Crises cambiais: modelo geral
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- Octavio Palmeira
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1 Crises cambiais: modelo geral 1
2 Capítulo 14 2
3 Sumário 1. Conceitos básicos 2. Modelo geral de crise cambial 3. Efeito contágio 4. Sintomas 5. Catalisadores e modelos de crise cambial 6. Resumo 3
4 1. Crise cambial: conceitos básicos processo (situação) evento (eclosão) sintomas (manifestações) repercussões 4
5 Crise cambial: definição processo de acúmulo de desequilíbrios nas relações econômicas internacionais que é insustentável ao longo do tempo 5
6 Eclosão e manifestação desequilíbrio causa, geralmente, um episódio repentino de ruptura, de eclosão da crise Manifestações diversas maxidesvalorização cambial queda das reservas aumento da taxa de juro etc. 6
7 Crise cambial, seja como processo, seja como evento (episódio), tem graves repercussões formação econômica de muitos países em desenvolvimento é marcada por crises cambiais crises têm sido determinantes das estratégias de desenvolvimento, das políticas governamentais e do desempenho econômico de muitos países Modelo de Substituição de Importações 7
8 História econômica contemporânea: inúmeros eventos de crise cambial México e América Latina (1982) México (1994) Tailândia e Sudeste Asiático (1997) Rússia (1998) Brasil (1999) Argentina (2001) Brasil (2008) 8
9 Após a eclosão da crise financeira global em 2008 crise cambial em um conjunto significativo de países desenvolvidos (por exemplo, Suécia, Austrália e Nova Zelândia) em desenvolvimento (por exemplo, Brasil, Rússia e México) 9
10 10
11 2. Modelo geral de crise cambial determinantes (causas principais) catalisadores (aceleradores) sintomas (manifestações) repercussões (consequências) 11
12 12
13 Determinante básico da crise cambial: Vulnerabilidade externa catalisadores (aceleradores): decorrem de fragilidades ou vulnerabilidades internas do país efeito contágio: países sofrem crise cambial em decorrência da reação em cadeia provocada pela crise em outro país 13
14 Modelo geral destaca também a diferença entre situação de crise episódio de crise de modo geral, associados à maxidesvalorização cambial e à perda de reservas internacionais 14
15 Vulnerabilidade externa significa a capacidade, em razão inversa, de resistência das economias nacionais a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos Duas dimensões igualmente importantes opções de resposta com os instrumentos de política disponíveis custos de enfrentamento ou de ajuste em resposta aos eventos externos 15
16 Vulnerabilidade externa determina opções de política (policy space) custos do processo de ajuste externo 16
17 Vulnerabilidade externa abrange as esferas das relações econômicas internacionais: comercial comércio exterior de bens e serviços produtiva IED, atuação de empresas estrangeiras no país e empresas nacionais no exterior tecnológica fluxos internacionais de ativos intangíveis monetário-financeira fluxos internacionais de capitais 17
18 Padrão de inserção do país no sistema econômico internacional: causa da vulnerabilidade externa esfera comercial peso relativo da exportação de commodities baixa competitividade do setores secundário e terciário esfera produtiva forte presença de empresas estrangeiras fluxo expressivo de remessas de lucros e dividendos 18
19 Continuação... esfera tecnológica atraso do sistema nacional de inovações grande dependência tecnológica despesas permanentes na conta de serviços esfera monetário-financeira fluxo expressivo de pagamentos de juros elevado passivo externo financeiro dívida, investimento externo indireto, derivativos, etc. 19
20 Continuação... Vulnerabilidade externa é fundamental determinado choque externo ou fator desestabilizador interno pode encontrar ou não o canal de transmissão internacional 20
21 Exemplos: desequilíbrios de estoque volatilidade dos preços internacionais das commodities tem maior impacto sobre economias em que o setor primário-exportador tem maior peso relativo na economia mudanças nas taxas de juros internacionais ou na liquidez internacional tendem a afetar principalmente os países com maior passivo externo financeiro 21
22 Vulnerabilidade externa Vulnerabilidade externa é condição necessária para que operem os catalisadores fatores desestabilizadores internos ou externos falha de governo crise política quebra de safra bolha de consumo sobreendividamento choque externo efeito contágio etc. 22
23 3. Efeito contágio efeito dominó reação em cadeia provocada por um evento específico no exterior crise cambial no país A transborda e afeta o país B 23
24 Entretanto, efeito contágio pode ocorrer depois da eclosão da crise cambial no país B aprofunda a crise no país B exemplo, efeito contágio da crise argentina em 2001 sobre a crise cambial brasileira efeito contágio não é protagonista e, sim, coadjuvante na crise cambial 24
25 Efeito contágio: mecanismos concorrência internacional repercussões bilaterais similaridade no padrão de vulnerabilidade externa e nos desequilíbrios internos ajuste de portfólios em escala global 25
26 Efeito concorrência internacional maxidesvalorização no país A aumenta o risco de desvalorização cambial no país B. Percepção de risco provoca o ataque especulativo e eclode a crise cambial Efeito repercussões bilaterais elevado multiplicador de repercussões bilaterais entre o país A e o país B crise cambial no país A pode precipitar a crise cambial no país B 26
27 Efeito similaridades fenômeno de generalização da aversão ao risco similaridade quanto à vulnerabilidade externa e à situação macroeconômica (ex.: dependência de commodities) similaridades diversas (ex.: América Latina) 27
28 Cinco frágeis - agosto de 2013 => Brasil, África do Sul, Indonésia, Índia e Turquia cinco frágeis - em comum um padrão de vulnerabilidade externa marcado por: dependência em relação ao petróleo importado déficit na conta de transações correntes elevado passivo externo líquido frágeis fundamentos macroeconômicos 28
29 Efeito ajuste de portfólio crises cambiais e financeiras aumentam a aversão ao risco investidores internacionais ajustam suas carteiras de investimentos estratégia de fuga pela qualidade ( portos seguros ) 29
30 Efeito ajuste de portfólio, cont... desinvestimentos em países de maior risco comportamento manada : grande investidor retira seus investimentos e é seguido pelos outros investidores fuga maciça de capitais que resulta em crise cambial 30
31 4. Sintomas 31
32 Sintomas => intervenções ou controles diretos sobre o mercado de câmbio também são sintomas de crise cambial latente ou manifesta intervenções suaves intervenções duras 32
33 Principais intervenções suaves oferta de dólares no mercado spot swap cambial operações no mercado futuro emissão de títulos com correção cambial transações com ouro no mercado nacional e no mercado internacional 33
34 Intervenções duras ou controles diretos: cardápio variado taxas múltiplas de câmbio controle de capitais (entrada e saída) centralização das operações de câmbio 34
35 Intervenções também podem ser medidas preventivas instrumentos de ajuste das contas externas Intervenções podem ser medidas passivas: reativas decorrentes da crise cambial (sintomas) ativas: evitar a situação de crise cambial ou a eclosão de crise cambial 35
36 36
37 Sintomas, cont... episódios de crise cambial são, invariavelmente, relacionados a maxidesvalorizações cambiais estudos empíricos: crises cambiais são identificadas quando a desvalorização nominal é de pelo menos 25% em comparação com o mês anterior outros estudos: corte de 15% 37
38 Maxidesvalorização indicador mais evidente de crise cambial, mais especificamente, de eclosão de crise cambial 38
39 Outros sintomas de crise cambial perda significativa de reservas internacionais (nível crítico) aumento da taxa de juro operações em mercados futuro e a termo de câmbio mercados de derivativos referenciados à taxa de câmbio 39
40 Outros sintomas de crise cambial, cont... operações de leilão de linha swaps cambiais indexação dos títulos públicos à variação da taxa de câmbio vender ouro no mercado nacional e no mercado internacional mercado de ouro na BM&F 40
41 Outros sintomas de crise cambial, cont... atrasados comerciais moratória ou suspensão dos pagamentos da dívida externa calote da dívida externa empréstimos do FMI 41
42 42
43 5. Catalisadores e modelos de crise cambial Modelos de primeira geração falhas de governo aumento do déficit público e regime de câmbio fixo deterioração de expectativas queda das reservas internacionais ataque especulativo 43
44 44
45 Modelos de segunda geração fundamentos macroeconômicos estão corretos déficit de credibilidade do governo quanto à sustentação da taxa de câmbio catalisador (interno ou externo) => perda de confiança => ataque especulativo 45
46 Modelos de terceira geração fundamentos macroeconômicos sólidos liberalização e desregulamentação financeira => sobreendividamento no exterior percepção de risco de crise bancária e financeira crise cambial crises gêmeas (cambial e financeira) 46
47 Denominador comum dos modelos mudança das expectativas dos agentes econômicos Foco: relação expectativa-eclosão da crise cambial 47
48 Modelos de 1ª, 2ª e 3ª geração discutidos acima deixam de responder a uma questão-chave: Que fator ou conjunto de fatores desencadeiam o ataque especulativo? 48
49 Modelos focam nos fatores catalisadores de eclosão da crise cambial: políticas econômicas expansionistas, câmbio fixo e nível crítico de reservas (modelos de 1ª geração) credibilidade do governo e sustentação da taxa de câmbio (modelos de 2ª geração) liberalização financeira e sobreendividamento externo (modelos de 3ª geração) 49
50 No modelo geral de crise cambial vulnerabilidade externa: causa básica impacto dos catalisadores (aceleradores) e velocidade do ataque especulativo dependem do padrão de vulnerabilidade externa de cada país secundário que os fundamentos macroeconômicos estejam sólidos (como acontece nos modelos de 2ª e 3ª gerações) 50
51 Modelo geral: catalisadores de crises cambiais falhas de governo políticas fiscal e cambial falhas de mercado sobreendividamento choques externos mercado de commodities, mercados financeiros sub-prime efeito contágio subjetividade nas percepções de similaridades 51
52 6. Resumo crise cambial pode ser definida como um processo de acúmulo de desequilíbrios nas relações econômicas internacionais que é insustentável ao longo do tempo situação de desequilíbrio causa, geralmente, um episódio repentino de ruptura, de eclosão da crise 52
53 Situação de crise e a eclosão da crise têm inúmeras manifestações (sintomas) maxidesvalorização cambial queda das reservas aumento da taxa de juro operações de swap cambial etc. Crise cambial, seja como processo, seja como episódio, tem graves repercussões 53
54 Modelo geral de análise de crises cambiais: distinção entre determinante básico vulnerabilidade externa catalisadores fatores internos fatores externos 54
55 Vulnerabilidade externa é a capacidade, em razão inversa, de resistência a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos Há inúmeras fontes de vulnerabilidade externa. Esferas comercial produtiva tecnológica monetário-financeira 55
56 Vulnerabilidade externa. Exemplos (Brasil, século XXI): forte dependência em relação à exportação de commodities (esfera comercial) fragilidade do sistema nacional de inovações (esfera tecnológica) significativa presença de empresas estrangeiras na economia (esfera produtiva) elevado passivo externo financeiro (esfera financeira) 56
57 Fatores endógenos funcionam como catalisadores de crises cambiais Modelos de 1ª, 2ª e 3ª geração destacam a importância de fatores como falhas de governo: políticas macroeconômicas expansionistas manutenção de regime de câmbio fixo nível crítico de reservas falhas na supervisão prudencial déficit de credibilidade 57
58 Modelos destacam, ainda, como fatores endógenos (catalisadores) as falhas de mercado liberalização financeira sobreendividamento 58
59 Modelo geral: fatores desestabilizadores externos (choques e efeito contágio) fatores desestabilizadores internos (falhas de governo e falhas de mercado) Catalisadores desequilíbrio ou choque externo desequilíbrio ou choque interno 59
60 Catalisador de crise cambial raiz: a vulnerabilidade externa do país Eclosão de crises gêmeas: crise cambial e financeira crise cambial pode preceder a crise financeira em decorrência da própria vulnerabilidade externa crise financeira agrava a crise cambial 60
61 Modelo geral de crise cambial destaca que o enfrentamento de crises cambiais envolve diversos instrumentos Instrumentos também são sintomas e indicadores de crise cambial 61
62 Governos podem combinar intervenções suaves com intervenções duras As principais intervenções suaves são: oferta de dólares no mercado spot swap cambial operações no mercado futuro emissão de títulos com correção cambial transações com ouro no mercado nacional e no mercado internacional 62
63 Cardápio variado de intervenções duras ou controles diretos taxas múltiplas de câmbio controle de capitais (entrada e saída) centralização das operações de câmbio 63
64 Crises cambiais têm, de modo geral, forte impacto Modelo geral destaca que as políticas econômicas de enfrentamento das crises têm efeitos não somente econômicos como também sociais, políticos e institucionais 64
65 Experiência histórica de países na América Latina e em outras regiões mostra que, frequentemente, crises políticas e institucionais são precedidas de crises nas contas externas e crises cambiais 65
66 Estudo de caso: Europa Após a eclosão da crise financeira global em 2008 alguns países europeus experimentam crises profundas econômicas, sociais, políticas e institucionais Crises têm na origem os desequilíbrios externos (problemas de financiamento do déficit no balanço de pagamentos) 66
67 Países europeus que sofrem crise profunda: Grécia, Portugal, Espanha, Ucrânia Países europeus que foram afetados em grau muito menor pela crise financeira global: Alemanha, Áustria 67
68 Distinção entre esses grupos não está nas falhas de governo (dívida pública) ou falhas de mercado (liberalização financeira, sobreendividamento) O que distingue os países europeus em crise é a vulnerabilidade externa expressa, principalmente, no passivo financeiro externo e na competitividade internacional 68
69 Capítulo 14 69
70 Obrigado! 70
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