Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

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1 Fevereiro de 2012 La Niña frustra negativamente as expectativas para a renda agrícola da safra brasileira atual, apontando dinâmicas regionais distintas Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Como efeito da estiagem provocada pelo La Niña, que afetou mais fortemente a região Sul do País, a produção brasileira de grãos na safra 2011/12, cuja colheita começou em fevereiro, está estimada em 157 milhões de toneladas, um recuo de 3,5%. Essa retração é estimada apesar da elevação de 3,2% da área e do maior uso de tecnologia no campo. A combinação de menor nível de produção e preços médios do ano recebidos pelos produtores, menores do que os registrados na safra passada, levará a renda agrícola a uma queda de 6,8% em No entanto, é importante ressaltar que a renda agrícola da safra passada foi recorde e cresceu 34%. Claramente, a safra 2011/12 era aguardada com expectativas de repetir a elevada renda agrícola da temporada anterior, ou pelo menos de registrar leve retração em torno de 1%. Os determinantes que consubstanciavam estas expectativas eram a ampliação da área e o elevado nível de tecnologia aplicado na lavoura. De fato, a quantidade de Sudeste Centro-Oeste Norte Nordeste Brasil Sul -18,3% -6,1% -6,6% -3,9% -21,0% -14,0% -7,0% 0,0% 7,0% Produção nacional de grãos (arroz, feijão, milho, trigo, soja, algodão) em mil toneladas fertilizantes aplicado nas lavouras cresceu 12,3% em 2011, atingindo 551 toneladas por hectare são quase 100 toneladas de fertilizante a mais por hectare comparativamente à média histórica de uso. Adicionalmente, o uso de máquinas agrícolas no campo também foi maior. Entre 2008 e 2011, a quantidade de máquinas agrícolas vendidas por mil hectares foi quase o dobro da média histórica. Entretanto, o otimismo inicial foi abalado pelos efeitos do La Niña que provocou forte estiagem na região Sul do País entre dezembro e janeiro. Em que pese uma expansão de 3,2% da área plantada com grãos na safra 2011/12, o campo deverá colher uma safra 3,5% menor comparativamente à anterior, como resultado da quebra de 18,3% da produtividade na região Sul. Não fossem os efeitos negativos do clima, a safra poderia chegar a algo em torno de 170 milhões de toneladas, considerando o incremento de área e a mesma produtividade da safra passada. 3,0% 5,0% Variação da produtividade por região - safra 2011/ Fonte e (*) Projeção: CONAB /91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12* 1

2 Vale lembra que, na safra, a expansão de 5,3% da área e o benefício do clima, que favoreceu a ampliação da produtividade em quase 4%, levando a produção nacional de grãos a uma expansão de 9,2%, explicou a elevação de 33,6% da renda agrícola. Além da maior quantidade produzida, os preços agrícolas tiveram forte impulso no segundo semestre de 2010 e permaneceram levados até meados de 2011, em razão da combinação da demanda internacional robusta (a despeito da intensifi cação da crise global na segunda metade do ano passado) com baixos estoques globais e quebras de safras em alguns países. Na safra atual, apesar de contarmos com incremento de área, em sentido contrário, o clima foi adverso durante o plantio e os preços médios recebidos pelos produtores deverão ser menores neste ano, comparativamente ao ano passado. Nesse cenário, esperamos recuo de 6,8% da renda agrícola neste ano. Em R$ milhões Renda agrícola - grãos arroz, algodão, feijão, milho, trigo e soja (*) Projeção de produção: CONAB (*) Projeção de preços: BRADESCO / /03 Por conta dos efeitos regionais desiguais do efeito La Niña, que provocou estiagem severa na Região Sul, a evolução da renda agrícola também apresenta dinâmicas distintas entre as regiões do País, claramente com forte retração no Sul, leve queda no Nordeste e expansão no Sudeste e Centro-Oeste. SUDESTE CENTRO-OESTE 2,6% 3,5% Variação da renda agrícola de grãos por região safra 2011/2012 NORDESTE -4,4% NORTE -4,9% BRASIL -6,8% SUL -20,0% -21,0% -16,0% -11,0% -6,0% -1,0% 4,0% No Sul, a queda de 20% da renda agrícola está associada aos efeitos da estiagem, que gerou perda de 17,5% na produção total de grãos da região. A retração se deu de forma disseminada entre os grãos, sendo mais acentuada no caso de soja, arroz e milho que apontaram recuo de 25,%, 18,1% e 11,4% nessa ordem. No Nordeste, a redução da renda da ordem de 4,4% é decorrente sobretudo da diminuição da produção de arroz e feijão, por conta da retração de área e de produtividade. Em oposição, a renda nas regiões Sudeste e Centro-Oeste deverá ter elevação de 3,5% e 2,6% respectivamente, como resultado do incremento de produção de milho e soja. Importante chamar atenção para o fato de que a atual quebra de safra no Sul se equipara à perda registrada na região em 2005, ano de forte ajuste na agricultura brasileira. Em 2005 a quebra foi de 8,8 milhões de toneladas, o que representou uma retração de 18,2% e, neste ano, a redução está estimada em 11,7 milhões de toneladas, recuando 17,6%. Adicionalmente, em 2005 a renda agrícola do Sul caiu 35%, o equivalente a R$ 8 bilhões e em 2012 a retração estimada e de 20%, uma perda de R$ 7,3 bilhões. 2

3 Em R$ milhões Renda agrícola Região Sul (*) Projeção de produção: CONAB (*) Projeção de preços: BRADESCO / /03 em mil toneladas Produção de grãos na Região Sul do país Fonte e (*) Projeção: CONAB Em que pese a retração da renda agrícola, o produtor rural deverá contar com uma boa margem operacional, resultado da sustentação dos preços médios agrícolas ainda em patamares elevados. De fato, a relação de troca entre grãos e fertilizantes foi muito favorável no período de plantio, por conta dos elevados preços agrícolas registrados no começo de 2011 deve-se lembrar de que 60% das vendas de fertilizantes se concentram entre os meses de maio e outubro. E relevante destacar que os fundamentos são de alta para os preços agrícolas nos próximos meses, consubstanciados em estoques internacionais das commodities ainda bastante apertados, na demanda robusta e na quebra de safra no Brasil e na Argentina. De fato, estes fundamentos devem dar impulso às cotações, sobretudo de soja e milho nos próximos meses. Mesmo assim, esperamos que a média de preços de 2012 fique em torno de 4% abaixo da média registrada no ano passado, dado que os preços apresentaram patamar muito elevado no primeiro semestre de 2011 (consultar Destaque Depec-Bradesco de 17/02/ ). 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% -10,0% -20,0% -30,0% 38,5% 37,3% 34,3% 33,0% 30,5% 13,4% 11,5% 9,9% 6,4% -4,3% -15,7% -23,6% Trigo Feijão Arroz Soja Milho Algodão Margem operacional agrícola - safras e 2011/12 1 Destaque Depec-Bradesco de 17/02/2012: Piora nos fundamentos e posições de liquidez mundial sugerem alta nos preços de commodities. 3

4 Margem operacional agrícola - médias das margens de arroz, feijão, milho, trigo, soja e aglodão ,0% 55,0% 35,0% 68,0% 27,0% 55,8% 15,0% 11,7% 13,6% 14,9% -5,0% -25,0% -6,7% -8,0% -11,9% -16,9% 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12* Detalhamento do 5º levantamento de grãos da Conab divulgado em fevereiro Nas regiões Sul e Sudeste do País, o produtor optou pela redução de área de soja, cedendo espaço para o milho, em razão do consumo elevado do cereal para atender a demanda da avicultura e suinocultura. O incremento de área com soja ocorreu basicamente em áreas de pastagem na região Centro Oeste e em novas áreas no Cerrado no Norte e Nordeste, mais especificamente nos estados de Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, região chamada de Mapitoba A área de plantio de milho 1ª safra registrou incremento significativo de 9,1% em razão dos bons preços recebidos pelos produtores. Nas regiões Sul e Sudeste a área cresceu 10,7% e 7,1% nessa ordem, ocupando áreas da soja. O milho avançou também para novas fronteiras agrícolas em áreas de pastagens no Centro Oeste e na região chamada de Mapitoba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia onde a expansão de área foi de 40,2% e 9% respectivamente. Lembrando que nestas regiões o cultivo com soja também cresceu 4,4% e 6,5% nessa ordem. Este forte incremento de área gerou expectativas de uma supersafra de milho que, no entanto, foi frustrada pela estiagem do Sul. A estimativa atual é de recuo de 2,5% da produção comparativamente à safra anterior, em função da quebra de 19,4% na Região Sul do País. No Rio Grande do Sul, a quebra esperada é mais acentuada, uma perda de 2,6 milhões de toneladas, o equivalente a uma retração de 44,8%. A 1ª safra de milho só não é menor, por conta da elevação de quase 40% da produção esperada no Centro Oeste. Para o plantio da 2ª safra, iniciado na 2ª quinzena de janeiro, também está previsto incremento robusto de área, de 13,6%. A princípio não é esperada quebra de produtividade para a 2ª safra do cereal, sendo a expectativa de alta de 20% da produção, tendo em vista que os serviços meteorológicos estimam enfraquecimento do La Niña a partir de abril, voltando o clima à normalidade. A expectativa para a safra total de milho (1ª e 2ª safras) é de um recorde de 60,8 milhões de toneladas, alta de 6%. Milho 6,0% Algodão 2,2% Trigo -1,6% Grãos -3,5% Soja -8,1% Feijão -9,7% Arroz -17,9% -21,0% -14,0% -7,0% 0,0% 7,0% Var. % da produçao de grãos por produto safra 2011/2012 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Daniel Valladares Weeks / Daniela Cunha de Lima /Igor Velecico / Thomas Henrique Schreurs Pires / Matheus Ribeiro Machado Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Bast / Renata Rodovalho Gonçalves / Priscila Pereira Deliberalli Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Mirella P. Amaro Hirakawa / Gabriel Lyrio de Oliveira / Priscila Monteiro Ortega / Ricardo Romano / Thunay Mota Raia / Ana Beatriz Ract Pousada O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5