Políticas públicas para a agricultura

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Transcrição:

Políticas públicas para a agricultura Políticas Públicas Formas de intervenção do Estado, através de mecanismos de participação. Serve de orientação para instrumentalizar, regular e amparar a produção agrícola nacional. A agricultura é o setor econômico de maior interferência do Estado, se justifica, pois além de ser a atividade de maior risco (clima, mercado) é a fornecedora de matéria prima e alimentos para a nação. Razões tradicionais para a intervenção do Estado na agricultura e no meio rural: De modo geral, as razoes a favor da intervenção do Estado na agricultura estão ligadas a particularidades existentes nesse setor que condicionam a atuação dos agentes econômicos e dos atores sociais, por: i) introduzir imperfeições e falhas no funcionamento dos mercados; ii) gerar resultados que distorcem a distribuição intersetorial da renda e do emprego na economia; iii) prejudicar o abastecimento alimentar doméstico; e iv) provocar consequências sociais e políticas indesejáveis do ponto de vista do bem estar econômico e social.

Políticas públicas para a agricultura Objetivo fundamental: Regular os mercados agrícolas, garantindo preços e rendas para os agricultores, e estimular a produção doméstica, de modo que o abastecimento alimentar, especialmente urbano, não seja comprometido pela escassez de produtos e por preços internos muito elevados.

Políticas públicas para a agricultura Caracterização das particularidades do setor agropecuário: A dependência estrutural da agropecuária em relação a natureza, torna o tempo de produção superior às vezes bem superior ao tempo de trabalho, o que introduz descontinuidade na atividade produtiva agrícola e tende a reduzir a lucratividade da produção. Assim: A importância crucial das condições climáticas para a obtenção de boas ou más safras... A atomização da produção e a descontinuidade do processo produtivo. Inelástica... A receita bruta maior em períodos de más safras e a reduzir-se em períodos de grandes safras... Interesse conflitante entre oferta e procura de alimentos... Razão da interferência do Estado evitar conflitos de mercado...

Políticas públicas para a agricultura Diferença entre produtos agrícolas e agro industriais A demanda por produtos agrícolas = inelástica em relação a renda, enquanto a demanda por produtos industriais é bastante elástica em relação à renda. Duas consequências: a) a crescente industrialização da produção agrícola e a correspondente diferenciação de produtos a ela associada = estratégia para tornar a demanda por produtos agropecuários mais elástica em relação à renda; b) impõe um verdadeiro dilema de longo prazo de política econômica: na medida em que um setor agrícola bem sucedido como resultado das políticas de estabilização de preços e de suporte da renda dos agricultores exige a continuidade da política protecionista, com custos orçamentários crescentes e a consequente inviabilização progressiva da própria política agrícola protecionista, o que é um dos complicados dilemas de política econômica.

Políticas públicas na agricultura Formas de intervenção do Estado na economia Destaque para dois tipos de política econômica : A política macroeconômica busca afetar os grandes agregados da economia i) o nível, a composição e a taxa de crescimento da renda e da demanda agregadas; ii) quantidade total de moeda; iii) os gastos governamentais; iv) as exportações e as importações; v) os fluxos de entrada e de saída de divisas estrangeiras e de capital externo em geral; vi) quanto de preços- os chamados preços macroeconômicos básicos, como a taxa de cambio, a taxa de juros, a taxa de salários, e o nível geral de preços. A política setorial objetiva influenciar diretamente o comportamento econômico social de um setor específico da economia nacional (agricultura, indústria e serviços).

Políticas públicas para a agricultura Principais políticas econômicas à agricultura 1. A política agrícola i) visa afetar o comportamento conjuntural (de curto prazo) dos agricultores e dos mercados agropecuários; ii) fatores estruturais (tecnologia, uso da terra, infraestrutura econômica e social, carga fiscal, etc.) que determinam seu comportamento de longo prazo; iii) mercado (preços, comercialização, crédito), iv) estruturais (fiscal, de pesquisa tecnológica e de extensão rural, de infraestrutura, e de recursos naturais e meio ambiente); 2. A política agrária i) visa intervir na estrutura da propriedade e da posse da terra prevalecente no meio rural, através de sua transformação ou regularização nas regiões onde a terra já foi historicamente apropriada privadamente (política de reforma agrária) ii) influência no processo de ocupação de novas terras consideradas pelas agencias estatais ou pelos atores privados como de fronteira agrícola (política de colonização). 3. Políticas ou Programas diferenciados de desenvolvimento rural - Dirigidas a segmentos empobrecidos do campesinato, não integrados à modernização produtiva, e muitas vezes assumem ou assumiram um caráter de políticas de desenvolvimento rural regional como foi, por exemplo, o caso inicial do POLONORDESTE.

Políticas públicas na agricultura Dificuldades no Brasil : i) População eminentemente urbana; ii) agricultura complexa e articulada aos interesses agroindustriais, iii) dinamismo da economia e a criação de novos empregos bastante articulados ao comportamento da indústria e dos serviços, iv) os pequenos produtores pobres rurais não são a maioria da população, nem tem alcançado condições políticas para influenciar decisivamente os rumos da política econômica e social do país. Política agrícola ativa a existência dentre as políticas econômicas governamentais- de uma política setorial para a agricultura, calcada em instrumentos específicos, e que se distingue claramente da política macroeconômica geral. A política macroeconômica pode trazer implícita uma política agrícola determinada, de modo que a alocação de recursos e a composição da produção na agricultura podem ser afetadas pela política estatal por exemplo, monetária ou cambial independentemente da política setorial: seja porque essa não existe, seja porque é anulada pela política macro.

Políticas públicas na agricultura Resultados no Brasil: A modernização da agricultura nas três ultimas décadas e o crescimento do produto setorial a taxas elevadas em todo o período do pós-guerra, acumulou-se evidencia suficiente de que a existência de uma política agrícola ativa foi fundamental para esse comportamento setorial. Destaques: 1. A política agrícola/setorial pode ser meramente compensatória dos vieses antiagrícolas da política macroeconômica, expressos principalmente através das políticas cambial, comercial e fiscal. Essa é a visão que se tem da função principal da política setorial no chamado período de industrialização por substituição de importações, predominante na America Latina até o final dos anos 70. 2. A política agrícola brasileira não foi meramente compensatória, não teve apenas um caráter de soma zero, mas esteve comprometida, principalmente a partir do final dos anos 60, com a modernização do setor, com a sua transformação agroindustrial e com a sua progressiva internacionalização. 3. O PIB agrícola brasileiro cresceu a uma taxa media anual de 4, 4,5% desde a segunda metade da década de 50, tanto em períodos de vigoroso crescimento industrial (como na segunda metade dos 50 e na década de 70), como em conjunturas de desempenho industrial bastante sofrível (como nos 80) e que a proteção efetiva dos produtos agrícolas no pós-guerra tenha sido em grande parte ou negativa, ou pelo menos inferior à dos produtos industriais. 4. A política agrícola no Brasil não se concentrou apenas nos produtos de exportação, mas teve um caráter mais abrangente, atingindo as matérias primas para a indústria doméstica e também os produtos alimentares, especialmente seus segmentos capitalistas de produção.

Políticas públicas na agricultura Interação dapolítica macroeconômica e política agrícola O instrumento fundamental da política agrícola brasileira na década de 70 foi a política de crédito rural subsidiado. Viabilizada por uma conjuntura de grande liquidez no mercado internacional de crédito e no sistema monetário doméstico, que permitiu a implementação de uma política creditícia expansionista. A aceleração da inflação na segunda metade da década de 70 e com a crise da divida e do balanço de pagamentos no inicio dos 80, passou a predominar no Brasil uma política monetária contracionista, que elevou as taxas de juros internas e reduziu a disponibilidade de crédito na economia. Efeitos imediatos na política agrícola, pois inviabilizou a continuidade da política de crédito rural subsidiado dominante nos anos 70. È importante reter que a política monetária, por sua repercussão sobre a taxa de juros, pode afetar significativamente a produção agrícola. Pode fazê-lo diretamente através do grau de importância do Crédito rural no financiamento do custeio e do investimento agrícolas. Pode fazê-lo, também, indiretamente, pois a taxa de juros influencia a formação dos rebanhos e a manutenção de estoques de produtos agropecuários, afetando a sua oferta de curto prazo e, portanto seus preços, o que poderá repercutir também sobre o comportamento da produção no médio e no longo prazos. Uma política monetária bastante restritiva tende a elevar consideravelmente a taxa de juros, tornando muito custoso o carregamento de estoques. A tendência será, então, uma elevação da oferta e uma queda dos preços no curto prazo, a qual se influenciar as expectativas dos produtores no sentido baixista, poderá levar a uma redução da produção no longo prazo. Uma política macroeconômica de gastos total pode afetar pesadamente a política agrícola. A diminuição das despesas governamentais ou o aumento dos impostos ambos visando reduzir o déficit governamental e, por seu efeito sobre a demanda agregada, o déficit em transações correntes.

Natureza das políticas: a) por participação Políticas públicas na agricultura Top down (de cima para baixo) - Iniciativa e interesse maior do Estado; Ex: IAA, IBC (1930) Bottom-up (de baixo para cima) - Provocadas e articuladas pelos segmentos interessados. Ex: ICB, (1931) CEPLAC (1957) b) por interesse (Visão privada) Reflete o grau de intervenção do Estado para estimular a agricultura nacional como fornecedora de matéria prima para a agroindústria e de alimentos para as famílias. (Indústria, Comércio, Famílias) (Visão pública) Reflete o financiamento da União, notadamente pela participação no equilíbrio da balança comercial do país e no equilíbrio das finanças dos Estados tidos como tradicionais concentradores do agronegócio nacional. (Fonte de ICMS).

Evolução da política agrícola (1966-2004) Fonte: MAPA, 2005, Chaddad et all, 2006