Subprodutos do Algodão na Alimentação de Ruminantes. Fernanda Barros Moreira

Documentos relacionados
Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

USO DA MACAÚBA NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

Airon Aparecido Silva de Melo

PALMA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS Airon Aparecido Silva de Melo. Zootecnista, D.Sc. Professor UFRPE - UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Producote Feed O que é? Como devo fornecer o Producote Feed? Producote Feed Por que utilizar Ureia (NNP) na dieta?

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

MÁXIMA PERFORMANCE O ANO TODO

Suplementação de gordura para vacas leiteiras em pasto

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRODUÇÃO DE LEITE EM SISTEMAS PASTORIS

Manejo Nutricional e suas Influências na Qualidade do Leite. Gabriel Candido Bandeira RC DSM TORTUGA

O papel da suplementação na Pecuária Leiteira

Planejamento Alimentar na Bovinocultura Leiteira


Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Cálculo de um. André Mendes Jorge Zootecnista. Departamento de Produção Animal. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia FMVZ Campus de Botucatu

Avanços em Nutrição Mineral de Ruminantes Suplementando com precisão

ECONOMICIDADE DA SUBSTITUIÇÃO MILHO PELO RESÍDUO ÚMIDO DA EXTRAÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA NA TERMINAÇÃO DE TOURINHOS EM CONFINAMENTO

7,2% SISTEMAS DE ENGORDA SUPLEMENTAÇÃO PARA BOVINOS DE CORTE. Valor nutritivo. Luis Fernando G. de Menezes Tiago Venturini. engorda.

MÁXIMA PERFORMANCE O ANO TODO

Uso de amilase exógena na nutrição de vacas em lactação: melhorando a utilização de nutrientes e desempenho animal. Marcos Neves Pereira

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Vantagens e Benefícios: Vantagens e Benefícios:

Avanços em Nutrição Mineral de Ruminantes Suplementando com precisão

Alexandro Pereira Andrade Professor da Faculdade de Agronomia UNEB

A utilização da silagem de Milho na alimentação de ruminantes. Aspetos nutricionais

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO GLICEROL PARA ALIMENTAÇÃO DE OVINOS

Quem vence é o que melhor se adapta

USO DE CO-PRODUTOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO E DA LAVOURA DE MANDIOCA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES. Jair de Araújo Marques CCAAB UFRB.

DEGRADABILIDADE IN VITRU DE CONCENTRADOS CONTENDO INCLUSÃO DO FARELO DO MESOCARPO DO BABAÇU EM DIETAS A BASE DE GRÃO DE MILHETO MOÍDO PARA BOVINOS

Semente de Algodão: fonte de riqueza industrial

GADO DE CORTE CONFINAMENTO

ESTRATÉGIAS DE SUPLEMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS A PASTO. Dr. Antonio Ferriani Branco Prof. Associado/DZO-UEM

CONFINAMENTO. Tecnologias, Núcleos e Fator P.

Utilização da cana-de na alimentação de ruminantes. Paulo R. Leme FZEA -2007

Programa Boi Verde Inovação tecnológica e qualidade para maior eficiência produtiva.

SILAGEM DE GIRASSOL. Ariomar Rodrigues dos Santos

Nutrição do Gado de Cria no Inverno e no Período Reprodutivo

Prof. Raul Franzolin Neto Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Universidade de São Paulo Campus de Pirassununga E_mail:

A marca que valoriza o seu rebanho

GANHO DE PESO DE CORDEIROS SUPLEMENTADOS COM NÍVEIS CRESCENTES DE TORTA DE GIRASSOL

Utilização da cana-deaçúcar na alimentação de ruminantes. Paulo R. Leme FZEA -2007

~~Jraê5r

Sergio Ricardo Queiroz Barbosa

Confira o que preparamos para você neste mês e leia até o final, temos certeza que são assuntos essenciais no campo como a Nogueira.

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PRODUTIVO DE TOURINHOS NELORE, ALIMENTADOS COM FARINHA AMILÁCEA DE BABAÇU, NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

EQUINOS RAÇÕES, SUPLEMENTOS MINERAIS E TECNOLOGIAS

A Mandioca na Alimentação Animal

Importância da qualidade de fibra na dieta de bovinos de leite e novos conceitos de fibra em detergente neutro - FDN

GADO DE CORTE LINHA PSAI E RAÇÃO

VALOR NUTRITIVO DE TORTAS E SEMENTES DE OLEAGINOSAS

Página 2 de 10 Valor estimado: R$ ,5000 para: SOLUTION AGRONEGOCIOS LTDA - ME - ME, pelo melhor lance de R$ ,0000. Itens do grupo: 12 - R

MOMENTO SILAGEM. #3 Interpretação de Análise Bromatológica

Manejo de pastagens Consumo de forragem

Metabolismo energético e digestão de amido em gado de leite: o que se sabe e que ferramentas podem melhorar o desempenho

EQUINOS RAÇÕES, SUPLEMENTOS MINERAIS E TECNOLOGIAS

O QUE PESQUISAMOS PARA MELHORAR A EFICIÊNCIA DA PECUÁRIA. PROF. DR. JULIANO FERNANDES EVZ/UFG

Suplementação estratégica: recria e terminação em pastagem Ricardo Andrade Reis UNESP-Jaboticabal

PROBLEMAS DE PATAS EM VACAS LEITEIRAS/NOVILHOS

NRC Gado Leiteiro Nutrição para máxima eficiência produtiva e reprodutiva

COMPOSIÇÃO QUIMICA DE FARINHAS DE DIFERENTES ESPÉCIES DE INSETOS COMO INGREDIENTE PARA RAÇÃO ANIMAL

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Volumosos. Volumosos. Volumosos. Volumosos. Alimentos utilizados na alimentação Animal. Marinaldo Divino Ribeiro

Desempenho de novilhas Gir suplementadas durante o período seco em pastagem de capim-marandu

Curso de Pós-Graduação em Estratégias Integradas para Pecuária de Corte: Produção, Eficiência e Gestão

GADO DE LEITE. Tecnologias, suplementos, e Fator P.

CUSTO DE PRODUÇÃO DE TOURINHOS NELORE ALIMENTADOS COM DIETAS À BASE DE FUBÁ OU MILHO DESINTEGRADO COM PALHA E SABUGO (MDPS) Introdução

Classificação de Suplementos. Bruno Marson Zootecnista MSc.

IN 100 NC 40 Núcleo 60 ADE 90 ADE Equilíbrium Probio Alkamix PP 80 Pro-Biotina Complet

NÍVEIS DIETÉTICOS DE PROTEÍNA BRUTA SOBRE A DIGESTIBILIDADE DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM TROPICAL

7,1% SISTEMAS DE ENGORDA LOCALIZAÇÃO DOS MAIORES CONFINAMENTOS DO BRASIL UTILIZAÇÃO DO CONFINAMENTO NA BOVINOCULTURA DE CORTE

AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E NUTRICIONAL NO DESEMPENHO PRODUTIVO DE VACAS DA RAÇA HOLANDÊS

Estágio Extracurricular - Suinocultura

Uma das maneiras de reduzir os efeitos da

SILAGEM DE GRÃOS ÚMIDOS GIOVANI RODRIGUES CHAGAS ZOOTECNISTA

Batata doce na alimentação de ruminantes

Alimentos e Alimentação Para Bovinos. Sistemas de Recria e Terminação. Ricardo Zambarda Vaz

Cana-de-açúcar na alimentação de vacas leiteiras. Lucas Teixeira Costa Doutor em Zootecnia

Felipe Couto Uchoa Eng. Agr. M.Sc

Regulação do ph ruminal e as consequências nutricionais do ph ácido Apresentador: Carlos Guerra e Mauri Mazurek Orientação: Bárbara Scherer

Sistema de Embalagem Avançado

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Nome dos autores: Rafael de Sousa Carneiro Rafael de Sousa Carneiro 1 ; Glauco Mora Ribeiro 2

PRODUÇÃO ANIMAL TENDO COMO BASE ALIMENTAR A PALMA FORRAGEIRA

EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEOS DE GIRASSOL E PEIXE NA FERMENTAÇÃO RUMINAL EM DIETAS DE ALTO CONCENTRADO EM OVELHAS

RAÇÃO ALGOMIX SUÍNOS PRÉ-INICIAL

Produtividade: Interação entre Adubação Fosfatada de Pastagens e Suplementação Mineral

Ruminantes. Ovinicultura e caprinicultura: Alimentação e Nutrição. Bovinos Ovinos Caprinos. Bufalos Girafas Veados Camelos Lamas

Defesa de Estágio Extracurricular em Nutrição de Bovinos Leiteiros

SUPLEMENTO PROTEICO ENERGÉTICO PARA OVINOS CONSUMINDO FORRAGEM DE BAIXA QUALIDADE: DIGESTIBILIDADE

TECNOLOGIAS APLICADAS PARA INTENSIFICAR O SISTEMA DE PRODUÇÃO

Manejo nutricional de vacas em lactação

Alimentos Alternativos disponíveis no Nordeste para Alimentação de Aves Tipo Caipira

Pesquisa e desenvolvimento para aproveitamento da torta de pinhão-manso na alimentação animal

GADO DE CORTE LINHA BRANCA

TERMINAÇÃO. Sistemas de produção de carne no Brasil Sistema de 2010 (x 1000) 2010 (%) Sistemas de Produção 11/03/2015

TORTUGA. A MARCA PARA RUMINANTES DA DSM. Só a DSM tem proteinados com Minerais Tortuga. Por isso ela é única.

Gado de Leite. NRC Gado Leiteiro. Nutrição para máxima eficiência produtiva e reprodutiva. Antonio Ferriani Branco

Número PP002/2015. Fornecedor. Pregão. Unidade Requisitante UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA - CAMPUS VITORIA DA C

Importância das Pastagens na Produção de Leite dos Campos Gerais

Transcrição:

Subprodutos do Algodão na Alimentação de Ruminantes Fernanda Barros Moreira Setembro, 2008

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=356>. Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores Copyright 2008 para PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico, ou qualquer outra forma ou meio sem a permissão expressa e por escrito do PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. ISSN 1982-1263.

Sumário: 1. Introdução... 4 2. Origem dos Subprodutos do Algodão... 7 3. Toxicidade... 11 4. Caroço de Algodão... 15 4.1 Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida... 16 4.2 Caroço de algodão como fonte de fibra efetiva... 22 4.3 Caroço de algodão para ovinos... 30 4.4 Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto... 32 4.5 Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído?... 38 5. Casca de algodão... 39 6. Farelo de algodão... 47 7. Conclusão... 57 Referências bibliográficas... 58

1. Introdução: O algodão é uma das culturas de aproveitamento mais completo, podendo gerar desde fibras têxteis, óleo e diversos subprodutos utilizados na alimentação animal. Atualmente, o algodão veste grande parte da humanidade e deverá ser bem mais significativo nos próximos anos, com a conscientização da necessidade de preservação do meio ambiente, escassez de petróleo (fonte de fibras sintéticas) e a crescente demanda por produtos naturais. O algodoeiro é cultivado, no Brasil, em três macro-regiões: Norte Nordeste (Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia); Centro Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás); Sul Sudeste (São Paulo, Paraná e Minas Gerais). Cada região é caracterizada por um sistema de produção, desde pequenas áreas praticadas pela agricultura familiar, até grandes áreas caracterizadas pelo alto nível tecnológico. Em meados de 80, uma praga - o bicudo, (Anthonomus grandis) - alastrou-se pelo Brasil, destruindo completamente as plantações de algodão em boa parte do País. Além disso, no início da década de 90, ocorreu a liberalização das taxas de importação. Como conseqüência, as indústrias passaram a importar a fibra do algodão de outros países, com a oferta de preços mais baixos. O resultado foi o abandono da cultura pelos agricultores, resultando em amplo prejuízo econômico. No Paraná, a área plantada caiu de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para menos de 40.000 hectares em 2001.

Figura 1: Bicudo, principal praga do algodoeiro em todo o mundo. Disponível em www.camposdejulio.mt.gov.br Com a abertura do cerrado brasileiro para a produção de grãos, a cultura do algodão passou a representar uma alternativa para rotação com a soja, o que despertou nos produtores daquela região uma grande oportunidade de negócios. Hoje, o cerrado responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, uso de tecnologias modernas, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura, associado a programas de incentivos implementados pelos estados da região. Com isso, o cerrado brasileiro detém as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas. Figura 2: Cultura do algodão no cerrado. Disponível em www.indea.mt.gov.br

Segundo estimativas do 10º Levantamento da Safra de Grãos feito pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), divulgado no dia 03 de julho de 2007, a área plantada de algodão para a safra 2006/07 está estimada em 1,09 milhão de hectares, 27,2% maior que a área plantada na safra 2005/06. Com os incentivos à produção de biodiesel no Brasil, a expectativa é que a produção de algodão suba ainda mais. O algodão apresenta vantagens em relação a outras culturas como a mamona, uma vez que a torta de algodão gerada como subproduto do biodiesel pode ser utilizada na alimentação de ruminantes, o que não acontece com a torta de mamona, devido à toxicidade. Segundo a coordenadora de projetos do Pólo Nacional de Biocombustíveis da Universidade de São Paulo (USP), Catarina Riodrigues Pezzo, o biodiesel mais viável e barato produzido no País é o do caroço do algodão. Custa R$ 0,81 o litro e sai da Região Nordeste. Em seguida é o de soja, produzido na Região Centro-Oeste, a R$ 0,90 o litro. Segundo Catarina, o algodão vence por fatores como facilidade de acesso e por resultar na produção de subprodutos com valor de mercado. O algodão, além de produzir biodiesel e servir para a indústria têxtil, gera subprodutos como a casca e o farelo, que serve para a ração animal e tem valor de mercado. Diante deste cenário, diversas empresas já anunciaram a implantação de usinas para extração de biodiesel a partir do algodão. Como conseqüência, pode-se prever um aumento na disponibilidade de subprodutos do algodão, principalmente casca e farelo, no mercado, levando à expectativa de queda no custo destes subprodutos.

2. Origem dos subprodutos do algodão: A cultura do algodão é capaz de originar diversos produtos, desde os diretos como a pluma e o óleo, até os subprodutos como o caroço, casca, torta e farelo de algodão. Além de fornecer a pluma e o óleo, o algodoeiro é capaz de fornecer um suplemento protéico de boa qualidade nutricional, utilizado principalmente na alimentação de ruminantes. A semente do algodão é colhida juntamente com a pluma ou línter. Quando se faz a separação da pluma, sobra o caroço do algodão (Figura 3). Com a quebra do caroço, é separada a amêndoa da casca. Da amêndoa é extraído o óleo, gerando como subproduto a torta de algodão. Já as cascas geradas pela quebra do caroço do algodão resultam na formação do subproduto casca de algodão (Figura 4). O fluxograma dos sub-produtos do algodão está representado na Figura 5. Figura 3: Caroço de algodão Figura 4: Casca de algodão

Figura 5: Fluxograma de produtos do algodão e sua utilização. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/algodao/algodaoagricultur afamiliar/subprodutos.htm Em função do tipo da extração, podem-se produzir dois tipos de torta: a torta gorda (5% de óleo residual) de característica mais energética, proveniente apenas da prensagem mecânica, porém com menor teor de proteína; torta magra (menos de 2% de óleo residual) oriundo da extração por solventes, apresenta concentração relativamente

maior de proteína e menor densidade energética (Araújo et al., 2003; Tabela 1). Tabela 1. Composição química média da torta de algodão obtida pelos dois métodos de extração. Substância Extração mecânica Extração por solvente Matéria seca (%) 92,3 89,1 Proteína bruta (%) 46,1 47,6 Extrato etéreo (%) 4,6 2,2 Fibra bruta (%) 11,4 11,2 Cinzas (%) 7,2 7,5 Minerais (macro e micro) Cálcio (%) 0,21 0,22 Magnésio (%) 0,65 0,66 Fósforo (%) 1,14 1,20 Potássio (%) 1,68 1,72 Sódio (%) 0,007 0,14 Enxofre (%) 0,43 0,44 Cobre (mg/kg) 10,9 12,5 Ferro (mg/kg) 106 126 Manganês (mg/kg) 18,7 20,1 Molibdênio (mg/kg) 2,4 2,5 Zinco (mg/kg) 62,8 63,7 Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al. (2003).

A torta de algodão, após a moagem, resultará no farelo de algodão. O farelo pode ser feito apenas de torta, ou quando misturado às cascas de algodão, dará origem ao farelo de algodão com casca. A mistura de diferentes proporções de casca dará origem a farelos com diferentes teores de proteína bruta e fibra. Quanto maior a proporção de casca, menor o teor de proteína bruta e maior o teor de fibra no farelo (Tabela 2). Conforme determinação do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, o teor de fibra bruta do farelo de algodão não deve ser superior a 25%. No mercado, é possível encontrar farelo de algodão com teores de proteína bruta que variam de 25% (máximo de adição de casca à torta) até 50% (moagem da torta sem adição de casca). Tabela 2. Composição de subprodutos do algodão usados na como matéria-prima na ração animal. Subproduto Farelo (solvente) tipo 50 Farelo (solvente) tipo 40 Farelo c/ casca tipo 30 Farelo c/ casca tipo 25 Casca algodão de Umidade (máx.) Proteína bruta (mín.) Composição (%) Extrato etéreo (mín.) Fibra bruta (máx.) Cinzas (máx.) 12 50-8 6 12 40 2 15-16 6 10 30 2 23 6 12 25-25 7,5 10 3-3,5-40-44 3 Fonte: Brasil (1989), citado por Araújo et al. (2003)

3. Toxicidade: As limitações ao uso dos subprodutos do algodão são decorrentes principalmente da presença do gossipol. Este é um aldeído polifenólico, de cor amarelada, que pode estar na forma livre ou ligada a aminoácidos. No grão intacto, o gossipol se apresenta na forma livre, mas no farelo ele está principalmente ligado às proteínas, em função do processamento do grão para a retirada do óleo (Tabela 3). Tabela 3. Teor médio de gossipol em subprodutos do algodoeiro Substância (%) Farelo de algodão prensado solvente Caroço de algodão Cascas de algodão Gossipol total 1,09 1,16 0,66 0,107 Gossipol livre 0,06 0,14 0,68 0,049 Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al. (2003). O gossipol livre é que apresenta toxicidade. No entanto, quando ele se liga a aminoácidos livres ou ao ferro ocorre diminuição de sua toxicidade. Os monogástricos são susceptíveis à intoxicação por gossipol, por isso seu uso está principalmente relacionado à dieta de ruminantes. Os ruminantes, com a população microbiana do rúmen desenvolvida, são capazes de inibir a toxicidade do gossipol livre. O gossipol não será metabolizado pelos microrganismos do rúmen, mas o ambiente ruminal favorece a ligação do gossipol com aminoácidos, o que dificulta sua absorção, e, por conseqüência, sua ação tóxica. A toxicidade do gossipol está relacionada com dificuldade em transportar oxigênio pelo sangue, além de prejudicar o funcionamento reprodutivo dos machos, levando à disfunção testicular.

Alguns trabalhos foram desenvolvidos com a finalidade de avaliar os efeitos do gossipol no desempenho de ruminantes e, assim, poder estabelecer os limites máximos de ingestão diária. Há relatos de que para vacas de alta produção (mais de 40 kg/dia), o fornecimento de dieta com 12% de caroço de algodão e 16% de farelo de algodão não prejudicou a produção de leite. Em trabalho com diferentes níveis de gossipol livre (originado do caroço de algodão) e de gossipol ligado (originado do farelo de algodão), Mena et al. (2004) avaliaram não somente os efeitos sobre a produção e qualidade do leite, mas também sobre o funcionamento dos rins, fígado e músculos de vacas de leite alimentadas com diferentes subprodutos do algodão. Os autores testaram três níveis de ingestão de farelo de algodão associado a três níveis de ingestão de caroço de algodão. O nível de ingestão de gossipol variou de 0 a 1894 mg/kg de matéria seca da dieta/dia (Tabela 4). Tabela 4: Ingredientes e composição química da dieta para vacas de leite alimentadas com diferentes níveis de subprodutos do algodão: % na matéria seca Dietas A B C D E Feno de alfafa 48 52 45,5 48,7 38 Milho 43,5 31,5 44,5 38 38,5 Farelo de soja 5,5 0 0,5 0,5 0 Caroço de algodão 0 13,5 0 6,8 13,5 Farelo de algodão 0 0 7 3,5 7 Tampão 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 Vitaminas + minerais 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 PB 16,4 16,3 15,4 14,8 16,6 EE 3,4 5,6 3,4 4,5 5,6 FDN 41,6 42,3 40,3 38,9 40,3 Gossipol total mg/kg 0 931,50 924 944,7 1894,3 Gossipol livre mg/kg 0 850,5 91 479,3 960,40 Adaptado de Mena et al., (2004).

Os autores observaram que o fornecimento de 13,5% de caroço de algodão e 7% de farelo de algodão não prejudicou o funcionamento dos órgãos e tecidos testados. Ademais, estes alimentos foram capazes de favorecer a produção de leite. (Tabela 5). Em função destes resultados, os autores concluíram que o fornecimento de até 64 mg de gossipol total/kg de peso vivo não prejudica o desempenho de vacas de leite. Tabela 5: Produção de leite e consumo de matéria seca de vacas alimentadas com diferentes níveis de ingestão de gossipol total: Consumo de MS kg/dia Consumo de gossipol mg/kg PV/dia Produção de leite kg/dia Produção de leite Corrigido 3,5% Dietas A B C D E 20,7b 21,1ab 21,4ab 21,7ab 22,7a 0c 31,16b 31,96b 31,65b 63,88a 28,6b 30,8ab 30,8ab 31,1ab 32,6a 27,5b 29,8ab 28,6b 29,7ab 31,0a % gordura no leite 3,27 3,31 3,08 3,28 3,24 Adaptado de Mena et al. (2004). Apesar da possibilidade de utilização dos subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes, alguns destes alimentos não devem ser utilizados em: bezerros em que o rúmen ainda não esteja completamente desenvolvido touros em reprodução. Smalley e Bicknell (1982) reportou um caso de infertilidade temporária em touros alimentados com caroço de algodão (3,63 Kg/dia) e farelo de algodão (1,36 Kg/dia). Leighton et al ( 1953 ) trabalhando com

bezerros com idade de 1 dia aos 6 meses, alimentados com concentrado com 90% de caroço de algodão, causou a morte de alguns animais, detectando a taxa de gossipol livre variando de 0,027 a 0,68%. Diante disto, o caroço de algodão não é recomendado para bezerros devido a grande susceptibilidade dos não ruminantes à toxicidade do gossipol. Dentre os diferentes subprodutos do algodão, o caroço é o que apresenta maior limitação quanto ao uso em touros e bezerros, uma vez que neste alimento o teor de gossipol livre é mais alto, quando comparado ao farelo ou às cascas de algodão (Tabela 3). Quanto maior o teor de gossipol livre, maior a absorção pelo trato gastrointestinal, maior será o efeito tóxico.

4. Caroço de algodão: O caroço de algodão é um alimento rico em proteína (média de 22% na MS) e com alta densidade energética, em função dos níveis elevados de extrato etéreo (média de 20% na MS) (Tabela 6). Observa-se que a utilização do caroço de algodão na dieta de ruminantes é bastante difundida, o que ocorre basicamente pelas seguintes vantagens do caroço: Fonte de proteína verdadeira de baixa degradação no rúmen; Alimento de alta densidade energética; Fonte de gordura insaturada naturalmente protegida; Fonte de fibra efetiva; Tabela 6. Análise bromatológica do caroço de algodão encontrado por diferentes autores: Composição Bromatológica do Caroço de algodão Autores MS PB FB EE MM FDN FDA Cunha et al., 1998 Rogério et al., 2002 Teixeira et al., 2002 ElNemari Neto et al., 2003 % % na matéria seca 92 20 21 19 3 - - 89 26-21 5 40 29 92 22 - - - 48-83 22 31 18 4 43 39 Jorge, 2005 94 23-19 - 51 39 Teixeira e Borges, 2005 Melo et al., 2007-23 - 23-43 26 93 21-21 - 33 Média 90 22 26 20 4 45 33 MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido.

4.1: Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida: Por seu um alimento rico em lipídeos, o caroço de algodão não deve ser fornecido à vontade, uma vez que altos níveis de lipídeos na dieta de ruminantes podem provocar alterações no ambiente ruminal, o que poderá comprometer o desempenho do animal. Os lipídeos, ao entrarem no rúmen, apresentam efeito deletério sobre os microrganismos que degradam a fibra (bactérias gram + e protozoários). O mecanismo exato da toxicidade dos lipídeos sobre estes microrganismos ainda não está claro, mas acredita-se que esteja relacionado à barreira que os lipídeos fazem ao redor das partículas de alimento, prejudicando a colonização e degradação microbiana (Van Soest, 1994). Por isso, recomenda-se que o nível de gordura na dieta de ruminantes não ultrapasse 7 a 8% na matéria seca. Dentre as fontes de gordura, aquelas que apresentam maior porcentagem de ácidos graxos insaturados são mais tóxicas ao ambiente ruminal quando comparadas às gorduras ricas em ácidos graxos saturados. È por isso que fontes de óleos vegetais apresentam maior toxicidade quando comparadas às fontes de gordura animal. Como mecanismo natural de defesa, os microrganismos ruminais desempenham a biohidrogenação, que nada mais é do que a adição de íons hidrogênio aos ácidos graxos, de forma à diminuir o número de ligações insaturadas, tornando estes ácidos graxos menos tóxicos (Figura 6). No entanto, a biohidrogenação não é completa, de forma que parte da gordura se mantém na forma insaturada, prejudicando assim os microrganismos ruminais.

Figura 6: Esquema geral do metabolismo de lipídeos pelos microrganismos ruminais. Fonte: Nagaraja et al. (1997) Uma alternativa para se diminuir o efeito deletério da gordura sobre o ambiente ruminal seria a utilização de fontes de gordura de baixa degradação no rúmen (gordura protegida). Existem no mercado algumas opções de gordura protegida, como o Megalac e o Lac100. No entanto, muitas vezes, o custo destes produtos inviabiliza seu uso. Existem também as fontes de gordura naturalmente protegidas, como é o caso do caroço de algodão. Uma vez que a gordura está presente na amêndoa do algodão e, no caroço, a amêndoa está protegida pela casca, a liberação dos lipídeos no ambiente ruminal será mais lenta,

de forma a diminuir os efeitos deletérios sobre os microrganismos ruminais. É por isso que vários trabalhos foram desenvolvidos com a finalidade de determinar qual a quantidade máxima de caroço de algodão que poderia ser utilizada na dieta de ruminantes sem que houvesse o comprometimento da função ruminal. Valinote et al. (2005) observaram queda na população de protozoários no rúmen quando trabalharam com dietas ricas em concentrado (81%) e com alto teor de extrato etéreo (9% na MS). Estes autores utilizaram como fonte de lipídeo, o caroço de algodão, no nível de 21% da dieta total. Uma vez que os protozoários são elementos importantes na degradação da fibra, principalmente quando a dieta é rica em concentrados, os mesmos autores sugerem que a mesma dieta poderia apresentar uma baixa digestibilidade da fibra, em função do elevado teor de lipídeos (9% na MS). No entanto, para dietas com alto teor de concentrado (81%) Valinote et al. (2006) observaram que a degradabilidade efetiva da FDN não foi prejudicada pela presença do caroço de algodão na dieta, dentro dos mesmos níveis acima citados (21% de caroço de algodão; 9% de extrato etéreo na matéria seca da dieta). Estes autores observaram para a dieta controle (sem caroço de algodão, com 4,9% de extrato etéreo) a degradabilidade da FDN da cana-de-açúcar foi de 52,25% e, para a dieta com caroço de algodão, a degradabilidade foi de 51,25%. Em outro experimento, mas com dietas muito semelhantes às utilizadas pelos autores acima citados, Aferri et al. (2005) avaliaram o efeito da inclusão de caroço de algodão (21% na matéria seca da dieta total) em dietas de bovinos alimentados em confinamento com 81% de concentrado em comparação a dieta controle (sem adição de fonte lipídica) ou suplementado com uma fonte de gordura protegida (LAC

100 ). A Tabela 7 representa a porcentagem de ingredientes na dieta e seus teores de proteína bruta e NDT. Tabela 7: Ingredientes e composição química da dieta de novilhos alimentados com diferentes fontes de lipídeos: % na matéria seca LAC 100 Caroço de algodão Cana-de-açúcar (planta inteira) Controle 19,00 19,00 19,00 Farelo de soja 14,00 9,00 12,50 Milho em grão 26,54 21,18 29,36 Polpa cítrica 33,61 26,82 37,19 LAC 100 5,00 - - Caroço de algodão - 21,00 - Uréia 0,85 0,50 0,95 Calcáreo - 1,50 - Sal mineral 1,00 1,00 1,00 Rumensin 0,027 0,027 0,027 PB 14,40 14,22 14,44 NDT 81,98 77,89 77,11 Adaptado de Aferri et al., 2005 Os autores não observaram diferença no ganho de peso e na ingestão de matéria seca quando comparados ao grupo controle (sem ingestão de caroço de algodão). O nível de extrato etéreo da dieta era de 8,25% na MS (Tabela 8). Estes resultados apenas confirmam a possibilidade de utilização de até 21% de caroço de algodão na dieta de bovinos sem que haja o prejuízo para a fermentação ruminal, mesmo que os níveis de extrato etéreo da dieta estejam entre 8 a 9% na MS.

Tabela 8: Desempenho de novilhos alimentados com diferentes fontes de lipídeos: LAC 100 Caroço de algodão Controle Peso vivo inicial, kg 354 348 362 Peso vivo final, kg 430 428 444 Ganho médio, kg/dia 1,107 1,169 1,204 Ingestão de MS kg/dia Ingestão de MS % PV 8,12b 9,49a 9,20ab 2,08b 2,45a 2,29ab Conversão alimentar 8,03 8,38 7,86 Adaptado de Aferri et al., 2005 Nos trabalhos de Valinoti et al. (2005 e 2006) e de Aferri et al. (2005), os bovinos foram alimentados com dieta rica em concentrado (81%). No entanto, para dietas com maior proporção de volumoso, qual seria o limite máximo de caroço de algodão na dieta, uma vez que o nível de extrato etéreo do concentrado é maior do que do volumoso? Prado et al. (1995) avaliaram dois níveis de caroço de algodão (15 e 30%) em dietas com cana-de-açúcar ou capim elefante como fonte de volumoso para novilhos Nelore terminados em confinamento. O ganho de peso foi semelhante para os dois níveis de caroço (0,95 e 0,90 kg/dia), assim como não houve diferença na ingestão de matéria seca (11 e 9 kg/dia para os níveis 15 e 30%). Assim, Prado e Moreira (2002) recomendam a utilização de caroço de algodão para bovinos em confinamento no nível máximo de 30% de

caroço na dieta total. Os mesmos autores salientam que o sabor e o aroma da carne poderiam estar comprometidos com a utilização de altos níveis de caroço na dieta (acima de 30%). Esta alteração poderia estar associada à presença de alguns ácidos graxos característicos do caroço de algodão na carne do animal, o que geraria sabor e odor característicos.

4.2. O caroço de algodão como fonte de fibra efetiva: O caroço de algodão também tem sido utilizado como fonte de fibra efetiva para vacas em lactação alimentadas com altos níveis de concentrado. Em função de seus maiores teores de FDN quando comparado a outras fontes de concentrados, o caroço de algodão pode estimular a atividade mastigatória, garantindo um maior aporte de fibra efetiva para dietas ricas em concentrado. A dieta de vacas de leite deve conter uma quantidade mínima de fibra. A quantidade e a qualidade da fibra irão desempenhar as seguintes funções: capacidade para maximizar o consumo de nutrientes, permitir atividade mastigatória ótima, manter a fermentação ruminal dentro dos padrões da normalidade e, por fim, promover adequada porcentagem de gordura no leite. A efetividade da fibra pode ser medida por sua habilidade em manter a atividade mastigatória da vaca e capacidade em manter a produção de leite e a proporção de gordura no leite. Fibra efetiva é a fração do alimento capaz de estimular a atividade mastigatória, o que promove a secreção de saliva, resultando em maior capacidade tampão ao rúmen. Maior capacidade tampão, maior neutralização dos ácidos orgânicos produzidos durante a fermentação, amenizando problemas como: queda na atividade de microrganismos fibrolíticos; menor motilidade ruminal; menor digestibilidade da fibra; menor consumo de alimentos.

O caroço de algodão e a casca de algodão são subprodutos ricos em FDN, mas não FDN derivado de forragem. O FDN não derivado de forragem apresenta menor tamanho de partícula e maior gravidade específica, o que resulta em menor tempo de retenção do alimento no rúmen. Como conseqüência, há de se esperar uma queda na digestibilidade da fibra e uma menor produção de ácidos orgânicos no rúmen (Allen e Grant, 2000). Diversos trabalhos têm demonstrado que o caroço de algodão apresenta boa capacidade em manter a atividade mastigatória, o que resultaria em uma fonte de fibra efetiva. Harvatine et al (2002) demonstraram que o FDN do caroço de algodão é 84% tão efetivo quanto o FDN do feno de alfafa, sugerindo que a utilização de até 15% de caroço de algodão em dietas com baixos teores de FDN de origem forrageiro não representa limitações quanto à capacidade em estimular a atividade mastigatória e, portanto, é capaz de manter o funcionamento adequado do ambiente ruminal. O caroço de algodão pode então ser utilizado em vacas leiteiras com a finalidade de aumentar a densidade energética da ração além do caroço servir como fonte de FDN não derivado de volumoso. Slater et al. (2000) avaliaram o efeito da substituição do FDN da forragem pelo FDN presente em resíduos como a casca de soja ou o caroço de algodão em dietas para vacas leiteiras após o terço inicial de lactação. Foram testadas quatro dietas experimentais: Dieta com FDN exclusivo de origem forrageiro (silagem de milho e silagem de alfafa); Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de FDN e milho como fonte de concentrado energético;

Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de FDN e milho e trigo como fontes de concentrados energéticos; Dieta com inclusão de caroço de algodão como fonte parcial de FDN. A proporção de ingredientes da ração e a composição química das dietas utilizadas estão apresentadas na Tabela 9. Tabela 9: Ingredientes e composição química de dietas para vacas leiteiras após o terço inicial de lactação: % na matéria seca 18 FDN 14 FDN 14 FDN trigo 10 FDN caroço de algodão Silagem de alfafa 16,8 13,6 13,6 9,2 Silagem de milho 27,2 20,3 20,4 13,6 Milho 30,6 22,9 13,8 27,2 Trigo - - 13,8 - Farelo de soja 15,9 12,5 8,8 10 Casca de soja 3,4 23 23 23,9 Caroço de algodão - - - 11 Glútem de milho 0,28 1,80 0,5 0,9 Farinha de sangue 1,83 2,03 2,02 2,02 Sebo 1,95 1,97 1,96 - Calcáreo 1,18 1,10 1,14 1,34 Premix mineral e vitamínico 0,86 0,88 0,92 0,84 PB 17,2 17,9 18,4 17,6 FDN dieta 27,5 32,7 33,9 35,6 FDN forragem 17,8 14,0 13,9 9,4 EE 4,03 3,97 3,92 4,20 Tamanho de partículas mm 2,99 Adaptado de Slater et al., 2000

Os autores observaram que o consumo de MS/dia foi maior para as vacas alimentadas com caroço de algodão, o que resultou também em maior produção de leite por dia. No entanto, a porcentagem de gordura no leite foi menor para as vacas alimentadas com caroço de algodão, de forma que a produção de gordura por dia foi semelhante entre os tratamentos (Tabela 10). Tabela 10: Desempenho e proporção de AGV no rúmen de vacas alimentadas com diferentes proporções de FDN de origem da forragem: Item 18 FDN 14 FDN 14 FDN trigo Comsumo de MS 10 FDN caroço de algodão Kg/dia 22,5b 22,9b 21,9b 25,0a % PV 3,77b 3,87b 3,63b 4,18a Consumo FDN Kg/dia Consumo FDN forragem, kg/dia Produção de leite 6,32c 7,61b 7,44b 8,57a 4,02a 3,22b 3,01b 2,38c Kg/dia 32,8c 33,4b 34,5b 35,6ab Kg/dia corrigido 3,5% 33,1 33,5 32,9 34,3 % gordura 3,53a 3,62a 3,26b 3,35b Gordura g/dia Proteína g/dia Proporção de AGV 1163 1177 1110 1165 1088b 1081b 1135a 1155a Acetato 58,9b 61,6a 62,4a 59,4b Propionato 25,5a 21,8b 22,0b 25,5a Butirato 11,2b 12,7a 11,8ab 11,0b A:P 2,42bc 2,90ab 2,94a 2,37c Adaptado de Slater et al., 2000

Os autores justificaram o aumento na produção de leite pelo aumento no consumo de matéria seca para dietas com caroço de algodão. No entanto, o fator responsável pela diminuição na porcentagem de gordura no leite não foi encontrado. Sabe-se que quando o nível de FDN efetivo cai na dieta, ocorre uma diminuição no teor de gordura no leite. Várias teorias foram desenvolvidas para explicar essa queda. A menor relação acetato:propionato no rúmen para dietas com baixo FDN efetivo tem sido uma das teorias. No entanto, os autores acima citados avaliaram a quantidade e a proporção de ácidos graxos voláteis no rúmen, e observaram que a dieta com caroço de algodão apresentou valores muito semelhantes à dieta com fibra oriunda da forragem (Tabela 10). Outra teoria é a de que quando da utilização de fibras com tamanho de partícula maior, o ruminante deveria gastar mais tempo mastigando e ruminando o alimento, de forma que resultaria em menos problemas digestivos e menor probabilidade de queda no teor de gordura no leite. Novamente, os autores acima avaliaram o tamanho de partículas da dieta e o tempo mastigando, observando que embora o tamanho de partículas fosse menor para as dietas com os subprodutos (casca de soja ou caroço de algodão), não houve diferença no tempo gasto mastigando o alimento. Estes resultados apenas demonstram que a redução no teor de gordura no leite não pode ser explicada, simplesmente, pela alteração de proporção de ácidos graxos no rúmen, pela redução do tamanho de partículas do alimento ou pela diminuição no tempo de mastigação. Outros fatores, ainda desconhecidos, podem influenciar o teor de gordura no leite.

Considerando uma dieta para vacas de leite com apenas 23% de volumoso, há de se esperar que a porcentagem de gordura no leite possa ser comprometida. No entanto, a porcentagem de gordura no leite observada pelos autores acima citados é considerada dentro dos padrões da normalidade (3,26 a 3,62%). Uma vez que a porcentagem de volumoso na dieta foi baixa (23%), o que estaria contribuindo como fonte de fibra efetiva para que não ocorresse o comprometimento do teor de gordura no leite? A resposta está basicamente em dois ingredientes da ração: a casca de soja e o caroço de algodão. Estes resultados confirmam então a possibilidade de redução da utilização de volumosos na dieta de vacas de alta produção, sem que ocorra prejuízo para a qualidade do leite. Para isso, é necessária a suplementação com outras fontes de fibra efetiva, o que poderia vir de resíduos como a casca de soja, casca de algodão ou caroço de algodão. Segundo o NRC (1989), a dieta para vacas de leite deveria ter ao menos 25% de FDN, sendo que 75% do FDN deveriam vir da forragem (feno, pasto, silagem). No entanto, pelo NRC (2001) já existe uma variação nos níveis mínimos de FDN e de FDN de origem da forragem. O NRC recomenda FDN mínimo na dieta entre 25 a 33% e FDN de origem da forragem entre 19 e 15%, de forma que quanto menor o nível de FDN de origem na forragem, maior deverá ser o nível mínimo de FDN total. Diante dos resultados de Slater et al. (2000), pode-se sugerir que o caroço de algodão pode substituir parcialmente a forragem da dieta de vacas leiteiras, podendo chegar até 10% de FDN de origem de forragem. Este é um resultado importante para a formulação de dietas para vacas de alta produção, uma vez que com a utilização do caroço de

algodão, torna-se possível aumentar a densidade energética da ração, o que poderia resultar em maior consumo de nutrientes, associado à maior produção de leite. Em outro trabalho, Melo et al. (2007) avaliaram níveis crescentes de inclusão do caroço de algodão, em dietas para vacas de leite. Os autores testaram o caroço de algodão nos níveis 0; 6,25; 12,50; 18,75 e 25,00 para dietas com proporções de volumoso entre 56 a 41%. À medida que se aumentava a proporção de caroço de algodão na dieta, diminuía-se a proporção de volumoso (silagem de sorgo) (Tabela 11). Tabela 11: Ingredientes e composição química de dietas para vacas leiteiras alimentadas com níveis crescentes de caroço de algodão: % na matéria seca Dietas Palma forrageira (Forage cactus) 0 6,25 12,50 18,75 25,00 28,92 29,46 29,21 28,74 29,29 Silagem de sorgo 27,27 23,68 19,54 15,84 12,13 Caroço de algodão 0 6,25 12,72 19,39 25,43 Farelo de soja 23,88 20,90 18,66 16,08 13,27 Fubá de milho 18,91 18,70 18,86 18,93 18,58 Premix mineral 1,02 1,01 1,02 1,02 1,01 PB 17,30 16,89 16,85 16,68 16,29 EE 2,25 3,73 4,97 6,24 7,38 FDN cp 31,83 31,87 31,49 31,40 31,35 Adaptado de Melo et al. (2007).

Os autores observaram que o consumo de matéria seca e a produção de leite corrigida para 3,5% de gordura aumentaram de forma linear com o aumento do caroço de algodão na dieta (Tabela 12). Assim, em vacas de leite com dietas com até 41% de volumoso, seria possível a utilização de até 25% de caroço de algodão, sem prejuízo para a produção ou qualidade do leite. Tabela 12: Desempenho de vacas de leite submetidas a níveis crescentes de caroço de algodão na dieta Consumo de MS, kg/dia Produção de leite Dietas 0 6,25 12,50 18,75 25,00 Efeito 21,43 21,38 22,03 24,27 23,50 Linear kg/dia 29,5 30,24 31,25 32,67 32,27 NS Kg/dia corrigido 3,5% 26,7 28,12 30,22 30,74 31,68 Linear Gordura no leite, % 2,91 3,15 3,33 3,13 3,39 NS Adaptado de Melo et al. (2007). É difícil estabelecer qual o nível máximo de inclusão do caroço de algodão na dieta de vacas de leite. Os níveis de volumoso e de FDN de origem forrageiro da dieta devem ser considerados para estabelecimento de níveis máximos de caroço de algodão na dieta. Dietas com maior porcentagem de volumoso, no mínimo de 41%, é possível a utilização de até 25% de caroço. Já em dietas com alto teor de concentrado (77%), o nível de caroço deve ser menor (até 11%) para que o nível de extrato etéreo da ração não comprometa a digestão da fibra no rúmen.

4.3. Caroço de algodão para ovinos: Em trabalho com ovinos, Rogério et al. (2002) e Rogério et al. (2004) testaram níveis de inclusão de caroço de algodão integral (0, 12, 24, 35 e 45%) à dieta básica de feno de "Tifton 85" (Cynodon spp.). Os ovinos eram mantidos em gaiolas de metabolismo e alimentados com feno de tifton 85 suplementado com níveis crescentes de caroço de algodão. O nível de extrato etéreo da dieta com 45% de caroço de algodão chegou a 10,9%. O teor de proteína bruta das dietas variou de 7,81% para o nível 0 de caroço a 15,96% de PB para o nível 45% de caroço. O nível de FDN variou de 86,51% para o tratamento sem caroço de algodão até 65,46% de FDN para a inclusão de 45% de caroço de algodão. Os autores observaram que o consumo de proteína bruta e de extrato etéreo aumentou com a inclusão de caroço de algodão (Tabela 13). Como a dieta apresentava maiores teores de proteína e de extrato etéreo com a inclusão do caroço, resultou também em aumento no consumo destes nutrientes. No entanto, o consumo de matéria seca foi numericamente menor com o aumento do caroço (Tabela 13). Estes resultados sugerem um possível efeito negativo sobre o consumo de matéria seca quando da utilização de níveis superiores a 35% de caroço. Assim, os autores sugerem a inclusão de 24% de caroço de algodão, o que representava 7% de extrato etéreo na dieta. O coeficiente de digestibilidade da FDN foi prejudicado com a inclusão em níveis acima de 35% de caroço (Tabela 13). O caroço de algodão favoreceu a digestibilidade da matéria seca total da dieta. No entanto, níveis acima de 35% de inclusão podem prejudicar a digestibilidade da dieta por diminuir a digestibilidade da fibra. Com esses resultados, os autores indicaram o caroço de algodão para ovinos, desde que não ultrapasse os teores de 24% na ração total.

Tabela 13: Consumo e digestibilidade de nutrientes de dietas a base de feno de Tifton 85 associada a níveis crescentes de caroço de algodão, em ovinos: Nível de caroço de algodão 0 12 24 35 45 Consumo, g/kg 0,75 MS 72,29a 64,75a 72,30a 67,86a 60,53a PB 6,10b 6,75b 9,31a 10,15a 10,00a EE 1,92d 3,13c 5,23b 6,41a 6,82ª Digestibilidade, % MS 48,12b 52,54a 55,53a 54,74a 57,09a FDN 51,33a 50,89a 47,34a 40,30b 37,36b Adaptado de Rogério et al. (2002) e Rogério et al. (2004). Segundo Teixeira e Borges (2005), a digestibilidade da celulose começa a cair quando os níveis de caroço de algodão passam de 24%. Estes autores testaram níveis de caroço de algodão integral em ovinos alimentados com feno de Brachiaria decumbens. Diante dos resultados, observa-se que para ovinos, os níveis de caroço de algodão na dieta não devem estar acima de 25%, uma vez que níveis acima poderiam resultar em queda no consumo e na digestibilidade dos nutrientes e, por conseqüência, comprometimento do desempenho animal.

4.4. Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto: Resultados de pesquisa têm demonstrado que a suplementação a pasto pode ser uma alternativa para terminação de bovinos no período da entressafra, com algumas vantagens em relação ao confinamento: Não é necessário a produção e fornecimento diário de volumoso, uma vez que a forragem da pastagem já está disponível ao animal; Menor custo com instalações; Facilidade no transporte do alimento, pois apenas o concentrado precisa ser fornecido diariamente; Menor utilização de mão-de-obra. O caroço de algodão representa um alimento importante para ser fornecido a animais a pasto. Por ser uma fonte de gordura aliado à proteína, o uso do caroço pode resultar em maior desempenho de animais mantidos a pasto. Paulino et al. (2002) avaliaram diferentes fontes de proteína para uso em suplementos para novilhos mestiços Holandês/Zebu terminados em pastagem de Brachiaria decumbens, no período da seca (junho a setembro). Os autores testaram três fontes diferentes de proteína: farelo de soja; soja em grão ou caroço de algodão. Os ingredientes do suplemento e sua composição química estão apresentados na Tabela 14. Os animais eram suplementados com 4 kg da mistura por dia (média de 1% do peso vivo).

Tabela 14: Ingredientes e composição química de suplementos para novilhos terminados a pasto: % na matéria seca Farelo de soja Soja em grão Caroço de algodão Sal mineral 2 2 2 Uréia + Sulfato de amônia (9:1) 2,5 2,5 2,5 Farelo de soja 17 - - Soja em grão - 25 - Caroço de algodão - - 50 Milho triturado 78,5 70,5 45,5 PB 22,81 21,64 22,69 FDN 14,81 16,20 30,80 EE 3,20 7,89 12,16 Adaptado de Paulino et al. (2002). Os autores observaram que não houve diferença no ganho de peso para os alimentos testados (Tabela 15). É importante observar que apesar da pastagem disponível apresentar baixa qualidade nutricional (2,5% de proteína bruta e 75% de FDN), os animais chegaram ao peso de abate no final da entressafra, uma vez que os suplementos possibilitaram um ganho médio de 1 kg/animal/dia. Estes dados confirmam a possibilidade da utilização da suplementação a pasto para terminar novilhos no período da entressafra.

Tabela 15: Desempenho de novilhos terminados a pasto com suplementos de diferentes fontes protéicas: Farelo de soja Soja em grão Caroço de algodão Peso vivo inicial, kg 356 363 363 Peso vivo final, kg 462 461 457 Ganho médio diário, kg/dia 1,14 1,06 1,02 Rendimento de carcaça, % 53,61 52,21 53,04 Peso carcaça, kg 248 241 242 Adaptado de Paulino et al. (2002). El-Memari Neto et al. (2003) avaliaram o efeito da suplementação com três tipos de suplementos (amido, amido e gordura, gordura) e dois níveis de suplementação (0,7 e 1,4% do peso vivo) para novilhos Nelores terminados em pastagem de Brachiaria brizantha, no período de julho a dezembro. Como fonte de amido os autores utilizaram o milho em grão e como fonte de gordura, o caroço de algodão. A proporção dos ingredientes e a composição química dos suplementos podem ser visualizadas na Tabela 16. O suplemento com gordura e amido foi o resultou em melhor desempenho animal (Tabela 17). Quando comparados os dois níveis de suplementação (0,7 e 1,4%), o nível de 1,4% do peso vivo em suplementação, apesar de representar maior desempenho, não significou melhor retorno econômico, uma vez que o custo da suplementação não justificou este nível (Tabela 17). Estes resultados novamente comprovam a possibilidade de utilização do caroço de algodão em suplementos para bovinos a pasto.

Tabela 16: Ingredientes e composição química de suplementos para novilhos terminados a pasto: % na matéria seca Amido Óleo Amido e Óleo Caroço de algodão 0 39 20 Casca de soja 0 41,50 17,50 Farelo de trigo 2,5 10,5 8,8 Farelo de algodão 17,4 8,5 13,5 Milho 78 0 39 Uréia + AS 12N:1S 2,1 0,50 1,20 PB 21,85 20,60 21,40 FDN 26,92 43,69 34,97 EE 3,11 8,50 6,05 NDT 74 71 73 Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003) Tabela 17: Desempenho de novilhos terminados a pasto com suplementos de diferentes fontes de concentrado e dois níveis de suplementação: 0,7 e 1,4% do peso vivo: 0,7% de suplementação Amido Óleo Amido e Óleo Ganho de peso, kg/dia 0,457b 0,437b 0,572ª Dias para abate 205 197 157 Relação Benefício/Custo 0,83 1,20 1,79 1,4% de suplementação Ganho de peso, kg/dia 0,576b 0,611b 0,716a Dias para abate 156 147 126 Relação Benefício/Custo 0,69 1,06 1,26 Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003)

Em trabalho realizado no sul dos EUA, Poore et al. (2006) avaliaram o efeito da suplementação com caroço de algodão para novilhas mantidas a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do inverno. O nível de suplementação foi de 0,33% do peso vivo. O suplemento era composto por 80% de caroço de algodão e 20% de concentrado formado por farelo de soja e milho. Os pesquisadores utilizaram o concentrado (20% da mistura) para estimular as novilhas a consumirem o suplemento. O experimento foi realizado durante o inverno de dois anos consecutivos. Como resultado, foi observado um aumento no ganho de peso individual e no ganho por área em ambos os anos avaliados (Tabela 18). No primeiro ano, como a pastagem apresentava-se com melhor qualidade nutricional (proteína bruta entre 14 a 20%), houve um adicional de 100g/animal/dia para os animais suplementados. Já no segundo ano, como a pastagem apresentava menor qualidade nutricional (proteína bruta entre 12 a 14%), os animais suplementados apresentaram um ganho de 230 g/animal/dia a mais quando comparados com as novilhas não suplementadas (Tabela 18). Vale salientar que o experimento acima citado foi realizado nos EUA e, apesar de os animais estarem no período da entressafra, a pastagem estava em bom estado nutricional, principalmente no aspecto proteína bruta, uma vez que os teores observados estavam sempre acima da exigência em proteína bruta por novilhas. No entanto, no período da entressafra, para as condições brasileiras, na maioria das vezes, são observados baixos teores de proteína bruta na pastagem (normalmente de 4-9% de proteína bruta). Nesses casos, a utilização do caroço de algodão pode ser viável, mas deve estar associado

a uma fonte de proteína degradável no rúmen, o que pode ser parcialmente obtida a partir do nitrogênio não protéico. Tabela 18: Efeito da suplementação sobre o desempenho de novilhas mantidas a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do inverno Peso vivo inicial, kg Sem suplementação Com suplementação Ano1 264 267 Ano 2 257 256 Ganho médio diário, kg/dia Ano 1 0,46b 0,56a Ano 2 0,23b 0,46a Ganho por área, kg/ha Ano 1 223b 293a Ano 2 147b 318a Lotação, novilhas/ha Ano 1 5,87 6,35 Ano 2 7,84 8,40 Adaptado de Poore et al. (2006).

4.5. Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído? Outra dúvida freqüente quando do uso do caroço de algodão se deve à forma de administração do caroço: inteiro ou moído. Segundo Teixeira et al. (2002), a degradabilidade efetiva no rúmen da matéria seca, da proteína bruta e da FDN do caroço de algodão inteiro é menor quando comparado ao moído. O processo de moagem faz com que aumente a fração solúvel da matéria seca e da proteína bruta do caroço. Considerando que é interessante que a degradação do caroço de algodão seja lenta, para que a liberação de gordura no rúmen seja gradual, é recomendável a utilização do caroço de algodão inteiro, o que também irá contribuir por diminuir a toxicidade da gordura no ambiente ruminal e aumentar a quantidade de proteína não degradável da dieta. Assim, o caroço de algodão pode representar uma fonte extra de energia (em função do extrato etéreo), fonte de fibra efetiva para dietas ricas em concentrado (presença de maior quantidade de FDN quando comparado a outros grãos) e por fim, fonte de proteína de escape (proteína não degradável no rúmen). O caroço de algodão representa um ingrediente tecnicamente viável para utilização na dieta de ruminantes, tanto para bovinos de corte, leite, ovinos ou caprinos.

5. Casca de algodão: O subproduto casca de algodão se origina da quebra do caroço do algodão para a liberação da amêndoa. Representa a parte externa do caroço e pode conter quantidades variadas de línter aderido à casca. Isso ocorre em função de diferenças nas variedades de algodão ou na eficiência de retirada da pluma durante o processamento. Independente da quantidade de línter, a casca de algodão se caracteriza por ser rica em fibra (Tabela 19), por isso é considerado um volumoso para ser utilizado na dieta de ruminantes. Tabela 19. Análise bromatológica da casca de algodão encontrado por diferentes autores: casca de algodão Autores MS PB EE MM FDN FDA % % na matéria seca Jorge, 2005 92,2 10,9 3,3-83,7 62,3 Magalhães et al., 2005 88,1 8,2 5,3 2,7 78,0 - Chizzotti et al., 2005 87,4 8,1 2,9-79,0 61,7 Kazama, 2007 90,2 4,3 1,5 2,4 91,6 59,6 Média 89,5 7,9 3,25 2,5 83,1 61,2 MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido. Apesar do elevado teor de fibra, alguns autores observaram que o consumo de ração foi maior quando da utilização de casca de algodão como fonte de volumoso, o que pode estar associado à boa palatabilidade, à maior taxa de passagem de partículas, ou a características inerentes da fibra deste subproduto.

Chizzotti et al. (2005) avaliaram o consumo e a digestibilidade de dietas com níveis crescentes de casca de algodão peletizada como volumoso (0, 10, 20 e 30%) em substituição parcial à silagem de capimelefante, sendo a dieta total constituída de 60% de volumoso, na base seca (Tabela 20). Tabela 20: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes níveis de inclusão da casca de algodão: % na material seca Níveis de casca de algodão 0 10 20 30 Silagem de capim-elefante 60 50 40 30 Casca de algodão 0 10 20 30 Grão de sorgo 32,49 32,65 32,76 32,87 Farelo de soja 4,50 4,50 4,50 4,50 Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60 Sulfato de amônia 0,19 0,18 0,17 0,16 Sal comum 0,25 0,25 0,25 0,25 Fosfato bicálcico 0,10 0,10 0,10 0,10 Calcário 0,50 0,10 0,10 0,10 Premix mineral 0,02 0,02 0,02 0,02 PB 13,27 13,24 13,35 13,46 FDN 1 47,88 47,97 48,05 48,13 1 Corrigido para cinzas e proteína. Adaptado de Chizzotti et al. (2005). Os autores observaram um aumento linear no consumo de nutrientes com o aumento na proporção de casca de algodão na dieta (Tabela 21). O consumo de matéria seca está diretamente relacionado ao teor de FDN na dieta. Quanto maior o nível de FDN, menor será o consumo, de

forma que o consumo deva se estabilizar quando o consumo de FDN esteja próximo a 1,2% do peso vivo/dia (Mertens, 1994). Apesar da FDN ter sido utilizada como principal componente químico na estimativa do consumo de forragens, ela não pode ser considerada isoladamente para predizer o consumo, uma vez que existem variações em relação ao tamanho de partícula, fragilidade da partícula, taxa de passagem, digestibilidade da FDN e características inerentes da fibra. Tabela 21: Consumo e coeficiente de digestibilidade de dietas com diferentes níveis de inclusão de casca de algodão: Consumo de MS Níveis de casca de algodão 0 10 20 30 Efeito Kg/dia 6,63 7,44 7,62 8,26 Linear % do peso vivo 2,46 2,89 2,97 3,14 Linear Consumo de FDN cp Kg/dia 2,87 3,33 3,43 3,76 Linear % do peso vivo 1,06 1,30 1,34 1,43 Linear Digestibilidade MS 54,87 53,99 55,56 54,84 NS FDN cp 32,60 33,17 36,26 34,87 NS 1 Corrigido para cinzas e proteína. Adaptado de Chizzotti et al. (2005). Isso é comprovado pelos resultados observados em relação ao consumo de casca de algodão. Diversos experimentos têm demonstrado que o consumo de fibra é maior quando da utilização da casca de algodão como fonte de volumoso. Kazama (2007) observou consumo de FDN de até 1,88% do peso vivo/dia quando usou 21% da dieta em casca de algodão. Estes resultados comprovam a necessidade de investigação de

outros fatores que poderiam estar envolvidos na capacidade do animal em ingerir fibra. Há uma relação direta entre o consumo de fibra e sua digestibilidade, onde o consumo voluntário aumenta com a maior digestibilidade da fibra. Maior digestibilidade da fibra representa maior velocidade de esvaziamento ruminal, o que resultaria em menor limitação física do enchimento do rúmen sobre o consumo de nutrientes. No mesmo trabalho, Chizzotti et al. (2005) não observaram diferença na digestibilidade de nutrientes de dietas com diferentes níveis de casca de algodão (Tabela 21). Por outro lado, alguns autores têm demonstrado diminuição da digestibilidade de nutrientes com o aumento nos níveis de casca de algodão. Assim, apesar da casca de algodão responder com maior consumo de nutrientes, sua digestibilidade seria menor, o que poderia comprometer o desempenho animal. O efeito positivo da fibra da casca de algodão sobre o consumo de fibra já foi demonstrado em alguns trabalhos (Chizzotti et al., 2005 e Kazama, 2007). No entanto, é importante verificar se este efeito positivo também se manifesta em aumento no desempenho animal, quer seja no ganho de peso ou na produção de leite. Magalhães et al. (2005) avaliaram o ganho de peso de novilhos terminados em confinamento e alimentados com níveis crescentes de casca de algodão. Os autores trabalharam com até 30% de casca de algodão em substituição à silagem de capim elefante (Tabela 22).

Tabela 22: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes níveis de inclusão da casca de algodão: % na matéria seca Níveis casca de algodão 0 10 20 30 Silagem de capim elefante 60 50 40 30 Casca de algodão 0 10 20 30 Sorgo em grão moído 32,49 32,65 32,76 32,87 Farelo de soja 4,5 4,5 4,5 4,5 Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60 Sulfato de ammonia 0,19 0,18 0,17 0,16 Premix mineral 0,37 0,37 0,37 0,37 Calcareo 0,5 0,5 0,5 0,5 PB 13,35 13,30 13,41 13,52 EE 2,38 2,76 3,13 3,50 FDN 49,09 49,46 49,84 50,21 Adaptado de Magalhães et al. (2005). Magalhães et al. (2005) observaram maior consumo de nutrientes para os novilhos alimentados com maior nível de casca de algodão. O consumo de FDN chegou a 1,63% do peso vivo para a dieta com 30% de inclusão de casca de algodão. Novamente acima de 1,2% preconizado por Mertens (1994) como valor limite para o consumo de FDN. O ganho de peso foi semelhante para todas as dietas testadas (Tabela 23). Estes resultados confirmam a possibilidade de utilização de até 30% de casca de algodão na engorda de bovinos.

Tabela 23: Desempenho de novilhos alimentados com níveis crescentes de casca de algodão: Níveis casca de algodão 0 10 20 30 Peso vivo inicial, kg 230 229 228 228 Peso vivo final 331 330 329 325 Ganho médio diário, kg/dia Consumo, 1,27 1,38 1,21 1,34 matéria seca, kg/dia 7,80 7,98 8,77 8,15 matéria seca, % PV 1 2,73 2,81 3,03 3,38 FDN, % PV 1 1,27 1,33 1,45 1,63 Conversão alimentar 6,14 5,75 7,32 6,07 1 Efeito linear. Adaptado de Magalhães et al. (2005). Kononoff e Heinrichs (2003) avaliaram o efeito da inclusão da casca de algodão em substituição parcial à silagem de milho para vacas de leite no terço inicial de lactação. Foram testadas duas silagens de milho (tamanho de partícula longa (22 mm) ou curta (5 mm) associadas ou não à casca de algodão (8% da matéria seca da dieta). Os ingredientes e a composição química das dietas podem ser visualizadas na Tabela 24. Observou-se que a produção e a composição do leite foram semelhantes entre os tratamentos avaliados. No entanto, as dietas com casca de algodão promoveram maiores consumos de matéria seca e de FDN, o que resultou em melhor condição corporal para as vacas alimentadas com casca de algodão (Tabela 25).