inteiros =, 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3, racionais = q reais complexos = i quaterniões = j octoniões =

Documentos relacionados
Estruturas Algébricas Uma Introdução Breve

Cálculo Diferencial e Integral I

Números - Aula 03. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil

ESTRUTURAS ALGÉBRICAS FICHA DE EXERCÍCIOS

Apresentar o conceito de anel, suas primeiras definições, diversos exemplos e resultados. Aplicar as propriedades dos anéis na relação de problemas.

dia 10/08/2010

Álgebra Linear e Geometria Anaĺıtica. Matrizes e Sistemas de Equações Lineares

CÁLCULO I. 1 Número Reais. Objetivos da Aula

Operações Fundamentais com Números

Álgebra Moderna Profª Ana Paula OPERAÇÕES

(Ciência de Computadores) 2005/ Diga quais dos conjuntos seguintes satisfazem o Princípio de Boa Ordenação

Assumem-se alguns preliminares, nomeadamente: conhecimentos básicos de Teoria dos Números.

(A1) As operações + e são comutativas, ou seja, para todo x e y em A, x + y = y + x e x y = y x

OPERAÇÕES - LEIS DE COMPOSIÇÃO INTERNA

ANÉIS. Professora: Elisandra Bär de Figueiredo

Teoria dos anéis 1 a parte 3

Curso Satélite de. Matemática. Sessão n.º 1. Universidade Portucalense

Matrizes e sistemas de equações algébricas lineares

Axiomas de corpo ordenado

Números Reais. Víctor Arturo Martínez León b + c ad + bc. b c

Universidade Federal de Goiás Regional Catalão - IMTec

Um polinômio com coeficientes racionais é uma escrita formal

Curso de Matemática Aplicada.

Chama-se conjunto dos números naturais símbolo N o conjunto formado pelos números. OBS: De um modo geral, se A é um conjunto numérico qualquer, tem-se

Universidade Estadual de Santa Cruz. Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas. Especialização em Matemática. Disciplina: Estruturas Algébricas

Geometria Analítica. Geometria Analítica 28/08/2012

CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS. Apostila do 8º ano Números Reais Apostila I Bimestre 8º anos

Pensamento. "A escada da sabedoria tem os degraus feitos de números." (Blavatsky) Prof. MSc. Herivelto Nunes

Anéis quocientes k[x]/i

Licenciatura em Ciências da Computação 2010/2011

A DEFINIÇÃO AXIOMÁTICA DO CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS.

Matrizes - Matemática II /05 1. Matrizes

Slides de apoio: Fundamentos

Matemática II /06 - Matrizes 1. Matrizes

INE5403 FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA DISCRETA

MATEMÁTICA I. Ana Paula Figueiredo

Observação: Todas as letras em negrito abaixo (x, y, z, a e b) representam números reais.

1 Números Reais. 1. Simplifique as seguintes expressões (definidas nos respectivos domínios): b) x+1. d) x 2, f) 4 x 4 2 x, g) 2 x2 (2 x ) 2, h)

Geometria Analítica. Cleide Martins. Turmas E1 e E3. DMat - UFPE Cleide Martins (DMat - UFPE ) VETORES Turmas E1 e E3 1 / 22

CONJUNTO DOS NÚMEROS INTEIROS

Material Teórico - Módulo: Vetores em R 2 e R 3. Operações Envolvendo Vetores. Terceiro Ano - Médio

MA14 - Aritmética Unidade 22 Resumo. Aritmética das Classes Residuais

Prof a Dr a Ana Paula Marins Chiaradia

Alfabeto, Cadeias, Operações e Linguagens

Generalizações do Teorema de Wedderburn-Malcev e PI-álgebras. Silvia Gonçalves Santos

Produto Misto, Determinante e Volume

Operações Fundamentais com Números

Unidade I MATEMÁTICA. Prof. Celso Ribeiro Campos

MONÔMIOS E POLINÔMIOS

Universidade Federal de Goiás Câmpus Catalão Aluno: Bruno Castilho Rosa Orientador: Igor Lima Seminário Semanal de Álgebra

Números Reais. Gláucio Terra. Departamento de Matemática IME - USP. Números Reais p. 1/2

para Fazer Contas? A primeira e, de longe, mais importante lição é 1.1. Produtos notáveis; em especial, diferença de quadrados!

Equipe de Matemática MATEMÁTICA. Matrizes

Cálculo Diferencial e Integral Química Notas de Aula

extensões algébricas.

Breve referência à Teoria de Anéis. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/ / 204

GRUPOS ALGUNS GRUPOS IMPORTANTES. Professora: Elisandra Bär de Figueiredo

inteiros positivos). ˆ Uma matriz com m linhas e n colunas diz-se do tipo m n. Se m = n ( matriz quadrada), também se diz que a matriz é de ordem n.

Capítulo 1. Os Números. 1.1 Notação. 1.2 Números naturais não nulos (inteiros positivos) Última atualização em setembro de 2017 por Sadao Massago

Unidade 2 - Matrizes. A. Hefez e C. S. Fernandez Resumo elaborado por Paulo Sousa. 9 de agosto de 2013

Espaços vectoriais reais

A representação geométrica dos novos números. Por quê é necessário representar os novos números no plano?

Polinômios e o Problema de Contagem

ÁLGEBRA LINEAR. Espaços Vetoriais. Prof. Susie C. Keller

Cálculo diferencial em IR n

Uma produção de significados para o conceito de anel

Códigos perfeitos e sistemas de Steiner

1.2. ELEMENTOS DE ÁLGEBRA EXPANSÃO DE PRODUTOS

Matrizes - ALGA /05 1. Matrizes

ficha 1 matrizes e sistemas de equações lineares

a 11 a a 1n a 21 a a 2n A = a m1 a m2... a mn

Números Inteiros: Continuação

Matrizes. Curso de linguagem matemática Professor Renato Tião

São tabelas de elementos dispostos ordenadamente em linhas e colunas.

O espaço das Ordens de um Corpo

Universidade de Aveiro Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática. Transformações 2D

Notas de Aulas de Matrizes, Determinantes e Sistemas Lineares

Unidade 1 - O que é Álgebra linear? A. Hefez e C. S. Fernandez Resumo elaborado por Paulo Sousa. 9 de agosto de 2013

Figura disponível em: <

Abaixo descreveremos 6 portas lógicas: AND, OR, NOT, NAND, NOR e XOR.

Sistemas Digitais Álgebra de Boole Binária e Especificação de Funções

1.1 Propriedades básicas dos números reais, axiomática dos números reais.

Produto de Matrizes. Márcio Nascimento

Aula 11 IDEAIS E ANÉIS QUOCIENTES META. Apresentar o conceito de ideal e definir anel quociente. OBJETIVOS

Definição: Todo objeto parte de um conjunto é denominado elemento.

Material Teórico - Módulo de Potenciação e Dízimas Periódicas. Números Irracionais e Reais. Oitavo Ano. Prof. Ulisses Lima Parente

Programa da disciplina de. Álgebra I

1. Conhecendo-se somente os produtos AB e AC, calcule A = X 2 = 2X. 3. Mostre que se A e B são matrizes que comutam com a matriz M = 1 0

Introdução à Álgebra de Lie

objetivos Teoria dos anéis 2 a parte 4 Meta da aula Pré-requisito

Lógica Computacional

1. CONJUNTOS NUMÉRICOS

Teoria Elementar dos Conjuntos

Um Curso de Nivelamento. Instituto de Matemática UFF

1. Programa da unidade curricular

Números Inteiros Axiomas e Resultados Simples

Apostila de Matemática 10 Matriz

Eduardo. Matemática Matrizes

Universidade Federal Fluminense - GAN

Álgebra Linear Semana 04

Transcrição:

NOTA PRÉVIA As breves notas que se seguem destinam-se a constituir uma introdução bastante sucinta de algumas estruturas algébricas abstractas. Os exemplos escolhidos baseiam-se, essencialmente, nos conjuntos dos números mais conhecidos equipados com as respectivas operações usuais. números naturais = 1, 2, 3, 4, 5, { } { } inteiros =, 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3, racionais = p r= pq,, q 0 q reais complexos = i quaterniões = j octoniões = Apesar de, do ponto de vista histórico, ter causado alguma dificuldade «psicológica» a aceitação pelo mainstream quer dos números negativos quer dos números complexos, é talvez a definição dos números reais que deve causar maior cuidado e reflexão. Uma forma, hoje quase universalmente aceite, de introduzir os números reais deve-se ao matemático alemão Julius Wilhelm Richard Dedekind (1831-1916). Veja-se, a este propósito: Michael Spivak, Calculus. Cambridge: Cambridge University Press, 3rd ed., 1994, pp. 578-596 (Chapters 29-30). Sobre os números (em geral) e sobre os complexos, os quaterniões e os octoniões (em particular), consulte-se a excelente obra: H.-D. Ebbinghaus et al., Numbers. New York: Springer-Verlag, 1991. Uma referência importante para o estudo das estruturas algébricas em álgebra abstracta é o livro: Rui Loja Fernandes e Manuel Ricou, Introdução à Álgebra. Lisboa: IST Press (Vol. 15), 2004. A construção de Cayley-Dixon, segundo a qual se tem = i = j = pode ser consultada em: 1

Pertti Lounesto, Clifford Algebras and Spinors. Cambridge: Cambridge University Press, 2nd ed., 2001, p. 302 (Chapter 23). Uma optima referência sobre octoniões é a seguinte http://math.ucr.edu/home/baez/octonions/: John C. Baez, The octonions, Bull. Amer. Math. Soc., Vol. 39, pp. 145-205, 2002. Finalmente, para os mais exigentes em termos de álgebra, recomendam-se os seguintes livros: NÍVEL ELEMENTAR Serge Lang, Undergraduate Algebra. New York: Springer, 3rd ed., 2005. Garrett Birkhoff and Saunders Mac Lane, A Survey of Modern Algebra. Wellesley, Massachusetts: A. K. Peters, 4th ed., 1997. NÍVEL AVANÇADO Saunders Mac Lane and Garrett Birkhoff, Algebra. Providence, Rhode Island: AMS Chelsea Publishing, 3rd ed., 1999. Roger Godement, Cours d Algèbre. Paris: Hermann, 1996. N. Bourbaki, Elements of Mathematics: Algebra I, Chapters 1-3. Berlin: Springer- Verlag, 1989. Thomas W. Hungeford, Algebra. New York: Springer, 1974. Serge Lang, Algebra. New York: Springer, Revised Third Edition, 2002. Derek J. S. Robinson, A Course in the Theory of Groups. New York: Springer, 2nd ed., 1996. Joseph J. Rotman, An Introduction to the Theory of Groups. New York: Springer, 4th ed., 1995. Para os interessados na história do conceito de grupo, recomenda-se: Hans Wussing, The Genesis of the Abstract Group Concept: A Contribution to the History of the Origin of Abstract Group Concept. Mineola, New York: Dover, 2007 (1984). 2

Seja X um conjunto não-vazio, i.e., X. Uma operação binária em X é uma aplicação µ : X X X. Uma estrutura algébrica abstracta não é mais do que o par ( X, ) em que o símbolo é usado para representar a operação binária, i.e., tem-se (, ) µ xy = x y. Escreve-se, então, µ : X X X: xy, x y. O conjunto X é designado por suporte da estrutura abstracta ( X, ). DEFINIÇÃO 1 Chama-se MAGMA ao conjunto X equipado com uma operação binária. Portanto, o par ( X, µ ) ou (, ) X é um magma. Frequentemente indica-se a operação binária por simples justaposição, i.e., escreve-se xy em vez de ( xy, ) µ. Só se utiliza o símbolo + para indicar a operação binária quando esta é comutativa, i.e., quando µ ( xy, ) µ ( yx, ) =. Diz-se, neste caso, que se usa a notação aditiva. Em todos os outros casos a notação diz-se multiplicativa. O uso dos parênteses segue a convenção habitual, i.e., x( yz) = µ x, µ ( yz, ) ( xy) z= µ µ ( xy, ), z 3

que são, em geral, resultados diferentes (i.e., no caso geral não se admite a associatividade). DEFINIÇÃO 2 Chama-se SEMIGRUPO a todo o magma associativo, i.e., em que a operação binária é associativa: = x yz xy z. Note-se, e.g., que o magma (, ) não constitui um semigrupo já que, em geral, a multiplicação não é associativa. Tendo em consideração o comportamento dos inteiros 0 e 1, respectivamente em relação à adição e ao produto usuais, define-se o elemento neutro em abstracto. DEFINIÇÃO 3 Seja uma operação binária no suporte X. Ao elemento e X tal que xe= e x= x para qualquer x X, dá-se o nome de ELEMENTO NEUTRO da operação binária. Frequentemente ao elemento neutro chama-se zero (utilizando-se o símbolo 0 ) quando se usa a notação aditiva e um ou identidade (utilizando-se o símbolo 1 ) quando se usa a notação multiplicativa. Facilmente se demonstra que o elemento neutro é único. DEFINIÇÃO 4 O elemento x X diz-se INVERTÍVEL sse (abreviatura de «se e só se») existe y X tal que xy = y x= e. Neste caso, y diz-se INVERSO de x. 4

Pode facilmente demonstrar-se que, num semigrupo, se x X tem inverso à direita y, e inverso à esquerda z, então y sucessivamente = z e x é invertível. Com efeito, tem-se ( porque ), ( zx) y z ey z ( porque zx e), y z ( porque e y y). xy = e z xy = z ze= z = porque a operação é associativa, = = = = Na notação aditiva é frequente chamar simétrico ao inverso y de x X, sendo então representado por y = x. Na notação multiplicativa, porém, se y é o inverso de x X escreve-se y = x 1. DEFINIÇÃO 5 Chama-se MONÓIDE a um semigrupo em que a operação binária tem identidade (ou elemento neutro) no suporte. Note-se, a título de exemplo, que o semigrupo (,+) não é um monóide já que 0. Facilmente se verifica que, num monóide, o inverso de um elemento invertível é único e pertence, também, ao suporte. Representa-se por X invertíveis do monóide ( X, ). Assim, e.g., tem-se = { 1, 1} (, ). Já, por outro lado, = em relação ao monóide (,+) em relação ao monóide (, ) se tem = \{ 0} num monóide ( X, ), se, xy tem-se sucessivamente ( e = 1) = xy y x x yy x 1 1 1 1 ( x ) = = xx = 1. 1 1 x, 1, X o conjunto dos elementos em relação ao monóide. Note-se, ainda, que. Facilmente se demonstra que, são invertíveis, então 1 1 1, xy = y x. Com efeito, 5

Estamos, agora, em condições de definir o conceito fundamental das estruturas algébricas o conceito de grupo. DEFINIÇÃO 6 Um GRUPO ( G, ) é um monóide (, ) G em que todos os elementos são invertíveis. Em particular, um grupo diz-se ABELIANO quando a respectiva operação binária for comutativa. O monóide (, ) não constitui um grupo já que o número 0 não é invertível. Já o monóide (,+) é um grupo: todos os elementos têm simétrico. O monóide (, ) não é um grupo, mas o monóide (, ) abeliano (recorda-se aqui que, e.g., ij já constitui um grupo apesar de não ser um grupo = ji ). Tem-se, portanto, a seguinte sucessão de estruturas algébricas (do geral para o particular, em sentido crescente no que respeita à riqueza da estrutura). MAGMA SEMIGRUPO MONÓIDE GRUPO O conceito de grupo permite a formulação de uma estrutura mais rica a estrutura de anel. 6

DEFINIÇÃO 7 Um ANEL é um terno ordenado ( A, +, ) em que: (i) o par (, ) A + é um grupo abeliano; (ii) o par ( A, ) é um semigrupo; (iii) a multiplicação é distributiva em relação à adição. No caso particular em que o semigrupo ( A, ) constitui um monóide, o anel diz-se um ANEL UNITÁRIO. Quando a multiplicação é comutativa o anel diz-se um ANEL ABELIANO. Note-se que, na definição de anel, o magma ( A, ) é apenas um semigrupo não constitui, necessariamente, um monóide. Assim, o conjunto dos números naturais não constitui um anel: o semigrupo (,+) não é um monóide porque 0 e, portanto, muito menos um grupo. Mesmo o conjunto = { } não constitui um anel: o monóide 0 0,+ 0 não é um grupo: qualquer n 1 não é invertível pois não possui simétrico. Os octoniões não constituem um anel já que o magma (, ) não é um semigrupo (a multiplicação não é associativa). São anéis:,,, e. Num anel unitário A designa-se por A o conjunto dos elementos invertíveis do monóide ( A, ). Prova-se a seguinte proposição: se A é um anel unitário, então ( A, ) é um grupo. DEFINIÇÃO 8 Um anel unitário A diz-se um ANEL DE DIVISÃO quando se tiver A = A\ { 0}, i.e., quando todos os elementos não-nulos forem invertíveis. Chama-se CORPO a um anel de divisão abeliano. Assim, o anel não é um anel de divisão: os elementos não-nulos não são invertíveis em relação à multiplicação. Os anéis,, e são anéis de divisão. O anel de 7

divisão dos quaterniões de Hamilton não é um corpo já que a respectiva multiplicação não é comutativa. São corpos:, e. ANÉIS DE DIVISÃO CORPOS ANÉIS Definição 9 O anel A verifica a LEI DO CORTE para o produto se abc,, A, c 0 e ac= bc ou ca= cb a= b. Um DOMÍNIO INTEGRAL é um anel unitário abeliano A { 0} no qual a lei do corte para o produto é válida. O anel é um exemplo de um domínio integral. Outros domínios integrais são:, e. O anel de divisão dos quaterniões de Hamilton não constitui um domínio integral: não é, sequer, um anel abeliano. 8

Anéis Domínios Integrais Corpos Anéis de Divisão Quando se passa da Álgebra Geral para a Álgebra Linear, novas estruturas ganham importância nomeadamente, a de MÓDULO SOBRE UM ANEL e a de ESPAÇO VECTORIAL SOBRE UM CORPO. Não se abordam, aqui, estes novos conceitos. 9