Sistema de Previdência
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- Luiz Gustavo Prado Santiago
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1 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DOS SERVIDORES DA UNIÃO Lei nº , de 30 de abril de Jaime Mariz de Faria Junior * O Sistema Brasileiro de Previdência Social é organizado em três pilares: o Regime Geral de Previdência Social RGPS, organizado e operado pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, que garante a renda do contribuinte e de sua família, em casos de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice. O segundo, o Regime de Previdência Próprio do Servidor Público RPPS, que atua com os mesmos objetivos, com a diferença de garantir níveis de benefícios maiores que o RGPS. Sistema de Previdência Regime Geral Base: CF, art. 201 Regimes Próprios Base: CF, art. 40 Previdência Complementar Base: CF, art. 202 Obrigatório Obrigatório Facultativo Repartição Simples Repartição Simples Capitalização Assist.: 25,2 milhões Assist.: 960 mil Partic.: 3 milhões Déficit: 35,5 bilhões Déficit: R$ 54,5 bilhões Equilíbrio Urbana: 20,5 Bi Superávit Patrimônio: 603 bi 14,8 % PIB Nota: Dados de dezembro/2011 O terceiro pilar, o Regime de Previdência Complementar - RPC, com previsão pelo art. 202 da Constituição, possui caráter facultativo e contratual, é contributivo e organizado de forma autônoma em relação ao Regime Geral, e caracteriza-se como uma 1
2 modalidade de acumulação de recursos com objetivo de garantir uma renda adicional que possibilite a busca da manutenção do padrão de vida após a aposentadoria. O atual regime financeiro da previdência dos servidores públicos (RPPS) é de repartição simples, no qual não há formação de poupança. A contribuição dos servidores ativos é destinada integralmente ao pagamento dos inativos e pensionistas. Esse modelo, para se manter equilibrado, depende de uma relação de quatro servidores ativos para cada inativo. Porém, na União, essa relação está em 1,17 (cerca de 1,1 milhão de ativos para 960 mil inativos). No modelo em vigor, a contribuição do servidor está limitada a 11% do total de sua remuneração, enquanto que a União contribui com 22% sobre o mesmo total e ainda é responsável pela cobertura de eventual déficit. Com o objetivo de reduzir a despesa pública, no médio e longo prazo, dando continuidade à reforma do Sistema Previdenciário Brasileiro, aprovada em 2003 pela Emenda Constitucional nº 41 e em 2005 pela Emenda Constitucional nº 47, o governo federal aprovou em 30 de abril de 2012 a Lei nº que prevê a implantação do Regime de Previdência Complementar para o servidor público federal nos moldes dos fundos de pensão já existentes, ou seja, a criação de até 3 entidades fechadas de previdência complementar de acesso restrito ao servidor público federal dos três poderes, sem fins lucrativos. O plano de benefícios oferecido será organizado na modalidade de Contribuição Definida (CD) que garantirá ao servidor um benefício correspondente à sua capacidade de poupança. A Lei aprovada pelo Congresso Nacional proporciona um tratamento igualitário para os trabalhadores e segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) - destinado aos trabalhadores em geral e administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, e para os do Regime Próprio de Previdência Social - RPPS, destinado aos servidores públicos, em observância aos objetivos da República insculpidos nos artigos 3º e 5º da Constituição Federal de construir uma sociedade justa, reduzir as desigualdades sociais e promover o bem de todos sem discriminação. Uma vez constituídas essas novas entidades, o Estado passará a garantir o pagamento da aposentadoria do servidor, pelo Regime Próprio de Previdência dos Servidores da União, até o teto do RGPS, equivalente a R$ 3.916,20. Aquele servidor que ganhar acima 2
3 do teto e quiser fazer jus a um benefício maior, poderá filiar-se, facultativamente, à Funpresp e fazer suas contribuições com direito à contrapartida paritária do Governo. Num primeiro momento, haverá um custo de transição do RPPS para um regime de previdência complementar dos servidores públicos, uma vez que a União deixa de receber os 11% da parcela que excede ao teto e passa a contribuir para o plano de previdência do servidor até o limite de 8,5%. Porém este novo percentual de contribuição apresenta-se inferior aos 22% praticados no modelo atual, fora a necessidade constante de cobertura de déficit. A Lei recentemente aprovada está alinhada com as melhores práticas previdenciárias em países desenvolvidos que prezam pela responsabilidade fiscal e representa um avanço para as futuras contas públicas brasileiras, à medida que irá desonerar, no médio e longo prazo, o caixa do Tesouro Nacional com aposentadorias acima do teto do RGPS. Isso vai desatrelar os reajustes salariais dos servidores ativos daqueles que serão assistidos pelo novo Regime, liberando os recursos para fins sociais como, por exemplo, saúde e educação. Dessa forma, o servidor que entrar no serviço público após o início de funcionamento do plano de benefícios, a ser administrado pela Funpresp, terá garantida sua aposentadoria até o teto do RGPS (hoje equivalente a R$ 3.916,20). Se quiser garantir benefício previdenciário acima desse valor, poderá aderir a um plano de contribuição definida, com alíquota de contribuição de sua livre escolha. Até o limite de 8,5% sobre o que exceder o teto do RGPS, o servidor contará com aporte equivalente da União. O participante que quiser melhorar o valor do seu benefício futuro poderá contribuir com um valor superior aos 8,5%. No entanto, a contribuição acima desse percentual não receberá contrapartida da União. Os servidores públicos já em exercício na data da criação da Funpresp poderão permanecer no atual regime ou poderão optar pelo novo regime, até 24 meses após o início de funcionamento do plano de benefícios, fazendo jus a um benefício especial proporcional, baseado nas contribuições recolhidas ao regime de previdência da União. A Funpresp obedecerá aos preceitos das Leis Complementares n.º 108 e n.º 109/2001, que disciplinam o atual sistema de previdência complementar. A entidade funcionará sob a forma de fundação de natureza pública com personalidade jurídica de direito privado. Ela será obrigada a atender a legislação relativa às licitações e contratos administrativos, a realizar concurso público para contratação de pessoal e a conferir 3
4 publicidade de seus demonstrativos atuariais, de investimentos e contábeis. Além disso, a nova fundação deverá observar os princípios que regem a administração pública, especialmente os da eficiência e da economicidade. A Funpresp será constituída por conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva, compostos somente por servidores públicos titulares de cargo efetivo. Será assegurada a representação paritária entre patrocinadores e participantes no conselho deliberativo e no conselho fiscal. A escolha dos representantes dos participantes, por seus pares, será em eleição direta. Ainda é oferecida a possibilidade de a entidade constituir comitês de assessoramento técnico, de caráter consultivo, e por plano de benefício e com representação paritária entre patrocinador e os participantes e aposentados, cuja finalidade é a apresentação de sugestões quanto à gestão da entidade e sua política de investimentos. Tais dirigentes deverão possuir comprovada experiência em áreas do conhecimento afins às atividades dos fundos de pensão, tais como, finanças, atuária, contabilidade, auditoria e direito. Além do mais não podem ter sofrido condenação criminal transitado em julgado, tampouco penalidade administrativa por infração à legislação da previdência complementar ou como servidor público. Terão mandato, que só perderão em virtude de renúncia, condenação judicial transitada em julgado o processo administrativo disciplinar. A Lei prevê a exigência de instituição de código de ética e de conduta, inclusive com regras para prevenir conflito de interesse e proibição de operações dos dirigentes com partes relacionadas (parentes e afins), que terá ampla divulgação, especialmente entre os participantes e assistidos, cabendo ao conselho fiscal assegurar o seu cumprimento. Os benefícios programados de aposentadorias e pensões serão garantidos por plano de benefícios na modalidade Contribuição Definida - CD, que adota o regime financeiro de capitalização, ou seja, o servidor poderá planejar o montante de seu benefício de acordo com o tempo e o nível financeiro da contribuição. Esse modelo confere ao participante maior transparência de sua reserva ao longo do período de sua formação. Para a garantia dos benefícios de risco decorrentes de morte ou invalidez, bem como para equalizar as situações de contagem de tempo especial prevista na Constituição e de 4
5 risco de sobrevivência, será constituído fundo financeiro de equalização específico, formado com contribuições da União e dos servidores. Os proventos de aposentadoria dos futuros servidores que aderirem ao Funpresp, quando atingirem as condições para a aposentadoria e que optarem pelo regime complementar, receberão seus proventos compostos de dois benefícios e de fontes distintas: i) Benefício previdenciário do Regime Próprio de Previdência da União, cujo valor corresponderá ao do teto do RGPS; e ii) Benefício previdenciário a ser pago pelo regime de previdência complementar, derivado da acumulação de recursos. Em observância ao princípio do direito adquirido, bem como da expectativa de direito, os atuais servidores não serão abrangidos por essas regras, podendo, no entanto, caso seja de seu interesse optar por mudar sua situação, aceitando o limite e contribuindo para o benefício adicional no regime complementar. Neste caso, ainda terão um benefício especial, como forma de compensação e incentivo à adesão, calculado com base nas contribuições por eles vertidas, no tempo de vinculação ao regime próprio e no tempo exigido para cumprir as regras de aposentadoria vigentes. Os servidores nessa situação receberão seus benefícios previdenciários de três fontes distintas: i) Benefício previdenciário do Regime Próprio de Previdência da União, cujo valor corresponderá até ao valor do teto do RGPS; ii) Benefício especial, à título de incentivo e compensação, a ser pago de forma concomitantemente com o benefício pago pelo Regime Próprio; e iii) Benefício previdenciário a ser pago pelo regime de previdência complementar, derivado da acumulação de recursos pelo servidor. Essa nova sistemática abrangerá cerca de 40% da força de trabalho da União, ou seja, aqueles servidores que recebem remuneração acima do valor do teto de R$ 3.916,20. Os servidores que recebem remuneração até esse valor continuarão no Regime Próprio que já oferece um nível de benefício abrangido pelo referido limite. 5
6 A nova sistemática tem as seguintes vantagens: Simulações indicam que, com 8,5% de contribuição da União e os 11% do servidor, após 35 anos de contribuição, será assegurado um benefício, no mínimo, igual ao do Regime Atual, que equivale a 80% da remuneração descontada a contribuição previdenciária e os tributos devidos. O benefício pode até aumentar significativamente caso o servidor permaneça no serviço público por um tempo maior; Garantia do benefício previdenciário por tempo indeterminado, a fim de evitar que, no futuro, o servidor público mais longevo fique desprotegido em idade avançada. Esse benefício será assegurado por meio da formação de um fundo de equalização específico que garantirá que o benefício não seja extinto quando a pessoa estiver em idade avançada; Garantia da criação de três entidades de previdência complementar: a primeira destinada ao Poder Executivo, a segunda ao Poder Legislativo e Tribunal de Contas da União; e a terceira destinada ao Poder Judiciário. Dessa forma, preservando a autonomia e independência entre os Poderes da República; Fim da obrigatoriedade de terceirização da gestão dos recursos garantidores dos planos de previdência do servidor, que passa a ser uma decisão dos gestores da entidade, a exemplo do que ocorre nos mais de 300 fundos de pensão existentes tais como a Previ/BB, Funcef e Petros; Garantia que aquelas pessoas que possuem critérios diferenciados para aposentadoria terão seus direitos preservados; e Permite maior flexibilidade na política salarial dos servidores, uma vez que deixa de transferir os ganhos remuneratórios de servidores ativos para inativos, que passarão a ter reajustes das aposentadorias de acordo com a rentabilidade das aplicações do fundo de pensão. Parte das contribuições será destinada a constituição de fundos de equalização. Tais fundos têm como intuito possibilitar a concessão de uma renda por prazo indeterminado, minimizando o risco de variação dos benefícios em face da longevidade maior do servidor e de seus dependentes. 6
7 Outro efeito a ser equalizado é o da diferenciação prevista na Constituição para algumas carreiras (contagem de tempo especial professores, radiologistas, policiais) e para as mulheres, que têm condição especial, com aposentadoria mais cedo (idade menor) e com percepção do benefício por mais tempo em face da longevidade maior. As entidades, apesar de serem constituídas sob a personalidade jurídica de direito privado, deverão observar os princípios que regem a administração pública (em especial: eficiência, transparência e economicidade); terão que realizar concurso público para contratação de empregados; proceder à licitação para contratação de gestores de recursos, se optarem por uma gestão externa; e dar publicidade aos seus demonstrativos contábeis, atuariais, financeiros e de benefícios, bem como fornecer informações aos participantes e assistidos do plano de benefícios e à fiscalização. Assim como outros fundos de pensão, as entidades estarão obrigadas ao cumprimento das regras definidas na legislação, pelo órgão regulador, pelo Conselho Monetário Nacional, e sujeitas à fiscalização pelo órgão fiscalizador das entidades fechadas de previdência complementar, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar Previc, do Ministério da Previdência Social. Os patrocinadores dessas entidades, Poderes da União, deverão também realizar a supervisão e fiscalização sistemática das atividades das respectivas entidades. A aprovação do limite para o regime próprio e a implementação do regime complementar para os novos servidores públicos, de forma alguma impedirá que tenhamos um serviço público de qualidade, pois permitirá um tratamento mais adequado às diversas carreiras com pagamento de boa remuneração, melhoria do nível de profissionalização e garantia de estabilidade que se oferece aos servidores. A proposta está sendo tratada num bom momento, considerando a situação econômica estável em que o País se encontra (6ª economia no mundo) e o bônus demográfico da geração atual, que permite que possamos promover os ajustes de forma democrática, gradual e transparente. Assim, a proposta trazida pela Lei nº /2012, com as ajustes discutidos e incorporados no substitutivo, está alinhado em conformidade com o que acontece no mundo, 7
8 trata ao nosso modo, mas de forma semelhante aos principais países desenvolvidos, o tema da previdência para os servidores públicos, bem como com o que preconiza nossa Constituição. O novo regime busca aumentar a eficiência e promover a sustentabilidade do sistema, além de garantir justiça previdenciária. Com ele, o Brasil começaria a transição para uma previdência pública isonômica, dando tratamento semelhante aos trabalhadores públicos e privados. Os resultados dessa reforma surgirão no longo prazo, haja vista que inicialmente a União terá que manter os benefícios e as regras do regime próprio para os atuais servidores públicos, mudando, paulatinamente, com a aposentadoria e sua substituição por novos servidores já na nova sistemática. * Secretário de Políticas de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social. É mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi Pró-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Presidente da Companhia Energética do Rio Grande do Norte COSERN, por duas vezes e, também por duas vezes, Secretário de Estado do Rio Grande do Norte tendo dirigido as pastas de Planejamento e Finanças, e a de Administração, Recursos Humanos e Previdência. Além disso, exerceu a presidência do Conselho Estadual de Previdência do Estado do Rio Grande do Norte. Atuou, ainda, como diretor da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), membro do Conselho de Administração da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e como assessor da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Integração Nacional. Atualmente, além da função de Secretário, exerce as funções de Vice-presidente da Comissão Técnica dos Fundos de Investimentos da Associação Internacional de Seguridade Social-AISS, Presidente da Comissão Permanente dos Fundos de Pensão da Organização Iberoamericana de Seguridade Social OISS, membro titular do Conselho Nacional de Previdência Complementar-CNPC, membro titular representante do Governo Federal no Conselho Nacional de Previdência Social-CNPS, representante do Ministério da Previdência Social no Conselho Nacional de Seguros Privados-CNSP, membro titular do Conselho de Administração da Dataprev e membro do Conselho Nacional dos Dirigentes de Regimes Próprios de Previdência Social (Conaprev). JAIME MARIZ DE FARIA JÚNIOR Esplanada dos Ministérios, Bloco F, 6º andar, Gabinete Brasília, DF - CEP: sppc.gab@previdencia.gov.br Fone:(61) /5320 Fax: (61)
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