CONCEPÇÕES SOBRE O PEDAGOGO NA FORMAÇÃO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

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1 CONCEPÇÕES SOBRE O PEDAGOGO NA FORMAÇÃO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Profa. Esp. Clara Zandomenico Malverdes Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Profa. Dra. Kalline Pereira Aroeira Centro de Educação/Universidade Federal do Espírito Santo (CE/UFES) Resumo Este estudo objetiva analisar concepções de atores de escolas de Ensino Fundamental sobre o papel do pedagogo na formação escolar, enfocando especialmente sobre sua atuação no contexto na Coordenação Pedagógica. Dialoga com produções teóricas que, que estabelecem a ampliação do repertório dos Coordenadores Pedagógicos e de suas referências tanto teórico quanto práticas. Constitui-se numa pesquisa de caráter qualitativo, do tipo estudo de caso. Os sujeitos da pesquisa são pedagogos, coordenadores disciplinares, professores e diretores de duas Escolas Estaduais de Ensino fundamental I e II do município de Serra-ES. Aplicou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas e a interpretação dos dados foi realizada por meio de uma metodologia de abordagem qualitativa associada à quantitativa. Como principais resultados e considerações-sínteses a pesquisa indica que a maioria dos participantes não possui uma percepção clara a respeito das funções e atribuições do Coordenador Pedagógico. Identificamos também que as dificuldades enfrentadas pela coordenação por motivos variados, apontados pelos participantes, como excesso de trabalho ou até mesmo questões burocráticas que fogem a sua real atuação, não descontruíram o desejo de redirecionar os seus trabalhos, possibilitando uma coordenação coletiva efetiva e eficaz. A pesquisa sobre o coordenador pedagógico se insere no contexto da reflexão sobre a gestão democrática e, portanto, conduz-nos a pensar na construção de uma prática social no âmbito escolar, o que pode se constituir em instrumento de emancipação de uma ação colaborativa refletida sobre a realidade potencializando o fortalecimento do planejamento coletivo e da gestão democrática, como também favorecendo a orientação de trabalhos pedagógicos, considerando o Projeto Político Pedagógico escolar. Palavras-chave: Pedagogo; Formação Escolar; Coordenação Pedagógica. 1 Introdução Este texto é fruto de um processo de reflexões desenvolvido durante o Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica na Universidade Federal do Espírito Santo, durante os anos de 2014 e 2015, e do interesse de dialogar com a realidade escolar em que atuamos, indagando especialmente sobre o papel do Pedagogo no âmbito da Coordenação Pedagógica escolar. Na tentativa de refletir sobre essa realidade, foi realizada uma pesquisa com duas Escolas Estaduais de Ensino Fundamental I do município da Serra-ES. Consideramos 4708

2 2 como ponto de partida o diálogo com referenciais que apostam na perspectiva em que o Pedagogo é um profissional da equipe escolar, e que este, ao assumir a condição de mediador e articulador no contexto da Coordenação Pedagógica, pode potencializar o fortalecimento do planejamento coletivo e da gestão democrática, assim como favorecer a orientação de trabalhos pedagógicos, considerando o Projeto Político Pedagógico escolar. A pesquisa, portanto, busca contribuir na discussão sobre as possibilidades e dificuldades de atuação do Pedagogo na Coordenação Pedagógica e para tanto, visa: analisar concepções de atores da escola de Ensino Fundamental sobre a função do profissional pedagogo; pesquisar se as concepções apresentadas por professores, coordenador e diretor se aproximam ou distanciam do que sistematiza a literatura sobre o assunto. O texto está organizado em três seções: a primeira parte apresenta aspectos conceituais relacionados a concepções do debate bibliográfico sobre o tema Coordenação Pedagógica e descrevemos as características metodológicas deste estudo, e na segunda e terceira partes, apresentamos e analisamos os dados coletados em campo, e sistematizamos as principais sínteses dessas reflexões. 2 A Identidade do Coordenador pedagógico: entraves e desafios Com o propósito de analisar o atual debate teórico sobre a Coordenação Pedagógica e a atuação do Pedagogo nesse contexto, recorremos principalmente as discussões de Libâneo (2004, 2001) e Vasconcellos (2002) buscando discutir concepções a respeito da ação do Coordenador Pedagógico no âmbito escolar. Nessa direção, concordamos com o que pontua Vasconcellos (2002), ao afirmar que o professor Coordenador Pedagógico é o intelectual orgânico do grupo, qual seja aquele que está atento à realidade, que é competente para localizar os temas geradores do grupo, organizá-los e desenvolvê-los no coletivo, auxiliando na busca conjunta das formas de enfrentamento do cotidiano escolar. Para tanto, a formação continuada é necessária, visto que o professor é um profissional que deve sempre aperfeiçoar sua prática ao fazer um trabalho de reflexão sobre ela. Nesse cenário o Coordenador Pedagógico é um profissional que deve valorizar as ações coletivas dentro da instituição escolar, ações essas que devem estar 4709

3 3 vinculadas ao eixo pedagógico desenvolvido na instituição. Ele deverá ser o articulador dos diferentes segmentos da mesma, na elaboração de um projeto pedagógico coletivo. O Coordenador Pedagógico e o professor, investidos de papéis diferentes, de saberes diversos, podem buscar um encontro fecundo, cujo fruto seja a construção de uma prática pedagógica mais consistente, enriquecida e criativa. Para isso, é preciso que os coordenadores pedagógicos mobilizem sua competência técnica construída, conhecimento básico, sem o qual o exercício da função de Coordenador não se faz possível, e desenvolvam outras competências. É importante que transformem o seu olhar, ampliando a sua escuta. Nessa mesma direção, Libâneo (2004) defende que as funções de Coordenação Pedagógica, dessa forma, podem ser sintetizadas nessa formulação: planejar, coordenar, gerir, acompanhar e avaliar todas as atividades pedagógicos-didáticas e curriculares da escola e da sala de aula, visando a qualidade dos processos de ensino aprendizagem dos alunos. Com isso, perguntamos, assim como Libâneo (2001), quem é o pedagogo ou quem pode ser chamado de pedagogo? Os estudos sobre a gestão da escola vêm merecendo abordagem crescente em vista da relevância social e política da educação e da função da escola. A crise por que passam o Estado e as instituições da sociedade em relação aos novos papéis e funções frente aos novos direitos e responsabilidades está apontando novos rumos aos modelos e estruturas vigentes. A coleta de informações desta pesquisa foi realizada por meio da aplicação de questionários, adaptados de Valério (2013). Objetivamos, com os questionários, obter informações a respeito das experiências dos sujeitos com relação à atuação do Coordenador Pedagógico como agente facilitador do processo ensino-aprendizagem. A interpretação dos dados foi realizada por meio de uma metodologia de abordagem qualitativa associada à quantitativa, no que concerne à sistematização dos dados (VALÉRIO, 2013). Recorremos também à pesquisa bibliográfica, que envolve a leitura, análise e interpretação de livros, artigos, entre outros, fundamentar a teoria dos estudos. 3 Concepções, perspectivas e desafios para a Coordenação Pedagógica A pesquisa de campo foi realizada com 11 professores de Ensino Fundamental I do município da Serra-ES, dentre eles dois gestores, três coordenadores disciplinares, 4710

4 4 quatro professores regentes e dois coordenadores pedagógicos. As questões remetidas aos respondentes gestores foram idênticas às do questionário dos docentes, à dos coordenadores disciplinares e pedagógicos. No que diz respeito à caracterização dos participantes, pode-se afirmar que quanto à formação acadêmica, indica-se que a maioria dos docentes das Instituições de Ensino pesquisadas já possuem graduação e pelo menos uma pós-graduação. Em relação a cursos de capacitação, identificamos que quando possibilitado aos docentes cursos de formação continuada, estes atendem prontamente, pois procuram melhorar suas práticas pedagógicas, tais atividades estimulam a conscientização, questionamento, criatividade e crítica, possibilitando a eles aprimorar-se. Identificamos que, a coordenação coletiva é parte intrínseca do trabalho dos docentes, contudo muitas vezes, por motivos variados, tal momento não é realizado da forma adequada, seja por falta de tempo, material adequado, falta de orientação e suporte pedagógico da escola ou problemas decorrentes da falta de formação do coordenador pedagógico. Cabe ressaltar também o papel da Secretaria de Educação nesse contexto, entretanto, sem se negar suas limitações em relação ao processo de orientação das ações pedagógicas na escola. Podemos inferir, considerando os dados coletados e as reflexões analisadas, que na escola, a função de Coordenador Pedagógico nem sempre é bem delimitada. É preciso portanto, superar-se a visão que o profissional que exerce o cargo é um auxiliar do diretor para as questões burocráticas, ou que cabe a ele resolver os problemas disciplinares dos alunos. Assim, esse profissional não pode ser entendido como um tapa buraco, como critica Vasconcellos (2002), ou seja, é preciso reiterar que o Coordenador Pedagógico, não é um membro de apoio a equipe pedagógica, mas assume papel significativo, na medida que, compreende que a sua contribuição ocorre no plano da mediação e articulação dos trabalhos pedagógicos na instituição escolar e no momento em que é reconhecido como tal pelos atores escolares. 4 Considerações Finais Ao retomarmos os objetivos da pesquisa, identificamos que os resultados deste trabalho apontam que ainda há entre os participantes uma dificuldade de sistematizar as funções e atribuições do Coordenador Pedagógico, o que pode estar associado à própria 4711

5 5 história da criação da Coordenação Pedagógica, uma vez que em sua prática o Coordenador nem sempre visou à promoção de transformações nas práticas escolares. Percebemos também que os desafios enfrentados pelo Coordenador Pedagógico, por motivos variados, apontados pelos participantes deste estudo, como excesso de trabalho ou até mesmo questões burocráticas que fogem a sua real atuação, apesar das dificuldades, não são fatores impeditivos para se continuar investindo no desejo de redirecionar ou trabalho pedagógico e exercer a Coordenação Pedagógica. Inferimos também, que os participantes apontam que, apesar das limitações, a Coordenação Pedagógica que exercem busca privilegiar a formação continuada de seus docentes, apesar de considerarem insuficientes os esforços empreendidos. Para tanto, acredita-se que há a necessidade de os Coordenadores Pedagógicos promoverem estudos que priorizem o fazer pedagógico, levando sua equipe de docentes a conhecer e analisar os contextos sociais e institucionais em que está inserida. Nessa perspectiva, assume-se que é por meio da formação continuada em serviço que os professores poderão alcançar níveis mais complexos de desenvolvimento do senso crítico, a análise de seu contexto, a releitura de sua realidade, oportunizando assim, meio de favorecer ao educando uma melhor aprendizagem. Referências LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora: Alternativa, Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Educar, Curitiba, n. 17, p Editora da UFPR. Disponível em < apedagogiaepedagogos.pdf>. Acesso em 18 ago VALÉRIO, C. R. O coordenador pedagógico e processo de ensino-aprendizagem numa escola rural de Brazlândia f. Monografia (Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica) Universidade de Brasília, Brasília, VASCONCELLOS, C. D. S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad,