VII Simpósio de Tecnologia e Engenharia de Alimentos e VI Encontro Paranaense de Engenharia de Alimentos UTFPR, Campo Mourão, PR, Brasil 13 a 16 de setembro de 2016 Alergia à proteína do leite de vaca: abordagem bibliográfica de causas, fatores de risco e diagnóstico Joyce Magalhães Noronha joyce_noronha13@hotmail.com Faculdade Integrado de Campo Mourão Thainá Soares Bernardes bernardes126@gmail.com Faculdade Integrado de Campo Mourão Maresa Custodio Molinari Ferreira maressamolinari@gmail.com Faculdade Integrado de Campo Mourão Resumo. Alergia alimentar nada mais é do que uma reação indesejável que ocorre logo após a ingestão de um determinado alimento. Mesmo que a quantidade ingerida seja pequena pode causar alergia e em algumas pessoas pode desencadear sinais e sintomas, que costumam variar de gravidade. As reações mais graves estão relacionadas à ingestão de alimentos como: ovo, peixe, farinha de trigo, leite de vaca, soja e crustáceos. A alergia à proteína do leite de vaca é uma doença inflamatória que acomete principalmente o trato gastrintestinal e a pele, dando-se à reação imunológica contra algumas proteínas presentes no leite de vaca. Dentre elas pode-se citar principalmente a caseína, uma proteína alergênica que promove o desenvolvimento da patologia principalmente em crianças de até dois anos de idade. Os sintomas da alergia alimentar podem surgir em todo o corpo, os sintomas começam quando está presente uma sensação de desconforto na garganta, que pode levar a dificuldades em respirar e falta de ar. Além disso, nos casos mais graves pode ocorrer choque anafilático. O objetivo do presente estudo foi fazer um levantamento bibliográfico dos artigos que retratam a alergia alimentar com uma abordagem voltada a alergia a proteína do leite de vaca. Em suma como a alergia alimentar se envolve diretamente a um mecanismo imunológico, expressando-se através de sintomas muito diversos que podem se agravar e levar até a morte, por isso é importante como método de prevenção e manutenção da saúde evitar os alimentos que lhe causam a alergia. Palavras-chave: Resposta Imunológica; Sistema Imune; Caseína; Proteína do Leite. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1. Introdução Alergia Alimentar (AA) é o termo reservado às Reações Adversas a Alimentos (RAA) que envolvem mecanismos imunológicos, sendo assim definida pelo Instituto Nacional de Doenças Alergênicas e Infecciosas (NIAID do inglês National Institute of Allergy and Infectious Disease), parte do Instituto Nacional de Saúde (NIG do inglês National Institute of Health), dos Estados Unidos da América como a Resposta imunológica adversa reprodutível que ocorre à exposição de um dado alimento, que é distinta de outras RAA, tais como intolerância alimentar, reações farmacológicas e reações mediadas por toxinas (ROSARIO e BARRETO, 2013).
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é o tipo de alergia alimentar mais comum nas crianças até vinte e quatro meses e é caracterizada pela reação do sistema imunológico às proteínas do leite, principalmente à caseína, alfalactoalbumina e beta-lactoglobulina (ROSARIO e BARRETO, 2013). É muito raro o seu diagnóstico em indivíduos acima desta idade, visto que há tolerância oral progressiva à proteína do leite de vaca (CONITEC, 2014). Nas últimas décadas, a alergia alimentar tem assumido uma prevalência e gravidade crescentes, estimando-se que atinja atualmente 5% das crianças com menos de 5 anos e 4% dos adolescentes e adultos. A apresentação clínica é variável, podendo ocorrer manifestações mucocutâneas, respiratórias, gastrintestinais e, em alguns casos, anafilaxia. As manifestações gastrintestinais são comuns (vómitos, diarreia, esofagite e gastrenterite eosinofílicas, proctocolite alérgica) e entram no diagnóstico diferencial com outros distúrbios deste foro, impondo em muitos casos o apoio do gastrenterologista (COUTO et al. 2012). As alergias alimentares podem ser divididas em duas categorias, de acordo com o tipo de resposta imune desencadeado. Um dos grupos corresponde às reações de hipersensibilidade imediata, quando a resposta adversa é mediada pelos anticorpos específicos da imunoglobulina E (IgE) para um dado alergênico. Estas reações devem a sua designação ao facto dos sintomas aparecerem dentro de poucos minutos até algumas horas após a ingestão do alimento alergênico. A segunda categoria corresponde às reações de hipersensibilidade retardada por serem mediadas pelas células T do sistema imunitário, pelo que os sintomas aparecem 24 a 48 horas após o consumo do alimento alergênico (COSTA et al. 2012). A realização da pesquisa teve como objetivo principal mostrar, explicar e exemplificar o que é alergia alimentar e com enfoque à alergia a proteína do leite de vaca. 2. Metodologia Realizou-se um levantamento bibliográfico em bases de dados científicas nacionais e internacionais no âmbito institucional Scientific Eletronic Library (SCIELO), Science Direct, sistemas de acesso livre como o Google Acadêmico com publicações principalmente de 2010 a 2016 e livros. Para inclusão na presente pesquisa, o artigo deveria estar relacionado com o tema alergias alimentares (AA) e alergia a proteína do leite de vaca (APLV). 3. Desenvolvimento Reações alimentares são extremamente comuns e geralmente são atribuídas a alergias, podendo ser classificadas como imune mediada, ou não-imune mediada, chamadas de intolerância alimentar. Reações imune mediada podem ser subdivididas em reações mediadas por imunoglobulina E (IgE) ou não (não-ige). As reações mediadas por IgE decorrem da sensibilização a alergênicos alimentares com formação de anticorpos específicos da classe IgE e os exemplos de manifestações mais comuns são: reações cutâneas, gastrointestinais, respiratória e reações sistêmicas (anafilaxia com hipertensão e choque) (MANOEL et al. 2013). Cerca de 90% das alergias alimentares em pediatria são causadas por apenas oito alergénios: proteínas do leite de vaca, soja, ovo, peixe, marisco, amendoim, frutos secos e trigo (SANTALHA et al. 2013). Página 2 de 5
59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 Embora para alguns alimentos a relação entre exposição a determinados fatores de risco e o desenvolvimento da sensibilização alérgica seja evidente, o mesmo pode não ser claro com o leite de vaca (LV). A carga genética, o gênero, a etnia, a presença de polimorfismos genéticos, mudanças na dieta (vitamina D, tipo de gordura, antioxidantes, obesidade), hipótese da higiene (redução de exposição a agentes infecciosos, parasitas, tipo de colonização intestinal), exposição à alérgenos alimentares (gestação, leite materno, desmame, através da pele) tem sido os fatores de risco identificados como relacionados à alergia alimentar (ROSARIO e BARRETO, 2013). É fundamental determinar a quantidade e a forma do alimento ingerido, os diferentes sintomas, tempo para o seu aparecimento, remissão e ocasião do primeiro episódio. A APLV mediada pela IgE caracteriza-se pelo aparecimento rápido dos sintomas, geralmente em até duas horas após a exposição ao alérgeno. Manifestações isoladas do aparelho respiratório são bastante raras e, em casos mais graves, pode haver o comprometimento do sistema cardiovascular (ROSARIO e BARRETO, 2013). A APLV pode ter repercussões sistêmicas, afetando a taxa de crescimento esperado, o desenvolvimento da criança e a dinâmica familiar, levando familiares e cuidadores à ansiedade perante o quadro apresentado pela criança. A história natural da APLV difere da observada para outras proteínas alimentares, que ocorrem em fases mais tardias da vida, por ser a primeira proteína estranha introduzida na alimentação de um organismo que ainda está em maturação do mecanismo de tolerância oral a proteínas heterólogas, portanto, mais propenso ao desenvolvimento de alergias alimentares (PERENTE et al. 2015). Em recente Consenso, experts da Organização Mundial de Alergias (WAO) revisaram estudos com base em evidência sobre a utilização do diagnóstico molecular de alergia, e destaca três aspectos principais para auxiliar na decisão de usar esta tecnologia para diagnóstico: (1) possibilidade de distinguir entre sensibilização primária, genuína, e sensibilização por reatividade cruzada (o que não pode ser feito com extratos naturais), ajudando o clínico a decidir se um alérgeno, poucos alérgenos relacionados ou múltiplos alérgenos extensamente diferentes devem ser considerados; (2) determinar se as reações alérgicas são causadas por alérgenos associados a risco de anafilaxia grave ou a reações mais leves, particularmente na área de alergia alimentar, podendo diminuir a necessidade de testes de provocação oral e melhorar as recomendações para os pacientes; (3) auxiliar na escolha dos pacientes e dos alérgenos mais apropriados para imunoterapia bem sucedida. O Consenso indica que a quantidade de informações obtidas com o diagnóstico molecular de alergia pode ser complexa, especialmente pela progressão rápida de evidência nesta área, e enfatiza a importância de programas educativos de treinamento de alergistas no uso e interpretação desta nova tecnologia, devendo ser os resultados interpretados sempre à luz da história clínica do paciente (ARRUDA e MORENO, 2013). O teste de provocação oral (TPO) é o método mais confiável para estabelecer ou excluir o diagnóstico de alergia alimentar ou para verificar a aquisição de tolerância ao alimento. Apesar do risco de reações graves, o TPO pode trazer benefícios ao paciente e seus familiares, por elucidar o que realmente irá ocorrer após a ingestão do alimento, além de definir a necessidade real da restrição dietética. O tratamento da APLV mediada pela IgE consiste primariamente na exclusão do LV da dieta do paciente. Medicamentos no tratamento da APLV são Página 3 de 5
108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 empregados em duas situações: na crise alérgica aguda ou em manifestações crônicas de alergia mediada por IgE (ROSARIO e BARRETO, 2013). Nas urgências, a reação alérgica anafilática ou imediata que ocorre após a ingestão de alimentos contendo proteínas do LV, o tratamento é dirigido para as manifestações clínicas sistêmicas envolvendo diferentes órgãos como a pele, tratos digestório, respiratório e cardiovascular (ROSARIO e BARRETO, 2013). Não há exames complementares definitivos para o diagnóstico de APLV. A realização de exames complementares (Dosagem de Imunoglobulina E e Teste Cutâneo de Leitura Imediata - TC) é necessária apenas como apoio na avaliação de gravidade ou no diagnóstico diferencial na APLV não mediada por IgE, no entanto raramente é indicada. Estes exames devem ser interpretados apenas por médico alergista. Porém, atualmente, pesquisadores têm procurado a incorporação de métodos estatísticos multivariados para, por exemplo, realizar previsões da tolerância à proteína do leite de vaca em indivíduos que possuem algum outro tipo de alergia, com resultados satisfatórios para o melhoramento do prognóstico de portadores da APLV (CONITEC, 2014). A conduta na APLV baseia-se em três pontos fundamentais: exclusão da(s) proteína(s) alergênica(s) da dieta; prescrição de dieta substitutiva que proporcione todos os nutrientes necessários em crianças até 6 meses; prescrição de alimentação complementar (de 6 a 24 meses) (CONITEC, 2014). O desenvolvimento de metodologias analíticas que possam verificar a veracidade da rotulagem e, mais importante, ajudar a indústria alimentar a controlar a presença de ingredientes potencialmente alergênicos, como forma de prevenir a ocorrência de contaminações cruzadas, é de extrema importância. Presentemente, apesar de existirem vários métodos analíticos disponíveis na literatura visando a detecção e quantificação de alergênicos alimentares, nenhum deles é ainda oficial. Os requisitos necessários para responder às exigências impostas pela legislação envolvem parâmetros de elevada sensibilidade e especificidade para rastrear quantidades vestigiais de alergénios e/ou respectivos marcadores em matrizes complexas, tais como os alimentos processados. Atualmente, pensa-se que os limites de detecção dos métodos usados na detecção de alergénios em alimentos deverão rondar os 1-100 mg/kg, o que constitui uma gama de concentrações bastante baixa para a maioria das técnicas disponíveis (COSTA et al. 2012). 4. Conclusão Mediante os fatos expostos pode-se concluir que as reações alérgicas alimentares estão diretamente ligadas ao sistema imune. O diagnóstico de alergia alimentar é bastante predominante. É necessária a utilização de métodos para confirmar ou excluir o diagnóstico. Em suma os pacientes necessitam tratamento apropriado através da eliminação de alimentos que causam os sintomas. Além disso, mesmo que seja ingerido algo que pode ter um grande potencial para causar uma alergia e nada aconteça de imediato deve-se ficar atento, pois visto que existem casos como a hipersensibilidade tardia em que os sintomas só aparecem após algumas horas do contato com o alergênico. Página 4 de 5
5. Referências ARRUDA, L. K.; MORENO, A. S. Diagnóstico molecular de alergia : pronto para a prática clínica, v. 1, n. 4, p. 187 194, 2013. CONITEC. (Comissão nacional de incorporação de tecnologias no SUS) Fórmulas nutricionais para crianças com alergia à proteína do leite de vaca., v 1, n. 1, p. 6, 2014. Disponivel em http://conitec.gov.br/images/artigos_publicacoes/relatorio_formulasnutricionais_aplv-cp.pdf COSTA, J.; OLIVEIRA, B.; MAFRA, I. Artigos Alergénios Alimentares: o que são, o que provocam e como detectá-los., v 1, n. 1, p. 33 38, 2012. COUTO, M.; PIEDADE, S.; ALMEIDA, M. DE. Alergia às proteínas do leite de vaca em adolescente com anafilaxia: uma opção terapêutica inovadora., v. 19, n. 6, p. 318 322, 2012. MANOEL, N.; QUEVEDO, D. M.; ANDRÉ, C.; Um Modelo Ubíquo de Detecção de Riscos de Alergia Baseado em Ciência de Situação., v. 1, n. 1, p. 2, 2013. PERENTE, M.; CARLONI, M.; SOUZA, M.; FERREIRA, T. PARTICULARIDADES DA ALERGUA A PROTEINA DO LEITE DE VACA: UM RELATO DE CASO., v. 1, n. 1, p. 3, 2015. ROSÁRIO, N. A.; BARRETO, B. A. P. APLV Guia-35-6SBAI., v. 35, n. 6, p. 204 210, 2013. SANTALHA, M.; CORREIA, F.; COSTA, A.; et al. Alergia alimentar em idade pediátrica., v. 22, n. 2, p. 75 79, 2013. Página 5 de 5