Destaque Setorial - Bradesco

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1 05 de outubro de 2016 Retração da atividade da construção civil e da indústria trouxe impacto mais acentuado no mercado de trabalho formal das regiões Norte e Sudeste Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos A retração da atividade econômica, observada desde o ano passado, acabou impactando diretamente o mercado de trabalho. Em termos absolutos, considerando apenas o mercado formal, nos últimos 12 meses encerrados em agosto foram fechadas 473 mil vagas na indústria, 462 mil no setor de serviços, 403 mil na construção civil, 276 mil no comércio, 30 mil na agropecuária e 11 mil na indústria extrativa. Somente neste ano até agosto, foram eliminadas 680 mil de vagas de emprego no País, o equivalente a 1,4% da força de trabalho total. Ainda assim, a dinâmica setorial e regional do mercado de trabalho tem sido heterogênea, com piora mais acentuada nos setores de construção civil e nas indústrias de material elétrico, material de transporte, máquinas e equipamentos, metalurgia, têxtil, calçados e móveis. A indústria extrativa também vem realizando ajustes na produção, em resposta ao quadro de sobre oferta global. Por outro lado, o avanço da taxa de desemprego tem sido mais moderado nos segmentos de comércio e serviços, que se mostraram mais resilientes. A eliminação de vagas formais, portanto, foi mais intensa nas regiões onde esses segmentos têm presença mais relevante e/ou onde a construção civil foi afetada não só pelo ajuste de estoque de imóveis, mas também pela concentração de obras finalizadas. Nesse sentido, o mercado Agro Serviços Comércio Total Extrativa Indústria Construção -14,5% -15,0% -10,0% -5,0% 0,0% -6,0% -5,5% de trabalho das regiões Norte e o Sudeste foram mais impactados ante as demais regiões, por concentrarem importantes polos produtivos desses setores já mencionados. No primeiro, destaca-se a produção de eletroeletrônicos, motocicletas e a indústria extrativa. Já o Sudeste agrega grande diversidade de segmentos industriais, principalmente a metalurgia, automotiva e a cadeia produtiva ligada ao petróleo, que vem reduzindo os investimentos programados. Analisando o mapa regional e setorial do mercado formal, com base nos dados do Caged e da Rais 1, é possível verificar que a destruição líquida de empregos 2 nos últimos doze meses encerrados em agosto foi bastante concentrada na construção civil, indústria geral e atividade extrativa. A atividade de construção civil fechou 14,5% do total de postos de trabalho do segmento; a indústria geral encerrou 6,0% das suas vagas; e a indústria extrativa fechou 5,5% dos seus postos de trabalho. O comércio e os serviços, mais resilientes à crise, eliminaram 2,4% e 1,8% dos seus respectivos estoques de empregados. A agropecuária apresentou a menor destruição de vagas, fechando 0,2% do seu efetivo. Isso porque a agricultura brasileira vem se beneficiando de boa rentabilidade do campo, proporcionada pelos bons preços dos grãos e pela ampliação dos volumes embarcados de carnes. -3,2% -2,4% -1,8% -0,2% Variação % estoque de emprego total por setores agosto/16 x 1 Caged Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Rais Relação Anual de Informações Sociais. 2 Destruição líquida de empregos resulta do saldo negativo entre admitidos e demitidos. 1

2 No Norte do País, a destruição de vagas tem sido mais acentuada ante as demais regiões, tanto na indústria quanto na construção civil. Na comparação de agosto deste ano com o mesmo mês do ano passado, o Norte perdeu 2,8% do estoque de empregos, o Sudeste perdeu 3,8%. Na sequência, o Nordeste reduziu em 2,6%, o Sul 2,6% e o Centro- Oeste mostrou ajuste mais moderado, com diminuição de 2,1%, sustentado pelo agronegócio. A construção civil na região Norte reduziu em 22,1% o estoque efetivo de mão-de-obra, resultado do fim das obras das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Na mesma direção, a indústria eliminou 8,7% do estoque de empregos, sendo que a indústria de material elétrico e de comunicações perdeu 17,6% dos postos de trabalho e a indústria de material de transporte, que inclui o segmento de motocicletas, reduziu 12,8% dos empregos. Os dados da produção industrial, medida pelo IBGE, corroboram esse desempenho do setor na região Norte. No acumulado dos últimos doze meses até julho, a produção nacional da indústria de produtos de informática e eletrônicos caiu 11,8% e a de veículos, 20,2%. Na mesma métrica, a produção industrial de Amazonas caiu 18,1%. -8,7% -7,0% -5,0% -3,4% -1,5% Variação do estoque de emprego da indústria na região Norte agosto/16 x Material de Transporte -11,3% -11,6% -12,3% -12,5% -12,8% -9,4% -17,6% -20,0% -16,0% -12,0% -8,0% -4,0% 0,0% O Nordeste também registrou um quadro acentuado de demissões na construção civil, que perdeu 17,5% das vagas formais de emprego na região. A indústria nordestina, embora tenho perdido menos vagas quando comparada às demais regiões, também apresentou ajuste, com recuo de 4,7%. Os segmentos que mais eliminaram vagas foram a indústria de material elétrico e de comunicações, minerais não metálicos, muitos dos quais são usados na construção civil, além da indústria de madeira e mobiliário, mecânica e metalurgia e as indústrias têxtil e de confecções. Material de Transporte -10,4% -8,2% -7,8% -6,8% -6,3% As regiões Sul e Sudeste têm perfis industriais similares, com forte participação do complexo automotivo, indústria mecânica e metalúrgica e a -4,7% -4,7% -4,8% -4,1% -1,5% -1,6% -1,2% -12,0% -9,0% -6,0% -3,0% 0,0% Variação do estoque de emprego da indústria na região Nordeste agosto/16 x indústria de confecções e calçados. No Sudeste, a construção civil fechou 13,8% dos postos de trabalho e o Sul reduziu 10,6%. A indústria também foi bastante 2

3 influenciada pelo cenário macroeconômico e fechou 8,7% e 7,5% dos postos de trabalho da indústria nas regiões Sudeste e Sul, respectivamente. O agronegócio do Sul do País empregou 0,6% a mais e o Centro Oeste 2,2%. -5,1% -5,2% -7,7% -7,8% -8,7% -9,9% -10,5% -10,6% -10,8% -11,2% -11,4% Material de Transporte -12,1% -12,4% -14,0% -12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% Variação do estoque de emprego da indústria na região Sudeste agosto/16 x Variação do estoque de emprego da indústria na região Sul agosto/16 x -4,3% -5,1% -5,6% -6,4% -7,2% -7,5% -8,0% -9,1% -10,6% Material de Transporte -10,7% -11,4% -12,5% -8,5% -4,5% -0,5% Embora menos intenso, o processo de destruição líquida de emprego também avançou nos segmentos que costumam ser mais resilientes, como o comércio e os serviços, incluindo lojas de materiais para construção, comércio de confecções, concessionárias de veículos e serviços de transportes, que sofreram com recuo de carga e de pessoas transportadas. Segundo dados do Caged, nos últimos doze meses até agosto, o comércio perdeu 2,4% da força de trabalho e os serviços fecharam 1,8% das 14,0% Nordeste Norte 12,0% Sudeste Centro-Oeste Sul 10,2% 10,0% 9,1% 8,2% 8,1% 8,0% 7,5% 7,1% 6,3% 6,0% 4,0% 2,0% 4,8% 1tri/12 2tri/12 9,0% 7,5% 5,9% 4,3% 4,2% 3tri/12 4tri/12 1tri/13 2tri/13 3tri/13 4tri/13 1tri/14 2tri/14 3tri/14 4tri/14 1tri/15 vagas. Esse processo, por sua vez, tem se dado de forma bastante uniforme entre as regiões. Vale a ressalva de que os dados aqui analisados, cuja fonte é o Caged, mostram o comportamento do mercado de trabalho formal, enquanto a Pnad contínua (do IBGE )mostra a evolução do desemprego formal e informal. Avaliamos que o emprego informal está seguindo a mesma evolução mostrada pelo emprego formal, conforme ilustrado no gráfico a seguir. 2tri/15 11,0% 9,1% 7,8% 6,0% 3tri/15 4tri/15 1tri/16 2tri/16 12,8% 11,5% 10,9% 9,4% 7,8% Taxa de desemprego total - dados dessazonalizados Fonte: IBGE 3

4 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Brasil Extrativa 0,0% -5,1% -6,6% -6,7% -4,4% -5,5% Indústria -7,6% -4,7% -6,8% -5,3% -3,7% -6,0% Construção -22,1% -17,5% -13,8% -10,6% -11,4% -14,5% Geração líquida de emprego formal: estoque de emprego variação acumulada em 12 meses até agosto/16 Comércio -2,0% -1,9% -2,7% -2,0% -2,2% -2,4% Serviços -1,6% -1,2% -2,5% -0,8% -0,2% -1,8% Agro 0,7% -0,5% -1,4% 0,6% 2,2% -0,2% Total -2,8% -2,6% -3,8% -2,6% -2,1% -3,2% Daqui para frente, entendemos que o ajuste do mercado de trabalho começará a perder força. De todo modo, estimamos que até o final do ano 1,3 milhão de vagas formais serão destruídas, o equivalente a 2,7% do estoque total de empregos. Assim, as demissões deverão continuar nos próximos meses, embora em ritmo menor. Para 2017 estimamos retomada do crescimento da economia brasileira, puxado pela melhora da indústria, principalmente nos segmentos exportadores, de máquinas e equipamentos e bens duráveis. Assim, estimamos ampliação de 1,5% do PIB total do País e de 2,5% da indústria, seguido pelo setor de serviços com expansão de 1,0%. Nesse cenário, estimamos geração de 700 mil novas vagas de emprego formal em 2017, sendo a dinâmica setorial do emprego puxada pela indústria e em seguida pelos serviços. Regionalmente, os empregos deverão apresentar dinâmica mais positiva nas regiões que concentram polos industriais relevantes de bens de capital e de bens duráveis como o Sul, o Sudeste e o Norte do País Geração de empregos formais (Caged) - total em mil Fonte: MTE Elaboração e projeção: BRADESCO

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa Superintendente Executivo Economistas: Ana Maria Bonomi Barufi / Andréa Bastos Damico / Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancso / Daniela Cunha de Lima / Ellen Regina Steter / Estevão Augusto Oller Scripilliti / Fabiana D Atri / Igor Velecico / Leandro Câmara Negrão / Marcio Aldred Gregory / Myriã Tatiany Neves Bast / Priscila Pacheco Trigo / Regina Helena Couto Silva / Thomas Henrique Schreurs Pires Estagiários: Bruno Sanchez Honório / Carlos Henrique Gomes de Brito / Christian Frederico M. Moraes / Fabio Rafael Otheguy Fernandes / Mariana Silva de Freitas / Rafael Martins Murrer O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5