REISOLI BENDER FILHO CHOQUES MONETÁRIOS E TECNOLÓGICOS E AS FLUTUAÇÕES CÍCLICAS NA ECONOMIA BRASILEIRA

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Transcrição:

REISOLI BENDER FILHO CHOQUES MONETÁRIOS E TECNOLÓGICOS E AS FLUTUAÇÕES CÍCLICAS NA ECONOMIA BRASILEIRA Tese apresenada à Universidade Federal de Viçosa, como pare das exigências do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, para obenção do íulo de Docor Scieniae. VIÇOSA MINAS GERAIS BRASIL 2011

Ficha caalográfica preparada pela Seção de Caalogação e Classificação da Biblioeca Cenral da UFV T Bender Filho, Reisoli, 1980- B458c Choques moneários e ecnológicos e as fluuações cíclicas 2011 na economia brasileira / Reisoli Bender Filho. Viçosa, MG, 2011. xxii, 161f.: il.; 29cm. Inclui anexos. Orienador: Wilson da Cruz Vieira. Tese (douorado) - Universidade Federal de Viçosa. Referências bibliográficas: f. 123-134. 1. Economia Brasil. 2. Negócios. 3. Crescimeno econômico. I. Universidade Federal de Viçosa. II.Tíulo. CDD 22.ed. 330.981

Dedico especialmene à Leonilda, mãe inigualável, e à Reisoli (in memorian), pai, que, apesar de longe, sempre muio presene. À Renaa, irmã compreensiva e preocupada. À Ana Francisca, namorada, noiva, amiga, pessoa difícil de caracerizar em ão poucas palavras. ii

AGRADECIMENTOS A obenção do íulo de Douor em Economia Aplicada é somene uma pare de um sonho que passou a se ornar realidade quando pessoas especiais confiaram e comparilharam dese sonho. No enano, de lá aé aqui foram anos de muias dificuldades, desafios e obsáculos, mas sempre ive o apoio irresrio e incondicional dessas pessoas, às quais quero regisrar aqui meu profundo agradecimeno. Primeiramene, nada eria sido possível se não ivesse a cereza de que Deus, em odos os momenos, me abençoou com saúde, fé e esperança e ambém me guiou no caminho da bondade e da honesidade; à minha mãe Leonilda, pelos ensinamenos e, principalmene, pelo exemplo de dedicação, perseverança e bondade. Mãe de coração puro e amável, porém, sempre jusa, ínegra e serena; ao meu pai Reisoli (in memorian) que, onde quer que esivesse, ceramene esava olhando por mim e sendo minha luz nos momenos de dificuldades e fraquezas; à minha irmã Renaa, presaiva, incenivadora e amorosa; à minha querida e amada noiva, namorada e amiga Ana Francisca, que acompanhou esa caminhada em odos os momenos. Sofreu, chorou, sorriu, mas nunca deixou de acrediar, de compreender e de incenivar; à minha avó Alvorina, pelo carinho e preocupação; à Irene e Alceu, pela amizade, apoio e carinho; aos colegas e amigos de curso Airon Lopes Amorim, Daniel Arruda Coronel, Claudia Maria Sonáglio, Filipe de Moraes Pessoa e Paulo Robero Scalco, pela convivência, amizade e companheirismo, ano nos momenos de alegrias quano nos de dificuldades. Agradeço ambém a amiga Camila Brufao, pela colaboração na formaação do rabalho; ao professor e orienador Wilson, pela confiança e compreensão. Esendo ambém esse agradecimeno aos demais professores, em especial ao professor Luciano e iii

ao professor José Angelo, pelas conribuições e sugesões necessárias para o aprimorameno dese rabalho; à Coordenação de Aperfeiçoameno de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de douorado, sem a qual não eria condições de realizá-lo. iv

BIOGRAFIA REISOLI BENDER FILHO, filho de Leonilda Ivone da Silva Bender e Reisoli Afonso Bender, nasceu em 31 de ouubro de 1980, na cidade de Arroio do Tigre, RS. Iniciou seus esudos na Escola Esadual de Primeiro Grau Juraci Ferreira, hoje Escola Esadual de Primeiro e Segundo Graus Arroio do Tigre. Em 1996, começou o segundo grau na Escola Esadual de Primeiro e Segundo Graus Arroio do Tigre, concluindo o Ensino Médio em dezembro de 1998. Em janeiro de 1999, aos 19 anos, foi aprovado no vesibular para Ciências Econômicas na Universidade de Sana Cruz do Sul (UNISC). Formou-se em Ciências Econômicas, em 14 de fevereiro de 2004. Em dezembro de 2004, foi aprovado, em nível de Mesrado, no Programa de Pós-Gradução em Economia do Desenvolvimeno da Poníficia Universidade Caólica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde iniciou o curso em abril de 2005 e onde sua disseração foi defendida no dia 23 de dezembro de 2006. Em julho de 2007, recebeu o Prêmio Edward Schuh Menção Honrosa, de melhor disseração em Economia Rural, no XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Adminsração e Sociologia Rural (SOBER). Em fevereiro de 2007, iniciou na docência, no curso de Economia do Cenro Universiário Franciscano (UNIFRA), em Sana Maria, RS. v

Em dezembro de 2007, foi aprovado, em nível de douorado, no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Em março de 2008, ingressou no Douorado em Economia Aplicada da UFV. Em agoso de 2009, reornou à aividade docene no curso de Economia do Cenro Universiário Franciscano (UNIFRA), em Sana Maria, RS. No dia 12 de abril de 2011, submeeu-se à defesa de ese. vi

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS... x LISTA DE QUADROS...xii LISTA DE SÍMBOLOS...xiii LISTA DE TABELAS... xv RESUMO... xix ABSTRACT... xxi 1. INTRODUÇÃO... 1 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS... 1 1.2 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA... 4 1.3 HIPÓTESE... 7 1.4 OBJETIVOS... 7 1.4.1 Objeivo geral... 7 1.4.2 Objeivos específicos... 7 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO... 8 2. MUDANÇAS TECNOLÓGICAS E MONETÁRIAS E OS CICLOS NA ECONOMIA BRASILEIRA... 9 2.1 AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS NA ECONOMIA BRASILEIRA... 9 2.2 A POLÍTICA MONETÁRIA E SUA TRAJETÓRIA NA ECONOMIA BRASILEIRA... 14 vii

2.3 FATOS ESTILIZADOS DOS CICLOS DE NEGÓCIOS DA ECONOMIA BRASILEIRA... 22 3. ABORDAGENS TEÓRICAS DOS CICLOS DE NEGÓCIOS... 35 3.1 ASPECTOS CENTRAIS DA TEORIA DOS CICLOS REAIS DE NEGÓCIOS... 35 3.2 EFEITOS DE UM CHOQUE TECNOLÓGICO POSITIVO... 40 3.3 A MOEDA E OS CICLOS REAIS DE NEGÓCIOS... 43 3.3.1 A esruura de um modelo de ciclos de negócios com inclusão da moeda... 45 4. METODOLOGIA... 50 4.1 O MODELO MONEY-IN-THE-UTILITY FUNCTION (MIU)... 50 4.1.1 População e preferências... 50 4.1.2 Tecnologia... 52 4.1.3 Definição do equilíbrio... 53 4.1.4 O esado esacionário... 57 4.2 CHOQUES... 60 4.2.1 Choques ecnológicos... 60 4.2.2 Choques moneários... 61 4.3 VARIÁVEIS E DADOS... 62 4.4 CALIBRAÇÃO E VALORES DOS PARÂMETROS... 63 4.5 MÉTODO DE FILTRAGEM... 73 4.6 SIMULAÇÕES... 75 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO... 77 5.1 VALORES DO ESTADO ESTACIONÁRIO E RESULTADOS DA ECONOMIA ARTIFICIAL... 77 5.1.1 Resulados da economia arificial... 80 5.1.2 Choques ecnológicos e funções impulso-resposa... 89 5.2 MUDANÇAS NOS CICLOS DE NEGÓCIOS ASSOCIADAS À INCLUSÃO DE CHOQUES MONETÁRIOS... 95 5.3 A SENSIBILIDADE DAS PROPRIEDADES CÍCLICAS AOS DIFERENTES NÍVEIS DE CHOQUES MONETÁRIOS... 107 5.4 OS CICLOS DE NEGÓCIOS DA ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO PÓS-REAL... 113 CONCLUSÕES... 119 REFERÊNCIAS... 123 ANEXOS... 135 viii

ANEXO A... 136 ANEXO B... 140 ANEXO C... 143 ANEXO D... 148 ANEXO E... 151 ANEXO F... 153 ANEXO G... 155 ANEXO H... 156 ANEXO I... 159 ix

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Variação do produo real e da produividade oal dos faores na economia brasileira enre 1980 e 2009, em % ao ano...10 Figura 2 Variação do produo real e variação da ofera moneária real, no conceio M2, na economia brasileira enre 1980 e 2009, em % ao ano....15 Figura 3 - Ciclos do produo e do consumo na economia brasileira enre 1980 e 2009...26 Figura 4 - Ciclos do produo e do invesimeno na economia brasileira enre 1980 e 2009....27 Figura 5 - Ciclos do produo e das horas rabalhadas na economia brasileira enre 1980 e 2009...28 Figura 6 - Ciclos do produo e dos saldos moneários reais na economia brasileira enre 1980 e 2009...29 Figura 7 - Ciclos do produo e dos juros nominais na economia brasileira enre 1980 e 2009....31 Figura 8 - Ciclos do produo e da axa de inflação na economia brasileira enre 1980 e 2009....32 Figura 9 - Ciclos do produo e dos juros reais na economia brasileira enre 1980 e 2009....33 Figura 10 - Efeio de um choque ecnológico posiivo em um modelo de ciclos reais de negócios sobre produo e emprego....41 x

Figura 11 - Volailidade do produo agregado na economia brasileira e nas economias arificiais, no período enre 1980 e 2009 (medida pelo desvio padrão)...88 Figura 12 - Correlações do produo agregado na economia brasileira e nas economias arificiais, no período enre 1980 e 2009....88 Figura 13 - Impulso-resposa das variáveis reais para um choque ecnológico quando ( b Φ) > 0, no período enre 1980 e 2009....90 Figura 14 - Impulso-resposa das variáveis nominais para um choque ecnológico, no período enre 1980 e 2009....92 Figura E1 - Resposa das variáveis reais (a) e nominais (b) a um choque moneário com persisência de 0,3969...151 Figura E2 - Resposa das variáveis reais (a) e nominais (b) a um choque moneário com persisência de 0,5969...152 Figura E3 - Resposa das variáveis reais (a) e nominais (b) a um choque moneário com persisência de 0,7969...152 Figura F1 - Paricipação do invesimeno no produo agregado e da axa de inflação enre 1980 e 1994, em % ao ano...153 Figura F2 - Paricipação do invesimeno no produo agregado e da axa de inflação enre 1995 e 2009, em %....154 xi

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Parâmeros do modelo money-in-he-uiliy funcion...63 Quadro 2 - Simulações realizadas...76 xii

LISTA DE SÍMBOLOS y - produo c consumo i invesimeno h - horas rabalhadas m - saldo moneário real j - axa nominal de juros r - axa real de juros π - axa de inflação M - esoque nominal de moeda P - medida do nível geral de preços N - amanho da população l - empo disponível para o lazer E - operador de expecaiva β - axa de descono ineremporal w - salários α - parcela do capial no oal da renda k - esoque de capial fixo z - disúrbio exógeno que segue um processo de ecnologia esocásico ρ - coeficiene auoregressivo para o processo de produividade u - axa de crescimeno moneário consane no esado esacionário xiii

C - bem de consumo composo Φ - inverso da elasicidade de subsiuição ineremporal no consumo η - inverso da elasicidade da ofera de rabalho Ψ - preferência por lazer a - elasicidade consumo da demanda de moeda b - inverso da elasicidade juros da demanda de moeda δ - axa de depreciação do capial físico ω - riqueza real financeira do agene τ - ransferência real recebida do governo d - manuenção de iulos R - produo marginal do capial líquido da depreciação Θ - axa de crescimeno médio do esoque nominal de moeda SS y - produo no esado esacionário SS c - consumo no esado esacionário SS k - esoque de capial no esado esacionário SS h - horas rabalhadas no esado esacionário SS Θ - axa de crescimeno médio de longo prazo da ofera nominal de moeda no esado esacionário u - desvio da axa de crescimeno da ofera nominal de moeda de seu valor médio γ - coeficiene auoregressivo para o crescimeno moneário φ - coeficiene do choque de produividade sobre o crescimeno moneário σ ε - inovação da produividade σ ϕ - inovação da axa de crescimeno moneário s - quanidade de rabalho oferado g - componene de crescimeno ç - componene cíclico T - amanho da amosra λ - parâmero de suavidade xiv

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Faos esilizados da economia brasileira enre 1980 e 2009...23 Tabela 2 - Faos esilizados da economia brasileira enre os períodos de 1980 1994 e 1995 2009....25 Tabela 3 - Valores dos parâmeros do modelo money-in-he-uiliy funcion para a economia brasileira, no período enre 1980 e 2009...64 Tabela 4 - Esimação da demanda moneária para a economia brasileira para o período enre 1980 e 2009...66 Tabela 5 - Esimação da ofera de rabalho para a economia brasileira para o período enre 1982 e 2009...69 Tabela 6 - Esimação do processo de persisência da produividade...71 Tabela 7 - Esimação do processo de persisência do crescimeno moneário na economia brasileira no período enre 1980 e 2009...72 Tabela 8 - Especificações para o crescimeno moneário...73 Tabela 9 - Valores no esado esacionário dos parâmeros da economia arificial para o período enre 1980 e 2009....78 Tabela 10 - Economia arificial padrão com choque ecnológico e com crescimeno moneário consane e uilidade marginal do consumo decrescene ( b Φ > 0), para o período enre 1980 e 2009....82 xv

Tabela 11 - Economia arificial simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário consane e uilidade marginal do consumo crescene ( b Φ < 0), para o período enre 1980 e 2009....85 Tabela 12 - Economia arificial simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário consane e uilidade marginal do consumo consane ( b Φ = 0), para o período enre 1980 e 2009....87 Tabela 13 - Economia moneária simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário esocásico persisência e choque moneário no período enre 1980 e 2009....97 Tabela 14 - Economia moneária simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário esocásico persisência e choque moneário respondendo posiivamene aos choques de produividade no período enre 1980 e 2009...101 Tabela 15 - Economia moneária simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário esocásico persisência e choque moneário respondendo negaivamene aos choques de produividade no período enre 1980 e 2009...104 Tabela 16 - Economia moneária com choque ecnológico e crescimeno moneário esocásico e com diferenes níveis de persisência na axa de crescimeno da ofera moneária no período enre 1980 e 2009....109 Tabela 17 - Economia moneária simulada com choque ecnológico e com crescimeno moneário esocásico persisência e choque moneário respondendo negaivamene aos choques de produividade no período enre 1995 e 2009...115 Tabela A1 - Resulados do ese de Augmened Dickey-Fuller (ADF) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1980 e 2009...136 Tabela A1.1 - Resulados dos eses de coinegração (Tese de Engle-Granger) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1980 e 2009...137 Tabela A1.2 - Resulados do ese de quebra esruural (Tese de Chow) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1980 e 2009...137 Tabela A1.3 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1980 e 2009...137 Tabela A2 - Resulados do ese de Augmened Dickey-Fuller (ADF) para a ofera de rabalho na economia brasileira enre 1982 e 2009...138 Tabela A2.1 - Resulados dos eses de coinegração (Tese de Engle-Granger) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1980 e 2009...138 Tabela A2.2 - Resulados do ese de quebra esruural (Tese de Chow) para a ofera de rabalho na economia brasileira enre 1982 e 2009...138 xvi

Tabela A2.3 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a ofera de rabalho na economia brasileira enre 1982 e 2009...139 Tabela A3 - Resulados do ese de quebra esruural (Tese de Chow) para o processo de persisência da produividade na economia brasileira enre 1980 e 2009...139 Tabela A3. 1 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para o processo de persisência da produividade na economia brasileira enre 1980 e 2009....139 Tabela A4 - Resulados do ese de quebra esruural (Tese de Chow) para a esimação do crescimeno moneário na economia brasileira enre 1980 e 2009...139 Tabela A4. 1 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a esimação do crescimeno moneário na economia brasileira enre 1980 e 2009. 139 Tabela B1 - Esimação da demanda de moeda para a economia brasileira enre 1980 e 2009....140 Tabela B2 - Esimação da ofera de rabalho para a economia brasileira enre 1980 e 2009....141 Tabela B3 - Esimação da persisência da produividade na economia brasileira enre 1980 e 2009...141 Tabela B4 - Esimação da persisência do crescimeno moneário na economia brasileira enre 1980 e 2009...142 Tabela D1 - Resulados das simulações com crescimeno moneário esocásico respondendo posiivamene a choques ecnológicos, com γ = 0, 5969 e σ ϕ = 0, 0680, no período enre 1980 e 2009....149 Tabela D2 - Resulados das simulações com crescimeno moneário esocásico respondendo negaivamene a choques ecnológicos, com γ = 0, 5969 e σ ϕ = 0, 0680, no período enre 1980 e 2009....150 Tabela G1 - Valores dos parâmeros do modelo money-in-he-uiliy funcion para a economia brasileira, no período enre 1995 e 2009...155 Tabela H1 - Resulados do ese de Augmened Dickey-Fuller (ADF) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1995 e 2009...156 Tabela H1.1 - Resulados dos eses de coinegração (Tese de Engle-Granger) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1995 e 2009...157 Tabela H1.2 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1995 e 2009...157 xvii

Tabela H2 - Resulados do ese de Augmened Dickey-Fuller (ADF) para a ofera de rabalho na economia brasileira enre 1995 e 2009....157 Tabela H2.1 - Resulados dos eses de coinegração (Tese de Engle-Granger) para a demanda de moeda na economia brasileira enre 1995 e 2009...158 Tabela H2. 2 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a ofera de rabalho na economia brasileira enre 1995 e 2009...158 Tabela H3 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para o processo de persisência da produividade na economia brasileira enre 1995 e 2009....158 Tabela H4 - Resulados do ese de normalidade dos resíduos (Tese de Jarque-Bera) para a esimação do crescimeno moneário na economia brasileira enre 1995 e 2009. 158 Tabela I1 - Esimação da demanda de moeda para a economia brasileira enre 1995 e 2009....159 Tabela I2 - Esimação da ofera de rabalho para a economia brasileira enre 1995 e 2009....160 Tabela I3 - Esimação da persisência da produividade na economia brasileira enre 1995 e 2009...160 Tabela I4 - Esimação da persisência do crescimeno moneário na economia brasileira enre 1995 e 2009...161 xviii

RESUMO BENDER FILHO, Reisoli, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, abril de 2011. Choques moneários e ecnológicos e as fluuações cíclicas na economia brasileira. Orienador: Wilson da Cruz Vieira. Coorienadores: Erly Cardoso Teixeira e Leonardo Bornacki de Maos. Os modelos de ciclos reais de negócios enfaizam os choques reais como forma de explicar o comporameno do ciclo econômico, no enano, em economias como a brasileira, onde as crises econômicas mais recenes iveram origem em insabilidades moneárias, os choques nominais podem exercer grande imporância na explicação das fluuações econômicas. Nese conexo, o presene rabalho buscou examinar a relevância dos choques ecnológicos e moneários sobre os ciclos de negócios da economia brasileira no período enre 1980 e 2009 e no subperíodo enre 1995 a 2009. Para inroduzir os faores nominais nos modelos de ciclos reais, usou-se um modelo que considera que a moeda e sua manuenção geram uilidade aos agenes econômicos, o modelo money-in-he-uiliy funcion (MIU). Foram simuladas diversas economias arificiais, as quais permiiram idenificar a forma e o padrão de como os ciclos de negócios respondem aos choques ecnológicos e aos moneários. Para ano, denominou-se de economia-padrão a economia arificial somene com a inrodução de choques ecnológicos, e de economia moneária, a economia com a inrodução dos xix

choques ecnológicos e moneários. Quando simulada a economia-padrão, os resulados obidos foram aderenes aos faos esilizados da economia brasileira em ambos os períodos analisados, porém somene para as variáveis macroeconômicas reais, o que corroborou a necessidade da inclusão dos choques moneários. A simulação da economia moneária provocou ajuses significaivos no desvio-padrão e na correlação dos saldos moneários reais e da axa de inflação, de forma que suas propriedades cíclicas se aproximaram daquelas enconradas pelos faos esilizados, porém não ocasionou efeios expressivos sobre a axa real de juros e a axa nominal de juros em ambos os horizones de empo analisados. Complemenando, com o objeivo de verificar a consisência dos choques nominais, foi simulada uma economia moneária com choques ecnológicos associados a diferenes níveis de choques moneários, por meio da qual foram obidos resulados que indicaram correções imporanes na dinâmica dos agregados macroeconômicos, com a volailidade dos juros nominais elevando-se, conudo, sendo, ainda, significaivamene inferior aos dados caracerísicos da economia brasileira, o mesmo ocorrendo com a axa real de juros. Conudo, as simulações da economia moneária foram ligeiramene mais aderenes aos dados caracerísicos da economia brasileira quando analisado o subperíodo enre 1995 e 2009. Isso se deveu ao fao de as variáveis nominais apresenarem melhor ajusameno e as variáveis reais responderem de forma mais expressiva ao choque moneário, o que não foi verificado nas simulações da economia moneária para o período enre 1980 e 2009. Esses resulados indicaram que as variáveis reais endem a ser mais sensíveis a mudanças não anecipadas nos agregados nominais em períodos de esabilidade macroeconômica. Dese modo, os resulados alcançados forneceram conclusões de que a inrodução dos choques moneários foi imporane na explicação dos ciclos de negócios da economia brasileira, embora o efeio sobre a volailidade das variáveis reais enha sido de pequena magniude. Porano, ao considerar os choques ecnológicos e moneários como pare da esruura econômica, pôde-se melhor idenificar os efeios da dinâmica econômica, os quais, aneriormene, eram aribuídos apenas aos choques ecnológicos, mas que são, de fao, gerados por ouros ipos de disúrbios. xx

ABSTRACT BENDER FILHO, Reisoli, D. Sc., Universidade Federal de Viçosa, April, 2011. Moneary and echnological shocks and cyclical flucuaions in he Brazilian economy. Adviser: Wilson da Cruz Vieira. Co-advisers: Erly Cardoso Teixeira and Leonardo Borancki de Maos. Models of real business cycles emphasize real shocks as a way o explain he behavior of he economic cycle; however, in economies like Brazil, where recen economic crises have originaed in moneary insabiliy, he nominal shocks can have grea imporance in explaining economic flucuaions. In his conex, his sudy sough o examine he relevance of echnological and moneary shocks on business cycles in he Brazilian economy beween 1980 and 2009 and he sub-period beween 1995 and 2009. To inroduce he facors raed in real business cycle models, a model was used which considers ha he currency and is mainenance generaes uiliy for economic agens, he model money-in-he-uiliy funcion (MIU). Various arificial economies were simulaed, which allowed he idenificaion of he shape and paern of business cycles and how hey respond o echnological and moneary shocks. For his purpose, he arificial economy was named sandard economy wih he inroducion of echnology shocks only, and moneary economy, he economy wih he inroducion of echnological and moneary shocks. When he sandard economy was simulaed, he xxi

resuls were adheren o he sylized facs of he Brazilian economy in boh periods analyzed, however, only for real macroeconomic variables, which corroboraed he necessiy of including moneary shocks. The simulaion of he moneary economy riggered significan adjusmens in he sandard deviaion and correlaion of real money balances and he rae of inflaion, so ha heir cyclical properies approached hose found by he sylized facs, bu did no cause significan effecs on he real ineres rae and he nominal ineres rae in boh ime horizons analyzed. In addiion, in order o check he consisency of nominal shocks, a moneary economy was simulaed wih echnological shocks associaed wih differen levels of moneary shocks, hrough which were obained resuls ha indicae imporan correcions in he dynamics of macroeconomic aggregaes, wih he volailiy of nominal ineres raes rising, however, sill significanly lower han hose characerisic of he Brazilian economy, he same happened wih he real ineres rae. However, he simulaions of he moneary economy were slighly more adheren o he characerisic daa of he Brazilian economy when we analyzed he sub-period beween 1995 and 2009. This was due o he fac ha nominal variables showing he bes adjusmen and he real variables respond more significanly o he moneary shock, which was no observed in simulaions of he cash economy for he period beween 1980 and 2009. These resuls indicaed ha he real variables end o be more sensiive o unanicipaed changes in nominal aggregaes in periods of macroeconomic sabiliy. Thus, he resuls provided findings ha he inroducion of moneary shocks was imporan in explaining business cycles in he Brazilian economy, alhough he effec on he volailiy of real variables was small. Thus, when considering he echnological and moneary shocks as par of he economic srucure, we could beer idenify he effecs of economic dynamics, which were previously aribued only o echnological shocks, bu are in fac generaed by oher ypes of disurbance. xxii

1. INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS As insabilidades no crescimeno econômico caracerizaram as economias em desenvolvimeno ao longo das úlimas décadas, como é o caso da economia brasileira. A ransição de um período de crescimeno elevado e acelerado, como verificado nas décadas de 1960 e 1970, para um crescimeno praicamene nulo, em ermos per capia, associado a gradaivos desequilíbrios fiscais e a um processo inflacionário crônico, conjunura da década de 1980 e pare da de 1990, foi uma das mais bruscas mudanças na rajeória de crescimeno da economia brasileira. Essas fluuações que marcaram o crescimeno econômico brasileiro ao longo dessas décadas podem ser aribuídas, em sua grande maioria, aos sucessivos choques exernos e inernos. Se, de um lado, os choques nos preços do peróleo, na axa de juros inernacional (crise da dívida exerna), no preço inernacional das commodiies e na ofera agrícola deram início ao período de menor crescimeno econômico brasileiro em sua fase de indusrialização; por ouro, os desequilíbrios foram agravados pelas incerezas quano à condução da políica moneária associada aos consecuivos choques heerodoxos (planos de esabilização de preços). Não obsane, nos anos seguines, a conenção do processo inflacionário explosivo e a esabilização do nível de preços foram os principais faos da economia 1

brasileira na segunda meade da década de 1990. Esse conexo deerminou uma nova inversão na rajeória da axa de crescimeno econômico, com o produo agregado real reomando o crescimeno, apesar de ocorrer de forma gradaiva. Enreano, as mudanças provocadas por esses faos (esabilidade macroeconômica) não foram suficienemene abrangenes e compleas. Isso se comprovou pelo rimo de expansão da economia nos anos mais recenes, o qual se caracerizou por um processo de crescimeno inerenemene irregular, em grande medida ocasionado pelos desequilíbrios e enaivas de ajusameno macroeconômico resulanes da própria políica econômica implemenada. Associado a isso, a incorporação de novas ecnologias (inovações) e os ganhos de produividade decorrenes conribuíram para que o produo agregado real apresenasse períodos de expansão seguidos, noadamene, por períodos de conração. Conforme Lacerda (2005) e Cinra (2006), esses desequilíbrios, ainda que de naureza disina, caracerizaram os movimenos do ipo sop and go da economia brasileira ao longo dos úlimos vine e cinco a rina anos, com o produo agregado apresenando oscilações acenuadas em períodos curos de empo. Decorrene disso, a aividade econômica apresenou fluuações periódicas [ver Delfim Neo (2009)], com as insabilidades ocorrendo repeidamene ao mesmo empo em que suas oscilações e sua exensão ocorrem em períodos não definidos, sequência de mudanças que caraceriza a naureza recorrene e não periódica dos ciclos de negócios 1. Esse comporameno cíclico em sido objeo de crescenes esudos, os quais ganharam maior abrangência nas discussões econômicas a parir da década de 1980, com o rabalho de Kydland e Presco (1982). Esses auores buscaram mosrar que os ciclos econômicos de curo prazo poderiam ser explicados por meio de faores reais, do lado da ofera, como choques ecnológicos (ou de produividade), os quais são considerados a causa preponderane das fluuações econômicas, ao invés de faores nominais, do lado da demanda, como mudanças não anecipadas na axa de crescimeno da ofera moneária. 1 Os ciclos de negócios são fluuações enconradas na aividade econômica agregada das economias, consisindo em expansões que ocorrem simulaneamene em muios seores econômicos, seguidas por recessões em grande pare das aividades. Essa sequência de mudanças ocorre com duração que varia enre um e dez ou doze anos. Essas fluuações são geralmene medidas em ermos de variação do produo agregado (BURNS e MITCHELL, 1946). 2

A parir desse desenvolvimeno, os choques ecnológicos são discuidos na lieraura de ciclos de negócios como o faor predominane para a explicação das fluuações da aividade econômica agregada. A esreia relação enre a dinâmica do progresso ecnológico e do crescimeno econômico jusifica a uilização da produividade como parâmero para explicar os movimenos recorrenes observados na axa de crescimeno econômico de grande pare das economias indusrializadas. Nas úlimas décadas, na economia brasileira, ano na indúsria quano na agriculura, observou-se um processo de reesruuração e modernização ecnológica, o qual criou condições para o desenvolvimeno e ampliação da capacidade produiva, num movimeno de caching up produivo 2, e inovaiva, num movimeno de caching up ecnológico, conforme discuido por Berolli e Medeiros (2003). No enano, como enfaizado por Franco (2000), a inserção da economia brasileira nos padrões de desenvolvimeno ecnológico de economias desenvolvidas ocorrerá somene a parir da consolidação e geração de condições apropriadas para que os avanços ecnológicos se manenham a longo prazo. Ao mesmo empo em que vêm sendo evidenciadas mudanças ecnológicas, condição necessária à ocorrência dos ciclos de negócios, conforme proposo pela eoria dos ciclos reais, a políica econômica, cenrada em insrumenos moneários e fiscais, pode desempenhar papel igualmene imporane ao das mudanças na produividade para a explicação das fluuações cíclicas, sobreudo em países em desenvolvimeno, à semelhança do Brasil, como ressalou Kanczuk (2002). Essa proposição é corroborada pelo fao de as consequências geradas por mudanças na condução da políica econômica, como mudanças não anecipadas pelos agenes na ofera moneária, esarem direamene ligadas à rajeória dinâmica da aividade econômica brasileira, de forma que se orna arefa difícil dissociar a condução da políica econômica, sobreudo a moneária, do processo de evolução do produo agregado. Nessa linha, Lanzana e Lopes (2009) enfaizaram que, independenemene dos faores que jusifiquem a políica econômica adoada, são as oscilações da demanda agregada para se buscar a esabilização que explicam a volailidade das axas de 2 Ressala-se que somene se caraceriza um caching-up se os avanços produivos em uma economia em desenvolvimeno, semelhane à brasileira, forem superiores aos avanços produivos produzidos nas economias desenvolvidas. 3

crescimeno do produo agregado na economia brasileira, em conraposição à eoria dos ciclos reais, a qual propõe que a políica econômica não deveria afear a dinâmica de longo prazo da economia. Assim sendo, na rajeória da economia brasileira, verificou-se um conexo de alerações decorrenes não somene de uma políica de esabilização, que garaniu o conrole do processo inflacionário, mas ambém de mudanças nos seores agrícola e indusrial, com o desenvolvimeno de um novo padrão ecnológico. A parir disso, as considerações sobre a políica moneária e a evolução do processo ecnológico, associadas aos diferenes conexos econômicos, permiiram examinar como a dinâmica das fluuações dos ciclos de negócios da economia brasileira relacionou-se à ocorrência de ais choques (ecnológicos e moneários). 1.2 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA A economia brasileira conviveu durane cerca de uma década e meia enre os anos de 1980 e 1994 com inensos desequílibrios, noadamene associados aos elevados níveis inflacionários. No enano, esses desequilíbrios inham como causa a crise da dívida exerna, originária dos choques do peróleo e a políica econômica conacionisa nore-americana, de elevação da axa de juros domésica. Associado a essa conjunura, a implemenação de uma sequência de planos de esabilização econômica, enre os anos de 1986 a 1994, ampliava a insabilidade da economia. A parir desse conexo, a imprevisibilidade dos faores moneários era visa como faor causador da elevada volailidade dos agregados reais da economia produo, invesimeno e emprego agregado. Essa incereza quano à políica econômica levava os agenes a reverem suas expecaivas a cada período, o que, em pare, deerminava as inensas fluuações do lado real da economia. Para Kanzuck (2002), essa caracerísica fez com que choques moneários e fiscais represenassem imporane fone das fluuações dos ciclos reais na economia brasileira. Essa siuação foi reverida a parir de meados de 1994, com uma série de mudanças esruurais e insiucionais, já iniciadas no ano anerior, as quais foram efeivadas pela implemenação de uma nova moeda, o Real. Nos meses seguines à sua implemenação, a economia brasileira já se enconrava diane de um cenário de inflação abaixo de dois dígios, conrariamene ao período anerior, o que conribuiu para o 4

processo de esabilidade macroeconômica dos anos poseriores. Para Lanzana e Lopes (2009), essas mudanças rouxeram consigo reformas que objeivaram o reequilíbrio das conas públicas, as quais passaram por ajuses fiscais aliados às mudanças na condução da políica moneária. No enano, apesar de os faores moneários represenarem um imporane papel, o comporameno cíclico dos agregados reais em sido explicado, em grande pare, por fluuações aleaórias da produividade, conforme proposo pela Real Business Cycle Theory (RBC). Esa escola considera as fluuações econômicas como sendo resulanes da naureza erráica das mudanças ecnológicas, mesmo no curo prazo, devido ao comporameno oimizador dos agenes econômicos. Os primeiros rabalhos a analisar essas relações foram desenvolvidos por Kydland e Presco (1982), Long e Plosser (1983) e Hansen (1985) para a economia nore-americana. Para a economia brasileira, a análise dos ciclos reais de negócios é recene, e se desacam os rabalhos de Val e Ferreira (2001), em que os auores esaram modelos clássicos de ciclos reais de negócios, sendo o cash in advance com axação disorciva o que melhor se adequou aos dados; Ellery Jr, Gomes e Sachsida (2002) invesigaram as relações enre o produo e ouras variáveis macroeconômicas, endo como objeivo examinar as fluuações nos ciclos da economia; e Kanczuk (2002, 2004), que implemenou um modelo com um e com dois seores, nese úimo caso, um de bens comercializáveis e ouro de bens domésicos, para invesigar se os faos esilizados da economia brasileira podem ser racionalizados com os modelos de ciclos reais. Esses esudos consideraram os choques ecnológicos como geradores das fluuações econômicas. Enreano, mais recenemene, nos modelos de ciclos reais de negócios êm sido incluídas variáveis moneárias, como exensão dos modelos originais. Esa nova abordagem é referida como Nova Sínese Neoclássica (ver Goofriend e King, 1997). Ela se caraceriza por inegrar aspecos da eoria keynesiana, como rigidez de preços aos ciclos de negócios. Ese aspeco deve-se ao fao de os preços se ajusarem de forma gradual, o que indica que a evolução das variáveis econômicas reais no curo prazo pode não ser independene da políica moneária adoada. Assim sendo, esses modelos permiem analisar as relações enre moeda, inflação e os ciclos de negócios. Clarida, Gali e Gerler (1998) desacaram que, após um período em que os faores não moneários preponderaram, os rabalhos empíricos 5

reomaram os faores nominais (políica moneária) como fone para explicar a dinâmica de curo prazo da economia real. A parir desa abordagem, desenvolveu-se ese rabalho, o qual procurou examinar a relevância dos choques ecnológicos e moneários sobre as propriedades cíclicas das variáveis agregadas da economia brasileira enre 1980 e 2009 e no subperíodo enre 1995 e 2009, considerando o arcabouço meodológico dos ciclos de negócios. Para aingir al objeivo, fez-se uso de um modelo money-in-he-uiliy funcion (MIU), originalmene proposo por Sidrausky (1967). Ese modelo assume que a moeda gera uilidade pela incorporação de saldos moneários reais na função uilidade dos agenes econômicos e em sido uilizado para esudar uma variedade de problemas associados com economias moneárias. Ese modelo eórico permie gerar dados arificiais por meio de simulações para, poseriormene, comparar os resulados obidos com os dados da economia real (faos esilizados), endo em visa validá-los. Por sua vez, o modelo MIU focaliza sua análise em ermos quaniaivos, por meio do esudo das propriedades do esado esacionário. Aqui, odavia, esá-se ambém ineressado em examinar e compreender as implicações para o processo dinâmico e como a economia se ajusa em resposa a diferenes choques exógenos. Para a economia brasileira, ese modelo foi uilizado por Reis e al. (1998) e Alencar e Nakane (2003). Em relação ao primeiro esudo, os auores invesigaram a exisência de poupança precaucional, enquano o segundo examinou a imporância da moeda na função uilidade dos agenes. No enano, em ais esudos, os resulados foram obidos por meio de esimações economéricas, pelo méodo Generalized Mehod of Momens (GMM). Diferenemene dos aneriores, ese rabalho propôs examinar os ciclos de negócios a parir de um modelo de equilíbrio geral dinâmico e esocásico com a inrodução da moeda. Ese modelo, usando simulações que possibiliaram a consrução de economias arificiais, como proposo pela eoria dos ciclos de negócios, permie averiguar como os disúrbios exógenos ano ecnológicos quano moneários esiveram associados às fluuações cíclicas da economia brasileira ao longo das úlimas décadas. Aspecos que se consiuiram na conribuição dese rabalho. A deerminação do período de análise 1980 a 2009 esá relacionada ao fao de a economia brasileira er passado por mudanças inensas, ano moneárias quano 6

ecnológicas, num período relaivamene curo, de cerca de rês décadas. Ademais, o início do período coincide com o início do período de aceleração inflacionária. Apesar de essa er apresenado crescimeno, porém mais moderado, desde os primeiros anos da década de 1970. 1.3 HIPÓTESE Nas úlimas décadas, ao mesmo empo em que o conexo de insabilidade moneária se fazia presene, a economia brasileira obeve ganhos significaivos em ermos de produividade. Considerando ais aspecos, espera-se evidenciar que os ciclos de negócios da economia brasileira foram causados por faores ano ecnológicos quano moneários. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objeivo geral Analisar a influência dos choques ecnológicos e moneários sobre os ciclos de negócios na economia brasileira, no período enre 1980 e 2009. 1.4.2 Objeivos específicos Especificamene, preende-se: a) conexualizar a economia brasileira ao longo das úlimas décadas, considerando as mudanças no progresso ecnológico e na políica econômica adoada; b) reproduzir um modelo money-in-he-funcion uiliy para a economia brasileira; c) discuir os resulados obidos da economia arificial (benchmark economics) e os faos esilizados da economia brasileira; e d) examinar os efeios de choques ecnológicos e moneários sobre os ciclos de negócios da economia brasileira; e) analisar os efeios dos choques ecnológicos e moneários no período poserior à implemenação do Plano Real. 7

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Para aingir os objeivos proposos, ese rabalho esá esruurado em cinco capíulos, além desa inrodução. O capíulo dois apresena o processo de desenvolvimeno ecnológico, ressalando sua evolução e suas caracerísicas na economia brasileira; de forma semelhane, discue a rajeória da políica moneária a parir da década de 1980, enfaizando as mudanças na condução de al políica nos diferenes conexos econômicos e, por fim, apresena as propriedades cíclicas da economia brasileira no período anerior e poserior ao Plano Real. O capíulo rês revisa a eoria dos ciclos de negócios, desacando os modelos originais (reais) e suas exensões, por meio da inclusão da moeda. No capíulo quaro, é apresenada a meodologia, a qual segue a esruura de um modelo de ciclos reais de negócios, porém inroduz a moeda na função de uilidade do agene econômico, bem como suas condições e equilíbrio; ambém são definidos os parâmeros e a calibração do modelo padrão (economia arificial). O capíulo cinco desina-se aos resulados e discussões, em que são apresenados especificamene os efeios de choques ecnológicos e moneários sobre o comporameno cíclico da economia brasileira em ambos os períodos analisados. E, no capíulo seis, são delineadas as conclusões do esudo acerca do ema examinado. 8

2. MUDANÇAS TECNOLÓGICAS E MONETÁRIAS E OS CICLOS NA ECONOMIA BRASILEIRA Ese capíulo em como propósio apresenar o comporameno dos ciclos econômicos da economia brasileira, com ênfase nas mudanças ecnológicas ocorridas, assim como nas mudanças na condução da políica moneária. Para ano, inicialmene, na seção 2.1, é feia uma conexualização do processo de crescimeno ecnológico brasileiro a parir da década de 1980. Na seção 2.2, é discuida a políica moneária e sua condução no mesmo período. E, finalmene, na seção 2.3, são apresenados os faos esilizados da economia brasileira. 2.1 AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS NA ECONOMIA BRASILEIRA Nas úlimas décadas, na economia brasileira, ocorreu um conjuno significaivo de ransformações seoriais e macroeconômicas. Essas ransformações ocorreram de forma simulânea e na mesma direção das fluuações do crescimeno do produo agregado real. Por sua vez, ais fluuações se caracerizaram por apresenar movimenos periódicos, os quais esiveram, em grande pare, associados ao processo de progresso ecnológico (produividade), conforme enfaizado por Marquei (2003) e Delfim Neo (2009). Na mesma linha, Bonelli e Fonseca (1998) desacaram que grande pare do 9

crescimeno do produo agregado brasileiro seria explicada pelo crescimeno da produividade. Na década de 1980, à produividade era dada pouca relevância, de forma que poucos esudos buscavam explicações para o comporameno dese agregado [ver Sabóia e Carvalho (1997)]. A crise econômica do período inha ênfase na resrição exerna e no processo inflacionário crônico, enquano o modelo de desenvolvimeno enconrava-se em fase de esgoameno e a produividade (ecnologia) esava resringida pela excessiva proeção da indúsria nacional. Nesse conexo, o crescimeno do produo agregado real apresenou variações significaivas, passando de valores posiivos para negaivos ao longo da década, o que implicou em uma acenuada volailidade, conforme pode ser verificado pela Figura 1. Comporameno semelhane foi obido para a produividade, medida pela produividade oal dos faores (PTF) 3. Saliena-se o comporameno similar enre as variações do produo e da produividade, o que indica que o processo ecnológico ende a esar inrinsicamene relacionado ao crescimeno da aividade econômica. Fone: Resulados da pesquisa e Ipeadaa (2010). Figura 1 - Variação do produo real e da produividade oal dos faores na economia brasileira enre 1980 e 2009, em % ao ano. Noa: a escala à esquerda corresponde às variações do produo real e a escala à direia, às variações da produividade oal dos faores. 3 A produividade oal dos faores foi obida pelo resíduo da esimação da função de produção para a economia brasileira, para o período de 1980 a 2009. 10

Assim, a rajeória do crescimeno da produividade e do produo real apresenou um comporameno caracerísico, com a produividade endendo a crescer de forma mais acelerada que o produo em fases de expansão econômica e reduzindo-se de forma mais lena que o produo em fases de reração econômica. Esses resulados esão condizenes com os obidos por Calabi e Luque (1985), que concluíram que a produividade ende a crescer mais inensamene nas fases de expansão da produção do que nas fases de reração da aividade econômica. Para Gomes, Pessoa e Veloso (2003), na década de 1980, o processo de desenvolvimeno ecnológico medido pela produividade oal dos faores cresceu a uma axa inferior à axa de crescimeno da froneira ecnológica 4, apresenando, inclusive, axas negaivas em alguns períodos. Ademais, observou-se um aprofundameno do capial, dado pelo aumeno da razão capial-produo [ver ambém Morandi e Reis (2003)]. Na década seguine, de 1990, a parir de um processo de aberura econômica associada ao processo de privaizações, a um novo fluxo de invesimenos direos esrangeiros e à esabilidade da moeda, ocorreram acenuadas mudanças no conexo econômico. Conforme Marquei (2003), essas mudanças esiveram, sobreudo, relacionadas com as modificações no padrão ecnológico. Para Franco (2000), a economia brasileira passou, nessa década, por uma profunda reorienação do modelo econômico, deerminado por um conjuno de reformas, as quais modificaram a condua dos agenes econômicos. Em conrapono a eses argumenos, auores como Couinho (1997) ressalaram que não houve um crescimeno da produividade, mas um processo denominado de especialização regressiva, o qual consisiu em um processo de desindusrialização da economia brasileira nese período. No enano, podem ser idenificados dois momenos disinos no que ange à difusão de bases ecnológicas. O primeiro, enre 1990 e 1993, associa-se à aberura comercial indiscriminada da economia, dado por um fore ajuse defensivo. O segundo compreende os anos após a esabilização promovida pelo Plano Real, no qual se observou o aprofundameno da aberura econômica, o movimeno de desregulamenação dos mercados e o processo de privaização das empresas públicas. 4 Dada pela axa de crescimeno de longo prazo do produo por rabalhador, conforme Gomes, Pessoa e Veloso (2003). 11

Esses faores eram idos como responsáveis pela coninuidade da reesruuração produiva iniciada no período anerior. Por sua vez, a proposa que se aplicou no Brasil, nos anos de 1990, como saída para reduzir o gap ecnológico em que se enconrava a indúsria após dez anos de esagnação, pode ser associada a dois movimenos: um sisêmico e ouro seorial, conforme Berolli e Medeiros (2003). O primeiro relacionou-se ao fornecimeno para as empresas de capacidade de geração de inovações ecnológicas por meio da imporação de ecnologia. No enano, ese movimeno proporcionou uma espécie de difusão induzida de ecnologia, que resulou em um desesímulo à capacidade inovaiva da indúsria nacional. O segundo revelou que os impacos das mudanças na economia nacional pós-aberura foram diversificados em ermos de compeiividade, nos diferenes segmenos do seor indusrial brasileiro. Eses aspecos indicaram que o crescimeno da produividade brasileira nese período eseve cenrado em um conjuno de ransformações esruurais, o qual esava direamene ligado ao processo de reesruuração produiva da economia nacional. Enreano, esse crescimeno esendeu-se não somene ao seor indusrial, que apresenou resulados disinos para os diferenes segmenos, mas ambém ao seor agrícola, o qual apresenou crescimeno médio, em ermos reais, de 2,9% na década de 1990 e de 3,9% enre os anos de 2000 a 2005, como ressalaram Gasquez, Basos e Bachi (2008). Para Sabóia e Carvalho (1997), nos primeiros anos da década de 1990, ocorreu efeivamene um fore crescimeno da produividade, o qual eseve associado à inrodução de um amplo conjuno de méodos de gesão da produção volados ao aumeno da compeiividade. Esudos como de Hay (1997) e Cacciamali (1997) obiveram axas de crescimeno da produividade oal dos faores na ordem de 9,2% e 8,2%, respecivamene. Esse processo foi denominado por Bonelli e Fonseca (1998) de modernização defensiva, uma vez que o crescimeno da produividade esava ocorrendo em um conexo de baixo invesimeno agregado, indicando que a produividade do capial não esava crescendo, conrariamene ao observado para a produividade do rabalho indusrial, e semelhane ao observado no seor agrícola. O aumeno na produividade decorreu, principalmene, do crescimeno da produividade do rabalho. Como desacou Franco (2000), na década de 1990, verificou-se um exraordinário crescimeno da 12

produividade do rabalho, sendo que uma hora de rabalho, ao final dessa década, produzia cerca de 80% mais produos que no início dos anos de 1990. Esse crescimeno ambém é discuido por Feijó (2006), a qual evidencia que uma das caracerísicas posiivas dessas ransformações do período foi o aumeno da produividade do rabalho, que desde a segunda meade dos anos 1980 apresenava-se esagnada. Conudo, o crescimeno da produividade do rabalho se deu com baixos níveis de crescimeno do emprego agregado. Esudos recenes como o de Mendonça, Freias e Souza (2009) associam esse crescimeno da produividade do rabalho à adoção da ecnologia da informação, ainda que ese processo enha ocorrido de forma lena na economia brasileira. Essa nova forma de crescimeno esá em consonância com um novo paradigma de crescimeno, o qual foi designado de nova economia [ver Franco (2000)]. Para Bonelli e Fonseca (1998) e Barbosa Filho, Pessoa e Veloso (2010), a difusão de novas écnicas de gesão associada a um conjuno de ouros faores permiiu aumenar significaivamene a eficiência produiva, o que conribuiu para a aceleração da produividade oal dos faores, a qual represenou cerca de 50% do crescimeno do produo na década de 1990. Para ano, conforme Gomes, Pessoa e Veloso (2003), esse novo cenário foi possível porque o crescimeno da produividade e a sua manuenção passaram a ser peça imporane na esraégia de políica econômica do governo. No período mais recene, que compreende os anos enre 2001 a 2009, a produividade maneve um comporameno crescene, porém, em menor magniude, comparaivamene ao período anerior, enquano que o produo agregado apresenou um comporameno menos voláil (ver Figura 1). Ese comporameno esá relacionado ao cenário econômico mais esável que permiiu a produividade crescer de forma consisene e conínua. Esse comporameno foi verificado por Barbosa Filho, Pessoa e Veloso (2010), que obiveram axas médias anuais de crescimeno para a produividade dos faores próxima de 3,0% ao ano. Porém, somene a coninuidade dese cenário permiirá que a economia brasileira enre em uma nova rajeória de crescimeno, baseada não simplesmene na elevação de faores, mas ambém na manuenção de níveis de produividade mais elevados. Apesar desse aumeno da produividade, Feijó (2006) ressalou que o rimo de crescimeno da produção oscilou durane ese período, repeindo o padrão de 13

crescimeno ipo sop-and-go caracerísico da evolução da economia brasileira nos úlimos anos. Esse comporameno condiz com exposição de Lanzana e Lopes (2009), de que o Brasil em elevado seu rimo de crescimeno de curo prazo, porém não obeve ainda solidez que permiisse manê-lo no longo prazo. Um aspeco imporane para o processo de manuenção e crescimeno da produividade na economia brasileira esá relacionado ao baixo nível de invesimeno, como ressalado por Franco (2000), pois, a despeio de o crescimeno da produividade er odas as condições de se maner, num processo de convergência, para os níveis de produividade das economias desenvolvidas, al crescimeno efeivamene ocorrerá somene se houver aumeno dos níveis de invesimeno, conrariamene ao observado no Brasil, ao longo das úlimas décadas. Isso, necessariamene, passa por uma mudança nas expecaivas dos agenes econômicos quano à solidez fuura da economia. A parir desses aspecos, cabe enfaizar que o comporameno voláil da axa de crescimeno do produo real reforça a imporância do processo de desenvolvimeno ecnológico, haja visa que, ao longo das úlimas décadas, as diferenças nos níveis de produividade enre os períodos (curos) foram expressivas, não sendo possível descarar sua influência sobre a rajeória de crescimeno econômico. Assim, em-se que axas mais acenuadas de crescimeno do produo agregado passam por avanços em ermos de produividade. 2.2 A POLÍTICA MONETÁRIA E SUA TRAJETÓRIA NA ECONOMIA BRASILEIRA A políica moneária do início dos anos 1980, consequência ainda das esraégias de crescimeno econômico da década anerior, consisia de seguidas elevações na ofera real de moeda, as quais esavam associadas a axas reais de juros manidas em níveis baixos, inclusive negaivas em alguns períodos, como nos anos de 1980, 1981 e 1983 5. Ao mesmo empo, essas elevações ocorreram de forma paralela e coincidene com a rajeória de crescimeno do produo real em praicamene odo o período analisado, conforme observado na Figura 2. 5 As axas reais de juros neses anos foram -37,97%, -3,33% e -4,27% ao ano, respecivamene. 14