Verificação da capacidade produtiva obtida através da análise do plano-mestre da produção: um estudo de caso



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Transcrição:

Verificação da capacidade produtiva obtida através da análise do plano-mestre da produção: um estudo de caso Cristian Dekkers Kremer (UTFPR) cristian_dk@ig.com.br João Luiz Kovaleski (UTFPR) kovaleski@pg.cefetpr.br Luis Mauricio Martins de Resende (UTFPR) mauricio@pg.cefetpr.br Resumo: Este artigo tem a finalidade de apresentar e discutir assuntos referentes à importância da obtenção de um nivelamento adequado entre a demanda e a capacidade efetiva da produção de uma indústria metalúrgica, localizada na cidade de Castro - PR. Apresenta um modelo para a elaboração de um plano-mestre da produção que possibilita a comparação imediata entre a capacidade real dos recursos da produção e a demanda de fabricação. Demonstra também as interações necessárias entre o departamento Comercial e o Planejamento e Controle da Produção, as quais são extremamente importantes para a elaboração de um planejamento mais preciso de vendas, o qual possibilita um aumento da produtividade e competitividade através da utilização da capacidade máxima da produção. Palavras-chave: Plano-mestre da produção, Demanda, Capacidade da produção. 1. Introdução Na busca de atingir melhores índices de lucratividade, as empresas procuram reduzir ao máximo todos os custos operacionais, tendo como objetivo trabalhar com a máxima capacidade produtiva. Este artigo apresenta e aborda a elaboração e a utilização do plano-mestre da produção pelo pessoal do Planejamento e Controle da Produção (PCP), a fim de planejar e acompanhar o processo produtivo através da verificação das capacidades efetivas da produção, tanto a médio como a curto prazo. Para que sejam atingidos melhores resultados em produtividade e competitividade, torna-se extremamente importante um planejamento adequado e voltado para as capacidades da produção. Segundo Slack (1999, p.253), um equilíbrio adequado entre capacidade e demanda pode gerar altos lucros e clientes satisfeitos, enquanto que o equilíbrio errado pode ser potencialmente desastroso. Tanto em casos de excesso como também em situações de capacidade produtiva insuficiente, os custos extras e indesejáveis acabam aparecendo, gerando assim várias desvantagens. Para Corrêa (2001), uma capacidade insuficiente causa uma deteriorização do nível de serviços a clientes, principalmente no que diz respeito aos prazos e sua confiabilidade. Leva também à frustração do pessoal da fábrica, devido à grande pressão e à falta de capacidade para cumprir os prazos prometidos. Já em caso de excesso de capacidade, os custos adicionais aparecem, sendo totalmente inviáveis num ambiente extremamente competitivo. O objetivo principal deste trabalho consiste em apresentar e discutir assuntos referentes à importância do equilíbrio necessário entre a demanda e a capacidade efetiva da produção. De maneira geral, Tubino (1999) acrescenta que o objetivo de qualquer sistema de produção é nivelar a demanda com sua produção, acionando todos os seus recursos somente na medida em que os produtos forem solicitados pelos clientes. Este trabalho também apresenta as interações necessárias entre o PCP e o 1

departamento Comercial da empresa, as quais possibilitam a elaboração de um planejamento para vendas que tem como objetivo principal a busca constante do nivelamento entre a capacidade produtiva e a demanda. 2. Conceitos teóricos 2.1 Plano-mestre da produção (PMP) Para organizar e coordenar os trabalhos de fabricação no chão de fábrica, é necessário que o PCP faça um planejamento de todas as suas ações, elaborando assim um plano-mestre da produção (PMP). De acordo com Corrêa (2001), o PMP é o processo responsável pela garantia dos planos de manufatura, através de uma integração plena com o planejamento estratégico da empresa e com os demais planos funcionais. Através do PMP são declaradas as quantidades planejadas, baseadas nas expectativas da demanda presente e futura e nos recursos com os quais a empresa conta atualmente e vai contar no futuro. Estas quantidades dirigem os sistemas de gestão detalhada de materiais e da capacidade. De uma maneira mais simplificada, Russomano (2000) explica que o PMP é uma determinação do programa de produção dos vários produtos que a empresa fabrica. Comenta também que pelo PMP é representado o que está planejado para produzir, expresso em quantidades e datas de modelos específicos. Similarmente, Slack (1999) apresenta o PMP como sendo um documento que contém a quantidade dos produtos e os momentos em que eles devem ser produzidos. Referente aos objetivos do plano, Corrêa (2001) comenta que a principal função do PMP é balancear e coordenar suprimento e demanda dos produtos acabados, período a período, definindo programas detalhados de produção de forma a suportar os planos agregados desenvolvidos. Acrescenta ainda que, através do PMP, é possível verificar as seguintes alternativas para tomada de decisões: - Utilização de estoques de produtos acabados; - Necessidade de uso de horas-extras e sub-contratação; - Gerenciamento da demanda; - Variação dos tempos de promessa de entrega; - Combinação de gerenciamento de suprimentos, demanda e lead times; - Recusa de pedidos que não possam ser entregues na data solicitada. Para a elaboração do PMP, vários fatores são importantes e devem ser levados em consideração. Russomano (2000) destaca os seguintes: - Verificação da quantidade de pedidos; - Disponibilidade de materiais; - Capacidade da produção. Além disso, ao elaborar um PMP inicial, o PCP deve também analisar e verificar as necessidades e os recursos disponíveis, bem como também identificar possíveis gargalos nos processos, os quais possam inviabilizar a execução dos trabalhos (TUBINO, 1999). Dependendo do tipo de produção analisada, o PMP pode ser elaborado de diferentes maneiras, normalmente adequando-se à realidade da empresa. De acordo com Corrêa (2001), para ambientes de produção sob encomenda, o PMP deverá ser elaborado de acordo com o 2

seguimento da demanda, o que gera uma flexibilidade limitada para mudanças no planejamento com pequena antecedência. No próximo tópico seguem os conceitos referentes ao planejamento da capacidade de produção, o qual está diretamente relacionado com o PMP. 2.2 Planejamento da capacidade Inicialmente é necessário observar o conceito de capacidade produtiva em um ambiente de fabricação no chão de fábrica. Para Slack (1999, p.274), a capacidade produtiva de uma operação é o nível máximo de atividade de valor adicionado que pode ser conseguida em condições normais de operação durante determinado período de tempo. Com uma apresentação conceitual similar, Russomano (2000) explica que a verificação da capacidade da produção é uma representação da relação entre o tempo necessário para a realização das tarefas com o tempo disponível atual. Visando o aumento da capacidade produtiva, o PCP elabora um planejamento da capacidade de produção. De acordo com Pires (2004), o planejamento da capacidade de produção é o processo que visa uma perfeita conciliação entre a demanda e a capacidade instalada disponível. Também afirma que o dimensionamento da capacidade é parte importante do planejamento da produção. Referente às suas principais funções, Slack (1999) comenta que o planejamento da capacidade é a tarefa que tem por objetivo determinar a capacidade efetiva da operação produtiva, de forma que a mesma possa responder e atender a demanda. Em outras palavras, Favaretto (2001, p. 39) explica que o objetivo do planejamento da capacidade é assegurar a compatibilidade entre a capacidade disponível em centros de trabalho específicos e a capacidade necessária para atender a produção planejada. Pode-se considerar a capacidade da produção como sendo ajustável. Segundo Slack (1999), a capacidade da produção pode ser modificada através da utilização dos seguintes métodos: - Utilização de horas extras; - Variar o tamanho das forças de trabalho; - Usar o pessoal em tempo parcial; - Subcontratação; - Gerenciar a demanda. Para a elaboração e estudo referente à capacidade da produção, o PCP deve analisar os fatores de maior relevância. Segundo Favaretto (2001), questões relacionadas ao pessoal, tempo, equipamentos e materiais são importantes no contexto da manufatura e devem ser considerados no planejamento das capacidades. Um fator importante que vale ser citado é o fato de que, segundo Tubino (1999), a programação da produção de uma determinada peça ou equipamento somente será efetivada de maneira eficiente se a capacidade produtiva estiver sido equacionada e verificada no planomestre de produção, analisando-se as necessidades referentes ao número de turnos de trabalho, máquinas, materiais e recursos humanos disponíveis. Serão abordadas no próximo tópico, informações referentes ao planejamento para capacidades de curto prazo, as quais serão abordadas neste trabalho. 3

2.3 Planejamento para capacidade de curto prazo Por meio do acompanhamento e monitoramento do PMP, podem ser verificadas algumas necessidades de ajustes na capacidade da produção a curto prazo. Segundo Slack (1999), tais ajustes visam permitir flexibilizar o volume produzido por um curto período de tempo. De acordo com este autor, as decisões tomadas através do planejamento de capacidade afetam os seguintes aspectos de desempenho: - Os custos, as receitas e o capital de giro são afetados pelo equilíbrio entre capacidade e demanda, bem como também pela decisão de produção para estoques e para a antecipação da demanda; - A qualidade dos serviços pode ser afetada se ocorrerem grandes flutuações de capacidade, através da contratação de pessoal temporário ou utilização de horas extras; - A velocidade de resposta à demanda pode ser melhorada pelo aumento de estoques ou pela capacidade excedente, evitando as filas; - A confiabilidade pode ser melhorada através da proximidade dos níveis de demanda e capacidade; - A flexibilidade será melhorada por capacidade excedente. Um bom planejamento para capacidade de curto prazo, de acordo com Corrêa (2001), visa auxiliar e subsidiar as decisões a serem tomadas através do PMP, tendo como objetivos principais: - Antecipar as necessidades referentes às capacidades de recursos, os quais requeiram um curto espaço de tempo para sua obtenção; - Criar um plano detalhado para produção e que seja viável, a fim de que este possa ser liberado para a execução pela fábrica. Para a verificação da capacidade da produção a curto prazo, vários fatores devem ser levados em consideração. Segundo Corrêa (2001), para uma verificação de capacidade em curto prazo é necessário administrar a capacidade dos recursos, principalmente em função de alguns improvisos que possam acontecer, tais como quebra de máquinas, falta de materiais e falta de funcionários. Assim, verifica-se que é possível realizar um planejamento para capacidade de curto prazo através do monitoramento do PMP, por meio da análise da execução das tarefas e da administração dos recursos disponíveis. 3. Metodologia Este trabalho consiste, do ponto de vista de sua natureza, de uma pesquisa aplicada. O estudo se trata de uma abordagem qualitativa com objetivo exploratório. Com relação aos instrumentos, foram realizadas observações diretas no local de estudo e também executadas várias análises em documentos referentes à Gerência da Produção e ao PCP. Realizou-se este estudo de caso em uma indústria metalúrgica de médio porte, localizada na cidade de Castro no interior do Paraná. Esta empresa conta atualmente com sessenta e um colaboradores e trabalha no segmento de fabricação metal-mecânico. No local são fabricados diversos tipos de equipamentos e peças distintas, utilizando-se vários tipos de 4

materiais, principalmente aços carbono e inoxidáveis. Os projetos e fabricações são definidos através da solicitação dos clientes, sempre sob encomenda. Trata-se de uma empresa que possui fluxo variável de fabricação e não trabalha com fabricações em série. 4. Verificação da capacidade produtiva através da análise do PMP O processo utilizado pelo PCP, para a elaboração do PMP da empresa, consiste na montagem de um documento que apresenta todos os serviços abertos em execução, com seus devidos planejamentos e prazos determinados para cada processo de fabricação. Inicialmente é realizado o planejamento individual referente a cada serviço a ser executado, distribuindo-se os tempos destinados para cada etapa da produção em períodos compatíveis, objetivando fazer com que o prazo final para entrega das fabricações seja cumprido. Este processo de planejamento é repetido para cada novo serviço a ser iniciado. Com todos os planejamentos individuais por serviços já definidos, é montado então o PMP, através da união e sobreposição de todos os planejamentos em um só documento, separados através das etapas e processos de fabricação. Estas etapas são divididas em cinco agrupamentos de processos de fabricação: - Traçar / Cortar / Dobrar / Esmerilhar; - Furar / Tornear / Plainar; - Calandrar / Montar; - Soldar; - Jatear / Pintar. Cada agrupamento possui suas capacidades máximas de produção, as quais são determinadas pela quantidade de profissionais e máquinas disponíveis em cada processo de fabricação. No caso deste estudo, estas capacidades serão representadas pelo tempo total disponível para a execução das tarefas, expresso em horas por semana (h/semana). A tabela 1 apresenta as capacidades máximas de produção para cada agrupamento de processos de fabricação, referente à industria metalúrgica em estudo: TABELA 1- Capacidade máxima de produção por agrupamentos de processos de fabricação Agrupamentos de processos de fabricação Capacidade (h/semana) Traçar / Cortar / Dobrar / Esmerilhar 264 Furar / Tornear / Plainar 176 Calandrar / Montar 616 Soldar 220 Jatear / Pintar 176 Fonte: O autor. máxima Para cada novo serviço a ser executado, a Gerência da Produção recebe do departamento Comercial informações referentes às quantidades pré-determinadas dos tempos destinados para cada processo de fabricação, conforme orçamento inicial. A partir de então, cabe ao PCP distribuir tais tempos nos planejamentos individuais de cada serviço, visando sempre cumprir com os custos orçados e objetivando sempre executar as tarefas nos menores prazos possíveis, mantendo os padrões de qualidade. Como exemplo, a figura 1 mostra o PMP referente ao primeiro agrupamento de processos de fabricação, onde são indicados os tempos destinados para cada serviço e as 5

capacidades máximas da produção. Pode-se verificar na figura 1 que dez serviços estão em processo de fabricação simultânea. Neste documento é representado, para cada serviço, os tempos destinados e o período em que as tarefas devem ser executadas. Abaixo do planejamento existe um resumo referente à demanda e capacidade semanal, bem como também um saldo total de tempos para execução, o qual é representado pela subtração da capacidade semanal pela demanda de trabalho. Analisando a figura 1, verifica-se que na semana de 10/07/2006 a 14/07/2006 existe um excesso de demanda equivalente a vinte e quatro horas de trabalho. Portanto, para que a execução do serviço prossiga sem atrasos, é necessário executar as tarefas de acordo com o PMP. Verifica-se então a necessidade de ajuste da capacidade da produção de curto prazo. Cabe ao PCP definir que tipo de recurso deve utilizar para suprir o excesso de demanda necessário, podendo para isso utilizar mão de obra em horas extras. FIGURA 1 Plano-mestre da produção referente ao 1º agrupamento de processos de fabricação Fonte: O autor. Vale lembrar que, no caso deste estudo, a empresa trabalha com fabricações sob encomenda, de forma não contínua. Segundo Oishi (1995), quando a demanda não ocorre de maneira contínua e de forma isolada, a produção então deve ser ajustada, o que determina a produção de produtos na sequência em que a demanda se apresenta. Em análise às duas semanas seguintes, também verificam-se pequenos excessos de demanda, sendo de seis horas para a semana de 17/07/2006 a 21/07/2006 e de nove horas para a semana de 24/07/2006 a 28/07/2006. Nesta última, a capacidade total semanal é reduzida em virtude de um feriado no dia 26/07/2006. As verificações referentes aos excessos de demanda auxiliam o PCP na verificação antecipada de suas necessidades de produção, principalmente referente aos recursos a serem utilizados, tais como equipamentos, máquinas e mão de obra. Tubino (1999) ressalta que quanto mais rápido forem identificados os excessos de demanda, melhores soluções serão encontradas a fim de que seja cumprido o PMP. Com esta mesma linha de raciocínio, Russomano (2000) comenta que quando são 6

realizadas verificações antecipadas das capacidades da produção, é possível identificar quais máquinas e processos de fabricação estão sobrecarregados e quais estão sendo subutilizadas, podendo ser tomadas as decisões mais adequadas no que dizem respeito à distribuição das tarefas e à utilização das máquinas e equipamentos. Continuando a análise na figura 1, nota-se que nas semanas de 31/07/2006 a 04/08/2006 e de 07/08/2006 a 11/08/2006 existe uma subutilização dos processos de fabricação, com um saldo positivo disponível de setenta e quatro horas e de noventa e quatro horas, respectivamente. Neste caso verifica-se a necessidade do início de novos trabalhos nestes períodos, a fim de suprir com a capacidade disponível da produção. A partir de todas as análises e resultados encontrados, é possível também verificar a necessidade de um replanejamento da produção. Segundo Favaretto (2001), uma questão a ser verificada no planejamento da produção é saber quando mudar os planos. O autor também afirma que quanto mais estável forem os planos, mais eles permitirão um aproveitamento efetivo da capacidade instalada. Este mesmo processo completo para elaboração e análise do PMP é realizado para todos os agrupamentos de processos de fabricação citados na tabela 1. A união de todos estes documentos forma o PMP completo. Todas as informações e conclusões oriundas da análise do PMP realizada pelo PCP, são repassadas ao departamento Comercial da empresa. Tais informações possibilitam um planejamento real para vendas, visando sempre o nivelamento da demanda de serviços com a capacidade máxima da produção. No próximo tópico serão analisados os resultados encontrados através do estudo do PMP referente à capacidade produtiva da empresa. 5. Análise dos resultados A elaboração do PMP foi realizada de maneira adequada à empresa e de acordo com a demanda, visto que esta metalúrgica trabalha com fabricações sob encomenda e com um fluxo não contínuo. Este processo foi realizado de acordo com a teoria descrita por Corrêa (2001), visto que este documento auxiliou o PCP na tomada de decisões e na coordenação e acompanhamento da produção. O PMP representa uma relação entre os tempos necessários para a execução das tarefas com os tempos disponíveis da produção, possibilitando a verificação da capacidade da produção, conforme o conceito de Russomano (2000). Através da análise e verificação do PMP, o PCP pôde realizar um planejamento referente à capacidade de curto prazo, onde puderam ser verificados possíveis excessos de demanda ou subutilização dos tempos disponíveis para fabricação. Por meio da verificação das capacidades de curto prazo, o PCP pôde detectar a necessidade de realizar alguns ajustes de capacidade, através da utilização de horas extras. Tais recursos de ajustes procedem com a teoria de Slack (1999). Verificaram-se também, através do estudo e análise do PMP, os períodos em que as máquinas e a mão de obra para fabricação estariam sendo subutilizados. Através do repasse destas informações ao departamento Comercial, puderam ser realizados planejamentos para vendas futuras, os quais visam completar a capacidade disponível. Com as informações referentes aos excessos de demanda e a subutilização da capacidade produtiva, o resultado principal alcançado foi a execução de um planejamento que 7

possibilitou a real conciliação entre a demanda e a capacidade máxima instalada, através das vendas programadas pelo PMP. Segundo Pires (2004), este é um resultado que representa o real significado do planejamento da capacidade de produção. 6. Conclusão O PMP é de extrema importância ao PCP, visto que possibilita um planejamento e acompanhamento completo da produção por meio da verificação das capacidades produtivas, realizadas através da comparação entre a demanda e os recursos disponíveis. Através das análises de capacidade de curto prazo, o PCP pode tomar algumas decisões seguras referente aos ajustes de capacidade, bem como também melhorar o planejamento para a utilização das máquinas, equipamentos e da mão de obra disponível. As informações reais referentes aos excessos de demanda e à subutilização dos processos de fabricação, identificados pelo PMP, possibilitam o estudo e a elaboração de um planejamento adequado para vendas futuras, de acordo com as possibilidades e necessidades da produção. Por meio do acompanhamento e cumprimento do PMP, a empresa atingiu melhores resultados em produtividade, visto que através da conciliação entre a demanda e a capacidade real de produção todos os recursos disponíveis foram melhor aproveitados. Com as vendas planejadas, a ociosidade nos processos de fabricação diminuiu consideravelmente, pois tais aberturas de possibilidades de produção já haviam sido detectadas anteriormente através da análise do PMP, sendo cobertas naturalmente com a execução dos novos serviços negociados através do planejamento de vendas. Referências CORRÊA, H. L. et al. Planejamento, Programação e Controle da Produção: MRP II/ERP: conceitos, uso e implantação. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. FAVARETTO, F. Uma contribuição ao processo de gestão da produção pelo uso da coleta automática de dados de chão de fábrica. Tese de doutorado Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2001. OISHI, M. Técnicas Integradas na Produção e Serviços. 1. ed. São Paulo: Pioneira, 1995. PIRES, I. C. C. Expansão da capacidade produtiva em tempos de crise: um estudo de caso em uma pequena confecção no Cariri cearense. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 24., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ABEPRO, 2004. 1 CD-ROM. RUSSOMANO, V. H. PCP: Planejamento e Controle da Produção. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 2000. SLACK, N. et al. Administração da Produção. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1999. TUBINO, D. F. Sistemas de Produção: A Produtividade no Chão de Fábrica. 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 8