LOCKHEED F-80 E T-33 NA AMÉRICA DO SUL Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáutico (LAAHS) Membro de Centro de Pesquisa Estratégicas Paulino Soares de Sousa da UFJF. robertobertazzo@hotmail.com Origem F-80 Ao propor a construção de um avião de combate com propulsão a jato em 1939, a Lockheed teve seu projeto freado pela indiferença burocrática. Porém, em 1943 a situação era outra e a USAAF (Força Aérea do Exército Americano) solicitou a produção de um caça a jato em 180 dias. A equipe da Lockheed, liderada pelo famoso projetista Clarence L. ( Kelly ) Johnson, produziu o primeiro protótipo em 143 dias. O primeiro XP-80, batizado Lulu-Belle, impulsionado por um motos inglês De Havilland Goblin, de fluxo centrífugo, voou pela primeira vez em 8 de janeiro de 1944. Os primeiros dezesseis XP-80 estiveram prontos ao final da guerra e dois chegaram a ser enviados à Itália e dois à Inglaterra. Os aviões de produção, P-80A, P-80B e P-80C receberam turbinas desenvolvidas pela General Eletric à partir das originais britânicas, e fabricadas pela Allison, motores esses da série J-33. Em 1947, quando foi criada a USAF (Força Aérea Americana), a designação P- 80 (Persuit) foi modificada para F-80 (Fighter). Os F-80 da USAF combateram na Coréia e tiveram sucesso no início do conflito. Com a chegada dos Mig-15 àquele teatro, os F-80 tiveram suas missões modificadas para ataque ao solo.
Ao todo foram fabricados 1714 Lockheed F-80. Origem do T-33 Inicialmente conhecido como TF-80, o T-33 voou pela primeira vez em 22 de março de 1948 e o primeiro exemplar foi construído modificando-se a um F-80. O treinador a jato da Lockheed teve um enorme sucesso, sendo empregado por quase todas as forças aéreas do ocidente e ainda se encontra operacional atualmente. Na realidade, os pilotos preferiam voar os T-33 aos F-80, que eram mais pesados devido à instalação de armamento e blindagem. Em combate aéreo, o T-33 superava facilmente ao irmão monoplace apesar do armamento mais pesado do F-80, que consistia de seis metralhadores de 12,5mm com trezentos cartuchos cada uma e de apenas duas metralhadoras no T-33. O T-33 tinha melhor razão de subida e era mais fácil de aterrizar. Um fato curioso é que a disposição da cabine dos dois aviões era bastante diferente, sendo o F-80 muito mais primitivo e desconfortável para o piloto. O assento ejetável do F-80 não era regulável e o piloto tinha que se acomodar com um calço de madeira de três diferentes tamanhos. O visor da mira do F-80 também interferia muito na visão do piloto. Ao todo foram fabricados 6557 T-33 sendo que 5691 foram produzidos pela Lockheed, 656 pela Canadair e 210 pela Kawasaki no Japão. NA AMÉRICA DO SUL O cenário da Guerra da Coréia e o surgimento de novos aviões de combate, tornou clara a obsolência dos F-80, que ficaram disponíveis para serem transferidos às forças aéreas da América do Sul, pelo programa MAP (Programa de Assistência Militar) onde substituíram aos Republic P-47 Thunderbolt. No total foram 113 Shooting Stars, transferidos para as forças aéreas sul americanas. Junto com os F-80, foram também enviadas pequenas quantidades de treinadores T-33 para a transição dos pilotos. As entregas massivas de T-33 foram feitas em anos posteriores, quando entraram em serviço na USAF os supersônicos T-38. COLOMBIA A Força Aérea Colombiana - FAC foi a primeira na América do Sul a receber os Lockheed F-80 e T-33 em dezembro de 1954. Os F-80C colombianos estiveram em operação até o ano de 1965, quando dez foram devolvidos aos Estados Unidos e um preservado em Bogotá no Museu da FAC.
Ás entregas iniciais de aviões T-33, se somou a entrega de quatro aviões RT- 33A (versão de reconhecimento do T-33). Em 1965, a FAC recebeu mais quatro T-33A e cinco em 1966. Em 1967, foram entregues mais onze equipados com pontos reforçados para cargas de armas nas asas e aviônioca melhorada. O último lote de T-33 da FAC foi recebido entre 1977 e 1978 e constou de doze aeronaves. Os últimos T-33 colombianos foram retirados de serviço em 1996. F-80 e RT 33 da Força Aérea Colombiana. (Fotos: autor e FAC) PERU A Força Aérea Peruana - FAP recebeu seus primeiros seis Lockheed T-33 em março de 1955 e quatro mais em janeiro de 1956. Em 1957 começaram a chegar os F- 80C, que totalizaram dezesseis aeronaves. Entre 1963 e 1964 a FAP recebeu um reforço de dezessete T-33 que operaram até o final da década de setenta. Os F-80 da FAP operaram juntamente com os Hawker Hunter e North American F-86F, aviões muito mais modernos e capazes. Apesar disso, o esquadrão dos F-80 sempre teve uma moral alta e um alto padrão de segurança. Os F-80C da FAP foram retirados de serviço em dezembro de 1967 e suas peças foram utilizadas como reposição para a frota de T-33. Em 18 de janeiro de 1973, dois T-33 da FAP foram perdidos e algumas fontes atribuem o fato à defesa antiaérea do Equador, que teria derrubado os dois aviões quando sobrevoavam a cidade equatoriana de Macará. T-33 em operação e F-80 preservado como monumento da Força Aérea Peruana. (Fotos: FAP)
EQUADOR A Força Aérea Equatoriana - FAE recebeu seus primeiros Lockheed F-80C em janeiro de 1958. Ao todo a FAE utilizou dezoito F-80C até 1965, quando foram devolvidos aos Estados Unidos, a exceção de um, que ficou preservado na base aérea de Taura. Junto com os primeiros F-80, chegaram quatro Lockheed T-33A, aos que se seguiram mais dois em 1964. Em 1982, os T-33 equatorianos foram amplamente modernizados no Canadá e mais dezoito foram adquiridos nos Estados Unidos. Os T-33 da FAE tiveram participação ativa na Guerra del Cenepa em 1995, tornando-se provavelmente os únicos T-33 da América do Sul a combaterem em um conflito. Foram desativados em 1995. T-33 da Força Aérea do Equador. (Foto: FAE) CHILE A Força Aérea do Chile - FACH recebeu seus primeiros F-80C no início de 1958 e a quantidade total utilizada foi de dezoito aeronaves. Os quatro primeiros Lockheed T-33 chilenos chegaram também em 1958 e depois foram completados por mais unidades em outros dois lotes. Juntamente com os T-33, a FACH operou também os RT-33 de reconhecimento. No início os F-80 e T-33 chilenos equiparam o Grupo de aviación nº 7 localizado em Los Cerrillos. Posteriormente, em 1967, esses aviões equiparam o Grupo de Aviación º 9 baseado em Puerto Montt e finalmente estavam equipando o Grupo de Aviación nº 12 em Punta Arenas, quando foram retirados de operação em 1974.
F-80 e T-33 da Força Aérea do Chile. (Fotos: FACH e autor) BRASIL A Força Aérea Brasileira - FAB recebeu seus quatro primeiros Lockheed T-33 de um total de 58 aeronaves em dezembro de 1956. Os primeiros Lockheed F-80C de um total de 33 chegaram em janeiro de 1958. Os primeiros T-33 e F-80C da FAB foram baseados em Fortaleza. Com a desativação dos Gloster Meteor da Base Aérea de Canoas, esses aviões foram substituídos por Lockheed T-33A adicionais recebidos dos Estados unidos. Posteriormente, os Lockheed TF-33 também substituíram aos Gloster Meteor da Base Aérea de Santa Cruz. Os últimos F-80C brasileiros foram sendo desativados em 1967 e substituídos por T-33. Um avião F-80C ainda foi mantido em condições de vôo até 1973. Os T-33 foram desativados em 1975 e substituídos pelos jatos Embraer Xavante. T-33 e F-80 da Força Aérea Brasileira. (Fotos: MUSAL) URUGUAY A Força Aérea do Uruguai FAU recebeu seus primeiros de um total de quinze Lockheed T-33A foram recebidos em outubro de 1956. O Grupo de Aviación nº 2 localizado em Carrasco, opereou os T-33 em substituição aos North American P-51D Mustang.
Os T-33 da FAU também equiparam a esquadrilha acrobática Los Crocodilos que fez nos anos sessenta diversas apresentações no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. Os T-33 da FAU estiveram em operação até 1996. A FAU operou um total de quatorze Lockheed F-80C cujos primeiros foram recebidos em 1958. Os F-80C uruguaios foram retirados de operação em 1969. F-80 e T-33 da Força Aérea Uruguaia. (Fotos: Cesar Borucki e pilotoviejo.com) BOLIVIA A Força Aérea Boliviana - FAB recebeu seus primeiros Canadair AT-33 na década de setenta. Esses aviões substituíram os North American P-51D Mustang na aviação de caça do país andino. No início do século XXI os AT-33 bolivianos foram modernizados, recebendo uma cabine digital. Atualmente a FAB emprega 16 Canadair AT-33. T-33 da Força Aérea Boliviana. (Foto: Revista Flap Internacional) PARAGUAI A Força Aérea Paraguaia - FAP foi a ultima no mundo a ser equipada com os Lockheed T-33A-5-LO ao receber em 1991, seis unidades doadas por Formosa.
Os T-33 paraguaios voaram por poucos anos e foram armazenados após um acidente envolvendo uma das aeronaves. T-33 da Força Aérea Paraguaia. (Foto: A.Sapienza) Na maioria das Forças Aéreas sul americanas em que operou foi o primeiro operado com propulsão a jato, o que veio dar uma nova dimensão ao Poder Aéreo na região.