5. Política Monetária Novo-Clássica 5.1. Expectativas racionais, curva de oferta de Lucas e a curva de Phillips vertical
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1 5. Política Monetária Novo-Clássica 5.1. Expectativas racionais, curva de oferta de Lucas e a curva de Phillips vertical Carvalho et al. (2015: cap. 10) Modenesi (2005: cap. 3, ss.1-3.1) 11/06/2019 1
2 Novo Clássicos Assim como o monetarismo, a economia novo-clássica foi desenvolvida em contexto de altos níveis de inflação e desemprego da década de 1970, insatisfação com a teoria keynesiana dominante e apontam no sentido de políticas não-intervencionistas. A escola novo-clássica tem como expoentes Robert Lucas, Thomas Sargent e Neil Wallace, com destaque para o artigo "Rational Expectations and the Theory of Economic Policy" de Eles mantém uma construção teórica baseada na taxa natural de desemprego e na curva de Phillips, mas substituem as expectativas adaptativas, usada por Friedman e monetaristas, pelas expectativas racionais, com o argumento de que os agentes otimizam também o uso das informações (dados e relações causais), apesar de não ser aplicável a situações de elevada incerteza (no sentido Knight-Keynes). 11/06/2019 2
3 Expectativas Racionais Os novo-clássicos criticam o lento ajuste das expectativas considerado pelos modelos keynesianos e monetaristas com o argumento de que não há porque considerar que os agentes racionais se baseiam apenas no passado para formular suas expectativas, passíveis de erros sistemáticos. A diferença entre as expectativas adaptativas e racionais é que a primeira é backward-looking, ou seja, projeta o futuro a partir do passado, enquanto a segunda é forward-looking, ou seja, constrói o cenário esperado a partir de toda informação disponível a respeito do passado e presente relevantes para compreensão do futuro. 11/06/2019 3
4 Expectativas Racionais e a inflação A principal expectativa formulada pelos agentes diz respeito ao comportamento dos preços. Os novo-clássicos não consideram que os agentes conhecem efetivamente o verdadeiro modelo (TQM) que governa a economia, mas que eles agem "como se" conhecessem. Ou seja, os agentes não conhecem as razões teóricas que justificam a relação entre oferta de moeda e preços, mas, ainda assim, o anúncio de uma política monetária expansionista seria interpretada por todos como sendo causadora de inflação (preços e salários). Assim, os agentes (firmas e empresários) antecipam o comportamento dos preços, a partir das informações disponíveis sobre a regra de variação do estoque monetário. π e = E(π/I) = E(π/m) 11/06/2019 4
5 Expectativas Racionais O conceito de expectativas racionais foi proposto por John Muth em seu artigo "Rational Expectations" de Em seu artigo, Muth sugere que os agentes constroem suas expectativas com base em distribuições subjetivas de probabilidade que devem ser coincidentes com as distribuições objetivas de probabilidade das variáveis em questão (versão forte). No caso das expectativas de inflação formuladas com base em expectativas racionais, apenas no curto prazo poderia haver divergência em relação à inflação efetiva decorrente de algum choque imprevisto causado pela autoridade monetária. m t = m t e + ρ t tal que ρ t ~iid 0, 2 Onde ρ t reflete choques inesperados na oferta de moeda. 11/06/2019 5
6 Expectativas Racionais e a Curva de oferta de Lucas Neste modelo, enquanto mudança no nível geral de preços mantém tudo inalterado, mudanças nos preços relativos levam a mudanças na quantidade oferta de produto/trabalho pelas firmas/trabalhadores. Com informação imperfeita e problema de extração de sinais, no curto prazo, em caso de choques monetários, as firmas/trabalhadores podem perceber erroneamente que alterações nos preços/salários nominais correspondem a alterações nos preços relativos, alterando produção e emprego. Quando os empresários percebem o seu erro, reduzem sua produção e a demanda por trabalho e, quando os trabalhadores percebem seu erro, reduzem a oferta de trabalho, levando a economia de volta ao produto potencial e o mercado de trabalho à sua taxa natural. No longo prazo, os erros são eliminados e a economia opera em pleno emprego. 11/06/2019 6
7 Expectativas Racionais e a Curva de Oferta de Lucas Assim, a curva de oferta no modelo novo-clássico considera que os agentes (firmas e trabalhadores) são racionais maximizadores e tomam suas decisões com base em preços relativos. Y t = Y p + ψ P t P t e ou Y t = Y p + ψ π t π t e Onde ψ representa o grau de reação da oferta às divergências entre os preços correntes e os preços esperados (ou, alternativamente, inflação corrente e esperada). A função de oferta de Lucas retrata o comportamento preventivo dos produtores, que reagem apenas parcialmente a elevações de preços, frente a possibilidade de informação imperfeita e problema de extração de sinais sobre o comportamento dos preços relativos. 11/06/2019 7
8 Expectativas Racionais e a Curva de Oferta de Lucas Y t = Y p + ψ P t P t e onde ψ > 0 Quando as variações de preço efetivas e esperadas são iguais, a economia opera em seu nível potencial e a taxa de desemprego é igual à taxa natural, o que ocorre quando não há surpresas monetárias no curto prazo e permanentemente no longo prazo. Quão maior a instabilidade (variância) de preços na economia no curto prazo, mais difícil para o empresário identificar se a mudança de preço representa variação absoluta ou relativa, acentuando seu comportamento preventivo e, portanto, diminuindo sua reação quanto à variações de oferta quão menor ψ, mais inclinada a curva de oferta de CP. 11/06/2019 8
9 Curva de oferta de Lucas Curto Prazo (variações antecipadas) Políticas monetárias expansionistas anunciadas com o objetivo de aquecer a economia geram apenas elevação de preços e salários por parte dos empresários e trabalhadores (isto é, elevação no nível geral de preços, sem alteração nos preços relativos), não há nenhum impacto sobre o nível de produto e emprego da economia, mesmo no curto prazo. W/P W 1 /P 1 A=B N s (P e ) =W /P 0 0 A Y d P P 1 P 0 B Y s Y s N 0 N d N Y 0 Y d Y 11/06/2019 9
10 Curva de oferta de Lucas Curto Prazo (choques) A curva de oferta de curto prazo, contudo, reflete a possibilidade de choques inesperados da oferta monetária gerarem efeitos reais sobre a economia, desviando o produto e emprego de suas taxas naturais. W/P N s (P e ) P Y s W 1 /P 0 P B A 1 W 2 /P 2 =W /P B P A Y d W 1 / P 1 N 0 N 1 N d N Y 0 Y 1 Y d Y 11/06/
11 Curva de oferta de Lucas CP (choque reação do empresário) Pelo lado dos empresários, alterações nos preços absolutos (nível geral de preços) podem ser percebidas como alterações nos preços relativos, fazendo com que os empresários compreendam o movimento de preços como reflexo de alteração na demanda do seu produto e não de uma política monetária, o que o induz a elevar sua produção, contratando mais trabalhadores a um salário nominal mais alto. Assim, um distúrbio monetário poderia ser compreendido como um distúrbio real, levando os empresários a decidir ampliar sua oferta, como resultado dos problemas de informação imperfeita (sobre condução da política monetária) e de extração de sinal (sobre variações de preços absolutos ou relativos). 11/06/
12 Curva de oferta de Lucas CP (choque reação do trabalhador) A oferta de trabalho depende da comparação do salário real corrente em relação ao salário real médio que influencia a alocação intertemporal de tempo e lazer que maximiza a utilidade substituição intertemporal trabalho-lazer. Um salário real corrente mais elevado no presente faz os trabalhadores desejarem trabalhar mais no presente para desfrutar de maior lazer no futuro. No caso de um choque, os trabalhadores entenderiam a elevação do salário nominal como sendo uma elevação do salário real, tendo em vista que a elevação dos preços é inesperada. 11/06/
13 Curva de oferta de Lucas Curto Prazo Considerando que não é possível enganar de maneira recorrente os agentes, com o passar do tempo, os trabalhadores percebem que o salário real não aumentou em relação ao salário médio e contraem a oferta de trabalho (ao nível inicial) e os empresários percebem que não houve elevação da demanda e dos preços relativos e retraem a oferta (ao nível inicial), voltando a economia para o nível de produto potencial e emprego correspondente à taxa natural. W/P W 1 /P 0 P B A=C 1 W 2 /P 2 =W /P B P A Y d W 1 / P 1 N s (P e ) N d N N 0 N 1 11/06/2019 Y 0 Y 1 Y 13 P P 2 C Y s Y s Y d
14 Curva de oferta de Lucas Longo Prazo A curva de oferta de longo prazo, então, retrata a situação em que há informação perfeita, isto é não há choques de demanda ou monetário (ausência de eventos inesperados), a economia opera com produto associado à taxa natural de desemprego e, por isso, a curva de oferta é vertical. A curva de oferta de Lucas de longo prazo indica que as expectativas ao longo do tempo tendem a ser corretas e a taxa de desemprego corrente é igual à taxa natural, considerando que as expectativas são formadas tendo em conta toda informação disponível e o modelo adequado de funcionamento da economia. 11/06/
15 Curva de oferta de Lucas Longo Prazo No LP, as expectativas são corretas e a curva de oferta é vertical. P W/P N s (P e ) A=B W 1 /P 1 =W 0 /P 0 Y d P 1 P 0 B A Y s N 0 N d N Y 0 Y d Y 11/06/
16 Curva de Phillips Vertical Pelas expectativas racionais, tem-se que: π e = E(π/I) = E(π/m) m t = m t e + ρ t tal que ρ t ~iid 0, 2 Assim, a Curva de Phillips pode ser reescrita como: π = π e - (μ μ N ) = π - ρ - (μ μ N ) ρ = - (μ μ N ) Variações esperadas na oferta de moeda e demanda agregada não seriam capazes de afetar emprego e produto: ρ = 0 e μ = μ N, o que corresponde à proposição de ineficácia da política monetária. Apenas choques monetários com elemento surpresa (ρ) seriam capazes de causar efeitos reais transitórios na economia, a partir da frustração de expectativas. 11/06/
17 Curva de Phillips Vertical De modo geral, segundo Sargent e Wallace, políticas monetárias expansionistas teriam efeito apenas sobre os preços, retratado em uma Curva de Phillips vertical mesmo no curto prazo. O desvio em relação à taxa natural só ocorre transitoriamente como resultado de choques monetários inesperados (ρ t ). π CP π 1 B C 0 1 n A μ π e =π 1 π e =0% 11/06/
18 Novo Clássico e Monetaristas Neste modelo, não há distinção entre firmas e trabalhadores, enquanto no modelo monetarista apenas os trabalhadores erram suas expectativas. No curto prazo, diferentemente da visão monetarista, mesmo que haja mudança na regra de expansão monetária, desde que a alteração possa ser incorporada às expectativas, não terá efeitos reais na economia nem mesmo no curto prazo. Para as duas correntes, contudo, se a mudança for inesperada, então afetará as variáveis reais, além dos preços. No longo prazo, as duas correntes também entendem que há informação perfeita, os erros de expectativa são eliminados e a economia opera no produto potencial e com pleno emprego. 11/06/
19 Equilíbrio contínuo dos mercados Em um contexto onde os agentes usam expectativas racionais, a economia tende à taxa natural de desemprego e os mercados funcionam em equilíbrio contínuo. Os resultados observados representam posições de equilíbrio de Pareto, dado o conjunto de informações disponíveis. As flutuações são resultado de erros de expectativa, mas considera-se que não há ilusão monetária (que não possa ser evitada): os agentes racionais estão continuamente maximizando suas funções-objetivo, dadas as informações disponíveis e agindo como se conhecessem o verdadeiro funcionamento da economia. De acordo com Modenesi (2005, p.155): esta concepção segundo a qual a economia está permanentemente em equilíbrio é tautológica. 11/06/
20 Críticas às Expectativas Racionais As críticas às expectativas racionais, em geral, estão relacionadas a sua plausibilidade. Em primeiro lugar, questiona-se a razoabilidade de se supor que os agentes econômicos maximizam suas funções utilidades usando toda a informação disponível, tendo em vista os custos de obtenção e processamento das informações. Em segundo lugar, questiona-se a efetiva possibilidade de os agentes agirem como se conhecessem o modelo que descreve o verdadeiro funcionamento da economia, de forma que, na média, comportem-se conforme previsto pela teoria econômica relevante, visto que os próprios economistas não conseguem estabelecer um consenso sobre a teoria econômica relevante. 11/06/
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