Junho de Por que as exportações brasileiras de etanol não crescem?

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1 Junho de 2012 Por que as exportações brasileiras de etanol não crescem? Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos As exportações brasileiras de etanol vinham num movimento ascendente desde 2004, mas passaram a registrar recuo a partir de Desde então o coeficiente de exportação caiu de 20% para 8% na safra atual e deve girar em torno disso até o final da década. Mas se a demanda norte-americana 1 por etanol continua firme para atender às exigências ambientais, por que as exportações brasileiras não deslancharão? 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 3,0% ,9% 4,7% ,6%14,7% ,0% ,3% 19,1% 12,8% De fato, a demanda por açúcar vem crescendo em média 3% ao ano nos países emergentes, que estão agregando cada vez mais itens industrializados à cesta básica de consumo, ao passo que nos países desenvolvidos, com os padrões de consumo mais consolidados, a demanda tem crescido, em média, 0,9% no período, seguindo a expansão populacional. Complementarmente, a demanda doméstica por etanol segue em crescimento, refletindo a expansão da frota nacional de veículos, composta por 49% de carros flex fuel, sendo este mercado A resposta está na oferta insuficiente de matériaprima, a cana-de-açúcar, disputada para atender a três frentes: (i) a demanda crescente por açúcar nos países emergentes; (ii) o consumo robusto por etanol anidro misturado à gasolina no Brasil, em razão da forte expansão da frota nos últimos anos e (iii) as exportações de etanol para atender à demanda norte-americana por um combustível menos poluente. 6,9% 7,3% 8,0% 7,6% 8,2% 8,8% 9,0% 9,1% 9,1% 9,3% 6,8% * 2013* 2014* 2015* 2016* 2017* 2018* 2019* 2020* Coeficiente de Exportações de Etanol Fonte: SECEX, Conab potencial para a demanda por etanol hidratado e por 43% de carros à gasolina, cuja mistura utiliza entre 20% e 26% de etanol anidro (hoje está em 20%). A frota total, hoje composta por 30 milhões de carros, deverá chegar a 50 milhões de veículos em 2020, configurando uma expansão média anual de 6%, impulsionando o consumo de combustíveis. E a demanda norte-americana por etanol continua crescente, pois o órgão de proteção ambiental norte americano denominado EPA 2, classificou o etanol de cana, como biocombustível avançado, ou seja, que mais reduz as emissões de dióxido de carbono. 1 Os EUA respondem por 34% das exportações brasileiras de etanol, seguido pela Coreia com 15% e pelo Japão com 14,8%. 2 A Agência de Proteção Ambiental (EPA, sigla em inglês) dos EUA divulgou em 3 de fevereiro de 2010, a classificação do etanol à base de cana-de-açúcar como biocombustível avançado. A EPA concluiu que o biocombustível reduz as emissões de dióxido de carbono em 61%, comparativamente à gasolina. Já o etanol derivado do milho, principal biocombustível produzido nos EUA, contribui apenas para 21% de redução de emissões. Segundo a EPA, para ser considerado avançado, o produto deve reduzir as emissões de dióxido de carbono em pelo menos 40% em relação à gasolina. 1

2 em mil t Flex Fuel Outros Gasolina Total 34,7 32,9 31,2 29,7 14,5 16,7 19,0 21,5 36,8 24,2 39,1 26,9 41,6 29,8 44,3 32,8 47,2 35,9 50,3 39,1 Perfil da Frota Nacional de Veículos ,4 2,3 2,4 2,3 2,3 2,4 2,5 2,6 2,8 3,0 7 12,84 12,17 11,52 10,9 10,32 9,79 9,31 8,88 8,52 8,21 Fonte e projeção*: EPE * 2013* 2014* 2015* 2016* 2017* 2018* 2019* 2020* Apostando neste mercado potencial, as indústrias sucroalcooleiras investiram na expansão do parque industrial e dos canaviais, sendo que nos últimos dez anos a área plantada com cana cresceu em média 5% ao ano, gerando uma ociosidade de 150 milhões de toneladas de moagem 3. E, por que o setor sucroalcooleiro não está conseguindo atender a expansão de demanda por cana-de-açúcar se as usinas têm sobra de capacidade instalada? Claramente, mesmo com a expansão de área, a produção de cana não chegou ao nível esperado, em razão de quebra de duas safras consecutivas provocada por condições climáticas adversas e pela redução de produtividade afetada pela baixa renovação dos canaviais. Enquanto a quebra de safra por condições climáticas é um fator conjuntural que pode ser revertido de uma safra para outra, a renovação dos canaviais leva mais tempo. De fato, a renovação ideal é de 17% a 20%, porém desde 2008, vem girando abaixo de 11%, em razão de dificuldades financeiras em algumas usinas. Segundo os cálculos da Conab, para ter uma ideia mais clara do que isso significa, um canavial renovado produz em média 115 toneladas/hectare, ao passo que um canavial no 6º corte produz em média 55 toneladas/hectare. Assim, uma produtividade média de 60 toneladas/ hectare multiplicada pela área que deixou de ser renovada 444 mil hectares (diferença entre os 956 mil hectares renovados e o que seria ideal mil hectares), implica uma perda de mil toneladas de produção, o equivalente a 4,5% da produção nacional de cana. As estimativas são de normalização da oferta de cana a partir da safra 2014/15, com a renovação dos canaviais envelhecidos 4. kg por hectare ,0 81,6 79,0 77,0 77,4 73,9 73,9 Produtividade da Cana-de- Açúcar ,8 92/93 50,3 93/94 52,9 52,0 94/95 95/96 59,0 96/97 65,0 63,6 61,7 97/98 98/99 99/00 47,8 00/01 58,0 60,7 67,8 Fonte e projeção*: Conab Elaboração: BRADESCO 3 A capacidade de produção das usinas instaladas no País soma 750 milhões de toneladas, sendo a produção estimada para este ano em 600 milhões de toneladas. 4 Em fevereiro/2012 o Governo Federal divulgou o Plano Estratégico do Setor Sucroalcooleiro, com o objetivo de aumentar a oferta de cana-de-açúcar. No programa está prevista a renovação de 6,4 milhões de hectares até 2015, com investimentos estimados em R$ 29 bilhões, financiados com recursos do BNDES. 68,3 70,3 2

3 As expectativas são de continuidade da demanda doméstica por etanol, que deve saltar dos atuais 24 bilhões de litros anuais para 63 bilhões em 2020, segundo as projeções da EPE 5, para atender o incremento da frota nacional, que deverá passar de 30 milhões de veículos leves neste ano para 50 milhões em 2020, sendo 78% de carros flex. Nesse sentido, mesmo que o relativo de preços com a gasolina não seja favorável ao uso do etanol hidratado nos carros flex, a demanda por anidro continuará em expansão via consumo de gasolina. Mas nossas exportações de etanol não devem expandir no mesmo ritmo. As projeções da EPE são de crescimento modesto das exportações nos próximos anos, alcançando o nível do recorde de 2008 apenas em 2017, em razão do baixo crescimento esperado para as economias dos países desenvolvidos. Na verdade, manteremos um nível razoável de exportações para atender principalmente a demanda dos EUA, que precisam importar o etanol de cana que emite menos de 50% de CO 2 em relação à gasolina, ao passo que o de milho reduz em apenas 20%. De fato, neste ano as exportações devem crescer 15%, incentivadas pela demanda norte-americana. Mas no longo prazo, o Brasil não terá capacidade produtiva suficiente para atender a demanda norte-americana criada a partir da Lei de Biossegurança e Independência Energética de , que prevê uma demanda de 15 bilhões de litros de etanol de cana até 2022, ao passo que as projeções da EPE apontam que o Brasil terá condições de atender exportações próximas a 7 bilhões de litros, divididos entre os EUA, a Europa e o Japão. Diante disso, é possível esperar que o setor sucroalcooleiro apresente novos projetos de expansão nos próximos anos? Sim e são necessários, tanto investimentos em ampliação, como greenfield e em expansão de área plantada com cana, para atender à expectativa de incremento de demanda por etanol nos próximos anos. Segundo os estudos da EPE, para atender a demanda de 73 bilhões de litros 7 de etanol em 2020, será necessária a expansão de quase 90% da produção de cana-de-açúcar, o que representa um incremento médio anual de 8%, passando das atuais 600 mil toneladas para pouco mais de 1 milhão de toneladas. Isso exigirá uma expansão média anual de 5% da área plantada com cana, saltando dos atuais 8,5 milhões de hectares para 12 milhões em 2020, uma ampliação de 40%. Este avanço é possível utilizando principalmente áreas de pastagens. Além disso, serão necessários investimentos em renovação do canavial em torno de 20% ao ano, para que a produtividade média cresça 4% ao ano. Além dos investimentos em ampliação da área e na renovação dos canaviais, a EPE estima que sejam necessárias mais 88 usinas greenfield, perfazendo um investimento total de R$ 90 bilhões até A principal questão agora é saber se o setor sucroalcooleiro nacional conseguirá realizar os investimentos necessários para atender a demanda doméstica e internacional por etanol, e isso não parece factível, pelo menos no curto prazo, em razão de fundamentos estruturais que precisam ser solucionados de forma a garantir a rentabilidade dos projetos e incentivar as inversões. De fato, os elevados custos da construção de novas usinas, cujo investimento é avaliado próximo a R$ 1 bilhão e a estabilidade dos preços da gasolina que cria rigidez ao preço do etanol, (engessando a rentabilidade do produto, enquanto os custos de produção continuam subindo), são os principais fatores que estão travando os investimentos na ampliação do etanol brasileiro. Produção em mil toneladas produção de cana-de-açúcar área plantada com cana área área em em mil hectare mil hectares /96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 13/14* 14/15* 15/16* 16/17* 17/18* 18/19* 19/20* 20/21* Produção de cana-deaçúcar e área plantada com cana Fonte: Conab 5 EPE Empresa de Pesquisa Energética, autarquia ligada ao Ministério de Minas e Energia. 6 Em dezembro de 2007, o Congresso norte-americano aprovou a Lei de Biossegurança e Independência Energética, visando reduzir a dependência do petróleo e ampliar os investimentos em biocombustíveis. Foram definidas metas para o consumo de biocombustíveis nos EUA até As metas atualizadas são as seguintes: o consumo de etanol de milho deverá passar de 48 bilhões de litros em 2011 para 57 bilhões em 2022; o consumo de etanol de celulose (resíduos da cana, como casca, bagaço e a palha, restos de outras culturas, como do arroz, cascas, folhas e sabugos de milho) deverá passar de 1 bilhão de litros para 61 bilhões no mesmo período; o consumo de biocombustíveis avançados (onde entra o etanol de cana do Brasil) deverá passar de 2 bilhões de litros para 15 bilhões até Exportações e Mercado interno 3

4 Produção, exportação e vendas nacionais de etanol produção Exportação Vendas Internas Fonte: ANP, Conab, Secex /14* 14/15* 15/16* 16/17* 17/18* 18/19* 19/20* 20/21* Podemos pensar em alternativas, como: se há ociosidade nas usinas sucroalcooleiras por falta de cana e por outro lado há excesso de oferta interna de milho, por que não usar o cereal, a exemplo dos EUA? O fato é que o etanol de milho rende menos e custa mais caro: (i) o etanol de cana rende 6,4 litros por hectare em média, enquanto o etanol de milho no Brasil rende 2,6 litros por hectare, sendo que nos EUA o rendimento médio do etanol de milho é de 3,8 litros por hectare; (ii) o custo de produção de etanol de milho é mais alto, comparativamente à cana, que gira em torno de R$ 0,90 por litro, enquanto o etanol de milho é de R$ 1,20 por litro 8. Ainda pensando em alternativas, o milho poderia ser usado nas plantas das destilarias durante a entressafra da cana, dado que o cereal pode ser estocado, ao contrário da cana que precisa ser moída em 48 horas, anulando assim a baixa vantagem comparativa do milho. Mas existem os seguintes entraves: (i) necessidade de adaptação da planta; (ii) realização de paradas programadas para manutenção da planta durante os meses de dezembro a março, entressafra da cana, pois o processo produtivo é bastante corrosivo, e (iv) a oferta de milho para fabricação do etanol ficaria restrita à região Centro-Oeste, em razão dos elevados custos logísticos de transporte para outras regiões. Então esta não parece ser a solução a curto e médio prazo. Retrato do Setor Do etanol produzido, 32% é do tipo anidro (misturado à gasolina na proporção e 20% a 26%) e 68% é do tipo hidratado (usado diretamente como combustível). As exportações de etanol respondem por 8% da produção nacional, sendo os principais mercados de destino: 34% EUA, 15% Coreia, 14,8% Japão. O processamento da cana ocorre de abril a novembro, período no qual as usinas operam 24 horas por dia. 90% da safra de cana se concentra no Centro-Sul e 10% do Norte-Nordeste, destacando-se o estado de São Paulo, com 55% da produção. O Brasil é o 2º maior produtor global de etanol, com 33,5% do mercado, precedido pelos EUA que respondem por 45%. Segundo o Ministério da Agricultura, existem no País 437 unidades produtoras de açúcar e etanol (em 2009), sendo: 253 unidades mistas (58%) 16 produtoras de açúcar (4%) 168 produtoras de etanol (38%) 8 Ressalvas devem ser feitas, pois a fabricação de etanol a base de milho no Brasil é muito incipiente, e este custo reflete poucos projetos que estão em estudo. 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Leandro de Oliveira Almeida / Felipe Wajskop França/ Andrea Marcos Angelo Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Bast / Priscila Pereira Deliberalli Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Priscila Monteiro Ortega / Ana Beatriz Ract Pousada / Thiago Chaves-Scarelli / André Kengi Alves Hirata / Henrique Araújo da Silva O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5