ESTUDO DO VALOR PROTEICO DE MISTURAS DE FEUAO COM FARINHA DE MANDIOCA 2. VALOR BIOLÓGICO E DIGESTÍBILIDADE

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ESTUDO DO VALOR PROTEICO DE MISTURAS DE FEUAO COM FARINHA DE MANDIOCA 2. VALOR BIOLÓGICO E DIGESTÍBILIDADE ffisako Shima* SHIMA, H. - Estudo do valor proteico de misturas de feijão com farinha mandioca. _ Valor biológico e digestibilidade. Rev t.'sc. Enf. LSI'. V (1): 48-64, 1975. Através Ja elaboração de balanço nitrogenado, o autor determinou o valor biológico da farinha de feijão pura e de duas combinações diferentes desta com a farinha de mandioca, comparando-as com a caseína. O estudo foi realizado considerando-se dois períodos diferentes de adaptação. - se aceitarmos um período de adaptação de urna semana como válida, observamos diferença significativa ao nivel de 5%, somente entre os valores biológicos do feijão puro puro e da Mistura J. considerando-se que o período de adaptação não deve ser menor que 12 dias, os valores biológicos do feijão puro e das duas misturas estudadas são inferiores ao da caseína, ao nivel de significancia de 5%. O coeficiente de digestibilidade dos alimentos não pode ser responsável pelas diferenças dos valores biológicos obtidos e do nivel de crescimento dos animais. * Auxiliar de ensino da disciplina Nutricio e Dietética aplicada a Enfermagem.

INTRODUÇÃO Conforme discutimos em um trabalho anterior (SHIMA, 1974), o desenvolvimento de misturas proteicas vegetais de boa qualidade nutricional a baixo custo e com boa aceitação é essencial para minimizar o problema mundial da desnutrição. Elaboramos nesse mesmo trabalho (SHIMA, 1974), um experimento em animais com o intuito de verificar o valor nutritivo da associação feijão com farinha de mandioca. Estudamos o feijão puro e duas combinações dos dois alimentos em proporções diferentes, e os comparamos à caseína. Analisamos o aminograma e discutimos a eficiência proteica e crescimento dos animais com as diferentes dietas. Todos os grupos estudados revelaram crescimento inferior ao grupo alimentado com caseína, ao nível de significancia de 5%. Nos alimentados com a mistura contendo 75% de feijão e 25% de farinha de mandioca, o crescimento não foi diferente ao ocorrido no grupo alimentado com feijão puro; mas quando combinamos partes iguais dos dois alimentos (50:50%), o nível de crescimento diminuiu de maneira significativa, ao nível de 5%. Prosseguindo os estudos iniciados, determinamos no presente trabalho o valor biológico e o coeficiente de digestibilidade das diferentes misturas, através da elaboração de balanço nitrogenado. MATERIAL E MÉTODO Animais de experiência: utilizamos 40 ratos (Rattus norwergicus, albinus) machos, todos obtidos no Biotério Central da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que foram divididos ao acaso em 4 grupos de 10, de maneira que o peso médio em todos os grupos fosse, aproximadamente, o mesmo. Feijão (Phaseolus vulgaris), variedade jalo, adquirido no comércio de São Paulo, em quantidade suficiente para todo o período de experiência. Preparo da farinha de feijão: todo feijão utilizado na experiência sofreu cocção em quantidade de água tal que, após o cozimento, se apresentasse praticamente seco. A seguir foi levado à secagem em estufa ventilada, regula-

da à temperatura não superior à 60 C, depois, moída manualmente. Amostras da farinha de feijão assim obtidas foram analisadas em seu conteúdo proteico, dando como resultado 23,15% de proteína. Para posterior reconstituição da farinha de feijão em feijão cozido ou cru, registramos o seu peso nas diferentes condições. Obtivemos que, quando o feijão foi cozido, seu peso aumentou em 210% e, quando transformado em farinha perdeu cerca de 12% do peso, em relação ao do cm. MATOS JR (1952) obteve uma redução de 17% do peso em relação ao feijão cru, quando elaborada a farinha. Farinha de mandioca: comum, contendo 1,22% de proteína, adquirida no comércio de São Paulo, em quantidade suficiente para todo o período de experiência. Caseína: contendo 75,6% de proteína. Misturas de farinha de feijão com farinha de mandioca: a farinha de feijão foi misturada com a de mandioca em duas proporções que denominamos Mistura I e Mistura II, assim constituídas: Mistura I (17,67% de proteínas e 350 calorias/loog) 75% de farinha de feijão 25% de farinha de mandioca Mistura II (12,19% de proteínas e 348 calorias/loog) 50% de farinha de feijão 50% de farinha de mandioca Discriminamos na tabela I, a composição percentual das misturas, em quantidade de alimento. Rações: as utilizadas neste estudo foram calculadas à base de 6% de proteína na, e de modo a fornecer aproximadamente 400 calorias/loog de ração, e estão esquematizadas na tabela II. cada uma das rações. Apresentamos na tabela III, a natureza das fontes proteicas de

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Tabela II - Composição das rações utlizadas {%) ".^Ilação Alimentos. A B C D Farinha de feijão 25,9 Mistura I 33,0 Mistura II 49,5 Caseína 7,9 Oleo 6,0 7,0 9,0 5,0 oleo de fígado de bacalhau 1,6 1,6 1,6 1,6 Sais minerais 3,2 3,2 3,2 3,2 Vitaminas 1,6 1,6 1,6 1,6 Açúcar 61,7 53,6 35,1 80,7 Proteína (mg/kcal*) 14,8 14,4 14,8 14,7 Calorias/Kg de ração** 4058 4033 4075 4066 Calorias pro / Calotéicas /rias totais 0,059 0,059 0,059 0,059 * 0 conteúdo proteico foi analisado pelo método de Kjeldahl modificado ALBANE SE (1963). * O conteúdo calórico foi obtido por cálculo a partir dos dados da tabela de FRANCO,G. s.d.

Tentamos usar a mandioca como única fonte proteica da ração; entretanto, devido à sua escassez nesse nutriente e a impraticabilidade de se obter uma ração com 6% de proteína, não nos foi possível realizar este propósito. Métodos de dosagem de nitrogênio nos alimentos: foi utilizado o método de Kjeldahl modificado (ALBANESE, 1963), que consiste em digerir a amostra em H2SO4 concentrado e mistura digestiva (sulfato de cobre e sulfato de potássio) até a solução clarear. A adição de um excesso de álcali em um sistema fechado, liberta amônia que é recebida em ácido bórico a 5% e titulada com H2SO4 0,1N. Para calcular a proteína, foi usado o fator convencional (N x 6,25). nas fezes e na urina: as fezes totais de cada rato foram digeridas pelo método de Kjeldahl e o digerido transportado para um balão volumétrico de looml. O seu volume foi completado com água destilada e o nitrogênio determinado numa alíquota de 5 ml. O volume total de urina foi completado com água destilada até a unidade mais próxima e tomada uma amostra de 5 ml para deteirninação de nitrogênio. Procedimentos experimentais: os 4 grupos de 10 ratos, ao acaso e tratados da seguinte forma: foram separados Grupo A animais recebendo ração A, á base de feijão. Grupo B animais recebendo ração B, que continha 75% de farinha de feijão e 25% de farinha de mandioca Mistura I. Grupo C animais recebendo ração C que continha 50% de farinha de feijão e 50% de farinha de mandioca Mistura II. Grupo D animais recebendo ração D, à base de caseína. Este grupo serviu como controle. Os ratos foram mantidos em gaiolas individuais (construídas especialmente para elaboração de balanço nitrogenado (ZUCAS et al,1969),

recebendo água e ração ad libitum, por um período de 28 dias, durante o qual pesou-se a dieta todos os dias e os ratos, cada dois dias. Balanço Nitrogenado: durante as 4 semanas que durou a experiência foi nosso propósito elaborai a média dos balanços nitrogenados reais, relativos aos 4 grupos de ratos em 2 períodos de sete dias: IP período: correspondente à 2? semana de experiência. 29 período: correspondente a 4? semana de experiência. Os valores de balanço nitrogenado podem apresentar uma variação diária considerável, como observaram SWENSEID et al (1956). Assim para obtermos dados mais exatos elaboramos o estudo abrangendo 7 dias em cada período. Nesses períodos, as fezes foram colhidas todos os dias, e mantidas em frascos com H2SO4 concentrado e a temperatura ambiente. A urina era recolhida em frasco contendo H2SO4 a 5%, a cada 2 dias, e guardada em geladeira. A elaboração do balanço nitrogenado permitiu-nos a determinação de: Nitrogênio ingerido: obtido a partir da cota de alimento ingerido por rato e conhecendo-se a porcentagem proteica das rações. Nitrogênio alimentar em cada período. fecal: determinado pela dosagem nas fezes recolhidas urinario: também obtido por dosagem na urina reco Nitrogênio alimentar lhida no período. Perda fecal obrigatória: (Nitrogênio metabólico): eliminado nas fezes, independente da quantidade de nitrogênio ingerido. Perda urinaria obrigatória: (Nitrogênio endógeno): quantidade de N que é obrigatoriamente excretado na urina, independentemente do nitrogênio ingerido

Estas perdas nitrogenadas obrigatórias foram obtidas por extrapolação das retas obtidas para nitrogênio fecal e urinario, em relação à proteína ingerida, ao ponto zero (MATTOS, 1971). Através destes dados tornou-se possível o cálculo de: Nitrogênio absorvido: correspondente à diferença entre o nitrogênio ingerido e o alimentar fecal, menos a perda fecal obrigatória. Nitrogênio retido ou fixado: correspondente à diferença entre o absorvido e o alimentar urinario, menos a perda urinaria obrigatória. Calculamos ainda a percentagem de nitrogênio absorvido sobre o ingerido, que representa o Coeficiente de Digestíbilidade, e o Valor Biológico, que corresponde à percentagem de nitrogênio retido sobre a cota absorvida. O Balanço Nitrogenado Real, apresentado em g/dia, representa a diferença entre o nitrogênio ingerido e o eliminado por dia, levando em conta as perdas nitrogenadas obrigatórias. Métodos estatísticos Empregamos o teste de Student a fim de detectar as diferenças existentes entre os resultados, sendo este feito ao nível de significancia de 5%. RESULTADOS Os dados obtidos estão discriminados na tabela IV (primeiro período) e na tabela V (segundo período). DISCUSSÃO A mensuração do valor de uma proteína pela determinação do Valor Biológico que mede a eficiência de uma proteína em relação à manutenção, incorre em algumas dificuldades.

Tabela IV - Balanço nitrogenado aédio real en ratos alimentados coi caseína,feijão, Mistura I e Mistura II. (10 período). Nitrogênio (ng/dia) B Ingerido 59,43 60,10 51,40 68,29 Fecal 22,58 21,04 20,47 6,72 Perda fecal obrigatória (N netabólico). 3,05 3,09 3,04 3,50 Urinario 26,02 22,78 20,77 32,94 Perda urinaria obriga toria (N endógeno) 10,32 10,46 10,30 11,84 Absorvido 39,90 42,15 33,97 65,07 Retido 24,20 29,83 23,50 43,97 % absorrido (coeficiente de diges- 67,1 70,1 66,1 95,3 tibilidade) % retido 40,7 49,6 45,7 64,4 Valor Biológico 60,7 70,8* 69,2 67,6 Balanço Nitrogenado (g/dia) 0,024 0,030 0,023 0,044 * p < 0,05 relação ao grupo do feijão (A).

Tabela V - Balanço nitrogenado médio real e«ratos ausentados coa caseína,feijão, Mistura I e Mistura II. (20 período). Nitrogênio (sg/dia) B Ingerido 48,58 44,39 38,39 65,25 Fecal 18,36 17,78 18,18 7,86 Perda fecal obrigatória (N aetabólico) 3,11 3,07 2,86 4,43 Orinarlo 23,69 22,09 20,53 32,33 Perda urinaria obriga tória (N endógeno) 10,54 10,38 9,68 13,00 absorvido 33,33 29,68 23,07 61,82 Betido 20,18 17,97 12,22 44,49 % absorvido (coeficiente de diges- 68,6 66,9 60,1 94,7 tlbilidade) % retido 41,3 40,5 31,8 68,2 Valor Biológico 60,3* 60,5» 5 53,0»* 72,0 Balanço Nitrogenado (g/dia) 0,020 0,018 0,012 0,044 * P P 0,05 relação ao controle 0,05 es relação ao 10 período

WATERLOW et al (1960) fazem algumas restrições à este método, devido às dificuldades na estimação exata do nitrogênio ingerido e do nitrogênio excretado, além de ocorrerem perdas de nitrogênio não mensuráveis, por exemplo, pela descamação do cabelo e da pele. Por outro lado a excreção obrigatória ou endógena de nitrogênio não é uma quantidade fixa pois quando um indivíduo é submetido a uma dieta aprotéica, a excreção urinaria de nitrogênio cai rapidamente nos primeiros dias e depois mais lentamente, mas nunca chega a ser constante (MARTIN & ROBSON, 1922). O Comitê World Health Organization/Food and Agriculture Organization considerou a rápida perda inicial como uma adaptação fisiológica e a perda lenta e contínua, como conseqüência de um processo patológico. A perda obrigatória de nitrogênio endógeno deveria ser considerada, na linha divisória entre o fisiológico e o patológico. Outra dificuldade está em que a passagem de um nível elevado de ingestão proteica para um nível de reduzida ingestão conduz, nos primeiros dias, à perda real de nitrogênio orgânico. MUNRO (1964) considera esta perda como depleção das reservas lábeis de proteínas. WATERLOW (1968), entretanto, explica esta perda como resultante de uma defasagem durante a passagem de um equilíbrio metabólico para outro; ou seja, constituir-se-ia mais numa adaptação do que em perdas de reservas, com seus efeitos prejudiciais associados. Outra limitação do método está no estabelecimento do teor ideal de proteína dietética para obtenção do Valor Biológico mais aproximado do real; pois, o método não nos dá indicação de pequenas diferenças na qualidade da proteína, quando se usa um teor alto de proteína na dieta. Segundo BARNES et al (1964), a eliminação de nitrogênio aumenta com o aumento da concentração proteica na dieta. HENRY 8t KON (1957) também observaram diminuição progressiva do Valor Biológico conforme o aumento do teor de proteína na dieta, e recomendam como teor ideal o uso de 8 a 10%. Como comentam CHAVES et al (1962), o excesso de proteína além do necessário a uma fixação ótima, passa a ser utilizado para fins energéticos, o que aumenta o catabolismo proteico. Utilizamos, em nosso estudo, dietas à base de 6% de proteína, pois como foi visto, embora haja muita controvérsia a respeito do teor ideal de proteína, que deva ser usado para se obter o seu aproveitamento máximo,

todos os autores são concordantes em que o teor não deve ser alto. Por outro lado, níveis muito baixos de proteína (4%) também são incovenientes, pois HENRY & KON (1957) por meio de seus achados, concluem que, se uma proteína é testada em ratos jovens nestas condições, as deficiências de animoácidos que seriam evidentes num nível proteico mais alto, podem passar despercebidas, resultando num Valor Biológico surpreendentemente alto. No presente estudo, dados do Valor Biológico no IP período revelaram diferenças significativas somente entre o feijão e a Mistura I. Já no 29 período não houve diferença entre o grupo do feijão e das misturas, mas os tres apresentaram valores significativamente menores que o da caseína. O Valor Biológico desta e do feijão manteve-se constante no IP e no 2P período, mas as misturas que apresentaram Valor Biológico superior ou igual ao feijão e à caseína no IP período, revelaram uma queda nestes valores no 2P período, resultando que nesta fase o Valor Biológico do feijão e Mistura I são iguais, e o da Mistura II inferior aos mesmos. Estes resultados parecem ser uma conseqüência do tempo de duração do período de adaptação a que se referiu WATERLOW (1968). Há muita discordância quanto à sua duração. DREYER (1970) sugere que este não seja inferior a doze dias; MAURON (1973) usa um período de adaptação de seis dias e CHAVES et al (1962) usaram, em seus estudos, período de tres dias. Em nosso trabalho, o IP período de Balanço Nitrogenado correspondeu à 2? semana de experiência, portanto o período de adaptação foi de sete dias, o que estaria em concordância com MAURON (1973) e CHAVES et al (1962). O 2P período correspondeu a 4? semana de experiência, ou seja, 21 dias após o início das respectivas dietas. Assim, segundo DREYER (1970), os resultados deste período seriam os mais representativos da qualidade das proteínas ou misturas proteicas estudadas. Os coeficientes de digestibilidade não variaram grandemente entre o feijão puro e as misturas, mas foram menores que o da caseína em ambos os períodos. Desta forma o grau de digestibilidade não pode ser responsabilizado pelas diferenças nos níveis de crescimento dos ratos de cada

grupo. Quanto à retenção nitrogenada, esta foi maior no lp-período para as misturas do que para o feijão; mas no 29 período enquanto o feijão mantém o mesmo nível de retenção, as misturas apresentam um decréscimo nestes valores. Assim, nesta fase, a percentagem de nitrogênio retido é praticamente igual para o feijão e Mistura I, e inferior para Mistura II. A caseína apresenta uma retenção superior aos demais, mantendo um valor semelhante do IP para o 29 período. As diferenças, entretanto, não foram significativas ao nível de 5% em nenhum dos grupos e nem entre os dois períodos. A quantidade de nitrogênio retido no organismo, segundo ALLISON (1964) é correlata com o padrão de aminoácidos essenciais providos pela proteína dietética. Se a proteína alimentar é deficiente em um ou mais aminoácidos essenciais, a síntese de proteína tissular será restrita; alguns dos aminoácidos da dieta entrarão para o curso catabólico, levando à liberação e excreção de nitrogênio, primariamente em forma de uréia. Isto consequentemente diminuirá a retenção. Entretanto, como observaram HARTMAN & RICE (1959), o Valor Biológico de uma proteína (ou mistura de proteínas) determinada como a única fonte proteica numa dieta de prova, não reflete a utilidade desta numa dieta mista; o valor dietético de uma proteína depende da composição de outras proteínas com as quais são consumidas. MILLER & PAYNE (1961) estudando dietas de regiões em desenvolvimento, tem notado que o balanço nitrogenado em muitos casos depende simplesmente da quantidade do alimento ingerido e não tanto da qualidade da proteína. Assim, em muitos países, embora o valor proteico da dieta seja adequado, as ingestões reais são tão baixas que em média nio satisfazem as necessidades proteicas (MILLER & PAYNE, 1961; WA- TERLOW & ALLEYNE, 1974). Conforme discriminamos em trabalho anterior (SHIMA, 1974), as dietas utilizadas neste trabalho apresentam relação de calorias proteicas/calóricas totais iguais a 0,059, bastante baixa. Como já havímaos comentado anteriormente (SHIMA, 1974), a eficiência de utilização de uma proteína varia de acordo com a concentração

da mesma na dieta e com o seu teor calórico. Entretanto, ELVEHJEM (1959) defende que o uso excessivo de proteínas incompletas é mais deletéria que benéfica, e, ALLISON & BRUNSWICK (1957) afirmam que o aumento da ingestão de nitrogênio, cujo padrão de aminoácidos é muito deficiente, não promoverá o anabolismo proteico na mesma proporção que obter-se-ia com o de boa qualidade. Assim, é nosso propósito prosseguir os estudos com esta associação alimentar, aumentando a relação calorias protéicas/calorias totais das dietas e verificar a influência deste fator sobre a eficácia da utilização da mesma. SHIMA, H. Nutritive value of mixtures of bean flour and cassava meal. Biological value and digestibility. Rev. Esc. Enf. USP, 9 (1)48-64,1975. The author determined the biological value of bean flour and two mixtures, in different proportions of this flour and cassava meal, comparing them with casein. The study was made in two separate periods of adaptations: if we accept one week of adaptation as valid, a significantly difference was observed only between the biological values of bean flour alone and the mixtures of 75% of bean flour and cassava meal; if we consider that the period of adaptation must not be inferior to twelve days, the biological values of bean flour alone and of two mixtures studied (75% and 50% of bean flour) are lower than those of casein, to the level of significance of 5% The digestibility of foods cannot be responsable for the differences in biological values of mixtures and in rate of growth of animals.

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