FAMÍLIA, ESCOLA E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

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1 FAMÍLIA, ESCOLA E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS. Andréia Jaqueline Devalle Rech - Autora Soraia Napoleão Freitas Co-autora Universidade Federal de Santa Maria Eixo Temático: Família de sujeitos públicos-alvo da educação especial CAPES Palavras-chave: Família; Escola; Altas habilidades/superdotação; Inclusão escolar. 1. Introdução Este trabalho tem como propósito apresentar os dados de uma pesquisa de doutorado, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Rio Grande do Sul. A temática proposta nesta pesquisa é a relação que tem sido estabelecida entre a família e a escola, pensando na inclusão escolar do filho/aluno com comportamento de altas habilidades/superdotação (AH/SD). Sabe-se que são muitos os desafios enfrentados pela escola para implementar a inclusão escolar dos alunos com AH/SD. Dentre estes, podem-se citar: a incipiente ou inexistente formação de professores referente à temática das AH/SD, os processos de identificação utilizados, o encaminhamento, bem como a implantação do atendimento educacional especializado, os quais estes alunos têm direito, entre outros. Desse modo, acredita-se que a família, também, poderá contribuir com o processo de inclusão escolar do filho com AH/SD. No entanto, para que isso se efetive será necessário que a escola e a família sejam capazes de trabalhar de forma colaborativa. Germani e Stobäus (2006, p. 143), tecem importantes reflexões acerca da relação entre família e escola, pensando na inclusão escolar dos alunos com AH/SD. [...] salientamos que as mudanças interacionais, tanto na escola como na família, dependem de uma ampla rede de relações que não serão representadas somente pelo professor ou pelos pais. Estas transformações ocorrem a partir de complexas tramas de natureza individual e social. Logo, para que ocorra uma transposição, isto é, sair

2 de um estágio para outro, faz-se necessário, por parte de todos, uma disponibilidade para compreender e aprender a lidar com a diversidade humana, reconhecendo que há um saber e um caminho a ser construído coletivamente sobre o processo de inclusão e aceitação do outro como um ser único e relacional. Assim, espera-se que família e escola exercitem essa tarefa, ou seja, aprendam a trabalhar de forma coletiva, cada uma contribuindo com seus conhecimentos e, com isso, somando forças, com um objetivo em comum: a inclusão do filho/aluno com AH/SD. Perante esta problematização inicial apresenta-se o objetivo que esta tese se propõe a investigar: Compreender a articulação entre família e escola, verificando as barreiras que dificultam essa parceria para, com isso, visualizar as influências da família no processo de inclusão escolar do filho/aluno com altas habilidades/superdotação. 2. Método Para alcançar os objetivos propostos optou-se por uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. A opção pela abordagem qualitativa deveu-se ao fato de esta ter como finalidade aprofundar [...] ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, 2000, p. 22). Para tanto, a entrevista semiestruturada, do tipo narrativa, foi utilizada como uma das técnicas de coleta de dados, uma vez que, por meio desta, o pesquisador oportuniza ao entrevistado narrar acontecimentos que este considerar relevantes, rememorando, analisando e ressignificando os acontecimentos, sem a preocupação de estabelecer uma sequência para a narração dos fatos. As entrevistas narrativas serão analisadas a partir da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977). O questionário também foi selecionado como instrumento de coleta de dados. Inicialmente foi aplicado o Questionário de Caracterização do Sistema Familiar Versão Pais ou Responsável, validado e publicado por Dessen (2011), junto aos familiares ou responsáveis participantes da pesquisa. Esse questionário teve por finalidade realizar um levantamento de algumas informações como, por exemplo: identificação, dados demográficos e caracterização do sistema familiar. A análise desse questionário será realizada de forma qualitativa. Outro instrumento selecionado foi o Checklist da Rotina Compartilhada e Envolvimento entre Família-escola, Versão para Professores, validado e publicado por Dessen e Polonia (2011). Esse instrumento possui 46 questões contendo duas opções de

3 resposta, sim e não. Esse Checklist foi respondido pelo professor regente dos Anos Iniciais e pelo professor conselheiro dos Anos Finais do Ensino Fundamental, em que estava matriculado o aluno com AH/SD cuja família foi participante da pesquisa. O Checklist da Rotina Compartilhada e Envolvimento entre Família-escola Versão Pais (mãe, pai ou responsável), validado e publicado por Dessen e Polonia (2011), é composto por 55 questões, com as mesmas opções de resposta do Checklist recentemente descrito. Um membro familiar respondeu ao referido instrumento. É importante destacar que ambos instrumentos foram aplicados de forma individual, em local e horário pré-agendados pelos participantes. Os Checklists foram avaliados qualitativamente de acordo com as categorias de análise previamente definidas por Dessen e Polonia (2011). As categorias envolveram duas dimensões, acadêmica e não acadêmica, e se referiram a quatro categorias: Orientação, Participação, Informação e Avaliação. Além disso, este instrumento também permitiu uma análise quantitativa, em termos de frequência, analisando quais questões foram citadas com maior ou menor frequência, buscando, assim, compreender como cada realidade escolar e familiar interagiram entre si. 3. Resultados Participam da pesquisa 13 famílias com filhos identificados com comportamentos de altas habilidades/superdotação (AH/SD), matriculados em sete escolas do município de Santa Maria, sendo: cinco públicas estaduais e duas privadas. Além disso, também, participaram as professoras e educadoras especiais dos respectivos alunos, sendo todas do sexo feminino. Dessas, seis são professoras dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e cinco dos Anos Finais do Ensino Fundamental (Professoras Conselheiras), totalizando 11 professoras, assim como sete Educadoras Especiais. É importante ressaltar que uma das escolas privadas não tinha em seu quadro de professores a educadora especial, assim quem participou da pesquisa foi a profissional responsável por este setor, ou seja, a Orientadora Educacional, totalizando 19 profissionais. Até o presente momento a pesquisadora encerrou uma etapa de coleta de dados que foi junto aos professores e educadores especiais, tendo entrevistado 19 profissionais da educação, bem como aplicado o Checklist com as 11 professoras.

4 Em relação às famílias, 10 foram entrevistadas e, também, estas preencheram o Checklist e o Questionário de Caracterização do Sistema Familiar. Diante disso, para concluir a coleta de dados ainda é necessário aplicar os instrumentos com três famílias, que, por meio de contato telefônico, já aceitaram participar da pesquisa. Desse modo, a pesquisadora finalizou a transcrição das entrevistas realizadas com as professoras e educadoras especiais, bem como analisou o Checklist - Versão para Professores. Além disso, encontra-se em andamento a transcrição das entrevistas realizadas junto aos familiares, bem como a análise do Checklist - Versão para Pais e/ou Responsáveis. 3. Discussão e Conclusões Como a pesquisa encontra-se em andamento ainda não é possível realizar uma discussão aprofundada dos dados coletados. Contudo, pode-se inferir que, em alguns aspectos, a relação entre família e escola, não tem sido colaborativa. Os professores julgam que os pais de seus alunos são pouco participativos, mas, ao mesmo tempo, a escola não tem oportunizado a participação da família neste espaço, conforme descrito a seguir. As questões 13 e 14 chamaram atenção durante análise do Checklist Versão Professores, uma vez que abordaram a relação entre escola e família. A primeira delas questionou se o professor orientou/coordenou grupos de pais na realização de atividades socioculturais e na segunda questão se o professor promoveu encontros entre os pais de seus alunos. Sendo assim, em relação à questão 13, oito professoras (73%), não coordenaram grupos de pais em atividades socioculturais e apenas três delas (27%) adotavam essa prática. A questão 14 apresentou uma maior discrepância entre as respostas, sendo apenas duas as professoras que afirmaram prover encontro entre os pais de seus alunos para trocas de experiência, representado então 18% do total de professoras. Referente à questão 14, foram duas as professoras que responderam afirmativamente, ou seja, apenas 18% das professoras promoviam encontros entre os pais de seus alunos e 82% das demais não estimulavam a troca de ideias e experiências entre os pais. A professora 6 relatou que: Foi solicitado, mas não se realiza em função da baixa frequência dos pais, a gente faz tentativas e não rola (Relato da P6).

5 Nesse sentido, é necessário que haja um trabalho em conjunto entre os membros da escola, cabe a ela planejar estratégias para aproximar tanto a família da escola quanto as relações entre as próprias famílias. Além disso, É preciso também que as escolas reflitam sobre suas práticas pedagógicas, assumindo as responsabilidades dessa especificidade de sua ação, revertendo a postura queixosa em relação à família e tomando-a como parceira (SILVEIRA, 2011, p. 182). Portanto, não se pretende julgar quem está certo ou errado, mas sim tentar modificar determinadas concepções dos familiares e dos professores, pois acredita-se que um diálogo entre as famílias também poderia colaborar para um melhor ajustamento social e educacional do filho/aluno com AH/SD. Desse modo, estes encontros se constituiriam como canais de comunicação e trocas de experiências entre todos os pais, não apenas daqueles que tem filhos com dificuldades, deficiências ou AH/SD. Por fim, durante o processo de inclusão escolar não cabe o discursos de é apenas responsabilizar o professor pelo sucesso ou pelo fracasso do aluno incluído; mas, sim, ter consciência de que deve haver uma estrutura que apoie o professor durante o processo de inclusão. Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Portugal: edições 70, DESSEN, Maria A.; Questionário de caracterização do sistema familiar. In: WEBER, L;. (Org.). Pesquisando a família: instrumentos para coleta e análise de dados. Curitiba: Juruá, 2011, p ; POLONIA, A. da C. Checklist da rotina compartilhada e envolvimento entre famíliaescola: versão para pais e professores. In: WEBER, L;. (Org.). Pesquisando a família: instrumentos para coleta e análise de dados. Curitiba: Juruá, 2011, p MINAYO, M. C. de S. Ciência, técnica, e arte: o desafio da pesquisa social. In:. (Org.). Pesquisa social: teoria método e criatividade. 23. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, p SILVEIRA, L. M. de O. B. A relação família-escola: uma parceria possível?. In: WAGNER, Adriana (Cols.). Desafios Psicossociais da Família Contemporânea: Pesquisas e Reflexões. Porto Alegre: Artmed, 2011, p