Universidade Pública na Formação de Professores: ensino, pesquisa e extensão. São Carlos, 23 e 24 de outubro de ISBN:
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1 O QUE FAZ O ENFERMEIRO LICENCIADO? Nilton César Granvile (Nº USP ) Gabriela Maria Prebill Ruana Franco Sorrini Adriana Katia Corrêa (Orientadora) Maria Conceição B. M. e Souza Ronildo Alves dos Santos Maria José Clapis Universidade de São Paulo/Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Financiamento/Apoio: CAPES - Programa Pró-Ensino na Saúde-Edital Nº 2037/2010. Pró-Reitoria de Graduação- Programa Ensinar Com Pesquisa Editais 2008/2009. Universidade de São Paulo Pró-Reitoria de Pesquisa (RUSP) Eixo 4: Ciências da Saúde. Apresentação de Pôster (AP) Nº USP RESUMO Trata-se de um recorte do projeto de pesquisa Perfil dos estudantes de licenciatura em enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP), com objetivo de descrever o perfil dos ingressantes no curso Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem, nos anos de 2006 a 2013, quanto aos seus conhecimentos prévios em relação à atuação do Enfermeiro Licenciado. Estudo exploratório-descritivo que utiliza questionário como técnica de coleta de dados, aplicado no período de matrícula. Participaram 344 alunos ingressantes. Os resultados obtidos foram categorizados por temas convergentes. Para os alunos, o enfermeiro licenciado atua como professor na educação profissional de nível técnico em enfermagem; como profissional nos serviços de saúde; na educação sem especificar nível ou modalidade de ensino; como professor na educação básica. Ainda, no que se refere à atuação no serviço de saúde, alguns a compreendem como restrita ao campo hospitalar. Tais preconcepções são discutidas, sendo apontados desafios no processo formativo do enfermeiro licenciado. DESCRITORES: Licenciatura em Enfermagem, Estudantes de Enfermagem, Ensino.
2 INTRODUÇÃO O Curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo (EERP-USP) foi iniciado em 2006, com a proposta de formar enfermeiros licenciados que atuem nos cenários dos serviços de saúde, nos distintos níveis de atenção, bem como na docência em educação profissional e em atividades educativas de promoção da saúde na educação básica, articulando a formação generalista em enfermagem e o campo de saber da educação (USP, 2002). Este trabalho é parte de um projeto que acompanha o perfil do aluno ingressante desde 2006 e, especificamente, fundamenta-se nas seguintes questões: como os ingressantes compreendem a atuação do enfermeiro licenciado? As suas compreensões são adequadas? Apresentam equívocos? Quais as demandas que tais pré-compreensões trazem para o desenvolvimento deste curso, tendo em vista o perfil de formação proposto? Compreendemos que as respostas a esses questionamentos poderão ser valiosas, considerando que a proposta pedagógica do curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem/EERP-USP reconhece o importante papel do estudante como sujeito ativo do processo ensino-aprendizagem, cujas experiências e saberes prévios precisam ser considerados e ressignificados, na construção de saberes teórico-práticos dos campos da saúde e educação que ao conformarem-se permitem a leitura crítica e a ação efetiva na realidade. O objetivo deste estudo é descrever o perfil dos ingressantes no curso Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem, nos anos de 2006 a 2013, quanto aos seus conhecimentos prévios em relação à atuação do Enfermeiro Licenciado. DESENVOLVIMENTO Trata-se de um estudo exploratório descritivo que utiliza questionário como técnica de coleta de dados, composto por perguntas fechadas e abertas, contendo dados de identificação pessoal, profissional, escolar e cultural (Gil, 2002). Para a elaboração deste trabalho, somente foram utilizadas as respostas obtidas com a questão referente aos conhecimentos e informações que os alunos ingressantes possuem sobre a atuação profissional do enfermeiro licenciado. Os questionários foram aplicados durante o período de matrícula de cada turma ingressante, com o objetivo de obter os conhecimentos que os alunos trazem antes de terem contato com as disciplinas introdutórias do curso, evitando assim que as respostas possam ser formuladas por conhecimentos adquiridos durante as aulas e atividades ministradas no curso de licenciatura. A participação foi voluntária e sigilosa, evitando possível constrangimento. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
3 Pesquisa da EERP/USP - Protocolo n. 0730/2006. Os resultados obtidos foram categorizados por temas convergentes a seguir descritos. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante a realização deste estudo, foram ofertadas 400 vagas para ingresso no curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem na EERP/USP, sendo que 344 ingressantes aceitaram participar, a saber: em 2006 foram 43 estudantes; em 2007 participaram 47 ingressantes; em 2008, foram 44; em 2009, 41 estudantes; em 2010, 43 participantes; em 2011, foram 40; em 2012, 42 participantes e, em 2013, aceitam participar deste estudo 44 ingressantes. Em relação à vida escolar prévia, muitos estudantes que participaram do estudo realizaram seus estudos no ensino médio em escola pública: 26 em 2006; 29 em 2007; 30 em 2008; 21 em 2009; 25 em 2010; 17 em 2011; 17 em 2012 e 20 em Ao longo desses anos, entraram 78 estudantes trabalhadores, sendo que desses, 51 atuavam na área da saúde. Em relação aos conhecimentos prévios sobre o que faz o enfermeiro licenciado, foco deste estudo, alguns dos estudantes referem que o licenciado atuará como enfermeiro no campo da saúde e professor na educação profissional, o que mostra conhecimento adequado sobre a profissão, já que no campo da educação, as escolas técnicas de enfermagem são mesmo o cenário de atuação dos licenciados em enfermagem. O enfermeiro licenciado poderá trabalhar também como educador, na perspectiva de promover saúde, nas escolas de ensino fundamental e médio, campo esse ainda a ser efetivamente conquistado pelo enfermeiro, dependendo das políticas públicas de educação. A possibilidade de atuação do enfermeiro como educador nas escolas de ensino fundamental e médio poderá ser facilitada pelos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997) que, dentre outras questões, aponta para a inserção de temas transversais, muitos dos quais relacionados ao campo da saúde. Há ingressantes que apontam a atuação do enfermeiro licenciado nos serviços de saúde e atuação na área da educação sem indicar especificidades, ou seja, não é indicada a docência na educação profissional em enfermagem nem a atuação na promoção da saúde na educação básica. Essa visão pode estar relacionada à compreensão geral que os estudantes possam ter acerca de cursos de licenciaturas no Brasil como voltados apenas à formação de professores para a educação básica (infantil; ensino fundamental; médio), considerando as suas próprias vivências como alunos nesses níveis de ensino. Além disso, a licenciatura em enfermagem, apesar de legalizada desde o início da década de 70 (Bagnato, 1994) ainda não é plenamente conhecida, já que se trata de curso de licenciatura na área da saúde.
4 Além disso, muitos alunos ingressantes não conhecem com clareza as categorias profissionais que compõem a equipe de enfermagem, cabendo ressaltar a divisão social e técnica do trabalho de enfermagem inserido no contexto capitalista (Almeida e Rocha, 1986), e a responsabilidade do enfermeiro na formação dos demais trabalhadores. Outra categoria refere-se à atuação do enfermeiro licenciado como professor da educação básica ensino fundamental e médio. A visão de que o enfermeiro atuará como professor na educação básica apresenta-se equivocada devendo ser ressignificada pelo estudante ao longo de sua formação. Como já comentado, o licenciado atua como professor nas escolas técnicas, mas na educação básica, ele não é responsável por ministrar disciplina específica, mas sim por desenvolver junto aos alunos, docentes e comunidade ações educativas de promoção de saúde. Para alguns alunos, a concepção de docência é limitada a dar aula. Em se tratando de um curso de licenciatura, esta ideia apresenta-se como uma demanda a ser também trabalhada ao longo do curso. Nos níveis de ensino anteriores, os estudantes, quase sempre, vivenciaram experiências calcadas em métodos de ensino tradicionais nos quais o papel do professor é principalmente o de transmissor do conhecimento. Referindo-se à metodologia do ensino tradicional, Mizukami, (2006) comenta que o professor traz o conteúdo pronto, cabendo ao aluno escutá-lo e reproduzi-lo de modo automático, o que quase sempre é considerado como indicador de aprendizagem. Ainda pontua que a didática tradicional resume-se à idéia de dar e tomar a lição, desconsiderando elementos da vida afetiva, bem como possibilidades de transformações da realidade. A Atuação do enfermeiro nos serviços de saúde restrita ao campo hospitalar é outra compreensão significativamente enfocada ao longo dos anos pelos ingressantes. Restringir a atuação do enfermeiro licenciado, no campo da saúde, ao hospital pode ser relacionado à imagem que a população tem acerca do enfermeiro, muitas vezes, visto como um dos profissionais da saúde que atua apenas na área hospitalar, Tal idéia pode ter suas origens na construção histórica da profissão que se institucionalizou, no Século XVIII, na Inglaterra, voltada para a organização de hospitais. No Brasil, na década de 40, houve um incremento do número de enfermeiros e, principalmente de auxiliares de enfermagem, com aumento das escolas de formação, com ênfase no trabalho hospitalar, em um momento cujo contexto político-econômico volta-se para o fortalecimento das indústrias, requerendo o atendimento individual para manutenção da força de trabalho (Almeida e Rocha, 1986). Todavia, desde a década de 80, houve mudanças importantes nas políticas e organização do Sistema de Saúde no Brasil, ampliando a concepção de saúde e o lócus da atenção, diversificando, pois, a atuação do enfermeiro para outros cenários.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A percepção dos alunos ingressantes no curso de licenciatura em enfermagem, na EERP/USP, acerca da prática profissional de enfermeiro licenciado, traz demandas para o processo de formação, envolvendo a prática pedagógica do professor. Será fundamental apoiar os estudantes na construção de novos significados acerca da atuação do enfermeiro no cuidado em saúde compreendido de modo ampliado, para além do campo hospitalar; até porque os licenciados terão papel significativo na docência na educação profissional em enfermagem. Além disso, será relevante a sua inserção crítico-reflexiva, contribuindo na formação de trabalhadores de enfermagem. Nas disciplinas curriculares que trabalham com problematização será desafiante aos professores o acompanhamento dos alunos, enfrentando provavelmente algumas resistências no processo participativo e de desenvolvimento de autonomia. Ao longo do processo formativo, há de se construir espaços de aprendizagem que possibilitem a expressão das preconcepções sobre a atuação do enfermeiro docente pelos estudantes. REFERÊNCIAS Almeida M.C.P, Rocha J.S.Y. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez; BAGNATO, M.H.S. Licenciatura em enfermagem: para que? Campinas, Tese (Doutorado) - Faculdade de Educação, UNICAMP, Campinas, p. Brasil. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEf/SEESP, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Projeto Político Pedagógico da Licenciatura. Ribeirão Preto, GIL, A. C. Como elaborar projeto de pesquisa. 4ª edição São Paulo. Atlas MIZUKAMI, M.G.N. Aprendizagem da Docência: professores formadores. Rev. E- Curriculum, São Paulo, v. 1, n. 1, dez. jul
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