ANÁLISE CRÍTICA DE ENCAMINHAMENTOS A UMA CLÍNICA ESCOLA
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- Betty Lima Gorjão
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1 ANÁLISE CRÍTICA DE ENCAMINHAMENTOS A UMA CLÍNICA ESCOLA Dayane Toth Aliski 1 - UP Lígia Ribas Correia 2 - UP Maísa P. Panutti 3 - UP Pricila de Paula Ribas 4 - UP Eixo Psicologia da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A literatura tem destacado a presença maciça das queixas escolares nos atendimentos psicológicos, especialmente devido a problemas de aprendizagem e de comportamento. O psicólogo clínico que recebe um encaminhamento acaba por assumir o papel de catalisador dos problemas escolares, muitas vezes lidando com eles com um enfoque que recai exclusivamente sobre o indivíduo, não considerando o contexto escolar. Os elevados números de encaminhamentos aos serviços públicos de saúde feitos pelas escolas, pontuam que, na maioria dos casos, as dificuldades das crianças são creditadas a supostas deficiências, atrasos cognitivos e problemas emocionais, isentando a escola de qualquer parcela de responsabil pelo fracasso escolar. Esta pesquisa analisou os prontuários dos atendimentos realizados na clínica-escola de uma determinada univers privada da c de Curitiba entre os 2010 e 2015, com o objetivo geral de caracterizar os encaminhamentos e identificar aqueles feitos pelas escolas, examinando a questão à luz da literatura publicada sobre o tema. Como objetivos específicos buscou-se quantificar os encaminhamentos feitos pelas escolas em relação ao total dos encaminhamentos; discutir o papel da psicologia escolar frente a queixa escolar à luz da literatura consultada. Este estudo teve caráter exploratório-descritivo e utilizou a pesquisa bibliográfica como procedimento metodológico. Os resultados apontam que em relação às fontes dos encaminhamentos, em todos os anos verifica-se que a escola é o principal agente de encaminhamentos para avaliação psicológica. Verificou-se que, ainda que não haja diferenças muito discrepantes, em geral existem mais encaminhamentos de crianças com s entre 7 e 8 anos, e entre 10 e 11 anos, quanto ao gênero, os meninos foram mais encaminhados do que as meninas. Palavras-chave: Queixa escola. Encaminhamentos. Psicologia escolar. 1 Aluna do 5º ano do curso de Psicologia em Univers Positivo. dayanetoth@hotmail.com 2 Técnica em Magistério pelo Colégio Padre João Bagozzi. Estudante de Pedagogia do 3º ano da Univers Positivo. ligia.ribas.c@hotmail.com 3 Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela UFPR. Professora Titular dos cursos de Pedagogia e Psicologia da Univers Positivo. maisapannuti@gmail.com 4 Aluna do 5º ano do curso de Psicologia em Univers Positivo. pricilaribaas@hotmail.com ISSN
2 23831 Introdução O problema do fracasso escolar vem sendo amplamente analisado e debatido nas últimas décadas, sendo este tema passível de discussão sob diferentes perspectivas. Do ponto de vista da psicologia, vários autores têm destacado a questão específica da relação entre a queixa escolar e os encaminhamentos para avaliação e atendimento psicológico (CABRAL e SAWAYA, 2001; CAMPOS, 1997; GUZZO, 2013; MACHADO, 2004; MARINHO- ARAÚJO, 2014; PROENÇA, 2004; REZENDE, 2010; SOUZA, 2010, 2014; TERIGI & BAQUERO, 1997). Tem sido destacada a presença maciça das queixas escolares nos atendimentos psicológicos, especialmente devido a problemas de aprendizagem e de comportamento. Dessa forma, o psicólogo clínico que recebe um encaminhamento acaba por assumir o papel de catalisador dos problemas escolares, muitas vezes lidando com eles com um enfoque que recai exclusivamente sobre o indivíduo, não considerando o contexto escolar (PROENÇA, 2004; SOUZA, 2010, 2014). Nossa hipótese é a de que a análise dos prontuários de atendimento psicológico realizados em uma clínica-escola à luz da literatura publicada sobre o tema permitirá não só o esclarecimento dos critérios e procedimentos empregados pelas escolas ao encaminhar uma criança para a psicologia clínica, como também permitirá a discussão a respeito da necessária articulação entre a educação e a psicologia escolar, neste caso no sentido de evitar encaminhamentos desnecessários. Desenvolvimento Revisão de literatura Ao longo da história, a Psicologia Escolar e Educacional vem buscando explicações para o fenômeno do fracasso escolar em concepções biologizantes e medicalizantes, muitas vezes sendo desconsideradas questões educacionais nesse processo. Uma possível explicação para isso pode estar relacionada ao desenvolvimento da neurologia, da neuropsicologia e da própria genética nos últimos anos (GUZZO, 2013; SOUZA, 2010). Nos meios escolares têm sido utilizados diversos rótulos para justificar os elevados números de retenção, exclusão e encaminhamentos, podendo ser destacados os distúrbios de
3 23832 aprendizagem, tais como déficit de atenção, problemas no desenvolvimento e nas estratégias cognitivas para a aprendizagem, dificuldades motoras, dificuldades perceptuais e problemas no processamento da informação recebida, dentre outros, que muitas vezes acabam por reforçar a ideia subjacente de que a responsabil pelo fracasso recai sobre o sujeito, eximindo a escola de sua parcela de responsabil nesse processo (CAMPOS, 1997). Segundo Campos (1997), o diagnóstico de eventuais problemas na aprendizagem não é algo simples, porém, muitas vezes na escola, o professor suspeita de que algo não vai bem com algum aluno, e acaba rotulando-o como portador de algum distúrbio de aprendizagem. Esse diagnóstico feito em primeira instância por professores em sala de aula e, posteriormente por especialistas, muitas vezes é realizado de maneira inconsistente, sem qualquer padronização de normas, instrumentos ou procedimentos que garantam um resultado coerente. Dessa forma, tem início um sistema que, ao invés de tratar a queixa escolar como um problema da escola, passa a ser considerada como um problema do aluno. Essa concepção pode remeter à ideia de que cada um já tem suas dificuldades e aptidões, e que, portanto, os alunos com problemas devem ser avaliados por meio de procedimentos baseados exclusivamente na psicometria e encaminhados. Essas concepções refletem uma visão de mundo que explica a real a partir das estruturas psíquicas, negando a influência das relações institucionais e sociais sobre o psiquismo (SOUZA, 2014). De acordo com Machado (2004), em geral a Psicologia tem buscado explicações para o funcionamento psíquico justificando tudo o que se expressa nos contextos institucionais pelos aspectos individuais. Se a análise sempre recair sobre o corpo do aluno ou ainda sobre o professor ou a família, a análise da rede de relações acaba por se enfraquecer. Assumir que o fracasso escolar é um produto da própria escola significa assumir duas posições fundamentais, quais sejam: o compromisso político que deve ser assumido em relação aos estudantes excluídos e a superação de referenciais teóricos que buscam explicações para esse fenômeno em concepções medicalizantes (SOUZA, 2010). Mas, qual poderia ser então o papel destinado à psicologia escolar nesse processo? Uma possibil poderia ser o de questionar a produção da queixa, a complex que a envolve, as concepções presentes na escola, o cotidiano e as práticas educacionais, deslocando o foco da criança para o contexto escolar. O psicólogo escolar não pode deixar de considerar que a escola é uma rede complexa de relações e que a queixa escolar constitui apenas um fragmento desse espaço (SOUZA, 2010, 2014). Muitos psicólogos desconhecem a força de
4 23833 um psicodiagnóstico, o qual pode marcar o destino de uma criança, muitas vezes reforçando o estigma que ela já sofre (PROENÇA, 2004). Objetivos Esta pesquisa buscou analisar os prontuários dos atendimentos realizados na clínicaescola de uma determinada univers privada da c de Curitiba, com o objetivo geral de caracterizar os encaminhamentos, para que se pudesse identificar aqueles feitos pelas escolas, examinando a questão à luz da literatura publicada sobre o tema. Como objetivos específicos: - Identificar quantos foram os encaminhamentos feitos pelas escolas em relação ao total dos encaminhamentos; identificar as razões destacadas pelas escolas para a realização dos encaminhamentos (identificando a queixa escolar propriamente dita); discutir o papel da psicologia escolar frente à queixa escolar à luz da literatura consultada; propor formas de atuação para o psicólogo escolar. Método Este estudo teve caráter exploratório-descritivo e utilizou a pesquisa bibliográfica como procedimento metodológico, a partir da reflexão pessoal e da análise de documentos escritos. Procedimentos de Coleta dos Dados: A partir da formulação do problema de pesquisa teve início a fase da coleta de dados, a qual envolveu dois momentos distintos: em primeiro lugar o levantamento da bibliografia e, a seguir, dos documentos (prontuários) com a devida seleção das informações contidas no material. Para a primeira etapa foram consultadas publicações em língua portuguesa (livros; periódicos e artigos científicos) a partir de 1980 na biblioteca da univers, na Biblioteca Virtual de Saúde-Psicologia (BVS-Psi) e Scielo, com as seguintes palavra-chave: queixa escolar; encaminhamento; psicologia escolar. A seguir, foram analisados os prontuários de atendimentos realizados na clínica de Psicologia da referida univers desde o início do ano letivo de 2010 até o final de O
5 23834 procedimento de atendimento da clínica compreende os seguintes passos: em primeiro lugar, quando por telefone ou pessoalmente, é feito o primeiro contato para solicitação do atendimento. A seguir, a criança passa pela triagem, para ser direcionada para o atendimento, quando é aberto o prontuário. Dessa forma, foram analisados os dados dos prontuários, o que significa dizer que são relativos a crianças que passaram pela triagem e tiveram ao menos uma sessão de atendimento clínico. Cumpre destacar que em hipótese alguma a ident dos indivíduos contida nos prontuários foi revelada, assim como não foram identificadas as escolas que fizeram os encaminhamentos. Para que essa fase da coleta de dados tivesse início, a coordenadora do Centro de Psicologia da univers assinou uma carta de autorização (anexo 1). Procedimentos de Análise dos Dados: Os dados obtidos na primeira fase da pesquisa foram examinados no intuito de levantar e discutir a questão a partir de outras pesquisas e publicações sobre o tema. A seguir, foi realizada a análise dos dados dos prontuários propriamente ditos, que teve como objetivo identificar a quant de encaminhamentos feitos pelas escolas em relação ao total dos encaminhamentos e a queixa escolar. Por fim, os resultados obtidos na análise dos dados dos prontuários foram discutidos à luz da literatura levantada e analisada na primeira fase da pesquisa. Resultados e Discussão Serão apresentados os resultados quantitativos de cada ano, relativos ao percentual dos encaminhamentos, à fonte que encaminhou, à e ao gênero das crianças. Cumpre destacar que em grande parte dos prontuários (o que será apresentado em detalhes a seguir), não consta a fonte do encaminhamento. Em relação ao objetivo específico de analisar as razões que levaram as escolas a solicitar os encaminhamentos, os prontuários analisados não permitiram a identificação desse dado, uma vez que não constavam no documento as razões do pedido. Tabela 1 Percentual do Gênero das Encaminhadas Ano dos Encaminhamentos Percentual de do sexo Feminino Percentual de do sexo Masculino
6 23835 Pesquisados % 68% % 55% % 54% % 53% % 50% % 73% TOTAL 40% 60% Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base nos prontuários analisados. Tabela 2 Percentual das Fontes que Encaminharam as Ano dos encaminhamentos pesquisados encaminhadas por Médicos encaminhadas pela Escola encaminhadas pela Família encaminhadas pelo Conselho Tutelar encaminhadas por outras Fontes que não consta quem encaminhou % 41% 18% % % 75% 15% % 32% 25% - 4% 32% % 40% 33% 3% - 17% % 62,5% 7,5% % % 60% 17% 1% 3% 12% TOTAL 8% 53% 18,5% 1% 1,5% 18% Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base nos prontuários analisados. Tabela 3 Percentual da Idade das Encaminhadas Ano dos encaminhamentos pesquisados com 06 com 07 com 08 com 09 com 10 com 11 com 12 com % 17,5% 9% 9% 5% 23% 13,5% % 20% 15% 15% 15% 15% 5% % 18% 28% 11% 18% 3% 11% % 3% 17% 17% 20% 17% 13% ,5% 15% 22,5% 2,5% 15% 17,5% 7,5% 2,5% % 17,5% 15% 15% 13% 11% 17,5% - TOTAL 14,5% 15% 18% 11,5% 14,5% 14% 12% 0,5% Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base nos prontuários analisados. Em relação às fontes dos encaminhamentos, em todos os anos verifica-se que a escola é o principal agente de encaminhamentos para avaliação psicológica, com uma exceção para o ano de 2012, no qual 32% dos encaminhamentos foram feitos pela escola, número equivalente aos prontuários nos quais não constava quem encaminhou. Nos demais anos, a maioria foi feita pelas escolas (2010 com 41%; 2011 teve 75%; 2013 apresentou 40%; 2014 com 62,5% e %). O alto índice de encaminhamentos realizados pelas escolas para avaliação psicológica sugere a expectativa que os educadores têm depositado na Psicologia como possibil de
7 23836 resolução de problemas que ocorrem no contexto escolar. Segundo Proença (2004), o fato dos professores encaminharem para médicos e psicólogos crianças com problemas escolares reforça a relação de causa e efeito entre supostos problemas emocionais e problemas de aprendizagem. A autora menciona pesquisas realizadas em São Paulo, as quais apontam que a análise de prontuários de encaminhamentos revela que aspectos ligados à escolar muitas vezes são desconsiderados, tais como o número de repetências, o ano de ingresso na escola entre outros. Scortegagna e Levandowski (2004) apontam a dificuldade que muitos professores apresentam em fornecer informações a respeito de seus alunos, devido a um grande número de observações das quais dispõem a partir de sua prática docente, mas que acabam por impelir esse profissional a refletir sobretudo a respeito das razões pelas quais os problemas surgem, mas não sobre as possíveis formas pelas quais os problemas se perpetuam. Se o fato das escolas realizarem encaminhamentos para avaliação psicológica pode revelar a expectativa de que um diagnóstico e uma intervenção possam resolver os problemas detectados na escola, cabe a reflexão a respeito do papel do processo de avaliação psicológica. Assim, considerando que uma das tarefas básicas dos psicólogos e dos educadores é o de conhecer a criança, com suas características e condições de desenvolvimento, para que se possa planejar ações que levem a uma intervenção efetiva quanto à aprendizagem, faz-se necessário refletir a respeito do papel que a avaliação psicológica e o diagnóstico têm desempenhado na queixa escolar, considerando que ao encaminharem crianças para avaliação psicológica, em última instância, os educadores buscam explicações da Psicologia para o fracasso escolar. Segundo Beatón (2001), o diagnóstico e a avaliação não devem se prestar apenas para classificar os alunos, mas sim enfatizar a busca de conhecimentos que permitam uma aproximação às quals dos sujeitos, as suas capacs de realização, as suas possibils de desenvolvimento, incluindo os caminhos de compensação e de correção que podem ser empregados para resolver problemas, e não apenas focar em suas dificuldades. De acordo com Chiodi e Facci (2013), o processo de avaliação psicológica deve considerar a criança em relação com seu processo educativo, uma vez que desenvolvimento infantil e educação escolar estão intimamente ligados, pois a educação influi no desenvolvimento e na formação das estruturas psíquicas. Dessa forma, as autoras defendem que uma avaliação psicométrica, sem utilizar recursos mediadores e sem fazer uma análise
8 23837 da produção da queixa escolar no aluno, terá poucos elementos capazes de contribuir para uma prática que possibilite ao aluno apropriar-se do conhecimento (p. 135). Cabe ressaltar que na c de Curitiba não existem psicólogos escolares na rede pública de ensino, de modo que a discussão a respeito da importância desse profissional no espaço escolar poderia trazer luz à discussão. De acordo com publicação do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2013), cabe à Psicologia Escolar o papel de contribuir para a construção de conhecimentos científicos sólidos que promovam mudanças socais, articulando teoria e prática visando responder questões que afetam a vida de todos os envolvidos na comun escolar. Tradicionalmente é atribuído ao psicólogo escolar o papel daquele que, por deter o saber da Psicologia, teria condições de resolver todos os problemas ligados ao fracasso escolar, resquício de uma visão que relaciona a Psicologia Escolar como um desmembramento da Psicologia Clínica (ANDALÓ, 1984). No entanto, o que possibilita o psicólogo escolar a realizar seu trabalho não é a quant de respostas bem sucedidas que ele tem para resolver problemas, mas sim o que pode contribuir para manter em exercício redes de atenção à vida, redes que foquem as potencials dos indivíduos (CFP, 2013, p.43). Para que isso seja possível, o psicólogo escolar deve abdicar do lugar hierarquizado de detentor de soluções eficientes e passar a ocupar o papel de problematizador de soluções a partir de perguntas que emerjam das práticas educacionais, das quais fazem parte a equipe pedagógica, os alunos e as famílias. Segundo Andaló (1984), trata-se de considerar o psicólogo escolar como um possível agente de mudanças na própria escola, capaz de promover reflexões a respeito dos diversos papéis desempenhados por todos na instituição. No que se refere à em que as crianças são encaminhadas, verifica-se que, ainda que não haja diferenças muito discrepantes, em geral existem mais encaminhamentos de crianças com s entre 7 e 8 anos, e entre 10 e 11 anos, s que correspondem ao início do segmento de Ensino Fundamental I e II, respectivamente. Esses dados sugerem haver mais queixas nos momentos de transição entre segmentos (da Educação Infantil para o Ensino Fundamental I, e do Fundamental I para o Fundamental II). Ainda que os dados não tragam as razões pelas quais os encaminhamentos foram feitos, o fato de crianças serem encaminhadas no início da escolar formal pode ser explicado pela expectativa que os professores desenvolvem em relação à aprendizagem desses alunos, os quais podem estar em um processo de alfabetização, o que já foi levantado por
9 23838 Proença (2004), a autora pontua que quando uma criança ingressa na escola e apresenta algum tipo de dificuldade, é comum que as causas pelo fracasso sejam buscadas em explicações de cunho psicológico e não no processo de escolarização em si. Quanto às questões de gênero nos encaminhamentos, Proença (2004) faz referência a uma série de estudos feitos desde a década de 1960, os quais revelam que os meninos têm sido mais encaminhados do que as meninas. Segundo a autora, as explicações para esse fato podem residir nos diferentes perfis de comportamento entre meninos e meninas, assim como ao preconceito da própria escola dirigido às classes populares, que acaba encaminhando meninos com distúrbios de comportamento para que não se torne um marginal. Considerações Finais Face às questões colocadas, cabe questionar que lugar teria a Psicologia Escolar nesse processo de identificação da queixa e do encaminhamento. Parece não haver clareza a respeito do papel a ser desempenhado por esse profissional, o qual acaba sendo confundido com aquele que deve atuar para fornecer um diagnóstico clínico e assumir a responsabil pelo comportamento e desempenho escolar do aluno, como se este fosse o único responsável pelo seu desempenho e comportamento. Mas, seria papel desse profissional prestar-se à simples realização de diagnósticos no espaço escolar e de encaminhamentos? Segundo Coll (2004), a psicologia da educação deveria responder a uma orientação psicológica decididamente educacional, propondo como missão primeira e mais importante contribuir para uma melhor compreensão da educação e para sua melhoria. Dessa forma, o desempenho do psicólogo escolar seria muito mais produtivo, e traria muitos mais benefícios, tanto para os alunos, como para a escola e para sua própria área de atuação. Cabe discutir, portanto, a relevância da presença do psicólogo escolar, pois de acordo com Cassins (2007), a Psicologia da Educação ainda sofre algumas limitações, seja por parte dos próprios psicólogos, os quais acabam restringindo seu campo de atuação ao praticarem uma Psicologia clínica dentro da escola, seja por parte dos gestores em educação, que ainda desconhecem os benefícios que a área poderia trazer aos processos educativos.
10 23839 REFERÊNCIAS ANDALÓ, C. S. A. O Papel do psicólogo escolar. Psicol. cienc.rof. vol.4 no.1 Brasília, BEATÓN, G. A. Evaluación y diagnóstico em educación y desarrollo desde el enfoque histórico-cultural. São Paulo: Laura Marisa C. Calejon, CABRAL, E.; SAWAYA, S. M. Concepções e atuação profissional diante das queixas escolares: os psicólogos nos serviços públicos de saúde. Estudos de Psicologia, 2001, 6(2), CAMPOS, L. M. L. A rotulação de alunos como portadores de distúrbios ou dificuldades de aprendizagem : Uma questão a ser refletida. Série Ideias, São Paulo, n. 28, p , FDE, CASSINS, A. M. et al. Manual de Psicologia Escolar Educacional. Curitiba: Gráfica e Editora Unificado, CHIODI, C. S. e FACCI, M. G. D. O processo de avaliação psicológica no estado do Paraná Fractal, Rev. Psicol., v. 25 n. 1, p , Jan./Abr COLL, César. Concepções e Tendências Atuais em Psicologia da Educação. In: Coll, César; Marchesi, Álvaro; Palácios, Jesús. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Psicologia da Educação Escolar. Volume II. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica. Brasília: CFP GUZZO. R. S. L. Bastidores da escola e desafios da educação pública a pesquisa e a prática em psicologia escolar. In: ARAUJO C. M. M. Intervenção institucional: Ampliação crítica e política da atuação em psicologia escolar. Campinas: Editora átomo, MACHADO, A. M. Avaliação e fracasso: a produção coletiva da queixa escolar. In: AQUINO, J. G. (org). Erro e fracasso na escola. Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, MACHADO, A. M. Encaminhar para a saúde quem vai mal na educação: um ciclo vicioso?. Revista Educação, SME, MARINHO-ARAUJO, C. M.; ALMEIDA, S. F. C. (orgs.). Psicologia Escolar: construção e consolidação da ident profissional. 4. ed. Campinas: Alínea, PROENÇA, M. A queixa escolar e o predomínio de uma visão de mundo. In: MACHADO. A. M. & SOUZA, M. P. R. Psicologia escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
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