ESTUDOS ECOPATOLÓGICOS NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS MULTIFATORIAIS EM SUÍNOS

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Transcrição:

ESTUDOS ECOPATOLÓGICOS NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS MULTIFATORIAIS EM SUÍNOS Nelson Morés 1 Na suinocultura moderna, as doenças que afetam os animais podem ser alocadas em dois grandes grupos: 1) Doenças epizoóticas, causadas por agentes infecciosos específicos que se caracterizam por apresentar alta contagiosidade e altas taxas de morbidade e mortalidade; 2) Doenças multifatoriais de etiologia complexa (Doenças de rebanho) que tendem a permanecer nos rebanhos de forma enzoótica, afetando muitos animais, com baixa taxa de mortalidade, mas com impacto econômico acentuado, devido a seu efeito negativo sobre os índices produtivos do rebanho. Na produção orgânica de suínos, uma tendência crescente em alguns países, os aspectos sanitários merecem importância especial, uma vez que o uso de antimicrobianos limita-se a tratamentos de animais doentes. Nesse sistema, de modo geral, é proibido o uso de medicamentos convencionais, exceto para garantir a saúde ou quando houver risco de vida de animais; na inexistência de substituto permitido, poder-se-ão usar medicamentos convencionais, sendo nesse caso, obrigatório comunicar à certificadora o uso desses medicamentos, bem como registrar a sua administração. Com isso, a prevenção das doenças deve ser feita baseada em uso de vacinas e, principalmente, através de técnicas de produção que privilegiam o bem estar animal e evitam os fatores de risco. A Embrapa Suínos e Aves, desde 1989, tem desenvolvido estudos ecopatológicos com o objetivo de identificar fatores de risco que favorecem a ocorrência de doenças multifatoriais nas diferentes fases de criação dos suínos, bem como estabelecer medidas para evitá-los ou corrigi-los. Nesse período, identificou-se fatores de risco na maternidade associados à ocorrência de diarréia, mortalidade e baixo desempenho dos leitões e aos problemas das porcas no parto e puerpério; na creche associados a diarréia pós-desmame e ao vício de sucção; no crescimento-terminação associados as doenças respiratórias, às artrites serosanguinolentas observadas no abate e à linfadenite por micobactérias; e na reprodução associados ao tamanho das leitegadas. Os resultados obtidos nesses estudos, somados àqueles obtidos em outros países, formam uma base de conhecimento para utilização de uma medicina veterinária preventiva racional no controle de doenças de rebanho nos sistemas intensivos de produção e para subsidiar a produção orgânica de suínos, uma vez que a correção dos fatores de risco, têm por objetivo principal a redução do uso de medicamentos. Fator de risco representa uma característica do indivíduo ou do seu ambiente que quando presente aumenta a probabilidade de aparecimento e/ou agravamento de doenças. A seguir serão relacionados os principais fatores de risco ou 1 Med. Vet., MSc. em Patologia animal, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Caixa Postal 21, CEP 89.700-000, Concórdia SC. e-mail:mores@cnpsa.embrapa.br. 37

procedimentos, por fase de produção, que devem ser considerados no controles de doenças multifatoriais e proporcionar maior conforto aos animais: 1. Fase de maternidade O aspecto mais importante na produção de suínos na maternidade é a mortalidade de leitões, cujas causas principais são o esmagamento e a inanição. Além disso, as diarréias, principalmente a coccidiose e colibacilose neonatal são importantes por prejudicar o desenvolvimento dos leitões e, as vezes, também provocar mortes como é o caso da colibacilose. Os principais fatores a serem observada para reduzir ou evitar a ocorrência desses problemas são: Uso de um bom programa de vacinação das matrizes, contra a colibacilose neonatal; Transferência da porca para a maternidade 8 dias antes do parto, utilizando-se tábuas de manejo; Uso de celas parideiras com área mínima de 3,6m 2 ; Uso de escamoteador com fonte de aquecimento para os leitões (32-26 o C); Instalações bem ventiladas com no mínimo 20% de aberturas laterais, onde deverá ser instalado cortinado ou janelões para evitar correntes de ar em época fria; Sala de maternidade com forro (madeira ou cortina) para proporcionar melhor conforto térmico, reduzindo-se a amplitude térmica na sala (18 22 o C); Uso de desinfecções sistemáticas da sala com vazio sanitário entre cada lote, exceto criações pequenas e nesse caso deve-se primar pela boa higiene; Assistir aos partos proporcionando os cuidados aos recém nascido e, principalmente, orientando os leitões nas mamadas durante os dois primeiros dias de vida; Proporcionar ambiente limpo e desinfectado nos primeiros dias do nascimento, limpando as baias 3 vezes ao dia; Alimentar bem as porcas durante a gestação para que estejam em bom estado corporal por ocasião do parto e produzam leitões com peso médio maior que 1,5 kg; e fornecer ração a vontade durante a fase de lactação; Fornecer água a vontade para a porca: bebedouro de reprodutor com vazão maior que 3 litros por minuto. Outros fatores de risco associados à ocorrência de natimortalidade são: Porcas velhas, com 6 ou mais partos; Leitegadas grandes, com 13 ou mais leitões; Partos prolongados, com mais de 6 horas de duração. 38

2. Fase de creche Nessa fase, as diarréias, a doença do edema e a infecção por estreptococos são os principais problemas. Muitos fatores de risco que favorecem a ocorrência dessas patologias foram identificados. Para evitá-los sugere-se: A localização geográfica da creche na encosta norte ou topo de morro; Produção em lotes com vazio sanitário de 5 dias para granjas médias e grandes; Desmamar os leitões com peso mínimo de 7,3 kg e com idade não inferior a 25 dias; Evitar fatores de estresse como mistura de animais, variações térmicas superiores a 6 o C, correntes de ar frio, mas manter boa ventilação no interior dos galpões pelo manejo correto das aberturas; Evitar a superlotação das baias e das salas: máximo 2,5 leitões/m 2 (baia com piso compacto) e 3,0 leitões/m 2 (baias suspensas e com piso ripado) e no mínimo de 1,4m 3 de ar/leitão; Incentivar o consumo de ração durante o período de aleitamento, a partir dos 10 dias de idade; Usar dieta adequada a idade de desmame dos leitões: somente a partir dos 42 dias de idade é que os leitões poderão receber ração a base de milho farelo de soja e núcleo; Usar bebedouros adequados para leitões de creche (tipo concha ou chupeta), de fácil acesso, na altura correta e com vazão de 1,0 1,5 litros/minuto); O vício de sucção é uma alteração psíquica que leva os leitões ao hábito de sugar umbigo, vulva ou prega das orelhas logo após o desmame, com prejuízo ao desempenho dos animais, sendo, portanto considerada uma doença multifatorial. Em trabalho realizado em 65 rebanhos da região sul do Brasil, os seguintes fatores de risco estavam associados a ocorrência desse vício: Peso médio ao desmame 6,3 kg; Ausência de bebedouro específico para os leitões na maternidade; Presença de diarréia na primeira semana após o desmame; Tipo de bebedouros diferentes para os leitões na maternidade e creche; Orientação do eixo do prédio inadequado (encosta sul ou fundo de vale); Presença de sinais de sarna no lote; Ausência de vazio sanitário na creche e uso de restrição alimentar logo após o desmame; Realização de restrição alimentar após o desmame. 3. Fase de crescimento e terminação Sem dúvida, os problemas sanitários mais importantes nessas fases são as doenças respiratórias (rinite atrófica e pneumonias) e as infecões por 39

estreptococos, mas as diarréias como a ileite e as colítes também merecem atenção. Para prevenir essas doenças deve-se respeitar os seguintes fatores: Em produtores que só terminam os suínos, adquirir os leitões de um único fornecedor; Fazer vazio sanitário de 5 dias entre lotes, com lavagem e desinfeção das instalações; Não usar galpões com capacidade para abrigar mais de 500 suínos; Usar espaço de no mínimo 1m 2 /suíno na terminação; Manter boa ventilação no interior dos galpões, mesmo nos dias frios, mas evitar variações térmicas superiores a 6 o C e correntes de ar frio sobre os animais, através do correto manejo das cortinas ou janelões; isso é importante para reduzir a quantidade de poeira e de microorganismo em suspensão; Evitar temperaturas inferiores a 15 o C na fase de crescimento; Proporcionar no mínimo 3m 3 de ar /suíno alojado; Fazer o controle mecânico de moscas na propriedade. Na fase de terminação, também foram identificados os fatores de risco mais importantes para a ocorrência da linfadenite granulomatosa, provocada por micobactérias, em criações da região sul do Brasil, os quais são: Dimensão do rebanho igual ou maior de 25 matrizes; Não ter piso ripado ou parcialmente ripado na creche; Má qualidade da higiene da creche por ocasião da visita, através de uma avaliação subjetiva feita pelo técnico, considerando a higiene dos animais, das baias, dos comedouros e das instalações. Dois dos fatores de risco acima estão diretamente relacionados à má qualidade da higiene na creche, o que pode ser perfeitamente corrigido através de programas adequados de limpeza e desinfecção. O piso ripado protege contra a doença, e isso ocorre porque impede que os suínos entrem em contato permanente com as sujeiras da baia fezes, urina, resto de ração etc. Na verdade a ausência de piso ripado é um fator de risco associado à má qualidade da higiene. Em relação ao fato de rebanhos com mais de 25 matrizes ser considerado um fator de risco, é importante salientar que é praticamente impossível intervir neste fator, pois dificilmente os criadores aceitariam uma redução de sua capacidade produtiva, o que estaria se contrapondo à tendência de produção em escala que a indústria suinícola tem apresentado. Nos últimos anos outro problema que têm causado prejuízos ao setor suínos são as condenações de carcaças por artrites do tipo serosanguinolentas, encontradas pela inspeção no abate. Em trabalho epidemiológico realizado no meio oeste de Santa Catarina, os seguintes fatores de risco foram associados a maior ocorrência de artrites nos lotes de suínos terminados: granjas com histórico de condenações por artrite em lotes anteriores; tempo maior que cinco anos sem reforma do piso das baias; 40

sexo macho do lote; ausência de forro nas instalações; limpeza das baias somente uma vez ao dia; densidade de transporte dos animais ao frigorífico fora do padrão recomendado (padrão = 238 a 285 kg de peso vivo/m 2 de carroceria); Lotes com mais de 250 animais alojados no mesmo galpão; mais de 10 origens de leitões na formação do lote. 4. Fase de reprodução Os principais problemas sanitários que afetam a reprodução da fêmea suína são as infecções inespecíficas do aparelho genital e urinário e a parvovirose. Os fatores importante a serem observados na prevenção dessas infecções e para aumentar o tamanho das leitegadas são: Para formação do plantel e na reposição de porcas, escolher leitoas filhas de porcas cuja média de nascidos totais/parto seja de pelo menos 11 leitões; Fazer uso de vacinas contra a parvovirose; Realizar as coberturas em local adequado (baia com espessa camada de cama ou areia); o tempo de cobertura ou inseminação artificial não deve ser inferior a 4 minutos; Evitar temperaturas acima de 28 o C no primeiro mês após a cobertura: no Siscal providenciar sombra de boa qualidade em mais de um local; Manter as porcas bem nutridas: escore visual 4 5 antes do parto e 3 4 no desmame; Manter uma taxa de reposição anual de fêmeas entre 20 a 30% para estimular a imunidade de rebanho, mas com o cuidado de não manter porcas improdutivas no plantel para não comprometer a produtividade geral do rebanho; Evitar brigas entre as porcas no pós desmame: usar celas individuais ou criar áreas de fuga; Evitar infecções no aparelho genito-urinário: - Manter boa higiene das porcas e machos no período de cio e cobertura; - As baias onde são alojadas as porcas após o desmame devem ser limpadas 3 vezes ao dia; - Cuidar para manter porcas com bons aprumos e sem lesões de casco; - Cuidado especial deve ser dado ao sistema de fornecimento de água às porcas: bebedouros adequados, vazão de 3 litros/minuto, canalização não exposta ao sol. Um dos problemas que interferem diretamente no desempenho e sobrevivência dos leitões recém nascidos é a saúde da porca. Os principais fatores de risco identificados que favorecem a ocorrência de problemas com a parca no parto e puerpério são: 41

Densidade da urina > 1012, indicando baixa ingestão de água; Porcas excessivamente gordas, com estado nutricional visual 3,5 (escala de 1 a 5) ou espessura de toucinho > 19 mm; Sorologia positiva para doença de Aujeszky; Intervalo entre a transferência da porca da gestação para maternidade e o parto 4 dias. 5. Conclusão Existem muito conhecimento acumulado, fruto de vários anos de pesquisas, utilizando-se estudos ecopatológicos e outras metodologias, especialmente direcionados para a identificação e controle de fatores de risco que favorecem a ocorrência e/ou agravamento de doenças multifatoriais nos modernos sistemas de produção de suínos no Brasil. Esse conhecimento foi gerado com base na produção industrial com o objetivo de reduzir o impacto econômico das doenças de rebanho sobre os índices produtivos. Infelizmente, muitos dos fatores de risco identificados e que são de amplo conhecimento dos técnicos que atuam na suinocultura, ainda ocorrem com freqüência nos atuais sistemas de produção. Uma reflexão deve ser feita sobre o porque que na prática tais fatores não são evitados ou corrigidos! Provavelmente existem várias razões que vão desde a necessidade de investimentos em instalações, passam pela necessidade de maximizar o uso das instalações, até a falta de sensibilidade e qualidade da mão de obra e gerência dos sistemas de produção É necessário um esforço conjunto entre técnicos e produtores no sentido de estabelecer procedimentos adequados com o objetivo de evitar os fatores de risco, o que pode ser feito pela implementação do método de Análise de Risco e Controle dos Pontos Críticos. Ademais, o uso de boas práticas de manejo, respeitando aspectos relacionados ao bem estar animal, e o uso de programas de vacinações bem elaborados, associadas a um programa rigoroso de higiene e desinfeção, certamente serão fundamentais para a produção de suínos com menor utilização de antimicrobianos, atendendo uma tendência crescente dos consumidores. 6. Bibliografia consultada AMARAL, A.L. do. Estudo ecopatológico para identificação de fatores de risco associados ao desempenho reprodutivo da fêmea suína. 112p. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Veterinária, Porto Alegre, RS-BR, 1999. AMARAL, A.L. do; MORES, N.; BARIONI JÚNIOR, W. Fatores associados à patologia do parto e do puerpério na fêmea suína. Concórdia : Embrapa Suínos e Aves, 2000. 4p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado Técnico, 251). AMARAL, A.L., do; MORÉS, N.; BARIONI JÚNIOR W., et al., Fatores de risco associados ao vício de sucção em leitões na creche. In: CONGRESO MERCOSUR DE PRODUCCIÓN PORCINA, Buenos Aires-AR, 2000. (no prelo). 42

CORRÊA, M.N., LUCIA, T.JR., BIANCHI, I., et al. Natimortalidade em suínos II caracterização de fatores de risco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS, IX, Belo Horizonte MG, 1999. Anais...Concórdia SC: EMBRAPA-CNPSA, 1999, p.389-390. DALLA COSTA, O.A., MORES, N., SOBESTIANSKY, J., et al. Estudos ecopatológicos nas fases de crescimento e terminação: fatores de risco associados à rinite atrófica progressiva e à pneumonias. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS, IX, Belo Horizonte MG, 1999. Anais...Concórdia SC: EMBRAPA-CNPSA, 1999, p.169-170. FERREIRA NETO, J.S., SAKAMOTO, S.M., LEÃO, S.C., et al. Epidemiologia e controle das micobacterioses suínas no sul do brasil. Identificação dos fatores de risco (estudo de caso-controle). Resultados preliminares. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS, IX, Belo Horizonte MG, 1999. Anais...Concórdia SC: EMBRAPA-CNPSA, 1999, p.229-230. MORÉS, N., AMARAL, A.L. do, BARIONI JUNIOR, W. Fatores de risco associados aos problemas da fêmea suína no puerpério. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINARIOS ESPECIALISTAS EM SUINOS, 9., 1999, Belo Horizonte, MG. Anais... Concórdia : EMBRAPA-CNPSA, 1999. p.385-386. MORÉS, N.; SILVA, V.S.; DUTRA, V., et al. Controle das micobacterioses suínas no Sul do Brasil: identificação e correção dos fatores de risco. Concórdia : Embrapa Suínos e Aves, 2000. 4p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado Técnico, 249). MORÉS, N., SOBESTIANSKY, J., BARIONI JÚNIOR, W., et al. Fatores de risco associados aos problemas dos leitões na fase de creche em rebanhos da região Sul do Brasil. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot., v.52, n.3, p.191-199, 2000. MORÉS, N., SOBESTIANSKY, J., VIEIRA, R.P., et al. Estudo ecopatológico sobre problemas em leitões lactentes em criações no Sul do Brasil. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot., n.47, n.4, p.549-559, 1995. PIEROZAN, R.L. Estudo dos fatores de risco para as artrites em suínos de abate. 48p. Monografia (especialização) Universidade do Estado de Santa Catarina Centro de Ciências Agroveterinárias, SC-BR, 1999. 43