AVALIAÇÕES EXTERNAS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA DA SME/RJ. Resumo

Transcrição

1 AVALIAÇÕES EXTERNAS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA DA SME/RJ Claudia Claro Chaves de Andrade Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Resumo O presente trabalho apresenta as considerações iniciais sobre a pesquisa desenvolvida no curso de mestrado em Educação, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), e tem como objetivo investigar a compreensão dos professores acerca da organização do ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e de que modo as avaliações externas são percebidas por eles, em suas práticas pedagógicas, no Ciclo de Alfabetização. A pesquisa apresenta natureza qualitativa, com abordagem de estudo de caso. O levantamento bibliográfico e documental referente à organização do ensino em ciclos, à organização do ensino da SME/RJ e às avaliações externas, fundamentam a pesquisa. Fetzner (2006;2007;2009;2012), Barreto (2008), Fernandes (2009) e Mainardes (2011) são utilizados como referenciais teóricos para a compreensão da organização do ensino em ciclos; Afonso (2010), Domingos Fernandes (2009), Esteban (2002;2010;2013;2015), Fernandes (2014), Fetzner (2013) e Saul (2010) para a compreensão das avaliações externas, e, Candau (2012) para contribuir com as reflexões acerca do papel da didática, no desafio da escola em promover uma educação de qualidade no contexto atual. Observações e entrevistas semiestruturadas foram realizadas com nove professoras de uma escola pertencente à SME/RJ, lócus da pesquisa. A análise dos primeiros dados tem apontado para o desconhecimento da organização do ensino da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, por parte das professoras. O estudo indica, também, que as professoras, apesar de revelarem a não influência das avaliações externas em suas práticas pedagógicas, se contradizem ao descreverem suas atuações didáticas. Palavras-chave: Ciclos; Avaliação Externa; Prática Pedagógica. AVALIAÇÕES EXTERNAS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA DA SME/RJ Claudia Claro Chaves de Andrade Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Introdução O presente trabalho apresenta as considerações iniciais sobre a pesquisa desenvolvida no curso de mestrado em Educação, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde busca-se compreender a percepção dos professores, quanto às avaliações externas em suas práticas pedagógicas, no ciclo de alfabetização. 9437

2 2 O problema colocado pela pesquisa nos remete às seguintes indagações: de que modo as avaliações externas são percebidas pelos professores no ciclo de alfabetização (1º ao 3º ano)? Há influência das avaliações externas sobre as práticas pedagógicas, ou não? O objetivo geral traçado pela pesquisa, de modo a contornar o caminho para compreensão do problema, é investigar a compreensão dos professores sobre as avaliações externas e, se estas, exercem ou não, influência em suas práticas pedagógicas, no ciclo de alfabetização (1º ao 3º ano). Esteban (2002) nos ajuda a compreender que como a teoria e a prática estão em interação dialética e dialógica, nosso olhar para a realidade está impregnado da teoria de que dispomos, que orienta nossa observação/ação, pautada na formulação das indagações e das interpretações que conduzem a pesquisa. (ESTEBAN, 2002, p.36). Nesta pesquisa, de natureza qualitativa, busca-se o desafio de compreender um recorte do processo educacional, na aproximação e na construção da realidade, ao mesmo tempo que mantém a crítica não só sobre as condições de compreensão do objeto como de seus próprios procedimentos. (MINAYO, 2014, p.42) A abordagem metodológica será o estudo de caso, que segundo Minayo (2014, p.164) evidencia ligações causais entre intervenções e situações da vida real; o contexto em que uma ação ou intervenção ocorreu ou ocorre, o rumo de um processo em curso e maneiras de interpretá-lo. A Escola, campo de investigação desta pesquisa, faz parte da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro e encontra-se no conjunto da E/SUB/7ªCoordenadoria Regional de Educação. Os instrumentos utilizados nesta abordagem, visando a contextualização do problema colocado e os objetivos a serem alcançados são os documentos escritos, a pesquisa bibliográfica e o material recolhido no campo (através de observações e entrevistas semiestruturadas realizadas com nove professoras, na escola lócus desta pesquisa). A pesquisa bibliográfica, como instrumento metodológico, permitiu uma proximidade maior com o problema a ser pesquisado e envolveu, no primeiro momento, o levantamento de publicações nas Reuniões Anuais da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), seguidas de buscas realizadas no SCIELO 9438

3 3 (Scientific Eletronic Library Online), publicações do ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática Pedagógica) e, por fim, o Banco de Teses e Dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) com as palavras-chave Ciclos e Avaliação Externa. Buscou-se, a partir da revisão bibliográfica, a possibilidade de apontar consensos e dissensos sobre o tema da dissertação. Deste modo, as leituras foram trilhadas a partir de alguns direcionamentos que envolveram: o problema tratado pelos autores, a metodologia utilizada e as conclusões. A pesquisa documental envolveu os Regimentos, Portarias de Matrículas e demais documentos que dizem respeito à organização de ensino de 2000 até 2014, bem como, os que pautam as políticas de avaliações (internas e externas), de 2010 a 2014 praticados pela SME/RJ. No momento atual, a escola encontra-se desafiada e pressionada por inúmeras questões. A principal delas pode ser expressa na fala de Candau (2012) quando afirma que uma escola de qualidade para todos e todas ainda não foi conquistada. (CANDAU, 2012, p.12) Fetzner (2009) ressalta que os ciclos de alfabetização entendido como o período de aprender a ler e escrever não contempla a reprovação escolar. Sendo assim, é um período em que a criança deveria ser atendida considerando suas necessidades específicas de mediação no processo de alfabetização. (FETZNER, 2009, p.54) Os processos avaliativos na perspectiva de organização de ensino em ciclos concebe práticas avaliativas baseadas no diálogo, coletivas e direcionadas para o conjunto da escola, tendo como foco a melhoria do que se faz, sem a perspectiva de exclusão (reprovação ou penalização de alunos por meio de notas baixas). (FETZNER, 2009, p.64) Se o desafio atual da didática na perspectiva preconizada por Candau (2012) consiste em trabalhar com a diferença, ou melhor, com as diferenças entre seus próprios atores e protagonistas, favorecendo espaços de interlocução e diálogo entre, principalmente, os grupos de pesquisa presentes neste campo (CANDAU, 2012, p.8) como as avaliações externas se configuram em práticas pedagógicas, permeadas pela lógica do sistema único no ciclo de alfabetização? 9439

4 4 Fernandes (2010, p.16) nos alerta para a necessidade de uma leitura crítica das formulações existentes, que muitas vezes pretendem domesticar a própria reflexão dos sujeitos nos processos em que participam. Se é possível acreditar que as práticas escolares precisam acontecer pautadas no diálogo, nas experiências, nas diferentes culturas e nas relações dinâmicas que tal movimento produz, como não problematizar o currículo prescrito e metodologias classificatórias que concedem validade nos sistemas de ensino? Analisando os resultados De modo a coletar dados sobre as práticas pedagógicas das participantes da pesquisa, no contexto das avaliações externas, destacamos três respostas a partir da seguinte indagação: As avaliações externas influenciam a sua prática pedagógica? Em caso positivo, de que modo? Não. Assim... A gente se preocupa, né... com aquela avaliação externa. A gente olha o que vai ser cobrado. E a gente vê se está dentro dos parâmetros daquele ano. E a gente procura trabalhar mais um pouco com eles, para eles dominarem aquele assunto, a forma como vão ser avaliados. Não. Porque ela está planificando o município, o aluno, a escola. Você está injetada em um determinado conteúdo que muitas vezes não está dentro da realidade. Você está tirando do aluno a oportunidade de crescimento, está baseando sempre em algo que não foi seu. Não reflete a realidade do dia a dia da sala de aula. P4 Considerações finais A análise inicial do material das entrevistas, realizadas no campo, permite a consideração de que, no tocante às práticas pedagógicas, no contexto das avaliações externas, algumas professoras ratificam a influência destas em suas práticas pedagógicas. Por outro lado, mesmo as professoras que revelaram a não influência das avaliações externas sobre a prática pedagógica, registram em suas falas que o trabalho desenvolvido é alterado em virtude da lógica única imposta, que inclui o trabalho com currículo prescrito pela própria SME/RJ, aplicação de provas não elaboradas pelas professoras e treino para as avaliações externas (a partir de simulados construídos pelas professoras ou coordenação da escola). 9440

5 5 Diante das constatações iniciais, concordamos com Candau (2012) de que seja necessário, reinventar a escola, onde a reflexão sobre a Didática não possa estar alheia a problemática trazida por esta pesquisa, de modo a romper com o paradigma homogeneizador e reprodutivo, evidenciado pelas avaliações externas, para privilegiar a construção de sujeitos críticos e transformadores da sociedade em que vivem. Referências bibliográficas CANDAU, Vera Maria. Didática: entre saberes, sujeitos e práticas. XVI Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. UNICAMP. Campinas, Disponível in: ESTEBAN, Maria Teresa. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, FERNANDES, Domingos. Acerca da articulação de perspectivas e da construção teórica em avaliação educacional. In: ESTEBAN, Maria Teresa e AFONSO, Almerindo Janela (orgs). Olhares e interfaces: reflexões críticas sobre a avaliação. São Paulo: Cortez, FETZNER, Andréa Rosana. A implementação dos ciclos de formação em Porto Alegre: para além de uma discussão do espaço-tempo escolar. Rev. Bras. Educ. [online].2009, v.14, n.40, pp , ISSN MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14 ed. São Paulo: Hucitec,