AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL EM DIABÉTICOS ADULTOS* BRAGA, Ana Karolina Paiva 1 ; PEREIRA, Edna Regina Silva 2, NAGHETTINI, Alessandra Vitorino 3, BATISTA, Sandro Rogério Rodrigues 4 Palavras-chave: doença renal, diabetes, adultos. Introdução A doença renal crônica (DRC) é um importante problema de saúde pública no Brasil, sendo reconhecida como uma condição comum que eleva o risco de doenças cardiovasculares, insuficiência renal e outras complicações (CORESH, 2007; REMBOLD et al., 2009). Trata-se de uma doença onde há lesão renal que compromete a função do mesmo de forma progressiva e irreversível, no qual o organismo não mantém o equilíbrio metabólico e hidroeletrolítico (BASTOS et al., 2004; MARQUES et al., 2005). Na maioria das vezes é diagnosticada tardiamente, já em estágio de insuficiência renal crônica, fazendo-se necessário a utilização de terapias de substituição, tratamento dialítico e transplante renal logo após o diagnóstico (MARQUES et al., 2005). Com um diagnóstico precoce poderia ser retardada a progressão natural da doença e algumas complicações decorrentes da mesma, prevenida. De acordo com K/DOQI (2002), os estágios iniciais da DRC são definidos com base na combinação de danos renal (na maioria das vezes quantificados utilizando albuminúria) e diminuição da função renal (quantificada como a taxa de filtração glomerular [TFG] estimada a partir da creatinina sérica). Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DRC, têm-se diabetes e hipertensão arterial sistêmica (SHIFFRIN et al., 2007). Tal informação é de suma importância, porque segundo dados da Federação Internacional de Diabetes (FID), até o ano 2030 o número de pessoas com diabetes deverá chegar a * Resumo revisado pelo Coordenador da Ação de Extensão Mapeamento de Doença Renal Crônica e seus fatores de risco em famílias atendidas pela Estratégia da Saúde da Família na Região Leste de Goiânia, Código 35900. Nome do coordenador: Edna Regina Silva Pereira. Universidade Federal de Goiás - anakarolinapbraga@hotmail.com 2 Universidade Federal de Goiás - ersp13@gmail.com 3 Universidade Federal de Goiás - naghettini@terra.com.br 4 Universidade Federal de Goiás - sandrorbatista@gmail.com
439 milhões. Aqui no Brasil estima-se que haja 12 milhões de diabéticos, 76% deles acometidos pelo tipo 2 da doença, que é o tipo mais comum, porém o único que é quase totalmente evitável (OMS, 2011). Segundo Murussi (2003), a nefropatia diabética (ND) é responsável pelo aumento do número de pacientes em diálise em países em desenvolvimento, e já é a principal causa de terapia de substituição renal nos países desenvolvidos. Assim, torna-se de suma importância a avaliação da função renal em diabéticos adultos, de modo a diagnosticar precocemente as possíveis alterações renais e encaminhar para tratamentos que visem a reversão ou o retardo da progressão da doença. Diante do exposto, o objetivo do presente é avaliar a prevalência de DRC em pacientes diabéticos adultos, atendidos na Estratégia da Saúde da família (ESF) da região leste de Goiânia. Metodologia Estudo de delineamento transversal de base populacional envolvendo indivíduos atendidos pela ESF do Distrito Sanitário Leste de Goiânia, em que avaliou-se 262 pessoas, sendo 31,67% do sexo masculino e 68,33% do sexo feminino. Desse total, foram encontrados 23 portadores de diabetes. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) sob o protocolo de nº 170/09 e financiado pela FAPEGO, conforme edital 008/2009. A idade média dos indivíduos foi de 41,55 anos com desvio padrão de 17,1. Os critérios de exclusão foram: indivíduos que não concordaram em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e aqueles abaixo de 18 anos. Para avaliar a função renal dos participantes do estudo, foi coletado sangue e urina, de modo a verificar os valores de creatinina sérica, filtração glomerular (FG), estimada através da fórmula Cockcroft-Gault, albuminúria e relação albumina/creatinina. Foi considerado creatinina sérica normal até 1,4 mg\dl, FG normal para ambos os sexos > 90 ml/min e relação albumina creatinina normal < 30mg/g. Segundo Leitão (2006), a ND é dividida em 3 fases: fase de nefropatia incipiente, fase de nefropatia clínica e fase de insuficiência renal terminal. Na nefropatia incipiente, ou fase de microalbuminúria, ocorre um aumento da excreção urinária de albumina (EUA), com valores de EUA entre 20 e 199 mg/min. Na fase de
nefropatia clínica, também conhecida como fase de proteinúria, os pacientes apresentam EUA 200 mg/min (macroalbuminúria) ou proteinúria 500 mg/24h. Resultados e Discussão Foram avaliados 262 pessoas, sendo 23 portadores do diabetes melitos. Os resultados de creatinina, filtração glomerular, albuminúria e relação albumina/creatinina dos portadores de diabetes encontram-se na tabela 1. Tabela 1 Resultados de creatinina, filtração glomerular, albuminúria e relação albumina/creatinina dos portadores de diabetes. Valores Classificação n % Creatinina Normal Aumentada 23 0 100 % 0 % Filtração Glomerular Normal Reduzida 17 6 73,91 % 26,09 % Albuminúria Normal Microalbuminúria Macroalbuminúria 16 6 1 69,56 % 26,09 % 4,35 % Relação Alb/CrU Normal Aumentada 15 8 65,21 % 34,79 % Houve normalidade para todos os pacientes diabéticos ao se avaliar a creatinina. Em contrapartida, 26,09% deles apresentaram filtração glomerular reduzida e microalbuminúria, 4,35% obtiveram macroalbuminúria e 34,79% tiveram a relação albumina/creatinina aumentada. A avaliação dos portadores de doença renal crônica nos indivíduos atendidos pela ESF do Distrito Sanitário Leste de Goiânia, detectou 23 pacientes diabéticos, o que representa 8,7 % do total da amostra. Essa proporção foi semelhante ao relatado por Gross & Nehme (1999), que descreveu que o diabetes melito (DM) acomete cerca de 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos de idade. Obtiveram-se valores normais para creatinina em 100% dos pacientes diabéticos, apesar das alterações nos outros parâmetros. Tal informação condiz com
o estudo de Rule et al. (2004), que avaliou a taxa de filtração glomerular usando creatinina sérica e constatou que 29% dos portadores de doença renal crônica apresenta valores de creatinina normais. Daí a importância em se calcular a filtração glomerular, pois a creatinina não é um bom marcador da função renal. Pesquisa de Murussi (2003), que avaliou os fatores de risco para Nefropatia Diabética no Diabete Melito Tipo 2, relata que a prevalência de microalbuminúria na população brasileira é de aproximadamente 24%. Este dado corrobora com o encontrado no presente estudo, onde a prevalência da mesma nos pacientes diabéticos foi de 26,09%. Segundo Leitão (2005), o curso clínico da ND parece evoluir do estado de normoalbuminúria, com aumento progressivo da EUA, para a faixa de microalbuminúria, proteinúria e insuficiência renal terminal, sendo a taxa de progressão entre os estágios de 2 a 3% ao ano nos pacientes com DM tipo 2. Na macroalbuminúria, na ausência de intervenção específica, ocorre perda progressiva da função renal, representada pela queda da filtração glomerular de 1 ml/min/mês nos pacientes com DM tipo 1 e 0,5 ml/min/mês nos pacientes com DM tipo 2. Um número significativo destes pacientes evolui para a fase de insuficiência renal terminal, com necessidade de tratamento dialítico, após 7 10 anos. Conclusão Através do exposto, pôde-se observar que 23 indivíduos da amostra (n = 262) eram portadores de diabetes. Do total da amostra, 31,67% eram homens e 68,33% mulheres. Em relação aos portadores de diabetes, houve alterações para microalbuminúria, macroalbuminúria e relação albumina/creatinina em aproximadamente 26%, 4% e 35% dos indivíduos, respectivamente. Estes resultados mostram que a nefropatia diabética deve ser buscada ativamente na atenção primária, pois é assintomática. Sugerem-se pesquisas longitudinais e de intervenção na atenção primária à saúde onde a história natural da doença pode ser modificada. Além disso, é necessário um trabalho educativo para a população como um todo, de modo a prevenir a instalação de diabetes melito tipo 2, a qual acomete principalmente a população adulta. Tal prevenção é importante visto que 20 a 45% dos portadores diabetes tipo 2 evoluem para nefropatia ao final de 10 15 anos de evolução da doença (MURUSSI, 2003; PERES et al., 2007).
Referências Bibliográficas: BASTOS, M. G. et al. Doença Renal Crônica: Problemas e Soluções. Jornal Brasileiro de Nefrologia, vol 26, n.4, dez/2004. CORESH, J. Prevalence of Chronic Kidney Disease in the United States. JAMA, vol. 298, n. 17, Nov/2007. GROSS, J. L.; NEHME, M. Detecção e tratamento das complicações crônicas do diabetes melito: Consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes e Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Revista da Associação Médica Brasileira, vol. 45, n. 3, 1999. LEITÃO, C. B. Que Valores Devem Ser Adotados para o Diagnóstico de Microalbuminúria no Diabete Melito? Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. vol. 50, n. 2, abr/2006. MARQUES, A. B.; PEREIRA, D. C.; RIBEIRO, R. C. H. M. Motivos e freqüência de internação dos pacientes com IRC em tratamento hemodialítico. Arquivos de Ciências da Saúde. vol. 12, n. 2, abr-jun/2005. MURUSSI, M. Nefropatia Diabética no Diabete Melito Tipo 2: Fatores de Risco e Prevenção. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. vol. 47, n. 3, jun/2003. National Kidney Foundation. K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Chronic Kidney Disease: Evaluation, Classification and Stratification. Am J Kidney Dis 39:S1-S266, 2002 (suppl 1). OMS Organização Mundial da Saúde. Federação Internacional de Diabetes. Diabetes Atlas. Disponível em: < http://www.idf.org/>. Acesso em: 23 de março de 2012. PERES, L. A. B. et al. Aumento na Prevalência de Diabete Melito Como Causa de Insuficiência Renal Crônica Dialítica Análise de 20 Anos na Região Oeste do Paraná. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. vol. 51, n. 1, 2007. REMBOLD, S. M. et al. Perfil do doente renal crônico no ambulatório multidisciplinar de um hospital universitário. Acta Paulista de Enfermagem. vol. 22: 501-4, 2009. RULE, A. D. et al. Using Serum Creatinine To Estimate Glomerular Filtration Rate: Accuracy in Good Health and in Chronic Kidney Disease. Annals of Internal Medicine. vol. 141, n. 12, 2004. SHIFFRIN, E. L.; LIPMAN, M. L. MANN, J. F.E. Chronic Kidney Disease: Effects on the Cardiovascular System. Circulation. vol. 116: 85-97, 2007.