Destaque Setorial - Bradesco

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1 Química 22 de setembro de 2014 Desaceleração da indústria química em curso neste ano reflete a moderação da atividade econômica, o incremento das importações e o recuo das exportações Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos A desaceleração recente da indústria química brasileira está ligada ao aumento das importações, à queda das exportações e ao arrefecimento do segmento industrial. O setor ainda continuará enfrentando esse cenário desafiador nos meses à frente, mas esperamos melhora a partir de 2015, quando deveremos observar retomada gradual do nível de atividade econômica no País. Essa expectativa baseia-se na melhora da demanda externa, no câmbio mais depreciado, na recuperação dos investimentos e na retomada paulatina do nível de confiança. Assim esperamos recuo de 1,7% da produção industrial química neste ano, medida pelo IBGE, e avanço de 1,9% em Refletindo a desaceleração da atividade econômica e da indústria em geral, o consumo aparente de produtos químicos permaneceu praticamente estável neste ano até julho, com variação positiva de 0,2% ante o mesmo período do ano passado, segundo a Abiquim 1. Já a produção do setor químico acumula queda de 6,6% até julho. No mesmo período a indústria em geral 2 acumula recuo de 2,8%. Assim, o desempenho da indústria química é explicado também pelo incremento de 11,6% das importações, que representam 35% do consumo aparente. Ao mesmo tempo, as exportações, que respondem por 10% da produção nacional, caíram 7,7%. Segundo a Abiquim, o peso dos importados no consumo doméstico era de 7% no início dos anos 1990, alcançando uma média de 25% nos anos Desde 2006, o coeficiente de importações está em ascensão, alcançando Regina Helena Couto Silva 35% neste ano. Ainda segundo a associação da indústria química, entre 1990 e 2013, o consumo aparente nacional cresceu em média 3,8% ao ano, a produção subiu 2,4%, as exportações avançaram 2,1% e as importações se expandiram em 11,3% ao ano. No ano passado, o Brasil importou US$ 46 bilhões em produtos químicos 3, o que representa uma ampliação de 7,4% ante o ano anterior. Foram exportados US$ 14 bilhões, recuando 3,6% e gerando um déficit de US$ 30 bilhões na balança do setor. Nos primeiros sete meses deste ano, essa tendência foi mantida com continuidade de ampliação do déficit. As principais origens do déficit concentram-se em matérias-primas para fertilizantes e defensivos agrícolas, para produtos plásticos e para medicamentos 4. O Brasil vem importando mais produtos químicos da Europa e dos EUA, tradicionais fornecedores globais de matérias-primas químicas e farmacêuticas. Estamos importando mais também da China, que já representa 10% do fornecimento de matériasprimas químicas do Brasil. Já as exportações estão em retração para diversos destinos, como Europa, América Latina e EUA. O setor químico nacional é altamente dependente de matériasprimas escassas no mercado interno, e dentre muitas, com baixa competitividade, em parte devido aos reduzidos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor. Favorecem também as importações, os preços internacionais que seguem em patamares baixos refletindo o excedente global de produtos químicos, decorrentes do menor dinamismo da economia global. 1 Abiquim - Associação Brasileira da Indústria Química. 2 Medida pela PIM Produção Industrial Mensal do IBGE. 3 Dados da Secex Secretaria de Comércio Exterior. 4 Vide detalhamento da pauta de exportação e importação no Perfil do Setor, no final deste estudo. 1

2 Exportações Importações Saldo Balança comercial da indústria química - em milhões US$ Fonte: Secex Concomitantemente ao aumento das importações, vem crescendo o nível de ociosidade das plantas químicas aqui no Brasil. Dado que o setor opera em processo contínuo e atua com elevados custos fixos, as plantas brasileiras deveriam operar numa faixa de 87% a 90% de ocupação. No entanto, desde 2008 a ocupação na indústria química vem girando em torno de 80%. Na média dos primeiros sete meses deste ano a ocupação alcançou 78%. Desagregando os dados divulgados pela Abiquim, os segmentos que apresentam maior recuo de vendas no mercado doméstico, e consequentemente de produção, são aqueles nos quais houve maior incremento das importações do mesmo grupo de produto, sugerindo alguma perda de competitividade do produto nacional frente ao produto global. Intermediários para Fibras Sintéticas -38,4% Petroquímicos Básicos Solventes Industriais Vendas Totais Intermediários para Fertilizantes Resinas Termoplásticas Cloro e Álcalis Químicos Orgânicos Resinas Termofixas Intermediários para plastificantes -16,5% -5,9% -6,2% -4,4% -4,2% -4,9% -3,6% -2,1% -5,4% 6,2% 4,4% 4,5% 4,5% 4,0% 11,3% 10,1% 9,6% 33,3% -45,0% -25,0% -5,0% 15,0% 35,0% 55,0% Esse aumento de importações pode ser observado no segmento produtor desses produtos. Segundo a Anda 5, enquanto as vendas desses produtos cresceram 7% no ano até agosto, ante o mesmo período do ano passado, a produção caiu 9,2%, influenciada pelo aumento de 13,1% das importações. Os dados do IBGE corroboram essa análise, apontando recuo de 3,8% da produção de produtos intermediários para fertilizantes entre janeiro e julho deste ano, ante o mesmo período do Importação Vendas 57,2% Variação das vendas (de produtos domésticos) e das importações por segmento (Acumulado em 12 meses até julho) Fonte: Abiquim ano passado. No acumulado de 12 meses o indicador apresenta recuo de 3,3%. Apesar da desaceleração da indústria química neste ano, os segmentos mais dependentes de renda e das condições do mercado de trabalho continuam apresentando desempenho positivo, como produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza, farmacêutica e tintas. 5 Anda Associação Nacional para Difusão de Adubos 2

3 Produtos de Limpeza Tintas Químicos Inorgânicos Cosméticos e Higiene Pessoal 1,6% 1,5% 3,6% 3,2% Variação da produção industrial de produtos químicos - acumulado em 12 meses até julho Farmacêuticos e Farmoquímicos Gases Industriais 0,6% 0,3% Intermediários para Fertilizantes -3,3% Químicos Diversos Químicos Orgânicos -6,8% -5,9% -7,5% -5,5% -3,5% -1,5% 0,5% 2,5% 4,5% Fonte: IBGE Diante do exposto, projetamos recuo de 1,7% da produção industrial química neste ano, medida pelo IBGE. Para o próximo ano, esperamos aumento de 1,9% da produção, respondendo à recuperação gradual da atividade econômica e dos investimentos. De fato, estimamos crescimento de 1,5% do PIB no próximo ano e de 3% dos investimentos. Estimamos também expansão de 2,5% da atividade industrial em 2015, devendo impulsionar a demanda doméstica de produtos químicos, que estão na base de praticamente todas as cadeias industriais. De todo modo, em razão da baixa competitividade da indústria química brasileira e da escassez de algumas matérias-primas no mercado doméstico, as importações do setor químico ainda deverão permanecer em patamar elevado, perfazendo 35% do consumo doméstico, mantendo o déficit da balança do setor. Além disso, essa tendência é reforçada pelo fato de que no segmento químico as importações e exportações muitas vezes acontecem em operações intercompany, já que há a atuação de empresas globalizadas no País. Tanto a competitividade quanto a escassez de algumas matérias-primas também limitam a realização de investimentos relevantes no setor químico. Existem projetos de expansão da produção de intermediários para uso na fabricação de fertilizantes, mas esses devem reduzir a dependência brasileira pelo produto importado de 65% para 55% nos próximos cinco anos. A elevação dos custos de energia elétrica, já observada neste ano, deve continuar impactando o setor. Por outro lado, os custos com a nafta petroquímica, importante matéria-prima derivada de petróleo, devem apresentar arrefecimento, dado o cenário de incremento de oferta global de petróleo, com consequente recuo de preços. É fato que a desoneração de PIS/Cofins sobre a compra de matérias-primas, que entrou em vigor em meados de 2013, está aliviando os custos com aquisição de insumos. Outro aspecto positivo para 2015 é a tendência de depreciação do câmbio, favorecendo a retomada das exportações e inibindo expansões mais relevantes das importações. 3

4 Perfil Setorial A indústria química brasileira é segmentada em três partes: A 1ª geração é formada por quatro centrais petroquímicas, localizadas em Capuava (SP), Triunfo (RS), Duque de Caxias (RJ) e Camaçari (BA). A 2ª geração é composta pelas fabricantes de produtos intermediários. A 3ª geração pelas empresas produtoras de bens finais, como farmacêutica, embalagens e defensivos agrícolas, entre outras. As importações representam 35% do consumo aparente e as exportações respondem por 10% do volume produzido. A pauta da balança comercial do setor é bastante pulverizada, mas de todo modo, os principais produtos importados são intermediários utilizados na fabricação de fertilizantes e defensivos agrícolas, na produção de medicamentos e de resinas para plásticos. Os principais produtos exportados são petroquímicos básicos, resinas termoplásticas, medicamentos e aditivos para uso industrial. A maior parte do faturamento da indústria química, 46%, se refere à indústria de químicos para uso industrial, que inclui produtos usados na fabricação de químicos do próprio setor, segmento discutido neste estudo. Outros 37% do faturamento são provenientes de produtos farmacêuticos, higiene pessoal e adubos e fertilizantes. Entre os químicos de uso industrial, as resinas termoplásticas ganham destaque, com 27% da produção, seguida pelos petroquímicos básicos (28%) e intermediários para fertilizantes (11%). O setor tem uma característica cíclica, dado que os investimentos levam um período longo de maturação e, por isso, o aumento da produção ocorre periodicamente e em grandes volumes. Como a demanda não cresce na mesma proporção, há desequilíbrios entre oferta e demanda que resultam em períodos de preços elevados e períodos de margens comprimidas. As centrais petroquímicas fazem paradas programadas para manutenção que requerem a paralisação total da planta entre 25 e 30 dias. 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico / Ellen Regina Steter / Leandro de Oliveira Almeida /Myriã Tatiana Neves Bast Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Ariana Stephanie Zerbinatti / Vanderley Rodrigues Gonçalves Junior / Lucas Zaniboni / Felipe Escandor Rubio / Thomaz Lopes Macetti O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5