aço e crescimento de 4,3% em 2017, sustentado pela retomada gradual dos investimentos 1 e da atividade econômica. Em função da apreciação do real ante o dólar, as exportações do setor siderúrgico, por sua vez, devem continuar em expansão, porém em ritmo mais moderado ante a forte expansão registrada recentemente. Importante registrar que as exportações estão crescendo desde e alcançaram 42% da produção nacional ante a participação de 28% da média dos anos anteriores. O câmbio no nível atual deverá continuar inibindo as importações, perfazendo uma participação média de 8% sobre o consumo doméstico, ante 15% dos últimos anos. Devido ao fraco desempenho dos principais setores demandantes indústria de máquinas e equipamentos, indústria automotiva, de linha branca e construção civil, o consumo aparente de aço no Brasil encolheu de 28 para 18 milhões de toneladas entre e Ou seja, cerca de 10 milhões de toneladas deixaram de ser consumidas no País em três anos. Embora em retração nos últimos cinco anos, a produção de aço bruto não caiu na mesma proporção que o consumo doméstico. Entre e 2016, deixaram de ser produzidas no País o equivalente a 5 milhões de toneladas, com a produção passando de 35 para 30 milhões de toneladas. O desempenho do setor externo contribuiu para sustentar a produção. De fato, os embarques saltaram de uma média anual de 9 para 13 milhões de toneladas no mesmo período. As exportações seguem em elevação, favorecidas pela demanda na América Latina, Ásia e Turquia e pelo câmbio em nível mais depreciado. Por outro lado, as importações caíram de uma participação média de 15% no consumo aparente durante os últimos cinco anos para 8% em Isso propiciou a retomada de mercado pelas usinas do País. Durante o primeiro semestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado, as exportações totais de produtos siderúrgicos cresceram 16,6% em volume. Os produtos semi acabados que têm foco no mercado externo, já que 90% da produção doméstica é exportada, tiveram ampliação de 14,9% dos embarques, enquanto as exportações de aços planos subiram 16,1%, e de longos, 28,3%. No mesmo período de análise, as importações de produtos de aço se retraíram em 64%, em resposta ao câmbio e ao mercado doméstico fraco. 1 Estimamos ampliação de 4,5% da taxa de investimentos (FBKF) em 2017, após retração de 7,0% em

2 brasileiras de produtos siderúrgicos - em volume - em mil toneladas Fonte e projeções (*): IaBr Analisando mais especificamente o mercado interno, é incontestável que a produção da siderurgia brasileira atingiu seu nível mais baixo. De fato, o consumo aparente de aço no País mostrou sinais de recuperação desde o início do segundo trimestre deste ano, alavancado pelo incremento de produção nas indústrias de bens de capital, de veículos e de linha branca. A contração das importações também contribuiu para a melhora do consumo aparente, permitindo retomada de mercado pelas usinas brasileiras. É importante salientar que essa melhora dos segmentos demandantes está sendo puxada pelas exportações, ao passo que as vendas internas desses bens ainda continuam em patamares muito baixos 2. Isso fica mais evidente quando comparamos os dados de produção industrial e de vendas no varejo, ambos do IBGE 3. No caso específico de linha branca, as exportações continuam enfraquecidas, mas as importações também estão em retração recuo de 46% no primeiro semestre do ano Consumo aparente de aço - média móvel trimestral da sério dessazonalizada - em mil toneladas ago/08 out/08 fev/09 abr/09 ago/09 out/09 fev/10 abr/10 ago/10 out/10 fev/11 abr/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 ago/12 out/12 fev/13 abr/13 ago/13 out/13 fev/14 industrial de bens de capital, linha branca e veículos - média móvel trimestral da série com ajuste sazonal Fonte: IBGE 110,0 107,6 100,0 98,7 95,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 mai/14 jul/14 83,9 102,2 2 Durante o primeiro semestre deste ano, as exportações do complexo automotivo cresceram 14,2% ante o mesmo período do ano passado. Os embarques de bens de capital evoluíram 7,3%. 3 PIM Industrial Mensal e PMC Pesquisa Mensal do Comércio. nov/14 jan/15 mai/15 jul/15 nov/15 Linha Branca Veículos Bens de Capital jan/16 54,9 mai/16 77,6 66,5 56,5 2

3 127,0 119,0 109,4 107,0 103,9 123,1 112,7 121,9 103,3 114,8 Móveis e Eletrodomésticos Veículos 102,1 Vendas no comércio varejista de móveis e eletrodomésticos e veículos série com ajuste sazonal 87,0 90,7 84,2 88,5 89,7 77,0 67,0 jan/14 fev/14 mai/14 jul/14 nov/14 jan/15 mai/15 jul/15 74,9 nov/15 jan/16 71,1 mai/16 71,7 Fonte: IBGE Para 2017, acreditamos que o impulso para o setor siderúrgico virá da demanda doméstica, ao contrário do que estamos observando neste ano. Estimamos melhora, mesmo que gradual, das vendas internas de veículos, de linha branca, de bens de capital e da construção civil, alavancados pela melhora da confiança. Assim, nossa estimativa é de ampliação de 4,3% do consumo aparente de aço em Ainda assim, a ociosidade na siderurgia brasileira continuará em nível elevado, em torno de 36%. Diante desse cenário, é natural não esperar a realização de investimentos no setor siderúrgico nacional no curto prazo, como resultado da elevada sobreoferta global de aço. Pouco mais de um terço da capacidade total instalada para a produção global de aço está ocioso, o equivalente a 720 milhões de toneladas, sendo que mais da metade disso está na China. Há no Brasil quase 50 milhões de toneladas de capacidade instalada para produção de aço, sendo que apenas 30 milhões estão sendo usados, ou seja, temos quase 40% de ociosidade. Por fim, os custos da siderurgia permanecerão controlados, já que os preços do minério de ferro deverão seguir em torno do nível atual, podendo variar entre US$ 50 a US$ 55 a tonelada, sem tendência de elevações relevantes, em razão da sobreoferta global. Já os preços dos produtos de aço foram reajustados neste ano. Conforme medido pelo IGP Índice Geral de Preços da FGV, os preços dos produtos siderúrgicos subiram 4,9% no acumulado do ano até julho, acima portanto dos produtos industriais (IPA Industrial) que avançaram 2,8% no mesmo período. Com a alta no mercado doméstico, o preço interno de produtos de aço está em média 20% acima dos preços internacionais, ante uma média de 40% registrada no ano passado Consumo Aparente de aço bruto, consumo aparente e exportações de produtos siderúrgicos Consumo aparente de aço no Brasil Elaboração e (*) projeção: BRADESCO * 3

4 Vendas Importações jun/03 set/03 dez/03 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 set/08 mar/09 set/09 mar/10 set/10 mar/11 set/11 mar/12 set/12 mar/13 set/ , exportação, vendas internas de aços longos - acumulado em 12 meses - em mil toneladas, exportação, vendas internas e aços planos - acumulado em 12 meses - em mil toneladas Vendas Importações jun/03 set/03 dez/03 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 set/08 mar/09 set/09 mar/10 set/10 mar/11 set/11 mar/12 set/12 mar/13 set/ Perfil Setorial Os produtos siderúrgicos são divididos em: Planos (chapas e bobinas): representam 40% da produção siderúrgica, sendo os principais segmentos demandantes o setor automotivo e linha branca. As exportações respondem por 26% da produção de aços planos e as importações por 13%. Longos (barras, vergalhões, fio-máquina, perfis, tubos): representam 30% da produção siderúrgica, sendo o principal segmento demandante a construção civil. As exportações respondem por 15% da produção de aços planos e as importações por 10%. Semiacabados (lingotes, placas, blocos e tarugos): representam 30% da produção siderúrgica. Estes produtos têm como foco as exportações, que respondem por 90% da produção. Os principais mercados de destino de produtos de aço do Brasil são: 40,5% EUA, 22,1% Europa, 18,2% América Latina, 12,7% Ásia. Os países de origem das importações de produtos siderúrgicos são: 50,2% China, 26,8% Europa, 6,7% Japão, 6,2% Turquia, 4,9% Coréia do Sul, 4,0% Rússia. Os principais segmentos consumidores de produtos siderúrgicos são: construção civil, complexo automotivo, autopeças, bens de capital, linha branca e utilidades domésticas. As distribuidoras respondem por 32% das vendas de aço das usinas siderúrgicas. 4

5 Segmento de aços longos é mais sensível à redução dos investimentos e à contenção do crédito, pois os produtos são destinados basicamente a setores sensíveis a estas variáveis como construção civil e bens de capital. O segmento de aços planos é mais sensível à variação da oferta de crédito e renda, pois está mais ligado à produção e vendas do complexo automotivo e linha branca. A região Sudeste do Brasil concentra 96% da produção de aço bruto, em função da proximidade das minas de minério de ferro e dos portos de embarque. A China, maior produtora de aço, detém 49,6% da produção. O Japão é o 2º maior, com 6,5% da produção. O Brasil está na 9ª posição, com 2,1% da produção mundial. Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa Superintendente Executivo Economistas: Ana Maria Bonomi Barufi / Andréa Bastos Damico / Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancso / Daniela Cunha de Lima / Ellen Regina Steter / Estevão Augusto Oller Scripilliti / Fabiana D Atri / Igor Velecico / Leandro Câmara Negrão / Marcio Aldred Gregory / Myriã Tatiany Neves Bast / Priscila Pacheco Trigo / Regina Helena Couto Silva / Thomas Henrique Schreurs Pires Estagiários: Bruno Sanchez Honório / Carlos Henrique Gomes de Brito / Christian Frederico M. Moraes / Fabio Rafael Otheguy Fernandes / Mariana Silva de Freitas / Rafael Martins Murrer O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5