8. Política Monetária no Modelo Novo-Clássico 8.1. Expectativas racionais, curva de oferta de Lucas e a curva de Phillips vertical

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1 8. Política Monetária no Modelo Novo-Clássico 8.1. Expectativas racionais, curva de oferta de Lucas e a curva de Phillips vertical Modenesi (2005: cap. 3) Carvalho et al. (2015: cap. 10) 17/11/2017 1

2 Novo Clássicos A escola novo-clássica tem como expoentes Robert Lucas, Thomas Sargent e Neil Wallace. Eles mantém uma construção teórica baseada na taxa natural de desemprego e na curva de Phillips, mas substituem as expectativas adaptativas, usada por Friedman e monetaristas, pelas expectativas racionais. Assim como o monetarismo, a economia novo-clássica foi desenvolvida em contexto de altos níveis de inflação e desemprego da década de 1970, insatisfação com a teoria keynesiana dominante e apontam no sentido de políticas nãointervencionistas. 17/11/2017 2

3 Expectativas Racionais O conceito de expectativas racionais foi proposto por John Muth em seu artigo "Rational Expectations" de A diferença entre as expectativas adaptativas e racionais é que a primeira é backward-looking, ou seja, considera projeta o futuro a partir do passado, enquanto a segunda é forward-looking, ou seja, constrói o cenário esperado a partir de toda informação disponível a respeito do passado e presente relevantes para compreensão do futuro. Os novo-clássicos criticam o lento ajuste das expectativas considerado pelos modelos keynesianos e monetaristas com o argumento de que não há porque considerar que os agentes racionais basear-se-iam apenas no passado para formular suas expectativas, passíveis de erros sistemáticos. 17/11/2017 3

4 Expectativas Racionais Na visão de Lucas, expectativas racionais seriam mais compatíveis com agentes maximizadores que otimizariam o uso das informações disponíveis (dados e relações causais), apesar de não ser aplicável a situações de elevada incerteza (no sentido Knight-Keynes). Vale notar que, de certa forma, o termo forward-looking não é completamente adequado, uma vez que os agentes levam em consideração todas informações disponíveis, isto é sobre o passado, presente e futuro. 17/11/2017 4

5 Expectativas Racionais Em seu artigo, Muth sugere que os agentes constroem suas expectativas com base em distribuições subjetivas de probabilidade que devem ser coincidentes com as distribuições objetivas de probabilidade das variáveis em questão (versão forte). ሶ P t e = ሶ P t + ε t ε t ~iid 0, σ ε 2 Isto é, a expectativa de inflação é definida pela inflação mais um erro aleatório (independente e identicamente distribuído com média zero e variância mínima sem padrão de comportamento definido). 17/11/2017 5

6 Expectativas Racionais Estas propriedades do erro informam que os erros cometidos em um determinado período não contribuem para evitar erros nos períodos seguintes. Assim, a formação de expectativas racionais não implica que os agentes sempre acertarão suas expectativas, uma vez que nem toda informação relevante necessariamente está disponível, mas que o agente fará o melhor uso possível das informações disponíveis e, como resultado, não cometerá erros sistemáticos (frente a eventos repetitivos). 17/11/2017 6

7 Expectativas Racionais Como, segundo a TQM, variações de preço são decorrentes de variações no estoque de moeda e de choques que causem um aumento não esperado de demanda, segue que as expectativas de variação de preço são formuladas com base na expectativa de variações na oferta de moeda. Na média, as expectativas de inflação seriam corretas e os desvios em relação à média são mínimos. Esta hipótese não considera que os agentes conhecem efetivamente o verdadeiro modelo que governa a economia, mas que eles agem "como se" conhecessem, sendo capazes de antecipar corretamente o futuro a partir do conhecimento do passado e presente. 17/11/2017 7

8 Expectativas Racionais Por exemplo, o anúncio de uma política monetária expansionista será interpretada por todos como sendo causadora de inflação (preços e salários) e, por isso, não terá nenhum efeito real na economia (produto e emprego), nem mesmo transitório. Isto é, os agentes não precisam conhecer a TQM para considerar que elevações da oferta de moeda causam elevações de preços. 17/11/2017 8

9 Críticas às Expectativas Racionais As críticas às expectativas racionais, em geral, estão relacionadas a sua plausibilidade. Em primeiro lugar, questiona-se a razoabilidade de se supor que os agentes econômicos maximizam suas funções utilidades usando toda a informação disponível, tendo em vista os custos de obtenção e processamento das informações. Em segundo lugar, questiona-se a efetiva possibilidade de os agentes aprenderem o modelo que descreve o verdadeiro funcionamento da economia, de forma que, na média, comportem-se conforme previsto pela teoria econômica relevante, visto que os próprios economistas não conseguem estabelecer um consenso sobre a teoria econômica relevante. 17/11/2017 9

10 Curva de oferta de Lucas A curva de oferta no modelo novo-clássico considera que os agentes (firmas e trabalhadores) são racionais maximizadores e tomam suas decisões com base em preços relativos. Desconsiderando aumentos inesperados de demanda, como os agentes conhecem as regras de expansão da oferta de moeda, então as variações de preço efetivas e esperadas são iguais e, como resultado, a taxa de desemprego seria sempre igual à taxa natural. Conforme exemplo anterior, políticas monetárias expansionistas anunciadas com o objetivo de aquecer a economia geram apenas elevação de preços e salários por parte dos empresários e trabalhadores (isto é, elevação no nível geral de preços, sem alteração nos preços relativos), não há nenhum impacto sobre o nível de produto e emprego da economia. 17/11/

11 Curva de oferta de Lucas A curva de oferta de curto prazo, contudo, é positivamente inclinada e reflete a possibilidade de choques inesperados da oferta monetária gerarem efeitos reais sobre a economia, desviando o produto e emprego de suas taxas naturais. A oferta de trabalho depende da comparação do salário real corrente em relação ao salário real médio que influencia a alocação intertemporal de tempo e lazer que maximiza a utilidade substituição intertemporal trabalho-lazer. Um salário real corrente mais elevado no presente faz os trabalhadores desejarem trabalhar mais no presente para desfrutar de maior lazer no futuro. No caso de um choque, os trabalhadores entenderiam a elevação do salário nominal como sendo uma elevação do salário real maior do que o aumento efetivo, tendo em vista a elevação inesperada dos preços. 17/11/

12 Curva de oferta de Lucas Pelo lado dos empresários, alterações nos preços absolutos (nível geral de preços) podem ser percebidas como alterações nos preços relativos, fazendo com que os empresários compreendam que o movimento de preços como reflexo de alteração na demanda do seu produto e não de uma política monetária, o que o induz a elevar sua produção, contratando mais trabalhadores a um salário real mais alto, compatível com o aumento percebido (de maneira equivocada) da receita marginal. Assim, um distúrbio monetário poderia ser compreendido como um distúrbio real, levando os empresários a decidir ampliar sua oferta, como resultado dos problemas de informação imperfeita (sobre condução da política monetária) e de extração de sinal (sobre variações de preços absolutos ou relativos). 17/11/

13 Curva de oferta de Lucas Considerando que não é possível enganar de maneira recorrente os agentes, com o passar do tempo......os trabalhadores percebem que o salário real não aumentou em relação ao salário médio e contraem a oferta de trabalho (ao nível inicial), e...os empresários percebem que não houve elevação da demanda e dos preços relativos e retraem a oferta (ao nível inicial),...voltando a economia para o nível de produto e emprego correspondente às taxas naturais. 17/11/

14 Curva de oferta de Lucas A curva de oferta de longo prazo, então, retrata a situação em que há informação perfeita, isto é não há choques de demanda ou monetário (ausência de eventos inesperados), a economia opera com produto associado à taxa natural de desemprego e, por isso, a curva de oferta é vertical. A curva de oferta de Lucas de longo prazo indica que as expectativas ao longo do tempo tendem a ser corretas e a taxa de desemprego corrente é igual à taxa natural, considerando que as expectativas são formadas tendo em conta toda informação disponível e o modelo adequado de funcionamento da economia. 17/11/

15 Curva de oferta de Lucas Neste modelo, não há distinção entre firmas e trabalhadores. Mudanças nos preços relativos levam a mudanças na quantidade oferta de produto/trabalho pelas firmas/trabalhadores, enquanto mudança no nível geral de preços mantém tudo inalterado. Com informação imperfeita e problema de extração de sinais, no curto prazo, as firmas/trabalhadores podem perceber erroneamente que alterações nos preços/salários nominais correspondem a alterações nos preços relativos. Mas, no longo prazo, os erros são eliminados. 17/11/

16 Curva de oferta de Lucas A função de oferta de Lucas retrata o comportamento preventivo dos produtores, que reagem apenas parcialmente a elevações de preços (frente a possibilidade de informação imperfeita e problema de extração de sinais): Y t = Y N + α ሶ P t ሶ P t e onde α > 0 Quão maior a instabilidade (variância) de preços na economia, mais difícil para o empresário identificar se a mudança de preço representa variação absoluta ou relativa, acentuando seu comportamento preventivo e, portanto, diminuindo sua reação quanto à variações de oferta quão menor, mais inclinada a curva de oferta de CP. No LP, as expectativas são corretas e a curva de oferta é vertical. 17/11/

17 ሶ Curva de oferta de Lucas Y s CP (M e 1, G e 0, T e 0, I e 0,...) Y Y 1 Y = F(N, K) P Y s LP Y s CP (M e 0, G e 0, T e 0, I e 0,...) Y P P 1 P 1 P 0 Y d (M 1, G 0, T 0, I 0 ) N P N 1 N Y P Y 1 Y d (M 0, G 0, T 0, I 0 ) Y W/P W 1 / P 0 N s (M e, G e, T e, I e,...) N d (W/P) N s (W/P e ) P e f(m e, G e, T e, I e,...) W 0 / P 0 =W 1 / P 1 Y t = Y N + α ሶ P t P t ሶ e W 1 / P 1 N d N N P N 1 17/11/ CP: LP: P t <> P t ሶ = ሶ P t e Y t <> Y N ሶ P t e Y t = Y N

18 Curva de Phillips Vertical Segundo Sargent e Wallace, em seu artigo "Rational Expectations and the Theory of Economic Policy" de 1975, apenas políticas monetárias com elemento surpresa seriam capazes de causar efeitos reais na economia, a partir da frustração de expectativas. Quando os empresários percebem o seu erro, reduzem sua produção e a demanda por trabalho e, quando os trabalhadores percebem seu erro, reduzem a oferta de trabalho, levando o mercado de trabalho de volta a sua taxa natural. A partir da curva de oferta de Lucas, a Curva de Phillips seria dada por: ሶ P t = ሶ P t > P t ሶ e + α U N U t onde P t ሶ e = E ሶ P t e U t < U N ሶ P t /I t 17/11/

19 Curva de Phillips Vertical O desvio em relação à taxa natural só ocorre transitoriamente como resultado de choques monetários inesperados. π CP CP CP LP π 1 B C=D 0 1 n A μ π e =π 1 π e =0% 17/11/

20 Curva de Phillips Vertical Vale notar que o elemento "supresa", por definição, deve ser "não antecipado" e, por isso, não pode seguir nenhum tipo de regra preestabelecida, sem configurar, portanto, uma "política" e sem utilidade para condução da economia em direção a qualquer objetivo predeterminado, visto que a aleatoriedade intrínseca à intervenção "surpresa" inviabiliza o alcance de um alvo. A curva de Phillips vertical negativamente inclinada no curto prazo (informação imperfeita) e vertical no longo prazo (informação perfeita) retrata a impossibilidade de o governo manter a economia operando permanentemente abaixo da taxa natural de desemprego moeda superneutra. 17/11/

21 Equilíbrio contínuo dos mercados A partir da hipótese de expectativas racionais segue que os mercados estão em equilíbrio contínuo. Os resultados observados representam posições de equilíbrio de Pareto, dado o conjunto de informações disponíveis. As flutuações são resultado de erros de expectativa, mas considera-se que não há ilusão monetária (que não possa ser evitada): os agentes racionais estão continuamente maximizando suas funções objetivo, dadas as informações disponíveis e agindo como se conhecessem o verdadeiro funcionamento da economia. De acordo com Modenesi (2005, p.155): a concepção segundo a qual a economia está permanentemente em equilíbrio é tautológica. 17/11/