. Palavras chave: formação docente, estágio supervisionado, disciplinas pedagógicas.
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- João Pedro Alves Assunção
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1 NA CONTRAMÃO DA RACIONALIDADE TÉCNICA: POSSIBILIDADES DE REPENSAR A FORMAÇÃO DOCENTE Resumo Janaína de Azevedo Corenza PUC-Rio IFRJ A formação docente deve se constituir em um processo de reflexão que seja contínuo e permanente nas instituições de ensino superior. Por esta razão buscamos, a partir da experiência do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) provocar discussões a respeito da importância da oferta de disciplinas pedagógicas ao longo do curso de licenciatura em Matemática como um dos caminhos para a superação do modelo de formação pautado na racionalidade técnica. Na nossa perspectiva esta superação viabiliza um impacto positivo no olhar do licenciando sobre a escola de educação básica, durante a realização do estágio supervisionado. Análises iniciais sobre o mecanismo de desconstrução deste modelo foram feitas tendo como base as ementas e os objetivos das quatro disciplinas pedagógicas que antecedem o Estágio supervisionado ( Contemporaneidade, subjetividade e práticas escolares ; Sociedade, cultura e educação; História, políticas e legislação da educação e Didática ). Esta oferta é uma das ações elaboradas a partir das Diretrizes para flexibilização da estrutura curricular (DFECs) dos cursos de licenciatura do IFRJ. O estudo aponta que a oferta destas disciplinas pode contribuir para superar a dicotomia teoria-prática, além de viabilizar a promoção de diversas relações entre os conhecimentos construídos durante a realização do estágio supervisionado e as disciplinas curriculares. Neste debate buscamos dialogar com os estudos de Saviani (1985 e 2009), Pereira (2006), Anastasiou e Alves (2006), Veiga (2006), entre outros. O estudo apresentado é um ensaio inicial que aposta na promoção de diálogos entre teoria e prática, construídos ao longo do curso. Buscamos com este estudo dar continuidade aos debates sobre a formação docente, contribuindo com novas reflexões e olhares.. Palavras chave: formação docente, estágio supervisionado, disciplinas pedagógicas. Introdução Estudar a formação docente requer um olhar crítico a respeito da sua história ao longo das décadas. Especificamente a partir de 1939, quando inicia-se a organização e a implementação dos cursos de pedagogia e de licenciatura, observa-se a implementação do modelo 3+1 que consistia na oferta das disciplinas pedagógicas com duração de um ano, após a conclusão das disciplinas de conteúdo que duravam três anos. Esta visão fragmentada de formação revela que o modelo implementado estava baseado na racionalidade técnica, prevendo, primeiramente a aquisição uma gama de 04246
2 conhecimentos teóricos e, ao final do curso, a aplicação das práticas pedagógicas adquiridas (SAVIANI, 2009). Podemos citar que as críticas atribuídas a esse modelo se referem a separação entre teoria e prática na preparação profissional priorizando a formação teórica em detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos, sem um estatuto epistemológico próprio. Pereira (2008) afirma que essa formação consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar. Indo na contra mão deste modelo, o currículo do curso de licenciatura em Matemática do IFRJ sofreu ajustes, a partir da elaboração das Diretrizes para flexibilização da estrutura curricular (DFECs). A finalidade inicial das Diretrizes foi identificar um Eixo Comum das Licenciaturas (ECL) e um Eixo Específico do Curso (EEC), para cada uma das áreas i ofertadas pelo IFRJ. Trataremos aqui especificamente do EEC do curso de licenciatura em Matemática. Para garantir que os licenciandos cursassem disciplinas pedagógicas e disciplinas de ensino ao longo de toda a sua formação, o currículo ficou da seguinte forma distribuído: 4 disciplinas pedagógicas ofertadas antes do Estágio I ( Contemporaneidade, subjetividade e práticas escolares ; Sociedade, cultura e educação; História, políticas e legislação da educação e Didática ) e 5 disciplinas de ensino (Metodologia de Ensino da Matemática; Matemática em Sala de Aula, I, II, III e IV) ofertadas concomitantemente ao Estágio I, II e III, além das optativas, as quais são escolhidas livremente pelos licenciandos. Neste modelo reformulado, a formação é concebida em articulação entre as disciplinas específicas e as pedagógicas. Levaremos em conta, neste estudo, as quatro disciplinas da área da educação que antecederem o estágio supervisionado. Este recorte justifica-se pelo objetivo de analisarmos as contribuições destas disciplinas para a construção de um novo olhar do licenciando sobre a educação básica, durante a realização do estágio supervisionado ii. Destacamos primeiramente os objetivos gerais da disciplina Contemporaneidade, subjetividade e práticas escolares. De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC), esta é ofertada no 1º período e o objetivo indica que as leituras e as discussões a serem travadas durante as aulas possibilitam a criação de novos argumentos a respeito das questões contemporâneas nas quais a escola de educação básica está inserida e dela participa ativamente. Questões como as relações institucionais, contextualização social da escola e os atravessamentos no ensino e 04247
3 aprendizagem aparecem como ementa e são desenvolvidas num caráter teórico prático na medida em que contribui para indagações que tangem a compreensão das práticas escolares. No 1º período também é ofertada a disciplina Sociedade, Cultura e Educação. Os conteúdos desenvolvidos nesta disciplina são traçados com base no pensamento clássico e contemporâneo sobre educação; as relações entre estado, sociedade e escola e a escola como dispositivo de inclusão e exclusão, além de aprendizagens sobre as relações étnico-raciais, diversidade e ética no cotidiano escolar. Esta disciplina tem caráter filosófico e busca provocar nos licenciandos, ponderações que os levam a compreender, interpretar, avaliar, investigar e analisar o que está posto por trás, o que está na subjacência do aparente, afirma o PPC. É possível dizer, também, que na prática pedagógica da formação de professores, a filosofia subjaz a prática formativa do educador, entendendo que a filosofia da educação, como diz Saviani (1985), trata-se de uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto dos processos de pensamento e de ação do ser humano. No 2º período a disciplina ofertada é a História, Políticas e Legislação da Educação cujo objetivo deixa claro que a disciplina busca, por meio de aspectos contextuais da história da educação no Brasil, construir junto aos licenciandos os conhecimentos que tecem a origem e desenvolvimento da escola e dos seus processos educacionais. Em relação a organização e funcionamento do sistema educacional brasileiro a disciplina traz um cenário de leituras e discussões sobre as legislações e seu impacto na educação. No que tange as políticas públicas para a educação, esta busca fazer suas relações com as políticas econômicas, culturais, científicas e tecnológicas, não tendo portanto um olhar fragmentado. O estudo a respeito da educação Profissional, educação de jovens e adultos, inclusão e diversidade aparecem na ementa sob o prisma de suas especificidades históricas, políticas e legais. Ao ingressarem no 3º período os licenciandos fazem a disciplina Didática cujo objetivo apresentado no PPC é o de estudar a didática com menos teor técnico, explorando as questões que envolvem o processo de ensino aprendizagem que faz parte de um currículo em consonância com os debates atuais sobre didática. Para tal os conteúdos a serem discutidos perpassam pelas tendências didáticas e sua aplicação à realidade da educação básica além da compreensão da didática como espaço de reflexão e ação sobre o processo de ensino aprendizagem. Os desafios da prática pedagógica no 04248
4 contexto da diversidade fazem parte da ementa e têm com base as múltiplas formas de ensinar, aprender, planejar e avaliar, por exemplo. Com estes estudos, aprendizagens e debates travados ao longo das quatro disciplinas que antecedem o Estágio supervisionado, apostamos que os licenciandos podem chegar à sala de aula da educação básica, com uma visão de educação mais ampla e crítica, tendo a didática como uma prática social concreta, se constituindo em um espaço de diálogo entre formação, docência e a pesquisa iii. As disciplinas pedagógicas também mostram que é possível evoluir da perspectiva usual de dar e assistir aulas para a condição de fazer aulas (ANASTASIOU E ALVES, 2004) e nesta construção as disciplinas buscam essa evolução na medida em que as temáticas e as problemáticas travadas durante as aulas podem enriquecer o olhar do licenciando, provocando reflexões críticas sobre as práticas pedagógicas da educação básica e o entendimento de que ensinar é compartilhar, debater e confrontar ideias. O estágio, nesta perspectiva, deixa de ser um momento de apenas observar, e o licenciando deixa de ser um sujeito passivo que pouco interage com as práticas desenvolvidas e com os demais sujeitos envolvidos no seu processo de formação, como os alunos e os professores da educação básica. Arriscamos em afirmar que, mediante as ementas e os objetivos descritos no PPC, os conhecimentos construídos nas disciplinas pedagógicas podem ser ressignificados na prática. O licenciando pode levar para o espaço de estágio suas percepções, análises e críticas elaboradas com base em estudiosos, legislações e pesquisas debatidas e estudadas nas aulas, por exemplo. Podem, também, fazer relações e construir novos conhecimentos, rompendo com a dicotomia teoria-prática. Por fim, as disciplinas pedagógicas que antecedem o estágio supervisionado buscam romper com o modelo de concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos. Este modelo de racionalidade técnica é superado por um modelo de constante reflexão, elaboração e relaboração dos conhecimentos pedagógicos, que não se limitam ao estágio realizado no final do curso. Neste novo formato, fica evidente a importância de que os interesses, as particularidades e a diversidade devem estar presentes nas aulas, viabilizando diálogos e promovendo diversas relações durante a realização do estágio supervisionado. Recomendações 04249
5 Para terminar o texto, sem encerrar a discussão buscamos mostrar, a partir da experiência do IFRJ, sobretudo no curso de Licenciatura em Matemática, as possibilidades da superação do modelo de formação pautado na racionalidade técnica. A partir da oferta de disciplinas pedagógicas elaboradas nas DFCs, ao longo do curso de formação e suas possíveis contribuições na relação teoria-prática durante a realização do estágio, apontamos este como um dos possíveis caminhos para efetiva superação deste modelo. As disciplinas pedagógicas buscam, neste novo formato, contribuir de forma significativa na construção da identidade do futuro professor pensada de forma crítica e reflexiva, apostando na promoção de diálogos entre teoria e prática, construídos ao longo do curso. Novas pesquisas podem ser iniciadas a partir deste estudo, principalmente outras reflexões sobre o impacto deste novo modelo na formação docente. Afirmamos que as complexidades são as mais diversas mas não se encerram, e sim, se renovam. Referências ANASTASIOU, L. G. e ALVES, L. P. (org.) Ensinagem na Universidade. Pressuposto para as estratégias de trabalho em aula. 3ª Ed.Joinville: Univile. In CUNHA, M. I. Os conhecimentos Curriculares do Ensino. Campinas: SP: Papirus, Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática (PPC). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Paracambi, PEREIRA, J.E.D. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, p , Dezembro/99. Diretrizes para flexibilização de estrutura curricular de curso de licenciatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (DFECs). Rio de Janeiro, SAVIANI, D. Escola e democracia. 8ª ed.campinas SP: Autores Associados, Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, v.14, 40, p , jan./abr VEIGA, I. V. Lições de didática. Campinas, SP: Papirus,
6 i O IFRJ oferta cursos de licenciatura nas seguintes áreas: matemática, física e química. ii Trabalhamos, neste estudo apenas com o componente curricular Estagio supervisionado I.É importante ressaltar que o licenciando deve cumprir uma carga horária de 405 horas de estágio, sendo divididas em Estágio supervisionado I, Estágio supervisionado II e Estágio supervisionado III. Destas 405 horas, 108 são cumpridas em sala de aula, junto ao professor orientador. O professor orientador busca em suas aulas, de acordo com o PPC, travar debates com base nas práticas desenvolvidas na escola de educação básica e os estudos realizados nas disciplinas pedagógicas, cursadas e em curso. Durante o Estágio Supervisionado I, II e III os licenciandos também devem se matricular nas disciplinas pedagógicas, consideradas de ensino. Este modelo comprova que a matriz curricular do curso oferta disciplinas pedagógicas em toda formação, até o último período. iii Ver Veiga (2006)
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