AVALIAÇÃO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA ESCOLAR Ana Luísa Lopes Bona de Freitas1 - UP Christiane de Fátima Stacoviaki2 - UP Yasmim Corrêa Bezerra3 - UP Eixo Psicologia da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A criação do Serviço de Psicologia Escolar de uma determinada universidade privada de Curitiba teve como objetivo a constituição de um espaço de observação, análise e atuação do psicólogo no contexto educacional, dada a complexidade do contexto escolar, considerando a escola como um espaço de construção social do ser humano, e o psicólogo escolar como aquele que irá propor formas de construção desse espaço, que possam superar as dificuldades existentes. Vale considerar que a referida universidade faz parte de um grupo educacional, o qual conta também com quatro escolas que abrangem os segmentos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Tendo em vista a necessidade de uma avaliação formal do serviço é que se justifica a realização deste estudo. Trata-se de um mecanismo que permita identificar as percepções dos que se beneficiam desse serviço, para que se possa, a partir daí, analisar os inúmeros aspectos que estão imbricados nesse serviço. Dessa forma, o objetivo geral deste estudo foi avaliar o serviço de Psicologia Escolar de uma determinada universidade privada do município de Curitiba. Para os profissionais entrevistados que trabalham com a Educação Infantil, dar suporte e orientação aos professores é uma das funções mais importantes do psicólogo escolar, seguida de auxiliar alunos com dificuldades. Para os profissionais do Ensino Fundamental a Psicologia deve fornecer orientação e suporte à equipe educativa promovendo integração de informações acerca do desenvolvimento da criança e os eventos que o influenciam. Para os profissionais atuando no Ensino Médio, caberia ao psicólogo escolar a função de dar suporte e orientação aos professores e atender alunos com laudo ou sem diagnóstico. Palavras-chave: Psicologia Escolar. Avaliação. Serviço. Introdução Cada vez mais se tem discutido sobre a atuação do psicólogo escolar, pois muitas pessoas, incluindo pais, alunos, profissionais da educação e até mesmo os próprios 1 Aluna do 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Positivo. E-mail: analopes.bo@gmail.com. 2 Aluna do 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Positivo. E-mail: christianestac@gmail.com. 3 Aluna do 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Positivo. E-mail: yasmim.correa@live.com. ISSN 2176-1396
15678 psicólogos, muitas vezes não têm clareza a respeito do papel a ser desempenhado por esse profissional, o qual acaba sendo tomado como aquele que deve atuar para fornecer um diagnóstico clínico e assumir a responsabilidade pelo comportamento e desempenho escolar do aluno, como se este fosse o único responsável pelo seu desempenho e comportamento. De acordo com Andaló (1984), tradicionalmente a Psicologia Escolar vem sendo considerada como um desmembramento da Psicologia Clínica, como se fosse uma atividade de natureza clínica a ser realizada dentro da escola, além de muitas vezes ser atribuído um papel secundário ao psicólogo escolar em relação às demais áreas da Psicologia. Segundo Coll (2004), um novo modelo de psicologia escolar seria necessário para se intensificar a contribuição da psicologia à educação. Essa concepção seria da psicologia da educação como disciplina-ponte, em que as relações entre a psicologia e a educação começassem a ser formuladas em uma dupla direção: os desafios e os problemas educacionais estabelecessem a agenda de pesquisa da psicologia impulsionando-a a elaborar teorias e explicações do comportamento de pessoas reais em ambientes reais; e mediante o desenvolvimento de teorias úteis e relevantes do ponto de vista educacional, a psicologia proporcionasse à educação as bases necessárias para adotar decisões fundamentadas no campo da prática (COLL, 2004). Martinez (2010) defende que o psicólogo escolar deve fazer parte efetivamente da equipe pedagógica, no sentido de somar seu saber próprio da Psicologia aos demais profissionais, dada a complexidade do contexto escolar e dos processos educativos. Segundo a autora, o trabalho do psicólogo escolar consiste em usar os conteúdos específicos da área para auxiliar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes. A criação do Serviço de Psicologia Escolar de uma determinada universidade privada de Curitiba teve como objetivo a criação de um espaço de observação, análise e atuação do psicólogo no contexto educacional, dada a complexidade do contexto escolar. Considerando a escola como o espaço por excelência onde relações sociais e individuais se articulam, quando surge alguma dificuldade, seja no âmbito educacional, seja no social, ela deve ser compreendida como um fragmento de uma rede complexa a qual deve ser analisada. O objetivo geral deste estudo foi avaliar o serviço de Psicologia Escolar de uma determinada universidade privada do município de Curitiba a partir da visão de professores, gestores e diretores.
15679 Método Foram sujeitos deste estudo membros da equipe pedagógica 138 professores regentes; 2 gestores e 1 diretor de 3 (três) unidades da rede de colégios, que aceitaram participar da pesquisa, os quais assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os dados foram coletados por meio da aplicação de questionários contendo perguntas fechadas e abertas, os quais foram enviados impressos para aqueles que aceitaram participar do estudo e assinarem o TCLE. Além do levantamento quantitativo das respostas objetivas em termos de sim ou não, os dados qualitativos foram analisados mediante análise de conteúdo, a qual consiste em categorizar os dados obtidos mediante análise cuidadosa dos temas que surgiram nas entrevistas. As respostas foram classificadas em temas, os quais foram agrupados por semelhanças temáticas, de acordo com os tipos. Após essa etapa foram elaboradas categorias de análise, que consistem em, a partir dos temas, detalhar as respostas obtidas. Resultados e Discussão Para os profissionais entrevistados que trabalham com a Educação Infantil, dar suporte e orientação aos professores é uma das funções mais importantes do psicólogo escolar. Isso vem de encontro com um conhecimento diferenciado que o psicólogo possui dos educadores, embasando melhor suas práticas. Além disso, a importância desse saber específico da Psicologia no cotidiano escolar é evidenciada no destaque da resposta transmitir conhecimentos específicos da Psicologia, como demonstra o Figura 1. Esse conhecimento também está relacionado ao olhar diferenciado que este profissional possui acerca do desenvolvimento infantil, mediando o processo de educação e atentando-se para as singularidades de cada criança, o que supõe a relevância desse profissional também no auxílio de alunos com dificuldades (MOREIRA; GUZZO, 2014). Figura 1: apresentação dos resultados obtidos no segmento de Educação Infantil.
15680 Fonte: As autoras. Segundo Machado (2004), quando nos é relatado um problema, uma queixa, uma preocupação, nossa função deve ser buscar as hipóteses sobre a produção desses problemas no interior da escola, contudo, essa busca não precisa ocorrer apenas quando tais problemas são relatados, podendo ser observados também pelo psicólogo. Sendo assim, isso tem relação com a função da psicóloga escolar do segmento da Educação Infantil, uma vez que muitos destacaram a subcategoria de identificar/observar comportamentos preocupantes, o que contribui para que não haja encaminhamentos sem fundamentos, que é o que a autora critica, podendo usar positivamente a influência da escola, a qual é grande e pode transformar contextos que apresentam disfunções. Apesar de não ser relatado como um motivo de importância da presença do psicólogo escolar, a resposta de identificar/observar comportamentos preocupantes nos alunos apareceu significativamente nas questões que abordam a função do psicólogo escolar. Isso demonstra o
15681 que afirma Rezende (2010), que o papel do psicólogo escolar consiste em avaliar com o objetivo de investigar, e não para classificar ou procurar no sujeito o motivo da queixa, quando este existe. De uma maneira geral, no segmento do Ensino Fundamental é possível verificar no Figura 2 que a opinião dos profissionais participantes coincide com o defendido por Moreira & Guzzo (2014), ao sustentarem a ideia de que a psicologia fornece orientação e suporte à equipe educativa ao descrever que o psicólogo intervém junto à equipe, mediando os profissionais que atuam nesse espaço e realizando a integração de informações acerca do desenvolvimento da criança e os eventos que o influenciam. A função do psicólogo no contexto escolar é compreendida, pela maioria das participantes, como aquele profissional que deve se empenhar na busca de hipóteses e pelo direcionamento sobre a produção de problemas no interior da escola. Machado (2004), defende que é na escola que o aluno passa cerca de metade do dia, desse modo, professores são os primeiros a identificar dificuldades e mudanças no comportamento do aluno que mereçam ser investigadas. Afinal, é nesse contexto que o aluno expressa muitas das dificuldades presentes em sua vida, cabendo aos profissionais intervir naquilo que se apresenta, revelando-se aí a importância do contexto educativo. Figura 2: apresentação dos resultados obtidos no segmento de Ensino Fundamental.
15682 Fonte: As autoras. O segmento do Ensino Médio, no geral, ressalta que a opinião dos profissionais entrevistados coincide com o defendido por Martinez (2010), uma vez que, há a consideração que o psicólogo escolar deve fazer parte da equipe pedagógica de fato, somando o saber da Psicologia aos demais profissionais envolvidos, devido à complexidade dos processos educativos e do contexto escolar. Coll (2004) propôs que a psicologia da educação deveria atuar como disciplina ponte, unindo esse conhecimento com os demais envolvidos na educação. Isso ficou evidente com o predomínio de respostas das subcategorias transmitir conhecimentos específicos da psicologia e dar suporte e orientação aos professores, como observadas no Figura 3, pois a psicologia deve proporcionar à educação bases necessárias para adotar decisões fundamentadas no campo da prática. Ainda assim, há predomínio das respostas dadas pelos profissionais do segmento do Ensino Médio contendo um caráter de que o psicólogo escolar ocupa o papel de
15683 problematizador de soluções a partir de perguntas que surgem das práticas educacionais, das quais pertencem a equipe pedagógica, os alunos e as famílias (CFP, 2013). Figura 3: apresentação dos resultados obtidos no segmento de Ensino Médio. Fonte: As autoras. Considerações Finais Em linhas gerais, percebe- se que para maioria dos entrevistados o principal papel do psicólogo escolar recai sobre a importância de transmitir conhecimentos específicos da psicologia, além de oferecer orientação e suporte para a equipe pedagógica. Cumpre destacar que o psicólogo escolar não deve se prestar à simples realização de encaminhamentos, uma vez que antes mesmo desse procedimento, há que se considerar aspectos inerentes ao contexto da escola. Tampouco devem ser realizados diagnósticos no espaço escolar, uma vez que ainda que o psicólogo escolar disponha de recursos para tanto,
15684 não cabe a ele tal função, pois a psicologia escolar não deve ser confundida com a psicologia clínica. Diante disso, percebe-se a relevância de um psicólogo na escola, o qual possui um conhecimento mais aprofundado sobre o desenvolvimento infantil, possibilitando a diminuição de encaminhamentos desnecessários e a rotulação das crianças. REFERÊNCIAS ANDALÓ, C. S. A. O Papel do psicólogo escolar. Psicologia. Ciência e Profissão. vol.4 no.1 Brasília, 1984 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para Atuação de Psicólogas (os) na Educação Básica/Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2013. COLL, C. Concepções e tendências atuais em psicologia da educação. In: COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004 MACHADO, A. M. Encaminhar para a saúde quem vai mal na educação: um ciclo vicioso? Revista Educação, SME, 2004. MARTINEZ, A. M. O que pode fazer o psicólogo na escola? Em Aberto, Brasília, v. 23, n. 83, p. 39-56, mar. 2010 MOREIRA, A. P.G.; GUZZO, R. S. L. O psicólogo na escola: um trabalho invisível? Revista Interinstitucional de Psicologia, 7 (1), jan - jun, 2014, 42-52 REZENDE, P. C. M. Quando a psicologia escolar crítica vai à clínica. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 14, no. 01, jan - jun, 2010.