INTERAÇÃO ENTRE MÃO DE OBRA E PRODUTIVIDADE EM MATRIZES PESADAS COMERCIAIS

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Transcrição:

23 INTERAÇÃO ENTRE MÃO DE OBRA E PRODUTIVIDADE EM MATRIZES PESADAS COMERCIAIS Adriana Borsa 1, Carlos Eduardo Cruz 2 1 Professora da Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT. 2 Zootecnista formado em 2007 pela Universidade do Oeste Paulista RESUMO Atualmente o mundo todo se preocupa com o bem estar animal, e de fato, as aves industriais só expõem o seu potencial genético, em um estado de bem estar físico. Embora os padrões dos equipamentos e os tipos de alojamentos tenham sofrido alterações significativas em termos de automatização nos últimos tempos, tal estado só se consegue com a intervenção humana. Assim sendo temos que o homem é fundamental na produção avícola intensiva. Com o objetivo de investigar o papel da mão de obra em termos de viabilidade, produtividade de matrizes pesadas e eclodibilidade e incubabilidade de ovos férteis, realizou-se um estudo comparativo entre duas granjas da mesma empresa trabalhando com matrizes de mesma idade e linhagem, e galpões com características estruturais semelhantes, entretanto com diferente tipo de mão de obra. Concluiu-se que houve significativa diferença em termos de produtividade e incubabilidade dos ovos na granja onde havia mão de obra treinada e especializada. INTERACTION BETWEEN WORKMANSHIP HAND AND PRODUCTIVITY IN COMERCIAL BROILER BREEDERS ABSTRACT Currently the world all is worried about the welfare animal, and in fact, the industrial birds only displays its potential genetic, in a welfare state physicist. Although the standards of the equipment and the types of lodgings have suffered significant alterations in terms from automatization in the last times, such state alone if obtains with the intervention human being. Thus being we have that the man is basic in the intensive poultry production. With the objective to investigate the paper of the hand of workmanship in viability terms, productivity of broiler breeders and eclodibility and incubability of fertile eggs, comparative study in two farms of the same company was become fullfilled working with broiler breeders of same age and line, and sheds with similar structural characteristics, however with different type of workmanship hand. One concluded that it had significant difference in productivity terms and incubability of eggs in the farm where it had hand of trained and specialized workmanship.

24 INTRODUÇÃO A seleção genética para as características produtivas das matrizes avícolas é realizada por programas de melhoramento genético onde são selecionados animais com diferencial de seleção frente a índices de produtividade, tais como produção de ovos, fertilidade, incubabilidade e mortalidade (OKADA, 1994). Com a evolução genética, cada ano que passa temos aves com melhores índices produtivos e desempenho, no entanto, as matrizes vão se tornando mais sensíveis e exigentes em manejos específicos. O manejo afeta a expressão do arranjo dos genes. Cada linhagem vai ter um determinado potencial genético para ganho de peso, conversão alimentar, entre outros parâmetros, mas o manejo do lote é que determinará se esse potencial será atingido ou não (DUDGEON, 1999). Embora os padrões dos equipamentos e os tipos de alojamentos tenham sofrido alterações significativas nos últimos anos, não foram alterados os princípios básicos de manejo na criação, havendo grande necessidade de qualidade de mão de obra a fim de obterem-se resultados superiores (BAKKER, 1999). As atividades na criação de matrizes de corte se concentram nos galpões de cria/recria e de produção (GALLETI, 1994). De acordo com Baião (1994) todos os procedimentos de manejo são baseados nas médias de uma determinada população ou lote; o consumo de alimento e a produção de ovos, por exemplo. Entretanto, a pesagem das aves sempre revela um grupo de aves acima do peso, outro dentro da média e um terceiro abaixo do peso médio. Essas variações são normais, contudo necessita-se de um bom manejo para atingir a expressão completa do potencial genético da linhagem, quer seja para corte ou postura. Os genes quantitativos, isto é, relativos às características de produtividade não se expressam igualmente sob qualquer sistema de manejo, sendo necessárias boas condições para haver boa produtividade. Ainda, segundo Arenázio (1994), o controle da uniformidade de peso das aves na fase de recria constitui um dos mais importantes fatores que determinam a performance reprodutiva de um lote de matriz pesada, pois a taxa de produção de ovos, fertilidade, viabilidade das matrizes, percentual de eclosão e a qualidade do pinto são fatores influenciados pela taxa de uniformidade na fase de recria e, posteriormente na fase de produção, onde é necessário monitorar semanalmente a uniformidade por meio de pesagens de amostras do lote. A produtividade nos matrizeiros depende muito do controle do galpão. Equipamentos automatizados podem controlar a temperatura, umidade, ventilação, isolamento e arraçoamento, mas dependem, sobretudo, de acordo com Prior (1994) com a qualidade da mão de obra. A propriedade deve oferecer treinamento e programas de melhoria dos funcionários; material de apoio como normas, pautas, manuais e definições; supervisores qualificados, além de incentivos e fomentos da atividade para obter melhor desempenho. Manejo é uma palavra que teve origem do termo latim manus, e pode ser definida como uma ciência multidisciplinar que estuda alternativas e tenta melhorar as relações entre as aves e o seu ambiente de criação, e, portanto, permite o alcance da solução dos problemas com as mãos (BAUMGARTNER, 1994). Atualmente, por razões éticas, sociais e/ou políticas, temos que o mundo todo se preocupa com o bem estar animal, e de fato, as aves industriais só expõem o seu potencial genético, em um estado de bem estar físico e mental, e como tal estado só se consegue com a intervenção humana, temos que Colloquium Agrariae, v. 4, n.1, Jun. 2008, p. 23-29

25 o homem é fundamental na produção avícola intensiva (VIEIRA, 2001). De acordo com Vicente (1994) investir nas pessoas é a forma mais adequada e econômica para os empresários otimizarem suas organizações. Para se implantar um programa de qualidade de forma sistêmica nas empresas, é de fundamental importância que o primeiro passo seja dado pela diretoria. Após este passo, chega a vez de informar, formar e consultar os gerentes e chefes sobre a mais adequada maneira de proceder a implantação (VIEIRA, 2001). Começa-se desta forma a criar uma nova cultura de qualidade, segundo a qual fica, para os diretores, a decisão do que fazer; e para a gerência e chefia, a de como fazer. A conquista de excelência da qualidade aumenta a produtividade, pois reduz o trabalho e diminui os custos operacionais, combatendo refugos, desperdícios e perdas em geral (VICENTE, 1994). A ação gerencial normalmente caracterizase pelo exercício da decisão e pela obtenção de resultados por meio da equipe. Tanto para decidir quanto para obter os resultados por meio da equipe, os gerentes devem estar preparados para exercer lideranças sobre pessoas, de modo a torná-las produtivas. Embora possa parecer que a maior parte das pessoas trabalha principalmente para satisfazer suas necessidades de alimento, abrigo e vestuários, o fato é que, hoje, a maioria espera muito mais do seu emprego, em termos de relacionamentos sociais, auto-estima e trabalho gratificante (BAUMGARTNER, 1994). De acordo com Branco (1994) é preciso despertar a iniciativa e a boa vontade do trabalhador, dando-lhe condições favoráveis para a realização das tarefas. O objetivo desta pesquisa foi realizar uma comparação entre o manejo de duas granjas de matrizes pertencentes a mesma empresa, porém localizadas em municípios diferentes e com diferente tipo de mão de obra, avaliando-se a viabilidade e produtividade das matrizes e a eclodibilidade e incubabilidade dos ovos férteis. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado em duas granjas da mesma empresa, denominadas como granjas A e B, localizadas em diferentes municípios, entretanto, com os mesmos aspectos estruturais e climatização. Em ambas as granjas a linhagem das matrizes criadas era Coob Slow, específica para a produção de frangos de corte, oriundas do incubatório da Cobb localizado no município de Guapiaçu-SP. Durante o período da realização da avaliação das granjas, na granja A, havia um total de 22150 fêmeas e 2328 machos; e na granja B, 22589 fêmeas e 2520 machos, na proporção média de 9 fêmeas por macho. Nas duas granjas, este total de aves estava distribuído em dois galpões. As duas granjas adotavam uma densidade de 6 a 7 aves por metro quadrado e de 4,5 a 5 galinhas por boca de ninho. A avaliação da produtividade das aves nas diferentes granjas foi realizada durante seis semanas, durante os meses de julho e agosto de 2007, entre a 29 a e 34 a semana de vida das aves, fase correspondente ao pico de produção. Em ambas as granjas, os galpões eram de alvenaria, dispostos no sentido leste-oeste, com 156m de comprimento, 12m de largura e 3,0m de pé-direito. As laterais possuíam 30cm de altura, com telas anti-pássaros até o teto com cortinas móveis de ráfia plástica em toda a sua extensão. O piso era de cimento alisado com uso de cama de palha de arroz e as telhas, de barro. Na recepção das granjas, para a entrada de veículos, havia um arco para desinfecção dos mesmos, e para a higienização de funcionários e visitantes havia o banheiro para que todos tomassem banho e vestissem uniforme da

26 empresa antes de entrar nas áreas internas. Antes de entrar nos aviários, os funcionários tomavam outro banho e vestiam outro uniforme para usar dentro dos galpões. Em relação ao sistema de alimentação adotava-se o sistema dual, que é um sistema diferencial para machos e fêmeas, isto é, para as fêmeas, o tipo de comedouro utilizado era o automático tipo calha, constituído por um sistema fechado, com correntes transportadoras de ração, com o dimensionamento de 15 cm lineares por ave; com grades divisórias para evitar a alimentação do galo. Este modelo de comedouro com grades que impedem o acesso dos machos aos comedouros das fêmeas, leva em conta o diferencial do tamanho da cabeça do macho em relação à fêmea e a presença de crista nos machos, deixando como opção a estes, comedouros manuais suspensos. Os bebedouros utilizados em ambas as granjas eram os pendulares, com abastecimento automático, utilizando-se a medida de aproximadamente 1cm de água no bebedouro, sendo suficiente para as aves sem risco de desperdício de água e umidecimento da cama. Uma observação importante é que este tipo de bebedouro requer higienização e revisão diária. Em ambas as granjas, eram utilizadas ventiladores e exaustores para fazer a troca de ar do ambiente, e, além disso, era realizado o manejo manual das cortinas, as quais ficavam abertas em tempo integral para manter o ambiente arejado, sendo fechadas em dias chuvosos e frios. A ração formulada era a mesma para ambas as granjas. Na granja A, a equipe era formada por mão de obra especializada. Os funcionários eram recrutados de acordo com sua aptidão ao trabalho e recebiam treinamento específico. Na granja B, devido à escassez de mão de obra os funcionários logo após serem contratados eram imediatamente direcionados ao setor de trabalho nas granjas, sem receber treinamento específico. Avaliou-se semanalmente o percentual de viabilidade nas granjas, que é avaliação das aves que estão em postura no lote, verificando-se o número de aves que foram alojadas, descontando-se semanalmente a mortalidade ocorrida. O índice de produtividade (postura) foi obtido pela avaliação do percentual de ovos que o lote estava produzindo. Foi realizada uma média semanal, durante o período de avaliação. Em relação ao manejo do ovo fértil, avaliou-se o percentual de incubabilidade e eclodibilidade dos ovos férteis. O índice de incubabilidade foi avaliado pelo percentual de ovos que estavam aptos a serem incubados, isto é, ovos com conformação elíptica, casca íntegra, com boa espessura, sem sujidades ou deformidades. Já o índice de eclodibilidade foi avaliado pelo percentual de ovos que eclodiram, ou seja, a quantidade de nascimentos obtidos com relação aos ovos incubados. A prática de manejo da cama foi avaliada por meio da verificação de compactação e umidade da mesma e presença de lesões nas aves, tanto no peito como no coxim plantar, o que está diretamente relacionado com a qualidade do manejo da cama. O delineamento foi em blocos casualizados, onde cada semana constituiu-se como um bloco (6 semanas analisadas; logo temos 6 blocos); tendo dois tratamentos, referentes à granja com mão de obra especializada (granja A) e a outra, sem mão de obra especializada (granja B). Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 podemos observar os resultados obtidos em relação aos índices de viabilidade, produtividade (postura), incubabilidade e eclodibilidade nas granjas A e B.

TABELA 1- Médias, teste F, desvio padrão e coeficiente de variação referentes aos índices de viabilidade, produtividade (postura), incubabilidade e eclodibilidade nas granjas A e B onde realizou-se comparação relativa à qualidade de mão de obra GRANJAS Viabilidade Produtividade Eclodibilidade Incubabilidade 27 A 99,75 a 83,52 a 89,15 a 97,37 a B 99,75 a 79,28 b 88,03 a 96,82 b Teste F 0,00 NS 73,51 ** 4,73 NS 12,02 * Desvio padrão 0,09 0,86 0,89 0,27 C.V. 0,09 1,06 1,00 0,28 a, b em cada coluna médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,05). NS não significativo (P>0,05) * - significativo (P<0,05) ** - significativo (P<0,01) Em relação à viabilidade das matrizes durante o período analisado, não se verificou diferença significativa, indicando que não houve interferência em relação à qualidade da mão de obra em relação a este parâmetro. Ressalta-se que os equipamentos, instalações e ambiência eram semelhantes nas duas granjas e a ração era produzida com a mesma formulação e ingredientes. Observou-se um maior índice de ovos incubáveis na granja A, onde são realizadas 7 coletas diárias de ovos férteis, o que resultou em maior aproveitamento dos ovos para incubação, com menor número de ovos trincados, quebrados e contaminados. Na granja B eram realizadas normalmente 5 colheitas, devido menor agilidade da equipe de mão de obra, resultando em um maior número de ovos dormidos, trincados e contaminados, conseqüentemente, houve menor índice de ovos para incubação, em relação à granja A. Quanto ao manejo da cama, nas duas granjas utilizou-se o mesmo material para a forração do aviário, ou seja, a palha de arroz. No entanto, na granja A era realizada a viragem e rastelamento diário da cama para evitar a compactação e a umidade, o que normalmente contribui para o aumento da fertilidade e conseqüentemente a taxa de eclosão do lote, porque evita lesões nos pés das aves, tanto de machos quanto de fêmeas, conforme já citado por Machado (1994). Na granja B, a cama não era virada diariamente devido à falta de habilidade da mãode-obra, com isso nesta granja a cama tornava-se úmida e compactada; observando-se assim lesões nos pés tanto dos machos quanto das fêmeas (pododermite), conforme citado por Valle (1996). Estas lesões podem causar dificuldades na cobertura e conseqüente queda do percentual de ovos férteis e taxa de eclosão. Contudo, a análise dos dados não indicou diferenças significativas entre os índices de eclosão das granjas A e B, o que nos leva a concluir que o manejo da cama, neste caso, não influenciou na eclodibilidade dos ovos, tampouco a taxa de viabilidade das matrizes. Em relação à produtividade, os dados apontam que a granja A apresentou melhores Colloquium Agrariae, v. 4, n.1, Jun. 2008, p. 23-29

28 índices produtivos, o que provavelmente se deve a um melhor nível de uniformidade de peso do lote. O programa de uniformidade na fase de produção é realizado conforme Arenázio (1994), entretanto no caso da granja B este procedimento não foi seguido, o que provavelmente prejudicou a sua produtividade. De acordo com os resultados, verificou-se que a qualidade da mão de obra na granja A foi preponderante para a obtenção de níveis significativamente maiores em relação à produtividade e incubabilidade de ovos em relação à granja B. Contudo, de acordo com Baumgartner (1994), a motivação, a competência, a sinergia grupal e a iniciativa individual depende da ação do gerente, que é, em grande parte condicionada pela cultura da organização: ou seja, pelos valores, políticas, estilos, procedimentos e outros aspectos que regulam o comportamento das pessoas. Outra possível causa de uma performance produtiva menor dos trabalhadores é, a precariedade em que se encontra o sistema educacional básico. Considerando-se estes fatores mencionados, a empresa tem buscado melhorias em relação às condições de trabalho na granja B, como fornecimento de alimentação e moradia aos trabalhadores. No entanto, questiona-se a questão salarial como fator desmotivador, tendo em vista que outras empresas da cidade oferecem melhores salários, e desta forma, os funcionários da granja estão sempre buscando novos empregos. Outro ponto a considerar é que normalmente as folgas na granja nem sempre são em finais de semana como em outros locais, havendo escalas de folgas semanais. Discute-se fatores regionais e sociais como destaque para a ocorrência de uma mão de obra pouco relacionada e envolvida com interesses referentes ao trabalho específico em granjas, independente da questão salarial. No entanto, vale ressaltar a afirmação de Branco (1994) que é preciso despertar a iniciativa e a boa vontade do trabalhador, dando-lhe condições favoráveis para a realização das tarefas. Frente aos resultados obtidos nas condições específicas do presente estudo foi possível concluir que a qualidade da mão de obra é fundamental para a produtividade em granjas de matrizes. REFERÊNCIAS ARENAZIO, J. C. O. Manejo Inicial e de recria. In: PINHEIRO, M. R. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994. p. 51-72. BAIÃO, N. C. Alimentação e controle de peso. In: PINHEIRO, M. R. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994. p. 73-79. BAKKER, W. Manejo dos Machos Reprodutores. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE NA FASE FINAL, 1999, Campinas. Anais... Campinas: FACTA, 1999. p. 85-96. BAUMGARTNER, M. A. Postura Gerencial para Eficácia. In: Pinheiro, M. R. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994. p. 169-171. BRANCO, J. A. D. Gerenciamento de Produção. In: Pinheiro, M. R. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994. p. 185-187. DUDGEON, J. Manejo durante as Fases de Cria e Recria para Otimizar a Produtividade das Linhagens Atuais. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE NA FASE FINAL, 1999, Campinas. Anais... Campinas: FACTA, 1999. p. 97-102.

29 GALLETI, P. R. Desafios da Gerência: Gerenciamento de Pessoas. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994. p. 181-183. MACHADO, P. S. Manejo da cama. In: Pinheiro, M. R. Manejo de Frangos. Campinas: FACTA, 1994, p. 47-58. OKADA, T. M. Importância do Manejo de Matrizes. Manejo de Frangos. Campinas: FACTA, 1994. p. 41-46. PRIOR. J. Estrutura da Moderna Empresa Avícola. Manejo de Frangos. Campinas: FACTA, 1994, p. 11-20. VALLE, R. Reproductoras: mortalidad durante el período de producción. Avicultura profesional, v. 14, n. 4, p.10-15, 1996. VICENTE, F. Qualidade, produtividade e gente. Manejo de Matrizes. Campinas: FACTA, 1994, p. 165-167. VIEIRA, S. L. Idade da Matriz, Tamanho do Ovo e Desempenho do Pintinho. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO PRÉ E PÓS- ECLOSÃO, 2001, Campinas. Anais... Campinas: FACTA, 2001. p. 118-123.