Sustentando a recuperação pós-crise: o Brasil e o Mundo 1



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Transcrição:

1 Sustentando a recuperação pós-crise: o Brasil e o Mundo 1 Bernardo Pereira Cabral 2 Irailton Silva Santana Junior 2 Introdução Depois de uma recessão global profunda, a recente recuperação da economia global, conseguida através de uma intervenção fiscal e monetária sem precedentes na história da humanidade, ainda é questionada sob os critérios de sustentabilidade. Percebendo que, na medida em que mais e mais medidas governamentais são tomadas, os déficits públicos, principalmente dos países desenvolvidos, têm aumentado significativamente. Por essas e outras, o futuro da economia global ainda é nebuloso. Ainda que o crescimento global tenha superado as expectativas, a recuperação vai ser longa, demorada e insuficiente, pelo menos no curto prazo, para diminuir o desemprego. Além disso, o PIB per capita mundial terá, pela primeira vez em dez anos, um decréscimo, os índices de comércio e empréstimo globais ainda estão baixos, aliados a uma queda também nos números de demanda e investimento dos países desenvolvidos. Não se pode esquecer ainda que, apesar dessa pequena melhora nos índices econômicos, a estratégia de recuperar, através de incentivos e garantias, o modelo macroeconômico e financeiro pré-crise pode gerar uma nova onda de bolhas e perturbações. Já está na ordem do dia não somente melhorar a regulação dos mercados financeiros, mas criar um novo modelo de integração internacional com os países superavitários, como a China, estimulando sua demanda interna e importações, enquanto os países deficitários, notadamente os EUA, melhorariam suas contas externas e diminuiriam os déficits públicos. CONJUNTURA INTERNACIONAL 1 Relatório orientado pelos professores Celeste Maria Philigret Baptista e Paulo Balanco, membros do Núcleo de Estudos Conjunturais da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA 2 Alunos do Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA e bolsistas do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC-FCE-UFBa.).

2 Diante dos mais recentes dados sobre a economia global, a visível recuperação dos países deve, ainda, ser vista com cautela. Mesmo com a melhora nos índices de confiança dos consumidores e empresários, aumento das transações comerciais, aumento do preço das commodities etc., a previsão dos principais órgãos supranacionais é de que a retomada existe, mas será muito fraca para os padrões históricos. (WORLD, 2009) De acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento mundial atingirá cerca de 3% em 2010, número muito melhor que o 1% negativo previsto para o fim deste ano. Ainda assim, as previsões para os próximos cinco anos são de crescimento na ordem de 4% ao ano, só um 1 pp. menor que a média dos anos anteriores a 2008. Figura 1: Crescimento do PIB mundial (em %) e em áreas especiais: Fonte: WEO(2009) Conforme tendência já sinalizada em relatórios anteriores, a recuperação do crescimento global será dada, principalmente, pela capacidade dos países em desenvolvimento de manter suas posições de exportadores de commodities e de investir mais em sua demanda interna. Embora tenham passado por uma diminuição nos seus superávits em conta corrente, e, em alguns casos, até obtendo déficits, a melhora no consumo dos países ricos deve trazer as balanças de pagamentos desses países para níveis similares aos níveis pré-crise. Como é demonstrado na figura 1, a partir do próximo ano o mundo

3 conviverá com índices de crescimento médio muito maior nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. Estabilidade Financeira A recuperação atual é mais fortemente sentida nos mercados financeiros, ainda que, comparado aos índices pré-crise, a quantidade de dinheiro emprestada pelos bancos tenha caído muito. Ações como os cortes drásticos nas taxas de juros e outras intervenções com objetivo de manter as instituições financeiras solventes e ativas, foram os principais responsáveis por essa grande retomada. No entanto, deve-se ressaltar que a injeção de dinheiro realizada nos bancos dos países ricos foi quase que totalmente direcionada para os países em desenvolvimento. O alto endividamento privado dos primeiros dificultou a retomada dos empréstimos internos, uma vez que o setor privado estava mais preocupado em saldar as dívidas anteriormente contraídas. Sendo assim, mesmo com a injeção de liquidez cedida pelos bancos centrais, os bancos privados europeus e americanos, sem boas expectativas para a demanda interna de seus países, tiveram de partir para as bolsas de valores dos países desenvolvidos, o que culminou na valorização das moedas e das commodities exportadas por estes. (BELUZZO, 2009) Impacto da crise no comércio global O comércio internacional na primeira metade de 2008 continuou a tendência estabelecida na última década, com crescimento rápido. Somente em Setembro de 2008 os impactos da crise econômica mundial se fizeram mais evidentes na quantidade de bens e serviços exportados e importados mundo afora. O colapso do comércio durante a crise foi atribuído em parte à falta de concessão de crédito para importadores e exportadores. A insegurança crescente direcionou os agentes do comércio internacional de formas menos seguras de crédito para arranjos mais formais, como os seguros de crédito ao exportador (ECI) e as letras de crédito.

4 A crise, no entanto, afetou de diferentes formas o comércio no mundo. Quantidades transacionadas deterioraram-se mais na Europa, com queda de 16% na comparação entre os últimos trimestres de 2007 e 2008. As exportações da Ásia caíram apenas 5% e as norte-americanas, 7%. Dado interessante é que o comércio dentro das regiões contraiu-se mais rápido do que o comércio entre regiões: a Europa, região mais integrada economicamente, teve queda de 18% nas transações entre países do continente, em comparação com os 8% entre os países da Ásia e os 10% dos países da América do Norte. (INTERNATIONAL, 2009) Figura 2: Variações nas exportações mundiais por região Fonte: Organização Mundial do Comércio Segundo dados da OMC (Organização Mundial do Comércio), pela primeira vez nesse ano há um indicativo de melhora no comércio mundial, com níveis de transações aumentando cerca de 8% entre o primeiro e segundo trimestres, mas com o segundo trimestre com decréscimo de 33% comparado ao mesmo período de 2008(anualizado). Os países de industrialização recente da Ásia viram seus níveis de transação crescerem mais que os países desenvolvidos, reforçando a idéia da importância destes na melhora dos índices globais.

5 Figura 3: Crescimento do comércio mundial (%) Fonte: WEO(2009) Já em relação ao Brasil, a evolução do comércio exterior é visível. Na última década o país conseguiu saltar de menos de 1% de participação sobre o total da exportação mundial, para 1,25%. Mesmo com o provável déficit no fim deste ano, resultado do impacto da crise financeira, o Brasil conseguiu manter superávits nos últimos oito anos, com um acúmulo de reservas de mais de U$200 bi. As previsões da OMC são de que o Brasil aumentará sua participação tanto no comércio quanto no PIB mundial. Inflação Mundial A recessão mundial causou uma grande queda nos índices de inflação mundial e a preocupação com a deflação. A queda da inflação, no entanto, foi limitada em alguns países. A gradual recuperação das economias aponta para um período de inflação baixa e vulnerabilidade à deflação. Embora os riscos de deflação tenham diminuído muito no último trimestre, as pressões deflacionárias compiladas em uma série de indicadores de preço e capacidade instalada ainda são relativamente altas para pelo menos o próximo ano. Para os EUA e Zona do Euro, por exemplo, a previsão de inflação é de 0% para esse ano e 1% para o ano que vêm, reflexo apenas do provável aumento no preço das commodities.

6 O preço dos manufaturados vão provavelmente cair ainda por um tempo. Felizmente, expectativas de inflação estão bem ancoradas, proporcionando alguma proteção contra declínios maiores de preço. Nas economias emergentes, a previsão do FMI é de uma inflação média de 5% em 2009 e 2010, abaixo dos 9% em 2008. Somente a China, alguns países asiáticos e os países do leste europeu têm projeção de inflação abaixo dos 5%. Figura 4: Inflação e Núcleo em diferentes regiões Fonte: WEO(2009) Figura 5: Zonas com risco de deflação Fonte: WEO(2009) Desemprego mundial Segundo a Markit Economic Researchs, em seu relatório sobre o mercado de trabalho mundial, o desemprego nos países desenvolvidos deve se estabilizar até o fim do ano, mas o desemprego alto deverá persistir.

7 O Global PMI Employment Index indica uma queda no emprego pelo 16º mês consecutivo. Ainda assim, o relatório está no quinto mês consecutivo de melhora, apontando uma desaceleração na taxa de demissões nesse período. Para a Markit, a melhora em outubro nos índices de emprego no Reino Unido foi um dos principais responsáveis pela melhora no número global. O total de demissões nos principais países ricos totaliza 1,8 milhão em março(últimos dados tabulados). Vale lembrar que o emprego tem uma defasagem em relação à retomada da produção e comércio mundial. O retorno da demanda, por sua vez, parece apontar que a taxa pela qual as empresas vinham cortando funcionários continuará a se moderar nos próximos meses. Em dados mais recentes, o Departamento de Trabalho dos EUA informou na semana passada que a taxa de desemprego americana atingiu o maior patamar desde 1983. Com uma taxa de 10,2%, o país perdeu 190 mil postos de trabalho, formando agora um total de 16 milhões de desempregados. (DESEMPREGO, 2009) ZONAS SELECIONADAS Economias Desenvolvidas Figura 6: PIB, Índices de Preço e Desemprego dos países desenvolvidos.

8 Fonte: WEO(2009) Na figura 6, podemos analisar um pouco melhor alguns dados importantes sobre as principais economias globais. No que tange ao crescimento, o destaque para o ano de 2009 fica com a Austrália, único país dos representantes ricos que não terá uma diminuição no seu PIB. Irlanda e Islândia, por outro lado, terão, respectivamente, decréscimo de 7,5% e 8,5%, reflexo de uma imensa bolha mobiliária no primeiro e uma dependência alta do setor financeiro americano no segundo. É interessante notar que na Islândia, sendo um dos países mais afetados pela crise econômica, a altíssima desvalorização da sua moeda frente ao euro (cerca de 80%) resultou num aumento do preço das importações, o que elevou também seu índice de inflação, o maior dos países ricos. Enquanto a maioria destes países enfrentará, principalmente em 2009, índices de deflação ou inflação zero, a Islândia terá uma inflação maior que a maioria dos países em desenvolvimento. (INTERNATIONAL, 2009)

9 Sobre o desemprego, os dados são especialmente preocupantes em países como a Espanha, Irlanda e Eslováquia: Todos estes terão taxas de desemprego em 2009 maiores que 10% com perspectiva de aumento em 2010. Especialmente na Espanha, a taxa saltará para mais de 20%, maior desemprego registrado nos países desenvolvidos. Ásia Como já discutido anteriormente no texto, a economia asiática é uma das grandes responsáveis pela melhora no desempenho mundial. Formada por países que são basicamente de orientação exportadora, a melhora nos seus índices de crescimento ao longo deste ano também foi dada por um aumento na demanda interna. Figura 7: PIB, Índice de preços e Conta corrente dos países asiáticos: Fonte: WEO(2009) Como na maioria dos outros países em desenvolvimento, os países asiáticos terão retorno dos índices positivos de crescimento em 2010. O destaque ficará claramente com a China, que depois de ter apenas uma leve queda no PIB de 2009 em relação ao de 2008, voltará aos níveis de crescimento pré-crise em 2010. Países como a Malásia e as Filipinas, apesar de já terem índices de crescimento positivo em 2010, sofrerão com a precária estrutura e pouca inserção global, crescendo a níveis muito menores do que os níveis pré-crise. África

10 O crescimento na África diminuiu significativamente como resultado do colapso do comércio global e demais problemas com os mercados financeiros, mas é esperada uma retomada deste crescimento na medida em que a recuperação mundial é projetada. O efeito da recessão global foi inicialmente sentido naqueles países mais ativamente integrados nos mercados financeiros, como a África do Sul, mas em um segundo momento a baixa dos preços do petróleo e outras commodities, além da diminuição na demanda por manufaturados, afetou a outra metade dos países africanos. Nesse sentido, a melhora nos mercados financeiros foi o primeiro passo para o aumento dos preços das commodities nos últimos meses, o que ajudou muito na melhora das economias africanas O crescimento da África, segundo dados do FMI, está projetado para cair da média de 6% registrada entre 2004-08 para apenas 1% em 2009, com retomada para os 4% em 2010. Esse desempenho, ainda que muito abaixo da obtida na última década, é impressionante se levada em conta o atual cenário de crise. Um fator muito importante para isso foi a capacidade dos governos do continente de usar os balanços fiscais como absorvedores dos choque externos, sustentando a demanda interna e ajudando a conter um grande aumento no desemprego. (WORLD, 2009) Figura 8: PIB, Índice de preços e Conta corrente dos países africanos: Fonte: WEO(2009)

jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 11 BRASIL BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA Em outubro de 2009, as exportações brasileiras alcançaram US$ 14,082 bilhões, nível superior em 1,6% aos US$ 13,863 bilhões registrado em setembro de 2009. Em relação a outubro de 2008, verifica-se um recuo de 23,9%. Já às importações, no mês, atingiram o fluxo de US$ 12, 754 bilhões, o que equivale a uma expansão de 1,8% aos US$ 12, 534 bilhões alcançados no mês setembro, e referente a outubro de 2008 um recuo de 22,2%. Por conseguinte, para o mês de outubro, houve superávit no saldo comercial de US$ 1,328 bilhões, cifra praticamente instável em relação aos US$ 1,329 bilhões registrados no mês anterior, comparado a outubro de 2008 verifica-se uma expansão de 5,2 %. FIGURA 9 EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL (EM US$ MILHÕES) 25000 20000 15000 10000 5000 0-5000 Importações Exportações Saldo Comercial Fonte: BACEN/IPEADATA No acumulado de janeiro a outubro de 2009, as exportações somaram US$ 125,865 bilhões, valor inferior em 25,6% aos US$ 169,372 bilhões registrados no mesmo período de 2008. As importações alcançaram US$ 103, 224 bilhões, cifra inferior em 30,4% quando comparado a janeiro-setembro de 2008, quando foram totalizados US$ 148,452 bilhões.

12 Imediatamente, verifica-se um superávit no saldo comercial no acumulado do ano correspondente a US$ 22,641 bilhões, equiparado a iguais meses de 2008, nota-se um acréscimo de 7,6% quando foram totalizados US$ 20,920 bilhões. No respectivo período em questão as operações de comércio exterior do Brasil atingiram a cifra de US$ 229,089 bilhões, comparativamente ao mesmo período do ano de 2008, um recuo na corrente de comércio de 27,9% quando foram contabilizados US$ 317, 824 bilhões. De acordo com o secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, o governo trabalha com a projeção que as exportações brasileiras para o ano de 2009 deverão totalizar a quantia de US$ 160 bilhões. Por outro lado, a meta para as importações está em US$ 140 bilhões. Para se ter uma idéia dos impactos oriundos da crise financeira sobre os fluxos comerciais brasileiros, verifica-se que nos dados consolidados do ano de 2008, as exportações foram de US$ 198 bilhões e as importações de US$ 173 bilhões. TABELA 1 - EXPORTAÇÃO BRASILEIRA POR FATOR AGREGADO JANEIRO/SETEMBRO 2009/2008 - US$ MILHÕES FOB Janeiro/Outubro Part. % Var.% 2009/08 2009 2008 2009 2008 Básicos 52.833 63.112-16,3 42,0 37,3 Industrializados 70.464 101.684-30,7 56,0 60,0. Semimanufaturados 16.450 23.476-30,0 13,0 13,9. Manufaturados 54.014 78.208-30,2 43,0 46,2 Op. Especiais 2.568 4.576-43,9 2,0 2,7 Total 125.865 169.372-25,6 100,0 100,0 Fonte: SECEX/MDIC. Janeiro-Outubro 2009/2008 No acumulado de janeiro a outubro de 2009, houve redução para todos os fatores agregados referentes às exportações, em relação à igual período do ano passado. Sendo que manufaturados reduziu 30,2% (US$ 24, 194 bilhões), semimanufaturados retração de 30%, (US$ 7, 026 bilhões) e básicos decréscimos de 16,3%, (US$ 10, 279 bilhões). Em um primeiro instante de análise, nota-se que apesar do decréscimo significativo de 25,6% das exportações brasileiras, após um ano do estouro da crise, as relações

jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 13 exteriores vêm gradativamente melhorando quando comparado ao quatro trimestre de 2008 e ao primeiro trimestre de 2009, período de maior deterioração dos índices. Atualmente com a diversificação na pauta de exportações e mercados de destinos, o Brasil busca elevar as suas vendas, entretanto, a excessiva valorização nominal do câmbio vem prejudicando o melhor desempenho das exportações. FIGURA 10 EXPORTAÇÕES POR CLASSE DE PRODUTO (EM US$ MILHÕES) 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 Manufaturados Semimanufaturados Básicos Fonte: BACEN/IPEADATA Para os produtos manufaturados, as exportações parecem dar sinais de uma reação, em virtude da normalização dos canais de financiamento dos fluxos comerciais e do início da recuperação da economia internacional. Dentre os principais produtos exportados no acumulado do ano, destaque ao açúcar refinado e laminados planos. Já para os produtos semimanufaturados, realce para a expansão na exportação de açúcar em bruto, que segue sua trajetória de crescimento, depois da quebra de safra em alguns países asiáticos, particularmente Índia, que passou de maior exportador de açúcar para o maior importador. Na comparação entre os dez primeiros meses de 2009 e de 2008, verifica-se que as vendas dos produtos básicos contraíram-se em níveis menores, comparada as taxas negativas dos produtos industrializados. Portanto, com a excessiva valorização cambial, a resistência a quedas mais acentuadas das exportações pode ser esclarecida, essencialmente, pelo desempenho das vendas dos produtos básicos.

14 Por países de destino, cabe destacar que enquanto os demais parceiros econômicos brasileiros reduzem os fluxos de compras, apenas as exportações para a Ásia, particularmente a China, cresceram. Entre o período de janeiro-outubro, apresenta-se uma expansão de 15,8%, essencialmente nas commodities. Do total exportado pelo Brasil no ano de 2009, 14,3% segue para o país asiático. Apesar da redução significativa no acumulado do ano, as vendas para os Estados Unidos nos últimos meses vêem crescendo, sendo que no mês de outubro, totalizou-se US$ 1, 911 bilhões, superior a cifra de US$ 1, 745 bilhões exportados para a China, que neste momento configura-se como o maior comprador dos produtos brasileiros. Entretanto, segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, apesar destes aumentos mensais o Brasil perdeu espaços que tinha antes da crise em mercados tradicionais como os Estados Unidos e também na América Latina. Um dos motivos para isso foi à apreciação do real, que tornou os produtos brasileiros mais caros. (Folha Online, 2009). TABELA 2 - IMPORTAÇÃO BRASILEIRA POR CATEGORIA DE USO JANEIRO/SETEMBRO 2009/2008 - US$ MILHÕES FOB Janeiro/Outubro Var.% 2009/08 Part. % 2009 2008 2009 2008 Bens de Capital 24.158 30.465-20,7 23,4 20,5 Matérias-primas e intermediários 48.619 71.189-31,7 47,1 48,0 Bens de Consumo 17.000 18.871-9,9 16,5 12,7 - Não-duráveis 7.940 8.126-2,2 7,7 5,5 - Duráveis 9.060 10.745-15,7 8,8 7,2 Combustíveis e lubrificantes 13.443 27.826-51,7 13,0 18,8 Total 103.220 148.351-30,4 100,0 100,0 Fonte: SECEX/MDIC. Janeiro-Outubro 2009/2008 Para as importações, tendo em vista as categorias de uso, no comparativo entre os dez primeiros meses de 2009/2008, as importações de bens totais sofreram redução de 30,4% (US$ 45,131 bilhões). Todas as categorias de uso sofreram variações negativas, bens de capital 20,7% (US$ 6, 307 bilhões), matérias-primas e intermediários 31,7% (US$ 22, 570 bilhões), bens de consumo 9,9% (US$ 1, 871 bilhões), e combustíveis e lubrificantes 51,9% (US$ 14, 383 bilhões). Para as importações, nota-se uma expansão

jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 15 no montante comprado a partir de abril de 2009, uma das razões para esses movimentos é a persistência da valorização cambial. FIGURA 11 IMPORTAÇÕES: CATEGORIA DE USO (EM US$ MILHÕES) 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 Bens de Consumo Bens de Capital Matéria-Prima Combustiveis Fonte: BACEN/IPEADATA Através do foco nas importações, nota-se que o segmento de Combustíveis e Lubrificantes sofreu a maior retração, a queda resultou principalmente da redução dos gastos com petróleo e derivados. Matérias-primas e intermediários sofreu decréscimo expressivo, porém, ainda compõe a maior fatia de participação nas compras brasileiras. Os segmentos de Bens de Capital e Bens de Consumo, além de apresentarem retrações menores, respectivamente, 19,9% e 9,7%, foram os segmentos que expandiram participação no total importado. Por países, cabe destacar a tensão bilateral entre Brasil e Argentina, tendo em vista que o governo brasileiro freou importações argentinas de farinha de trigo, azeites, alho, vinho, frutas, rações para animais fabricados na Argentina, entre outros produtos, paralisando alguns caminhões na fronteira e portos que não puderam transportar as mercadorias para o Brasil. Tal medida é vista como uma represália às licenças nãoautomáticas (que atrasam o processo de exportação) que a Argentina implementou como argumento para proteger o emprego, a indústria e a produção frente à crise mundial. (Folha Online, 2009).

16 De fato o colapso do comércio mundial durante a crise foi atribuído em parte à falta de concessão de crédito para importadores e exportadores. No cenário brasileiro, a evolução do comércio exterior é visível. Na última década o país conseguiu saltar de menos de 1% de participação sobre o total da exportação mundial, para 1,25% atualmente, já as importações brasileiras representam 1,12% da importação mundial. Mesmo com o provável déficit no fim deste ano, o Brasil vêem conseguindo acumular reservas, atualmente às reservas brasileiras estão em torno de US$ 230 bilhões. As previsões da OMC são de que o Brasil aumentará sua participação tanto no comércio quanto no PIB mundial. Verifica-se que as reduções nos fluxos comerciais foram menores do que a prevista inicialmente, sobretudo, pela forte expansão da China e de outros países emergentes, e a recuperação dos preços das commodities. Nestas condições, no cenário nacional atual as exportações brasileiras estão enfrentando grandes dificuldades para se manterem competitivas, em virtude da apreciação do real que conduz ao encarecimento dos produtos brasileiros, em contrapartida, as importações com a alta da moeda tornam-se mais baratas. TRANSAÇÕES CORRENTES Nos últimos 12 meses, ocorreram mudanças importantes no setor externo da economia brasileira, principalmente nas transações correntes. Não há dúvida que o impacto da crise afetou fortemente as transações correntes neste ano de 2009, e que ainda afetará os índices previstos para o ano de 2010. Para os nove primeiros meses de 2009, observa-se que o saldo das transações correntes apresenta um déficit US$ 11, 876 bilhões, o que corresponde uma redução de 48,1% sobre o mesmo período de 2008.

17 TABELA 3 - BALANÇO DE PAGAMENTOS - TRANSAÇÕES CORRENTES (EM US$ MILHÕES) - JANEIRO/SETEMBRO 2009/2003 Período Balança Comercial Serviços Rendas Transf. Unilaterais Transações Correntes Capital e Financeira 2003 17790-3640 -12343 2106 3913 10044 2004 25053-3191 -14547 2356 9671-7214 2005 32623-5776 -18527 2599 10919-3872 2006 34215-7047 -20104 2211 10275 8845 2007 30944-8439 -20917 2958 3546 72616 2008 19658-12934 -32479 2876-22884 54099 2009 21312-13227 -22405 2443-11876 40555 Fonte: BACEN/IPEADATA Durante o acumulado de 2009, especialmente a partir de abril, o processo de apreciação do câmbio contribuiu para mudanças do comportamento do Balanço de Pagamentos brasileiro, especialmente no saldo da Balança Comercial. Nos três primeiros trimestres de 2009, o saldo da balança comercial foi superavitário em US$ 21, 312 bilhões, o que corresponde um acréscimo de 7,8 % sobre o mesmo período de 2008. Todavia, apesar desta cifra superior, quando comparado aos anos anteriores, o superávit do ano corrente apresenta um volume reduzido, deste modo, o comportamento da balança comercial no período de janeiro/setembro de 2009, contribui negativamente ao resultado do balanço de pagamentos. Verifica-se que o déficit em transações correntes para o acumulado de 2009 está vinculado com a intensificação do déficit da conta de Serviços, particularmente pela intensidade no aumento das Viagens Internacionais de residentes aproveitando a condição do dólar e pelo crescente aumento nas despesas com Aluguel e Equipamentos. Inclui a intensificação do déficit da conta Rendas, em especial, pelo aumento dos recursos enviados a não residentes na forma de lucros e dividendos. Diante do déficit em Transações Correntes, o fechamento do Balanço de Pagamentos está sendo efetuado pelo superávit na conta Capital e Financeira, que no acumulado de janeiro a setembro totalizou US$ 40, 555 bilhões, sendo mais do que suficiente para financiar o déficit nas transações correntes que neste mesmo período foi de US$ 11, 876 bilhões. Com isso, o balanço de pagamento foi superavitário em US$ 28,679 milhões.

18 CONTA DE SERVIÇOS Verifica-se que nos últimos anos o Brasil vem intensificando seu déficit na conta serviços. No acumulado de janeiro a setembro de 2009, essa conta apresenta um déficit recorde de US$ 13, 227 bilhões, essa cifra sofre está associada ao patamar valorizado da moeda doméstica. TABELA 5 - SALDO DA CONTA SERVIÇOS POR SUB-CONTAS (EM US$ MILHÕES) - JANEIRO/SETEMBRO 2009/2003 Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Transporte -1170-1457 -1398-2346 -3188-4039 - 2 690 Viagens Internacionais 99 347-625 -1008-2096 -4655-3 599 Seguros -313-375 -430-412 -656-817 - 1 066 Serviços Financeiros -299-88 -124-8 205 102-279 Computação e Informações -723-910 -1204-1496 -1560-2040 - 1 920 Royalteis e licenças -803-604 -879-1154 -1311-1736 - 1 491 Aluguel Equipamentos -1633-1366 -2854-3502 -4181-5023 - 6 776 Serviços Governamentais -117-97 -402-146 -598-720 - 916 Comunicaçãoes 74 120 99 95 109 144 140 Construção 7 0 4 14 10 12 4 Relativos ao comércio -42-145 220-34 26 257 535 Empresariais, profissionais e técnicos 1488 1659 2557 3229 4223 6173 5 455 Pessoais, culturais e recreação -210-275 -300-349 -416-592 - 624 TOTAL -3642-3191 -5776-7047 -8439-12934 - 13 227 Fonte: BACEN / IPEADATA Nota-se pela evolução da conta serviços que o subgrupo Aluguel e Equipamentos, historicamente compõem a parcela de maior contribuição para o déficit nesta conta. Para o acumulado do ano, o saldo negativo representa US$ 6, 776 bilhões, que sobre o mesmo período de 2008, equivale a uma expansão de 25,8%. Com a mesma trajetória ascendente pode-se destacar Viagens Internacionais, que no período janeiro a setembro de 2009, apresenta déficit de US$ US$ 3, 599 bilhões, e em comparação a iguais meses de 2008 um recuo de 22,7%. Entretanto, mesmo com a redução no período de comparação, desde abril de 2009 o déficit está intensificando, em virtude, do câmbio valorizado. CONTA RENDA Quanto à conta renda, possui a mesma trajetória ascendente de déficit, deste modo, contribui massivamente para o saldo negativo na conta de transações correntes, principalmente com a emissão de lucros e dividendos para as matrizes no exterior. No

19 acumulado do ano, o déficit contabiliza US$ 22, 405 bilhões, o que equivale a uma redução de 31% sobre o mesmo período de 2008. Em um primeiro momento de análise, apura-se que esse recuo no déficit da conta renda foi em detrimento de uma expansão significativa na renda de investimento direto, particularmente Lucros e Dividendos, que no ano de 2008, alcançou a cifra de US$ 21,072 bilhões em transferências para as matrizes, um valor atípico, tendo em vista a linha de crescimento do déficit. Tabela 6 - SALDO DA CONTA RENDA POR SUB-CONTAS (EM US$ MILHÕES) - JANEIRO/SETEMBRO 2009/2003 Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Rendas -12343-14547 -18527-20104 20917-32 479-22 405 Salário e ordenado 89 134 170 148 337 333 465 Renda de investimentos (líquido) -12432-14681 -18697-20252 -21524-32 812-22 870 Renda de investimento direto -2984-3858 -6621-8573 -11512-21 072-11 995 Lucros e dividendos -2458-3254 -5859-7586 -10871-20 123-10 868 Juros de empréstimo intercompa -526-604 -762-988 -636-949 - 1 126 Renda de investimento em carteira -5845-7617 -8921-9068 -6058-7 219-6 729 Lucros e dividendos -1034-1705 -2670-4037 -4106-7 377-5 145 Juros de títulos de renda fixa -4811-5912 -6251-5031 -1952 157-1 584 Renda de outros investimentos (juros) -3603-3206 -3155-2611 -3683-4 520-4 147 Fonte: BACEN Sem dúvida a saída de Lucros e Dividendos, no âmbito do Investimento Direto é a principal subconta que contribui para o déficit na conta de rendas. Essa subconta no acumulado do ano apresenta um déficit de US$ 10, 868 bilhões. É fato o forte ritmo de ganhos por grandes empresas internacionais no Brasil, cabe ao governo, atuar neste contexto para que uma parcela destes lucros seja reinvestido no país, a fim de contribuir para o desenvolvimento da nação. Neste mesmo segmento, a emissão de Lucros e Dividendos por parte da Renda de Investimento em Carteira também é expressiva. No acumulado do ano apresenta um déficit de US$ 5, 145 bilhões. Nesta conta, apenas o subgrupo Salário e Ordenado apresenta superávit na trajetória verificada. Esse item registra a remuneração do trabalho assalariado, composto de salários e ordenados, no acumulado de 2009 apresenta um saldo positivo de US$ 465 milhões, o que equivale a uma expansão de 28,3%, sobre o mesmo período de 2008.

20 CONTA CAPITAL E FINANCEIRA O governo brasileiro, preocupado com o excessivo ingresso de capitais voláteis no país, por conseguinte, a forte desvalorização do dólar, buscou medidas e no dia 20 de outubro de 2009 adotou uma taxação sobre as aplicações em ações e renda fixa, denominado IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O objetivo é afastar o capital de curto prazo - o chamado de especulativo que entra no país e sai rapidamente. O governo deseja atrair o investidor que vem para o país, compra ações e deixa o dinheiro. TABELA 7 - SALDO DA CONTA CAPITAL E FINANCEIRA POR SUB-CONTAS (EM US$ MILHÕES) JANEIRO/SETEMBRO 2009/2003 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Conta Capital 340 210 588 624 564 698 786 Conta Financeira 9704-7334 -4460 8221 72052 53401 39769 Investimento Direto 6244 3429 9272 4170 31282 15448 22859 Inv. Brasil Direto -223-8935 -2393-7805 3295-15407 5168 Inv. Estrangeiro Direto 6467 12364 11664 11975 27982 30855 17691 Investimento Carteira 3649-4228 4348 2354 35582 17087 21722 Inv. Brasil Carteira -1-563 -1495 637-226 120-971 Inv. Estrangeiro Carteira 3650-3665 5843 1717 35909 16967 22693 Derivativos -180-534 161 27-465 -401 169 Outros Investimentos -8-6001 -18241 1671 5654 21267-4981 Conta Capital e Financeira 10044-7124 -3872 8845 72616 54099 40555 FONTE: BACEN/IPEADA Conforme destaca a tabela acima, para o acumulado de janeiro-setembro de 2009, o Investimento Direto totalizou US$ 22,859 bilhões, ante US$ 15,448 bilhões no mesmo período de 2008. Esse crescimento deve-se principalmente ao Investimento Brasil Direto, que neste período acumula US$ 5,168 bilhões, ante o déficit de US$ 15, 407bilhões. Já o Investimento Estrangeiro Direto, no acumulado representa US$ 17, 691 bilhões, ante US$ 30, 855 bilhões registrado no mesmo período de 2008. O subgrupo investimento em carteira registrou ingresso recorde nos meses de julho e agosto, respectivamente, foram totalizados US$ 7, 688 e US$ 6,141 bilhões, não havia sido apresentado resultado tão expressivo desde dezembro 2007. Ao analisar esse