UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO NOTAS DE AULA - FUNDAMENTOS DE BIOFÍSICA II

Documentos relacionados
Resoluções dos exercícios propostos

Controlo do volume celular

MODELOS DE REGRESSÃO PARA DADOS DE CONTAGEM. O modelo log-linear de Poisson

3. VARIÁVEIS ALEATÓRIAS

GERADORES E RECEPTORES eléctricos

Cap. 7. Princípio dos trabalhos virtuais

/ d0) e economicamente (descrevendo a cadeia de causação

GERADORES E RECEPTORES. Setor 1202 Aulas 58, 59, 60 Prof. Calil. Geradores

1 1 2π. Área de uma Superfície de Revolução. Área de uma Superfície de Revolução

AÇÕES BÁSICAS DE CONTROLE E CONTROLADORES AUTOMÁTICOS INDUSTRIAIS

MATRIZES 04) (FATEC-SP) Seja A a ij uma matriz quadrada de . Nessas ordem 2 tal que

Estudo de diversidade populacional: efeito da taxa de mutação

Capítulo 7: Escoamento Interno

Resolver problemas com amostragem aleatória significa gerar vários números aleatórios (amostras) e repetir operações matemáticas para cada amostra.

30/09/2015. Distribuições. Distribuições Discretas. p + q = 1. E[X] = np, Var[X] = npq DISTRIBUIÇÃO BINOMIAL. Contínuas. Discretas

MODELOS DE REGRESSÃO PARA DADOS BINÁRIOS

). Quer os eixos de S quer os de S

Transistor de junção bipolar Sedra & Smith, 4 a edição, capítulo 4

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

(a) Temos para uma transformação adiabática que p 1 V γ. 2 p 2 = p 1 V 2. Prova A: = 1 atm 4 1,4 6, 96 atm. p 2 = 1 atm. Prova B:

Resoluções das atividades

Módulo III Capacitores

λ, para x 0. Outras Distribuições de Probabilidade Contínuas

O raio de um núcleo típico é cerca de dez mil vezes menor que o raio do átomo ao qual pertence, mas contém mais de 99,9% da massa desse átomo.

Desse modo, podemos dizer que as forças que atuam sobre a partícula que forma o pêndulo simples são P 1, P 2 e T.

3 O Método Híbrido dos Elementos de Contorno e sua formulação simplificada aplicados a problemas estáticos em domínio infinito e multiplamente conexo

Deformações devidas a carregamentos verticais

28 a Aula AMIV LEAN, LEC Apontamentos

n = η = / 2 = 0, c

Deformações devidas a carregamentos verticais

TRANSFERÊNCIA DE CALOR (TCL)

RI406 - Análise Macroeconômica

1 a Prova de F-128 Turmas do Noturno Segundo semestre de /10/2004

Física A 1. Na figura acima, a corda ideal suporta um homem pendurado num ponto eqüidistante dos dois apoios ( A 1

Módulo II Resistores e Circuitos

TRANSMISSÃO DE CALOR II. Prof. Eduardo C. M. Loureiro, DSc.

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

Eletrônica III (ELO III) Prof. Victor Sonnenberg PROGRAMA

A energia cinética de um corpo de massa m, que se desloca com velocidade de módulo v num dado referencial, é:

LISTA DE EXERCÍCIOS 4 GABARITO

PROPAGAÇÃO EM RÁDIO MÓVEL Prof. Waldecir J. Perrella. Desvanescimento em Pequena Escala e Multipercurso.

FILTROS. Assim, para a frequência de corte ω c temos que quando g=1/2 ( )= 1 2 ( ) = 1 2 ( ) e quando = 1 2

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações

Desse modo, sendo E a energia de ligação de um núcleo formado por Z prótons e (A Z) nêutrons, de massa M(Z,A), pode-se escrever: E 2

1- MÉTODO ACADÊMICO E MÉTODO PRÁTICO DE CÁLCULO DE CIRCUITOS PARA TENSÕES E CORRENTES ALTERNADAS

Resolução da Prova 1 de Física Teórica Turma C2 de Engenharia Civil Período

2 x. ydydx. dydx 1)INTEGRAIS DUPLAS: RESUMO. , sendo R a região que. Exemplo 5. Calcule integral dupla. xda, no retângulo

A trajetória sob a ação de uma força central inversamente proporcional ao quadrado da distância

Pág Circunferência: ( ) ( ) 5.4. Circunferência: ( ) ( ) A reta r passa nos pontos de coordenadas (0, 1) e (2, 2).

Solução da equação de Poisson 1D com coordenada generalizada

Transistor Bipolar de Junção TBJ Cap. 4 Sedra/Smith Cap. 8 Boylestad Cap. 11 Malvino

/ :;7 1 6 < =>6? < 7 A 7 B 5 = CED? = DE:F= 6 < 5 G? DIHJ? KLD M 7FD? :>? A 6? D P

Transmissão de Calor Condução Estacionária

Razão e Proporção. Noção de Razão. 3 3 lê-se: três quartos lê-se: três para quatro ou três está para quatro

Funções de distribuição quânticas

Calor Específico. Q t

Temática Circuitos Eléctricos Capítulo Regime Sinusoidal POTÊNCIAS INTRODUÇÃO

TÓPICOS. ordem; grau; curvas integrais; condições iniciais e fronteira. 1. Equações Diferenciais. Conceitos Gerais.

Capítulo 8. (d) 1) 0,5 2) 1,0 3) 0,5 4) 0 5) 2/3 6) 1/2. Problema 02. (a) (b)

Investigação da condução de calor unidimensional e bidimensional em regime permanente

RESOLUÇÃO. Revisão 03 ( ) ( ) ( ) ( ) 0,8 J= t ,3 milhões de toneladas é aproximadamente. mmc 12,20,18 = 180

Oscilações amortecidas

Aula Teórica nº 8 LEM-2006/2007. Trabalho realizado pelo campo electrostático e energia electrostática

Teoria dos Jogos. Prof. Maurício Bugarin Eco/UnB 2014-I. Aula 7 Teoria dos Jogos Maurício Bugarin. Roteiro

A seção de choque diferencial de Rutherford

Mecânica dos Fluidos II Departamento de Engenharia Mecânica

FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA

Análise de dados industriais

Critérios de falha PROF. ALEXANDRE A. CURY DEPARTAMENTO DE MECÂNICA APLICADA E COMPUTACIONAL

5.10 EXERCÍCIO pg. 215

TENSORES 1.1 INTRODUÇÃO

sendo classificado como modelo de primeira ordem com (p) variáveis independentes.

Matemática A Extensivo V. 6

TEMA 3 NÚMEROS COMPLEXOS FICHAS DE TRABALHO 12.º ANO COMPILAÇÃO TEMA 3 NÚMEROS COMPLEXOS. Jorge Penalva José Carlos Pereira Vítor Pereira MathSuccess

TIPOS DE GERADORES DE CC

Atrito Fixação - Básica

Análise Termodinâmica da interacção de uma massa com uma atmosfera

= σ, pelo que as linhas de corrente coincidem com as l. de f. do campo (se o meio for homogéneo) e portanto ter-se-à. c E


Segunda Prova de Física Aluno: Número USP:

Pág , isto é, é o número Pretende-se mostrar que x [ ] f ( x) Seja h a restrição da função f ao intervalo ],0].

Análise de regressão

Programa de Pós-Graduação Processo de Seleção 2 0 Semestre 2008 Exame de Conhecimento em Física

r R a) Aplicando a lei das malhas ao circuito, temos: ( 1 ) b) A tensão útil na bateria é: = 5. ( 2 ) c) A potência fornecida pela fonte é: .

Sistemas de coordenadas em movimento

VENTILAÇÃO NATURAL. Tipos de Ventilação 16/05/2013. Ventilação natural: Ventilação Natural. Ventilação Forçada. Forças Naturais Envolvidas:

ANÁLISE CUSTO - VOLUME - RESULTADOS

Aula 16 - Circuitos RC

3. Geometria Analítica Plana

fase ω.τ

Teoria dos Jogos. Prof. Maurício Bugarin

ONDAS ELETROMAGNÉTICAS EM MEIOS CONDUTORES

Edson B. Ramos Féris

COLEÇÃO DARLAN MOUTINHO VOL. 04 RESOLUÇÕES. com. e voce

, ou seja, 8, e 0 são os valores de x tais que x e, Página 120

11 Trabalho e Variação da Energia Elétrica. Exercício Resolvido 11.1 Uma força depende das coordenadas de acordo com a seguinte expressão: x y z.

Externalidades 1 Introdução

Sala de Estudos FÍSICA Lucas 3 trimestre Ensino Médio 3º ano classe: Prof.LUCAS Nome: nº Sala de Estudos Magnetismo e Fontes de Campo Magnético

1.1 O Círculo Trigonométrico

Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO NOTAS DE AULA - FUNDAMENTOS DE BIOFÍSICA II FISICO-QUÍMICA DE BIOMEMBRANASç EQUILÍBRIO ELETROQUÍMICO E TRANSPORTE Glbrto Wssmullr Nc Mara Amrcano Costa Paulo Mascarllo Bsch INTRODUÇÃO No âmbto da célula, um dos procssos mas mportants para a vda é o transport d matéra através das mmbranas clulars daqulas ntraclulars. A mmbrana plasmátca, por xmplo, funcona como uma barrra sltvamnt prmávl ntr o mo ntraclular o xtraclular, assgurando qu moléculas íons ssncas, tas como glcos, amnoácdos, lpídos, K +, Na + Ca 2+, pntrm na célula, qu compostos mtabólcos prmançam no su ntror, também, qu o produto tóxco do mtabolsmo sja xpldo. Através da mmbrana ntrna da mtocôndra, são transportados prótons, para a rgão ntrmmbranar, (íons H + ), mprscndívs na sínts do ATP, bm como as própras moléculas d ATP rcém snttzadas. Pla carotca mmbrana qu nvolv o núclo da célula atravssam moléculas vtas: nuclotídos, RNA, ATP protínas. Os transports transmmbranars controlam tudo aqulo qu pod passar ntr células ntr compartmntos dntro d uma célula, garantndo com sso qu o mtabolsmo sja rgulado drgdo. Em sínts, os transports xstm para garantr o funconamnto d nossas usnas, controlando o fluxo d sus nsumos também d sus djtos anda para crar condçõs d armaznamnto d nrga ncssára para ralzação d mutos procssos clulars. À luz d fnômnos físco-químcos, aqu, vamos ddcar nossa atnção à análs das possbldads das condçõs d transport d matéra d armaznamnto d nrga através d mmbranas. Prlmnarmnt, farmos uma rvsão d alguns conctos báscos d Eltrcdad, ndspnsávs à comprnsão da orgm bológca dos fnômnos 1

létrcos constatados na célula d como ls ntrfrm nos procssos vtas d transport transmmbranar. Em sguda, dscutrmos como o qulíbro químco s stablc quando os solutos são ltrcamnt carrgados quando a própra mmbrana smprmávl é carrgada, tal como ocorr para mmbranas clulars. Estas, consttuídas por lpídos, podm tr a cabça polar ltrcamnt carrgada, sparando soluçõs ôncas d dfrnts concntraçõs. Nst tópco, analsarmos como a dfusão d íons através d mmbranas smprmávs provoca o aparcmnto d um potncal létrco através da mmbrana. Fnalmnt, no trcro tópco, srão dscutdos os conctos d transport passvo do transport atvo, sob a prspctva trmodnâmca do qulíbro ltroquímco (qulíbro químco ntr spécs carrgadas ltrcamnt). REVISÃO DE ELETRICIDADE L d Coulomb Exstm dos tpos d carga létrca: postva ngatva. As partículas lmntars qu possum carga são os létrons (ngatvos) os prótons (postvos). Quando uma partícula composta por mutos átomos ou moléculas, ncalmnt nutra, torna-s ltrcamnt carrgada, é porqu la rcbu ou prdu létrons. Partículas carrgadas até msmo létrons prótons são chamadas íons. Os postvos são chamados cátons os ngatvos, ânons. As partículas carrgadas ntragm por mo d forças atratvas ou rpulsvas d acordo com a rgra: cargas guas s rplm opostas s atram. A ntnsdad da força létrca é dada pla l d Coulomb: a força ntr duas cargas létrcas é proporconal ao produto das cargas nvrsamnt proporconal ao quadrado da dstânca ntr las. Formalmnt, sta l s xprssa por: Q1Q2 F = k, 2 d 2 Nm ond, k é a constant d Coulomb, qu val k = 9 10 9 2, Q1 Q 2 são as cargas C d é a dstânca ntr las. As forças létrcas são forças ntnsas; na prsnça dstas, as forças gravtaconas podm sr dsconsdradas; um númro rlatvamnt pquno d létrons gra forças norms. Um xmplo smpls lustra ss fato. 2

Consdr duas pqunas sfras d frro, com rao d 1 cm, cada uma contndo, ncalmnt crca d um mol d frro (6,02 x 10 23 átomos), ntr as quas ocorr uma transfrênca d létrons. Suponha qu um númro d létrons, muto mnor qu 10 23, tnha sdo transfrdo d uma sfra para a outra: um létron a cada blhão d átomos (1ppb). S a dstânca ntr as sfras for 10 cm, pla l d Coulomb, calculamos qu o valor dsta força é quvalnt ao pso d 0,8 tonladas. Ess xmplo é útl para mostrar como uma pquna altração ntr cargas provoca o surgmnto d uma força muto grand. Em uma solução ltrolítca, os íons podm s movr d um ponto ao outro faclmnt; quando um íon s dstanca rlatvamnt dos outros, a força ltrostátca qu surg por sta sparação d cargas atuará d modo a anulá-la, mantndo a solução ltrcamnt nutra m todos os pontos a todo nstant. Campo létrco potncal létrco Toda carga Q létrca modfca as proprdads do spaço a sua volta d tal forma qu uma outra carga q trazda a um ponto dss spaço xprmnta uma força létrca. Dz-s ntão qu a carga Q cra um campo létrco a sua volta. Com st concto d campo létrco, podmos consdrar qu a força qu a carga q xprmnta é dvda a l, tornando-s dsncssáro nos rfrrmos drtamnt à carga Q. Dzmos qu F = q E A força é o produto da carga q plo campo létrco na posção da carga ond la s ncontra. Claramnt, o valor do campo dv sr tal qu rproduza xatamnt o valor da força calculada pla l d Coulomb. Trabalhar com o concto d campo létrco é vantajoso. Uma noção d campo análoga,, m partcular, uma stuação ond o campo é constant, é o campo gravtaconal. Para st campo, dzmos qu a força pso d um corpo é gual a sua massa multplcada pla aclração da gravdad, P = mg ond g = 10 m/s 2 (nas proxmdads da suprfíc da trra); stamos fazndo o msmo racocíno: a trra gra nas proxmdads d sua suprfíc um campo gravtaconal a força é a massa multplcada pla ntnsdad do campo (g). A analoga com a stuação gravtaconal pod anda sr usada para ntndr uma outra grandza létrca mportant: o potncal létrco. Para tanto, vamos lançar mão da noção d trabalho ralzado por uma força. 3

O trabalho W ralzado por uma força F, ao longo d uma dstânca x é W = F x. S pnsarmos no trabalho ralzado pla força pso sobr um corpo cando d uma altura h da suprfíc da trra, calculamos qu st trabalho srá W = m g h. Dsta rlação, podmos ntão conclur qu o campo gravtaconal cra, m rlação à suprfíc da Trra, uma nova proprdad: uma capacdad potncal d ralzar trabalho a partr d cada altura h. Esta capacdad potncal val gh, qu multplcada pla massa m, rsultará no trabalho ralzado. Not qu a capacdad d ralzar trabalho dpnd apnas do campo gravtaconal da altura, proprdads do spaço. Vamos utlzar stas noçõs para analsar a stuação d uma confguração d cargas, como a da Fgura 1: duas suprfícs condutoras parallas carrgadas com cargas contráras. Ela srá mportant para a dscussão d fnômnos létrcos nas células. E Fgura 1 Suprfícs condutoras parallas carrgadas com cargas opostas. A atração ltrostátca ntr as cargas opostas, numa placa noutra, a rpulsão ntr as cargas guas na msma placa lvará a uma dstrbução unform dssas cargas nas suprfícs condutoras, xprssa pla dnsdad suprfcal d cargas σ (undads m Coulomb por mtros quadrados). Pod-s mostrar qu tal dstrbução gra um campo létrco constant confnado à rgão ntr as placas E = 4π kσ ond k é a constant d Coulomb, já ctada. Uma carga q colocada ntr as placas sofr a ação d uma força dvdo ao campo létrco E, dada por F = q E. O trabalho dsta força, ao longo d uma dstânca x = x - x 0 srá, portanto, mddo m N x m = Joul. W = q E x, 4

Usando a analoga dscutda antrormnt para o campo gravtaconal, podmos conclur qu o campo létrco E também cra, m rlação a uma posção d rfrênca, uma capacdad d ralzar trabalho, agora, d orgm létrca. Esta capacdad potncal qu o campo létrco tm d ralzar trabalho por undad d carga é chamada d potncal létrco. Como la é smpr mdda m rlação a um ponto d rfrênca, la é dada por V - V 0 = E x ond V 0 é o potncal no ponto d rfrênca. Novamnt, assm como para o campo, sta é uma proprdad atrbuída ao spaço. O snal ngatvo ndca qu o potncal létrco crsc no sntdo contráro ao sntdo do campo létrco. Obsrv qu st valor é apnas uma capacdad d ralzar trabalho não o trabalho ralzado, o qual dpnd da carga qu srá dslocada plo campo (not qu a acpção da palavra potncal ndca xatamnt qu não sja um trabalho, mas uma possbldad dl). Com stas noçõs, vamos analsar a stuação para a dstrbução d cargas m placas parallas da Fgura 1, por mo da Fgura 2. V E V c = V d V a = V b l a b c d x Fgura 2 Prfl do potncal létrco através d placas carrgadas. A dstânca ntr as placas é l. Entr os pontos a b, o campo létrco é nulo. Portanto a capacdad d ralzar trabalho ntr sts dos pontos também é nula. Pla rlação antror, scrvmos ntão Vb - Va = 0, o qu sgnfca qu o potncal não s altra, V b = Va. Entr os pontos c d, como o campo létrco também é zro, ocorr o msmo, V c = V d. Entrtanto, no trcho bc, sto é, ntr as placas,o campo tm um valor 5

constant E, a dfrnça d potncal srá Vc - Vb = E l, ond l é a dstânca ntr as placas. Como s vê, a dfrnça d potncal m um campo létrco constant, como no caso das placas parallas, vara lnarmnt com a dstânca, como mostra a Fgura 2. Em sínts, o potncal létrco prmanc constant fora das placas, ond o campo létrco é nulo (o campo stá confnado ntr as placas) vara lnarmnt ntr as placas dvdo ao campo constant. Um íon postvo (cáton) tndrá a s movr spontanamnt d uma rgão d maor para uma rgão d mnor potncal létrco. Rtomando a analoga mcânca, é o qu ocorr quando um corpo ca d uma altura h. Não s dv sr confundr potncal létrco com a nrga potncal létrca. Em casa dspomos d tomadas qu dsponblzam 120 Volts. A nrga létrca consumda dpndrá do aparlho qu s lga na tomada. No msmo ntrvalo d tmpo, uma lâmpada d 100 Watts consom mas nrga do qu uma lâmpada d 40 Watts mas, é claro, lumna mas. Campos létrcos podm sr grados na naturza por dos mcansmos dfrnts: sparação d cargas varação d campo magnétco. Em uma hdrolétrca, a força da água é usada para movmntar grands magntos próxmos a fos. O movmnto dos ímãs gra campos létrcos a dfrnça d potncal qu chga até a sua casa plos fos. Como vmos no studo das raçõs d ox-rdução, m plhas batras, raçõs químcas provocam a sparação d cargas ntr os dos pólos grando a dfrnça d potncal. Vrmos, a sgur, qu nas células o potncal é prncpalmnt rsultado da sparação d cargas provocado plo procsso d dfusão. Protínas qu transportam carga líquda para um dos lados da mmbrana, como a Na/K-ATPas, também causam sparação d cargas através da mmbrana las também contrbum para o surgmnto do potncal létrco. Corrnt létrca Corrnts létrcas são cargas m movmnto; ou sja, um fluxo d cargas létrcas qu pod s dar plo dslocamnto d létrons lvrs, as corrnts létrcas m um mtal, também, plo movmnto d íons, m uma solução. A água pura é má condutora d ltrcdad, porém, íons dssolvdos na água a tornam boa condutora. 6

EQUILÍOBRIO QUÍMICO EM SOLUÇÕES ELETROLÍTICAS A dfusão promov o procsso d homognzação dos solutos m uma solução aquosa. O msmo procsso ocorr para solutos carrgados ltrcamnt. Como dscutdo antrormnt, um númro rlatvamnt pquno d cargas gra grands forças; os íons m uma solução s dstrbum d forma qu macroscopcamnt o líqudo sja nutro; quasqur sparaçõs d cargas no líqudo causadas plo movmnto alatóro são compnsadas por forças d atração /ou rpulsão ltrostátca. Portanto, ao colocarmos sal m um copo d água, m qualqur rgão do líqudo, o sódo o cloro starão prsnts m guas concntraçõs. O qu acontc quando a solução é posta m contato com uma dstrbução d cargas: por xmplo, quando uma suprfíc plana carrgada ngatvamnt é mrgulhada na solução? Os íons postvos srão atraídos pla suprfíc os ngatvos srão rpldos, portanto, a solução fcará com uma fna camada d cargas nas proxmdads da suprfíc, d spssura da ordm d 10Å. Eltro-osmos a orgm do potncal d mmbrana através d uma mmbrana smprmávl Vamos dscutr agora como uma mmbrana smprmávl nutra ao sparar duas soluçõs ôncas (também ncalmnt nutras), porém d dfrnts concntraçõs, lva ao surgmnto d uma dfrnça d potncal létrco ntr as duas soluçõs. Na Fgura 3, stá dlnado um xprmnto smpls, no qual uma mmbrana smprmávl lva ao aparcmnto d uma dfrnça d potncal ntr dos compartmntos. Uma cuba com água é dvdda ao mo por uma mmbrana prmávl apnas ao íon potásso (K + ). No compartmnto squrdo, colocamos uma grand quantdad d clorto d potásso (KCl),, no da drta, apnas uma pquna quantdad, lvando, portanto, a uma grand dfrnça d concntração dgamos 10 para 1. Esta stuação smula a dfrnça d concntração ntr os mos ntra- xtra-clular. 7

Alta concntraçã Baxa concntraçã K K Cl Cl Fgura 3 Orgm do potncal létrco m mmbranas smprmávs. A mmbrana é prmávl apnas ao íons K +. No lado squrdo da mmbrana () tmos uma maor concntração d KCl, smulando o mo ntraclular o lado drto smula o mo xtraclular (). Nsta stuação, o sstma não stá m qulíbro. O potásso, por xstr m muto maor concntração do lado squrdo, dfundrá pla mmbrana m busca do qulíbro. O cloro não atravssa porqu a mmbrana não lh é prmávl. Entrtanto, quando os íons K + atravssam a mmbrana, dxam dsmparlhados os contra-íons Cl - do lado squrdo, fazndo surgr aí uma carga líquda ngatva, no lado drto, uma carga postva d msmo valor. Lmbrando qu xst a atração ntr os pars d cargas contráras através da mmbrana, podmos também conclur qu as cargas prmancm próxmas à suprfíc da mmbrana; as ngatvas na fac squrda as postvas na fac drta. A mmbrana carrga-s, ntão, d forma análoga às placas mtálcas parallas dscutdas antrormnt. Tal dstrbução d cargas cra uma dfrnça d potncal létrco através da mmbrana o potncal d mmbrana smlar à aprsntada na Fgura 2. Nssas crcunstâncas, íons K + qu stão do lado squrdo xprmntarão a ação compttva d duas forças opostas: ) a tndênca à dfusão pla dfrnça d concntração ) a atração ltrostátca pla carga líquda ngatva. Quando stas duas forças s compnsarm, o sstma stará no qulíbro ltroquímco. Como vsto no níco, uma pquna sparação d cargas lva ao surgmnto d grands forças ltrostátcas. No qulíbro ltroquímco, apnas uma pquna fração dos íons K + trá atravssado a mmbrana, o qu é nsufcnt para altrar sgnfcatvamnt as concntraçõs dos compartmntos da Fgura 3, mas o bastant para grar uma dfrnça d potncal mnsurávl através da mmbrana. Obsrv qu quanto maor a dfrnça ncal ntr as concntraçõs dos compartmntos, maor srá a dfrnça d potncal stablcda ao fm do procsso, pos maor srá o fto da dfusão, lvando a uma maor sparação d cargas. 8

As células anmas aprsntam uma dfrnça d potncal létrco através da mmbrana plasmátca, qu surg pla dfusão d K + por sus canas sltvos. O modlo do nosso xprmnto smpls dscrv bm o fnômno. Em 1890, o físco-químco almão Wlhlm Ostwald mostrou qu a rlação ntr a dfrnça d potncal a concntração, no qulíbro ltroquímco, tm a forma V = V V RT C = 2,3 log zf C ond, os índcs ndcam os compartmntos ntra xtraclular, V é o potncal létrco, C é a concntração, R é a constant dos gass, T é a tmpratura absoluta (mdda m Klvn), z é a valênca do íon (+1 para o íon potásso) F é a constant d Faraday. Essa quação é um caso partcular, para a stuação d qulíbro, da quação d Nrnst. Exstm duas possívs manras d s ntrprtar tal quação: 1. S, d alguma manra, mantmos uma dfrnça d concntração d uma spéc d íon através da mmbrana C C ), surgrá, através dla, uma ( dfrnça d potncal létrco, V, cujo valor é calculado pla quação d Nrnst; 2. S, d alguma manra, uma dfrnça d potncal létrco é mposta ntr os lados da mmbrana, o íon m qustão assumrá uma dfrnça d concntração ntr os lados da mmbrana. Como um xmplo, podmos calcular a dfrnça d potncal qu surgrá através da mmbrana, caso o mo ntraclular sja 10 vzs mas concntrado qu o xtraclular. À tmpratura ambnt, T=298K, R=8.314 Jmol -1 K -1 a constant d Faraday F=96 492C mol -1, portanto, a 25 C, para um íon monovalnt, calculamos, para o potncal d mmbrana: C V V = 59,2log = 59. 2 mv C Potncal ltroquímco 9

A quação d Nrnst pod sr dduzda a partr do potncal químco, s na sua dfnção consdrarmos o fto produzdo pla prsnça d cargas létrcas. Como vmos antrormnt, o potncal químco, para uma solução dluída fo dfndo por µ = 0 + RT ln C µ 0 ond, µ é o potncal químco padrão C a concntração da spéc. Lmbrando qu o potncal químco md a varação da nrga lvr d Gbbs d um sstma, por mol d substânca acrscda (ou rtrada), mantdas constants as dmas varávs trmodnâmcas, sndo as spécs carrgadas, l dv sr acrscdo d um trmo qu rsponda plo comportamnto da spéc susctívl a stímulos létrcos. O potncal químco, chamado agora potncal ltroquímco, passa a sr xprsso, ntão, como 0 µ = + RT lnc + z µ FV ond z é a carga do íon da spéc, F a constant d Faraday V o potncal létrco mddo m rlação a um nívl d rfrênca. Consdrando, qu nas condçõs do nosso modlo da Fgura 3, o potncal ltroquímco dos dos lados da mmbrana não é o msmo dvdo à dfrnça d concntraçõs também à dos potncas létrcos, ls são dados: no lado ntrno (), por, no xtrno (), por µ = + RT ln C + z 0 µ 0 µ µ = + RT lnc + z FV FV O qulíbro ltroquímco, ntão, s xprssará por ou RT ln C µ =. µ + z FV = RT lnc + z FV 10

qu nos lva ao rsultado ncontrado por Ostwald: V = V V = RT C ln z F C Tal rsultado nos lva a conclur qu o qulíbro ltroquímco d íons para os quas a mmbrana lh sja prmávl não s caractrza pla sua homognzação, como no caso das moléculas nutras, mas sm, plo surgmnto d um potncal létrco qu contrabalança a dfusão. Em outras palavras, s o soluto porta uma carga líquda, tanto su gradnt d concntração, quanto o potncal d mmbrana, nflunca su transport, como vrmos a sgur. TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA Transport passvo A dfusão é um fnômno qu promov o movmnto d moléculas d solutos m soluçõs. Ela stá ntmamnt rlaconada com a dfrnça d concntração do soluto m duas rgõs do solvnt. Um fluxo líqudo d moléculas surg na prsnça d um gradnt d concntração. Logo, s na naturza vrfcam-s stuaçõs nas quas xst um gradnt d concntração para uma substânca, nlas, stão cradas as condçõs para qu ocorra a dfusão das moléculas dsta substânca, ou, o transport dssas moléculas da rgão d maor concntração para a d mnor concntração. A dfusão é, portanto, potncalmnt, um prmro mcansmo d transport a consdrar aqu. No nívl clular, a xstênca d gradnts d concntração através das mmbranas é fato para númras spécs químcas (tanto íons, quanto moléculas nutras), como sabmos. Conhcmos a stuação, por xmplo, para o O 2, cuja concntração no mo xtrno é maor qu no ctoplasma, ond é consumdo, para o CO 2, qu, nvrsamnt, tm a concntração maor no ctoplasma, ond é produzdo, qu no mo xtraclular. Tas moléculas são transportadas drtamnt através da mmbrana por dfusão no sntdo do gradnt d concntração corrspondnt como mostrado na Fgura 4(a). Outras spécs químcas mantêm gradnts d concntração ntr os mos ntra xtra clulars, mas dado ao su tamanho ou naturza hdrofílca, não consgum atravssar a mmbrana. Nss caso, o procsso 11

d sua dfusão é mdado por uma protína qu faclta a passagm da molécula. Na Fgura 4 (b) (c), você pod vr a lustração d duas dssas stuaçõs: dfusão facltada por um canal por uma protína transportadora. O 2 ctosol Mo xtraclular CO 2 a) b) Ocorr uma mudança conformaconal, xpondo o síto d lgação para o ctosol. A glcos é lbrada para o ctosol. Fnalmnt, uma nova mudança conformaconal, lva a protína para sua conformação ncal. Glut-1 é uma protína d mmbrana, mostrando su síto d lgação voltado para a part xtraclular. A glcos lga-s a glut-1 vnda do lado xtraclular. c) Fgura 4 Transport passvo. a) transport drto; b) transport facltado por protínas canas c) transport facltado por canas transportadors. Obsrv qu o transport d matéra nsss casos s du por dfusão (drta ou facltada por protínas) às xpnsas da nrga armaznada no gradnt d concntração. Tal nrga armaznada (nrga potncal) é dvda à dstrbução spacal da massa; um gradnt d concntração dfrnt d zro xprssa justamnt uma stuação com acúmulo d massa numa rgão frnt a uma scassz m outra. Por sso falamos d uma nrga d confguração; uma nrga armaznada m vrtud da confguração do sstma, qu é mdda m trmos da dfrnça d potncal químco. Para analsarmos o transport d spécs químcas carrgadas, íons, através da mmbrana, tmos qu lvar m conta, além da prsnça do gradnt d concntração, a xstênca do potncal létrco qu surg, como vsto ants, quando 12

há a sltvdad da mmbrana. Para analsar o transport dos íons Na + K + através da mmbrana plasmátca, vamos consdrar uma stuação mas complxa qu a dscutda na Fgura 3, mas mas próxma do qu ocorr nas células: uma cuba contndo dos tpos dfrnts d íons postvos, como mostrado na Fgura 5. 100 mm 10 mm Na + K + 10 mm K + 100 mm Na + Cl - Cl - Fgura 5 A mmbrana é prmávl apnas aos íons K + Na +. A concntração ônca é agora dêntca m ambos os lados da mmbrana. O mo d alta concntração d potásso smula o mo ntraclular () o d alta concntração d sódo, o mo xtraclular (). Suponha qu ambos os íons passam por canas qu podm star fchados ou abrtos. S o canal d sódo stvr fchado ncalmnt, o qulíbro s stablc xatamnt como na Fgura 3 o prfl d potncal fca como mostrado na Fgura 2. Imagn agora qu o canal d potásso sja fchado o d sódo sja abrto. Nst caso, a concntração do íon Na + é maor fora da célula o potncal létrco também é maor fora, como mostrado nas Fguras 2 5. Sob tas crcunstâncas, s olhássmos só sob o aspcto do gradnt d concntração, dríamos qu um íon Na + sra compldo a ntrar na célula, lvado pla dfusão. S olhássmos só sob o aspcto do potncal létrco, dríamos qu, sndo um íon postvo, o campo létrco crado na mmbrana complra o íon a ntrar na célula, lvado pla força létrca. Como tas forças são ndpndnts uma da outra agm no msmo sntdo, o fto rsultant é d coopração, ou da soma das duas. Logo, o íon Na + pntra no ctoplasma lvado plas duas forças. Em outras palavras, o transport s dá às xpnsas da nrga armaznada no gradnt d concntração do Na +, mas também da nrga armaznada no campo létrco, o qual fo crado antrormnt plo transport do K +. Obsrv qu agora a nrga d confguração do sstma, além daqula da massa, ngloba também a confguração das cargas létrcas nl xstnts; a do íon (a sr transportado) frnt àqulas dvdas ao potncal 13

létrco. Isso mplcou m amplar o concto d potncal químco ants rfrdo (assocado apnas à confguração d massa) para qu l nglob também a contrbução d orgm létrca. Os casos dscutdos até aqu são xmplos do tpo d transport chamado passvo. O transport passvo é aqul qu ocorr pla tndênca spontâna d uma spéc químca s movr d uma posção ond a nrga armaznada é mas alta para outra mas baxa. Nos casos dscutdos para moléculas nutras, uma tal stuação fca dtrmnada plo sntdo da rgão d concntração mas alta para a mas baxa, ou a favor do gradnt d potncal químco, qu, nsts casos, s xprssa plo gradnt d concntração. No caso d íons, a stuação nrgtcamnt favorávl fca dfnda lvando-s m consdração tanto o gradnt d concntração como o do potncal létrco; ou o gradnt do potncal ltroquímco. A stuação nrgtcamnt favorávl, nsss casos, é aqula no sntdo do potncal ltroquímco mas alto para o mas baxo. Lmbrando qu o potncal ltroquímco tm duas contrbuçõs qu s somam, sndo qu uma dlas, a létrca, pod sr ngatva, é possívl vrfcar qu trmos três possbldads: a) quando o gradnt d concntração o gradnt do potncal létrco têm o msmo sntdo, como é o caso dscutdo para o Na + ; b) quando o gradnt d concntração o do potncal létrco têm ftos m sntdos contráros, a contrbução da dfrnça da concntração sobrpuja a do potncal létrco; c) quando o gradnt d concntração o do potncal létrco têm ftos m sntdos contráros, a contrbução létrca sobrpuja a dfrnça d concntração. Estas três possbldads são mostradas na Fgura 6. Fgura 6 O sntdo a ntnsdad do transport passvo são dtrmnados plo gradnt d concntração plo gradnt d potncal létrco. a) ambos no 14

msmo sntdo lvam a um ntnso transport (flcha grand); b) s m sntdos opostos, mas com o gradnt d concntração domnando, o transport ocorr no sntdo d maor para mnor concntração; c) s m sntdos opostos, mas com o gradnt d potncal létrco domnando, o transport ocorr contra o gradnt d concntração. O transport passvo ocorrrá smpr m todo sstma no qual a dstrbução da spéc, ntr os mos xtra ntraclular, dfra daqula vrfcada no qulíbro trmodnâmco. Transport atvo Voltmos agora ao nosso xmplo do Na + ntrando na célula mpldo plas forças dos dos gradnts (d concntração d potncal létrco) para analsar o outro tpo d transport. S o únco transport do Na + através da mmbrana s dss como dscutdo antrormnt, sto é, foss apnas o passvo, com passar do tmpo, a concntração do Na + no ntror da célula tndra a s gualar à concntração do mo xtraclular, fazndo dsaparcr o su gradnt d concntração cssando o transport. Entrtanto, o gradnt d concntração do Na + s mantém à razão maors qu d 1 para 10 para células mamáras d anmas, a concntração d Na + no ctosol é d 12 mm, nquanto no sangu a concntração é d 145mM. Surg ntão a qustão: como tal gradnt é mantdo, s tanto o gradnt d concntração quanto o potncal d mmbrana da ordm d -70mV favorcm a homognzação do íon nos dos mos? Em trmos d nrga, sta qustão s coloca: como um íon d Na + consgu nrga para sar da célula movndo-s contra su gradnt d potncal ltroquímco? Fazndo uma analoga com o potncal gravtaconal, sra quvalnt a prguntar: como uma pssoa faz para consgur nrga para sr lvada do térro aos andars suprors d um prédo? S a rsposta é ora, usa smplsmnt o lvador, stamos na psta crta para ntndr o transport atvo. Lmbramos, no ntanto, qu todo lvador xg ncssaramnt uma font d nrga para subr. O transport atvo d moléculas ou íons através das mmbranas da célula é aqul qu s vrfca contra sus gradnts do potncal ltroquímco às custas d uma nrga xtra forncda a ssas partículas. D uma manra gral, o transport atvo ocorr mdado por uma protína qu funcona como uma bomba. El stá smpr acoplado com uma font qu fornc a nrga ncssára para aconar a bomba. Frqüntmnt, ssa font d nrga é a ração químca da hdróls do ATP. 15

Um xmplo d transport atvo conhcdo é o ralzado pla bomba K/Na- ATPas, qu é justamnt o rsponsávl pla manutnção dos gradnts d concntração dsts íons através da mmbrana plasmátca. É por ss transport ralzado pla bomba qu os íons d Na + sam os d K + ntram na célula, movndos, rspctvamnt, contra sus gradnts d potncal ltroquímco. Na Fgura 7 você pod vr um squma do transport atvo ralzado pla bomba K + /Na +. ctosol mmbrana mo xtraclular Concntração d K + ADP ATP K + K + Na + Na + Na + Concntração d Na +. Fgura 7 Transport atvo da bomba Na/K-ATPas. Do ponto d vsta trmodnâmco, podmos analsar os fnômnos d transport através da mmbrana, calculando a varação da nrga lvr d Gbbs. Para o transport passvo d substânca nutra, a varação da nrga lvr d Gbbs por mol, é dada pla dfrnça ntr os potncas químcos nas soluçõs d dfrnts concntraçõs, m cada lado da mmbrana: ond G G C = µ µ = RT ln C é a dfrnça ntr o potncal químco da spéc no lado xtrno o su valor no lado ntrno da mmbrana. Para qu tnhamos G < 0, sto é, para qu a dfusão spontâna s dê d fora para dntro, é ncssáro qu tnhamos C < C, sto é, a concntração da spéc do lado xtrno sja maor qu do ntrno. Dto d outra forma, havndo um gradnt d potncal químco, a dfusão ocorrrá a favor dst gradnt. 16

S, ao contráro, C > C, o transport da spéc d fora para dntro não srá spontâno; l só ocorrrá s alguma nrga for forncda à molécula; trmos ntão o transport atvo. Para o caso da spéc sr um íon, tmos qu lvar m conta na nossa análs o potncal ltroquímco. Consdrmos a stuação spcífca da bomba d Na/K, focando nossa atnção no íon Na +, cuja concntração fora é da ordm d 10 vzs a d dntro. Vrfqumos agora qual é a varação da nrga lvr d Gbbs por mol no transport dst íon do mo ntrno para o xtrno, ou sja, calculmos. Usando a dfnção do potncal ltroquímco, tmos G G = µ Na µ Na = RT ln C Na + FV ( RT ln C Na + FV ) G C = RT ln C Na Na + F( V V ) Para a tmpratura d 37ºC lvando m conta qu a dfrnça d potncal létrco do mo xtrno para o ntrno é d 70mV, a quação acma fornc = 12,7kJ mol, um valor postvo, mostrando qu o transport nsta drção, G / contra o gradnt do potncal ltroquímco, não é spontâno, ncsstando portanto d um aport d nrga. Essa nrga ncssára pod sr provda por uma ração químca, com R G G < 0, sufcnt para tornar ngatvo. O movmnto do íon para fora da célula pod ntão sr rprsntado por C Na G = RT ln + F( V V ) CNa + G R Sabmos qu, para a hdróls d um mol d ATP, G R = 30kJ / mol. S portanto, a ração acoplada ao procsso for a hdróls do ATP, o G para o srá -17kJ/mol, mostrando qu, nssas condçõs, ss transport ocorrrá. Obsrv qu, para o Na +, o transport atvo ocorr contra o gradnt d concntração, smultanamnt, contra o gradnt d potncal létrco. Já para o K +, o transport 17

atvo ocorr contra o gradnt d concntração, mas a favor do gradnt d potncal létrco. Na Fgura 8, stá mostrado um ntrssant xmplo d transport atvo qu consgu a nrga para r contra su gradnt d potncal ltroquímco aprovtando o transport passvo d outra spéc. Trata-s da bomba Na+/glcos qu ocorr, por xmplo, nas células ptlas do ntstno para absorção da glcos nas células rnas para a rabsorção. Not qu o Na+ stá sndo transportado passvamnt a favor d su gradnt d potncal ltroquímco nquanto a molécula d glcos é transportada atvamnt contra su gradnt d potncal ltroquímco (no caso só d concntração, pos a molécula é nutra) as custas da nrga lbrada plo transport passvo do sódo. ctosol mmbrana mo xtraclular Concntração d glcos Na + Concntração d Na + Fgura 8 Transport atvo da glcos mpulsonado plo transport passvo do sódo. O gradnt d potncal ltroquímco é um mcansmo mportant do qual a célula s val para armaznar nrga. Nas mtocôndras, a nrga químca da glcos é armaznada na forma d um gradnt ltroquímco d H + ants d sr fnalmnt transfrda às moléculas d ATP. Na fotossínts, também ocorr a produção d ATP por um gradnt d prótons, com a dfrnça qu o gradnt acumula nrga provnnt da luz absorvda. A nrga acumulada no ATP volta a sr convrtda m gradnts ltroquímcos por bombas qu ralzam transport atvo, Na/K-ATPas, por xmplo. Ess gradnt é agora utlzado para, por xmplo, transportar moléculas ncssáras à célula, como a glcos. Além dsso, nas células xctávs, como as nrvosas musculars, a xstênca d gradnts prmt outro procsso bológco mportant: a snalzação por 18

mpulsos létrcos. Part da nrga armaznada nos gradnts é dsspada cada vz qu um snal létrco é nvado, portanto, o gradnt rqur constant rgnração por part da Na/K-ATPas. O ATP é a moda nrgétca das células. Aqu pod-s prcbr qu as células trabalham com um complxo sstma fnancro. Os fnômnos létro(químcos) na célula têm, m sínts, as sgunts funçõs: 1. armaznamnto d nrga para procssos d transport como o da glcos ntrando com o sódo; 2. manutnção da dfrnça d concntração d solutos para mantr o qulíbro osmótco; 3. produção do ATP nas mmbranas da mtocôndra dos cloroplastos srvndo como uma forma ntrmdára d armaznamnto d nrga nas células; 4. produção d snas létrcos através d células xctávs células nrvosas musculars. CONCLUSÃO A boltrcdad é uma caractrístca d todos os tcdos vvos, anmal vgtal. Lug Galvan, profssor d Anatoma na Unvrsdad d Bolonha fz tal constatação, m 1780, quando, vrfcou uma contração do músculo dsscado da prna d um sapo ao sr tocado plo pólo d uma máquna d ltrcdad státca; a prna do sapo movmntou-s como s stvss vva. Galvan, com suas xprêncas, concluu qu ltrcdad ra também grada por corpos d anmas, xstndo uma íntma rlação ntr a vda la; dnomnou-a d ltrcdad anmal ou força vtal, consdrando-a smlar, mas algo dstnta da ltrcdad natural d raos máqunas d ltrcdad. Alssandro Volta, um físco também talano amgo d Galvan, apaxonado pla ltrcdad, rptu as xprêncas, confrmou os rsultados obtdos, mas dscordou da ntrprtação dada por Galvan; para l a ltrcdad obsrvada orgnava-s não do tcdo anmal, mas tra sdo grada plo contato ntr dos tpos d mtal manpulados por Galvan m suas xprêncas, funconando o músculo do sapo apnas como um dtctor d pqunas dfrnças d potncal. Uma contnda cntífca ntr os dos stablcu-s por mutos anos, ao longo dos quas númras xprêncas foram ftas por ambos com dfrnts anmas, cujos músculos ou nrvos ram submtdos a cargas létrcas; cada qual qura provar a sua ts. Fo no bojo dssa brga cntífca, qu, m 1800, Volta, para provar qu 19

Galvan stava rrado, construu a plha létrca, ou batra, consttuída d uma sér d dscos mtálcos d dos mtas dfrnts, sparados por paplão mbbdo m soluçõs acdas ou salnas. A plha ou batra d Volta consttu uma das mas mportants dscobrtas ou nvnçõs cntífcas, uma vz qu s trata do prmro método crado para armaznar nrga létrca, possbltando a gração manutnção d corrnt létrca. Podmos obsrvar ntão qu psqusas m Bologa, no século XVIII, dsncadaram mportants avanços no conhcmnto da Físca sobr a naturza dos fnômnos létrcos, qu, uma vz dsnvolvdos bm comprnddos, prmtram, mas modrnamnt, dntfcar o papl cntral qu a boltrcdad dsmpnha nos fnômnos vtas. A boltrcdad rspond plos procssos d transport através das mmbranas clulars, qu controlam a formação dsspação d gradnts d concntração d íons d gradnts d potncal létrco. Ests gradnts, tal como a plha ou batra d Volta, armaznam nrga ltroquímca, a qual pod sr convrtda dsponblzada m outras formas qu são usadas plos organsmos m númros procssos. O dbat Galvan vrsus Volta fo um dos psódos mas mportants da Hstóra da Cênca, prncpalmnt, plo lvado spírto cntífco com qu s travou. Galvansmo fo o trmo, gnrosamnt, cunhado por Volta, qu dss sobr o trabalho d Galvan: l contém uma das mas blas surprndnts dscobrtas. Ambos stavam crtos. Hava dos mportantíssmos fnômnos: a ltrogêns bmtal a boltrogêns anmal. REFERÊNCIAS Albrts, Bruc - Bologa Molcular da Célula, Quarta Edção, Artmd Edtora 2004. 20