Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Terceira Câmara Cível



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Transcrição:

APELANTE 1: APELANTE 2: APELADOS: RELATOR: HYNOVE IMPLANTES DENTÁRIOS LTDA. JOANA D ARC DE OLIVEIRA SOUZA OS MESMOS Desembargador MARIO ASSIS GONÇALVES Responsabilidade civil objetiva. Teoria do risco do empreendimento. Tratamento odontológico. Implantes dentários. Falha na prestação do serviço. Indenização por danos morais. A relação jurídica estabelecida entre as partes é de consumo e se submete ao Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 14, 3º, inciso II, atribui responsabilidade objetiva ao fornecedor de serviços, regra que somente se afasta com a prova da inexistência do defeito no serviço ou se o defeito decorrer de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Clínica odontológica contratada em janeiro de 2011 para implantar dentes na consumidora, a qual, apesar de estar adimplindo o pagamento das parcelas, teve o tratamento interrompido por vários meses, até que teve de ajuizar a presente ação, passados doze meses do início do tratamento. Concluiu a ilustre expert sobre a necessidade urgente de colocação das próteses sobre os implantes já realizados para que a autora não venha a perder os mesmos. Apurou-se que a ré apenas parcialmente estava seguindo o plano de tratamento traçado para a autora, em cujo maxilar inferior, segundo o laudo (fls. 204), somente foram instalados quatro implantes e os protetores dos minipilares, não apresentando a prótese protocolo contratada no início de seu tratamento e nem a prótese total superior. Função mastigatória mantida disfuncional, assim como agravada a questão estética, ambas motivadoras da contratação dos serviços. Evidente a falha do serviço. Existência de nexo de causalidade. Sentença de procedência do pedido condenando a ré a indenizar os danos morais suportados pela autora no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e suportar os ônus sucumbenciais, pagando as custas do processo e os honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento). Danos morais configurados. A indenização arbitrada está harmonizada com o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, pelo que deve ser mantido. Sentença correta. Recursos a que se nega provimento. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em negar provimento a ambos os recursos, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2014. Pág. nº 1

R E L A T Ó R I O Cuida-se de ação de reparação de danos morais, de rito sumário, proposta por Joana D Arc de Oliveira Souza em face de Hynove Implantes Dentários Ltda., objetivando a condenação da ré a indenizar-lhe danos morais na quantia correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos, ao fundamento de que tendo contratado em 01/01/2011 serviços para implante de dentes no valor de R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos reais), pagando R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) de sinal e 15 (quinze) parcelas de R$ 533,34 (quinhentos e trinta e três reais e trinta e quatro centavos) no boleto bancário, a ré só lhe implantou dois pinos em onze consultas, apesar de estar adimplindo as prestações, o que a deixa sem condições até para se alimentar corretamente (fls. 02/04 e emenda de fl. 36). Decisão (fl. 33), deferindo gratuidade de justiça. Contestação (fls. 74/90), arguindo que a autora declarou estar ciente do tratamento proposto e que autorizou a realização do plano de tratamento descrito no orçamento, e que no momento da contratação e preenchimento da ficha de anamnese, cuidou de informar não só sobre o tratamento, mas também sobre os riscos, prazos de recuperação e cuidados pós-operatórios. Informa que a autora já havia realizado a exodontia dos dentes nº 21, 32, 33,41 e 42, no dia 22/06/2011, ocasião em que se instalaram os quatro implantes e carga imediata. Afirma que juntamente com os procedimentos cirúrgicos e carga imediata na arcada inferior, foram realizadas diversas consultas com protéticos, para a confecção e entrega da prótese definitiva superior e que após a realização dos procedimentos cirúrgicos é fundamental um prazo para recuperação do paciente, que, mesmo possuindo estrutura óssea favorável é realizada como medida de preventiva, sempre visando um serviço de qualidade. Conclui afirmando que não há que se falar em má-prestação de serviços, visto que todos os procedimentos estavam sendo realizados de forma correta e de acordo com o plano de tratamento Pág. nº 2

traçado, sem que houvesse queixas e que, se o tratamento não foi finalizado, a culpa é inteiramente da autora, porque não quis dar continuidade ao tratamento. Audiência de conciliação (fl. 145), infrutífera, sendo proferida decisão saneadora, fixados os pontos controvertidos e determinada a prova pericial odontológica. Laudo pericial (fls. 176/180). Impugnação da ré (fls. 188/190). Manifestação da autora (fls. 194/195). Esclarecimentos da perita (fls. 203/205). Manifestação da ré (fls. 212/215). Manifestação da autora (fl. 219). Sentença (fls. 222/224), julgando procedente o pedido para condenar a ré a pagar à parte autora o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral, corrigidos da data da decisão e com juros de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação, e ainda no pagamento das custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, que passarão a 15% (quinze por cento) no caso de execução forçada tendo em vista a continuação da atividade do patrono da parte vencedora e ainda que a multa de que trata o artigo 475-J do CPC incidirá após o prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em julgado desta ou da decisão que receber recurso no efeito meramente devolutivo, independente de nova intimação. Apelação cível (fls. 232/251) repisando a ré as razões já expendidas e destacando que os serviços estavam sendo realizados de modo sequencial, respeitando os prazos de recuperação a que foi a autora submetida e que a suposta demora na conclusão se deu em respeito à sua saúde, pois a celeridade exacerbada dos serviços poderia acarretar eventuais falhas e causar danos possivelmente irreparáveis. Conclui afirmando a inexistência de danos morais, porque se trataria de mero aborrecimento e, dada a eventualidade, postula a redução da indenização arbitrada. Pág. nº 3

Apelação cível (fls. 254/256) em que a autora postula a majoração da indenização para sessenta salários mínimos. Sem contrarrazões da ré (fls. 264). Sem contrarrazões da autora (fl. 265). É o relatório. Pág. nº 4

V O T O Cuida-se de apelações cíveis deduzidas pelas partes, a ré, Hynove Implantes Dentários Ltda., às fls. 232/251, e a autora, Joana D Arc de Oliveira Souza, às fls. 254/256, contra a sentença de fls. 222/224, proferida pelo Juízo da 6ª Vara Cível Regional de Campo Grande nos autos da ação indenizatória em curso, a qual julgou procedente o pedido para condenar a ré a pagar à autora o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral e, mais, a pagar as custas e os honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, determinando ainda que passarão a 15% (quinze por cento) no caso de execução forçada, tendo em vista a continuação da atividade do patrono da parte vencedora e também que a multa de que trata o art. 475-J do CPC incidirá após o prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em julgado desta ou da decisão que receber recurso no efeito meramente devolutivo, independente de nova intimação. seus nobres patronos. Não assiste razão a ambas as partes, em que pese o esforço de Inicialmente, frise-se que a relação jurídica estabelecida entre as partes é de consumo e se submete ao Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 14, 3º, inciso II, atribui responsabilidade objetiva ao fornecedor de serviços, regra que somente se afasta com a prova da inexistência do defeito no serviço ou se o defeito decorrer de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. fornecedor: O Código de Defesa do Consumidor assim define consumidor e "Art. 2º: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final." "Art. 3º: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços." Pág. nº 5

Logo, a responsabilidade civil da ré deve ser analisada sob a ótica objetiva, conforme disposto no art. 14 do CDC, verbis: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 1 O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. (...) 3 O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. A responsabilidade objetiva se configura independentemente da culpa, como leciona Carlos Roberto Gonçalves: "Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda no risco (objetiva propriamente dita ou pura). Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu, porque sua culpa já é presumida. Trata-se, portanto, de classificação baseada no ônus da prova. É objetiva porque dispensa a vítima do referido ônus. Mas, como se baseia em culpa presumida, denomina-se objetiva imprópria ou impura. É o caso, por exemplo, previsto no art. 936 do CC, que presume a culpa do dono do animal que venha a causar dano a outrem. Mas faculta-lhe a prova das excludentes ali mencionadas, com inversão do ônus probandi. Se o réu não provar a existência de alguma excludente, será considerado culpado, pois sua culpa é presumida. Há casos em que se prescinde totalmente da prova da culpa. São as hipóteses de responsabilidade independentemente de culpa. Basta que haja relação de causalidade entre a ação e o dano." (in Responsabilidade Civil, 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, pág. 21/22): Veja-se o entendimento de Sérgio Cavalieri Filho: "O fornecedor de serviços, consoante art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, responde, independentemente da existência de culpa, pela Pág. nº 6

que perfilho, o seguinte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços. Trata-se de responsabilidade objetiva pelo fato do serviço, fundada na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens e serviços tem o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, decorrendo a responsabilidade do simples fato de dispor-se alguém a realizar atividade de executar determinados serviços. Em suma, os riscos do empreendimento correm por conta do fornecedor (de produtos e serviços) e não do consumidor. O fornecedor só afasta a sua responsabilidade se provar (ônus seu) a ocorrência de uma das causas que excluem o próprio nexo causal, enunciadas no 3º do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor: inexistência do defeito e culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro." (in Programa de Responsabilidade Civil. 4. ed. rev., aum. e atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 400). Ora, extrai-se da fundamentação da douta sentença hostilizada, Cuida-se de ação de indenização, em que a autora pretende obter a condenação da ré a indenização referente ao serviço não realizado que culminou com seus danos morais, apontando falha do serviço da clinica ré por não ter concluído o serviço na forma ajustada. Alega que procurou a clinica ré para colocação de implantes dentários na arcada inferior e posteriormente seria confeccionada uma prótese fixa. Ocorre que decorridos vários meses a ré não finalizou o tratamento dentário contratado pela autora, conforme confirmado no laudo pericial de fls. 176/182, em evidente falha do serviço. A parte ré alega que a culpa é inteiramente da autora, que não quis dar continuidade ao tratamento, porém, não é verossímil que autora não procuraria o réu para finalizar o tratamento que vem adimplindo. O que se consta aqui é que a ré estava apenas parcialmente seguindo o plano de tratamento traçado para a autora, já que no maxilar inferior a autora, segundo o laudo (fls. 204), somente apresentava os quatro implantes instalados e os protetores dos minipilares, não apresentando a prótese protocolo contratada no início de seu tratamento, nem a prótese total superior. Ressalta-se que não há qualquer justificativa técnica para a demora da colocação da prótese, tendo em vista que os serviços foram contratados em janeiro de 2011 e, um ano após, no mês do ajuizamento da ação, o quadro delineado era o já descrito no parágrafo anterior, sendo certo que, como relata a ilustre louvada, a literatura odontológica mundial aponta para um período de osseointegração dos pinos de 3 a 6 meses, após o que pode ser instalada a prótese definitiva. Não se nega os constrangimentos e sofrimentos causados à autora, que por mais de seis meses ficou aguardando o serviço, expondo-a a situação Pág. nº 7

vexatória, motivo pelo qual fixo o valor de R$ 10.000,00 a título de dano moral, mostra-se justo e proporcional ao dano infligido. Restou assim evidenciado o nexo de causalidade. A função mastigatória foi mantida disfuncional, assim como agravada a questão estética, ambas motivadoras da contratação pela autora dos serviços disponibilizados pela ré. Pereira ensina que: Com relação à fixação dos danos morais, Caio Mário da Silva "O problema de sua reparação deve ser posto em termos de que a reparação do dano moral, a par do caráter punitivo imposto ao agente, tem de assumir sentido compensatório. Sem a noção de equivalência, que é própria da indenização do dano material, corresponderá à função compensatória pelo que tiver sofrido. Somente assumindo uma concepção desta ordem é que se compreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do dano moral. A isso é de se acrescer que na reparação do dano moral insere-se uma atitude de solidariedade à vítima." (in Responsabilidade Civil, 6ª edição, Editora Forense, 1995, pág. 60). Sem maiores digressões veja-se o entendimento deste Tribunal de Justiça em questões assemelhadas: DIREITO DO CONSUMIDOR. AGRAVOS RETIDOS. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. SERVIÇO ODONTOLÓGICO. IMPLANTES DENTÁRIOS. ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL VEIGA DE ALMEIDA. FORNECEDORA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTIGO 14, CAPUT, DO CDC. Uma vez que a prótese sobre implantes do tipo parafusada não atende as necessidades habituais de mastigação e estética da consumidora, não minorando, assim, as seqüelas existentes e não substituí, de maneira adequada, os elementos dentários perdidos e lesados, por comprovado se tem defeito (vício) do serviço, impondo, por conseguinte, a restituição imediata e integral do valor pago, corrigido monetariamente. O procedimento adotado pela ré deu, sem qualquer dúvida, causa a dor, o sofrimento e o sentimento da violação da própria honorabilidade da autora. Viveu a autora dias dramáticos e angustiantes, o que, ao que tudo indica, perdura até hoje, amargando sofrimento, vergonha, humilhação e depressão, submetendo-se, como assim indicado nos autos, a tratamento medicamentoso. DESPROVIMENTO DOS AGRAVOS RETIDOS. DESPROVIMENTO DO PRIMEIRO RECURSO (O DO RÉU) E PROVIMENTO DO SEGUNDO (O DA AUTORA). (Apelação Cível 0080405-74.2007.8.19.0001 [2009.001.05629] PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL - Rel.: DES. MALDONADO DE CARVALHO - Julgamento: 02/02/2010). Pág. nº 8

E ainda: Apelação cível. Ação indenizatória. Tratamento odontológico de implantes. Alegação de tratamento prestado de forma inadequada, causando danos material e moral à apelante. Sentença de improcedência. Laudo pericial constatando a necessidade de enxerto para um dos 5 elementos, que apresenta mobilidade e é sensível ao toque. Licença maternidade da dentista durante 5 meses suspendendo a fase de ajustes. Dano material demonstrado pelo pagamento ainda que parcial de serviço incompleto. Dano moral caracterizado pela angústia e extensão do problema. Reforma da sentença para julgar procedente o pedido da apelante, condenando a ré a devolver o que foi pago e pagar indenização pelo dano moral, fixada em R$ 6.000,00. Inversão da sucumbência. Reconvenção prejudicada. Recurso provido. (Apelação Cível 0027798-84.2007.8.19.0001 [2008.001.55568] DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Rel.: DES. MARIO GUIMARAES NETO - Julgamento: 24/01/2012). Por tais fundamentos, voto no sentido de conhecer, mas negar provimento a ambos os recurso, mantendo íntegra a douta sentença hostilizada. Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2014. Pág. nº 9