APELANTES: MAURO MENDES FERREIRA RIBEIRO MIGUEL SUTIL AUTO POSTO LTDA. APELADOS: RIBEIRO MIGUEL SUTIL AUTO POSTO LTDA. MAURO MENDES FERREIRA Número do Protocolo: 44201/2015 Data de Julgamento: 17-06-2015 E M E N T A EMBARGOS DO DEVEDOR EXECUÇÃO CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRÊNCIA - CHEQUE PREENCHIMENTO POSTERIOR PELO PORTADOR PRESCRIÇÃO AFASTADA - EXECUÇÃO - AUSÊNCIA DE MÁCULAS HONORÁRIOS MAJORAÇÃO. Pode o magistrado proceder ao julgamento antecipado da lide, se a matéria for unicamente de direito, podendo dispensar a produção das provas que achar desnecessária à solução do feito, conforme lhe é facultado pela lei processual civil, sem que isso configure supressão do direito de defesa das partes. O preenchimento posterior do cheque pelo portador, não enseja a nulidade do título em execução, devendo prevalecer a data de emissão subscrita no título. Prescrição não consumada. O cheque, por definição, é uma declaração unilateral, através da qual o emitente dá uma ordem incondicional de pagamento à vista, para que seja pago o valor ali descrito, a quem o porte ou a quem for nominal. Título executivo livre de máculas. Embargos rejeitados. No tocante ao quantum da verba honorária, ressalto que os embargos à execução não possuem feição condenatória, devendo ser aplicada a regra disposta no 4º, do art. 20, do CPC para o seu arbitramento. Fl. 1 de 10
APELANTES: MAURO MENDES FERREIRA RIBEIRO MIGUEL SUTIL AUTO POSTO LTDA APELADOS: RIBEIRO MIGUEL SUTIL AUTO POSTO LTDA MAURO MENDES FERREIRA R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Egrégia Câmara: O MM. Juiz de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá, proferiu sentença julgando improcedente os embargos à execução oposto por Mauro Mendes Ferreira em desfavor de Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda., por não vislumbrar vícios capaz de macular o feito executivo. Em complemento, condenou o embargante em arcar com as custas processuais e honorários de sucumbência (fls. 108/110). Irresignado, Mauro Mendes Ferreira interpõe o presente recurso argumentando preliminarmenteque houve cerceamento ao seu direito de defesa, ante ao julgamento antecipado da lide, posto que não procedeu a necessária instrução do feito. Destaca ainda que o cheque que embasa a execução esta prescrito e que não preenche os requisitos necessários para viabilizaro prosseguimento da lide (fls. 111/124). De igual forma, Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda. interpõe recurso adesivo requerendo a majoração dos honorários sucumbencialpara 20% do valor discutido nos autos (fls. 285/292). Mauro Mendes Ferreira e Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda. ofertaram contrarrazões às fls. 295/308 e 312/318. É o relatório. Fl. 2 de 10
V O T O EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (RELATOR) Egrégia Câmara: Trata-se de recursos de apelação interpostos contra a sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá, que julgou improcedente os embargos à execução oposto por Mauro Mendes Ferreira em desfavor de Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda., por não vislumbrar vícios capazes de macular o feito executivo. Mauro Mendes Ferreira sustenta em preliminar a nulidade da sentença por cerceamento ao seu direito de defesa, ante ao julgamento antecipado da lide, devendo os autos retornarem à instância de origem a fim de que sejam produzidas as provas testemunhal, pericial e quebra do sigilo telefônico do recorrido e de seus representantes no período anterior e posterior à distribuição da execução (fl. 124), visando comprovar que o cheque executado fora emitido no ano de 2008, encontrando-se fulminado pela prescrição, além do fato de que o título fora emitido apenas em garantia a terceiros, cujo negócio não se efetivou. (fls. 114/115). Sem razão. Sendo o juiz o destinatário da prova, conforme dispõe o art. 130, do CPC, cabe a ele decidir a respeito da conveniênciaou não da sua produção, possibilitando formar o seu convencimento para o correto desate da controvérsia. Nesse sentido já decidiu este Tribunal, verbis: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA - INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL - LIVRE AVALIAÇÃO PELO MAGISTRADO - ARTIGO 130 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - IMPROCEDÊNCIA - MORA CARACTERIZADA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL NOS TERMOS DO DECRETO LEI Nº 911/69 Fl. 3 de 10
REVISÃO DE DISCUSSÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS CONSIDERADAS ABUSIVAS NO BOJO DA AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - POSSIBILIDADE - ARTIGO 3º, 3º E 4º, DO DECRETO-LEI Nº 911/69 COM REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 10.931/2004 - ATENDIMENTO AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E A ECONOMIA PROCESSUAL - RECURSO PROVIDO - SENTENÇA ANULADA. Sendo requerida prova pericial nos autos e não sendo indeferida pelo magistrado, não há que se falar em cerceamento de defesa, pois a ele cabe o livre convencimento e indeferimento de provas e diligências que julgar procrastinatórias e desnecessárias ao deslinde da contenda. Em se tratando de Ação de Busca e Apreensão, com a inteligência do Decreto-Lei nº 911/69 e da Lei nº 10.931/2004, tornou-se possível o pleno juízo de cognição fundada em alienação fiduciária, nos autos de Busca e Apreensão. Assim, cabível é a discussão de cláusulas contratuais consideradas abusivas no próprio bojo da Ação de Busca e Apreensão em atendimento aos Princípios da Ampla Defesa e da Economia Processual. (RAC nº 64.396/2008, 1ª Câm. Cív., Rel. Des. Jurandir Florêncio de Castilho, j. 11.08.2008 grifei) De tal arte, sendo plenamente possível aferir por meio dos elementos constantes nos autos a higidez do título executivo questionado pelo embargante, considero suficiente a prova produzida e rejeito a preliminar de cerceamento de defesa, sob pena de protelar indevidamenteo desfecho da celeuma. O recorrente defende ainda a nulidade da execução, por estar amparada em cheque prescrito, emitido em verdade no ano de 2008, e não em 16.09.2010, como consta no título acostado à fl. 28 do feito executivo em apenso (cód. 460203). Sem razão. Como é sabido, o cheque é título de crédito em que as obrigações contraídas são autônomas e independentes, conforme disposto no art. 13, da Lei n. 7.357/85, ou seja, representa dívida líquida, certa e exigívelpor quem o detém. Dito isso, deve prevalecer a data de emissão subscrita no título, Fl. 4 de 10
mesmo se preenchida pelo portador, fato que diga-se de passagem, não se mostrou verossímil, de modo que não há que se falar em consumação do prazo prescricional. Neste sentido temos: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CHEQUE. PRESCRIÇÃO AFASTADA. DATA DE EMISSÃO EM BRANCO. PREENCHIMENTO POSTERIOR. VALIDADE. Reconhecida a possibilidade de preenchimento posterior da data de emissão da cártula. Situação que não afasta a higidez, tampouco retira a validade do cheque como título de crédito. Caso em que o emitente confere ao credor autorização para o suprimento da omissão. Aplicabilidade do art. 16 da Lei do Cheque e da Súmula 387 do STF. Termo inicial da prescrição: data preenchida pelo portador do título.... (TJRS, RAC n. 70047285218, 15ª Câm. Cív., Rela. Desa. Ana Beatriz Iser, j. 04.04.2012) AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. PERÍCIA GRAFODOCUMENTOSCÓPICA. DESNECESSIDADE NO CASO CONCRETO. 1. O posterior preenchimento de cheque, pelo portador, não enseja, a princípio, a nulidade do título em execução. 2. Dessa forma, a prova pericial postulada, visando à comprovação de que as datas constantes das cártulas ora em execução teriam sido nelas incluídas em momento posterior à sua assinatura, mostra-se desnecessária à perfeita compreensão da lide, motivo pelo qual se impõe a manutenção da decisão atacada. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (TJRS, RAI n. 70051867497, Rel. Des. Mário Crespo Brum, 12ª Câm. Cív., j. 08.11.2012 - negritei) O apelante alega ainda que o cheque fora emitido apenas em garantia de terceiros, cujo negócio não se efetivou, perdendo a sua característica de título executivo. Sem razão. Basta uma simples leitura dos embargos à execução, Fl. 5 de 10
bem como do recurso em apreço para constatar que o recorrente sequer especifica os detalhes do suposto negócio jurídico garantido pelo cheque objeto da execução, se limitando em alegar de forma completamente genérica que garantiria valores de determinada doação de campanha eleitoral, fato que afasta por completo a verossimilhançade suas alegações. Acrescento que o cheque prescinde de discussão a respeito do negócio jurídico subjacente, uma vez que não é título causal. Assim, só poderiam ser arguidas exceções pessoais entre os contratantes, isto é, entre o emitente e o primeiro portador, se não tivesse ocorrido a circulação da cártula ou houvesse a comprovação da má-fé do portador, forte no art. 25, da lei do cheque. Neste sentido temos: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TÍTULO DE CRÉDITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CIRCULAÇÃO DO CHEQUE. TRADIÇÃO. INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS. SENTENÇA MANTIDA. O cheque é um título de crédito dotado de autonomia cambial e abstração, circulável, não só por endosso, mas também por mera tradição, sendo inoponíveis as exceções pessoais que o emitente tenha frente ao credor originário, salvo se restar demonstrado o emprego de má-fé do portador, através da qual tenha tido a intenção de prejudicar o emitente do título, situação não verificada nos autos. Art. 25 da Lei 7.357/85. Sentença mantida. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME. (TJRS, RAC n. 70042513192, 18ª Câm. Cív., Rela. Elaine Maria Canto da Fonseca, j. 30.10.2014) Ademais, são precisas as considerações firmadas pelo magistrado de origem, que passam a integrar a fundamentação deste voto, confira: Em razão disso, a investigação sobre a "causa debendi" do cheque, ante sua autonomia, título não causal que é, só é permitida em presença de sérios indícios de que a obrigação foi constituída em flagrante desrespeito à ordem jurídica ou se configurada a má-fé do possuidor do Fl. 6 de 10
titulo, o que não ocorreu no caso vertente, sobretudo porque não há negativa de emissão pelo Executado ora Embargante, sem contar que é pouco crível que a pessoa que realiza a emissão de cheque diretamente ao portador deixe de exigir a devolução da cártula, até mesmo para evitar que continue a circular e seja repassado a terceiros de boa-fé, ou ainda, como no caso dos autos, não efetue sequer a sustação do título já que alega o Embargante ter sido informado à época da inutilização da cártula, sobretudo diante da vultuosa quantia. Desse modo, inviável acolher a tese autoral no sentido que o cheque teria sido emitido como garantia subsidiária a uma negociação para doação de campanha, mesmo porque considerando que a Lei Eleitoral estabelece limites de valores para estas doações e ainda, impõe a aplicação de multa para àqueles que repassarem valores acima do permitido, certamente esse doador não iria se escusar de declarar o valor ao candidato. Importante se diga, que não obstante ter sido o cheque devolvido pela alínea 21, (sustado ou revogado), o próprio Executado ora Embargante afirmou em sua defesa que somente se opôs a ordem de pagamento após ter recebido uma ligação de seu gerente solicitando a confirmação do título, demonstrando sua conduta desidiosa que traduz ter assumido o risco de causar prejuízo a terceiro e a si próprio. (...) Ainda, convém anotar que o Executado, ora Embargante não nega a emissão do título, sendo certo que os extratos de fls. 16/25, nada modificam a situação de devedor do embargante, na medida em que não há rasura no preenchimento, bem como ainda que ficasse comprovado o fato do preenchimento ter ocorrido posterior da data de emissão, jamais teria o condão de descaracterizar o cheque como ordem de pagamento à vista. Fl. 7 de 10
Ao meu sentir, tal atitude (de não ter preenchido a data de emissão do título), se considerada, somente levaria a conclusão que assim agindo o Embargante, sujeitou-se ao risco do preenchimento da data da emissão do cheque no momento da apresentação, já que inexiste óbice na Lei n 7.357/85 para a realização de tal conduta. Nesse passo, não há se falar em prescrição do título, tampouco vislumbro necessidade de produção pericial. Destarte, inexistindo indícios mínimos da versão sustentada pelo Devedor, não restando, portanto, derruído o fato constitutivo do direito do credor,ônus que incumbia ao devedor, na forma do art. 333, inciso II, do CPC, inviável o albergue da pretensão vertida nos Embargos. (fls. 109/110 - negritei) não merecem prosperar. Isto posto, é certo que as alegações afetas a invalidade do título Por fim, Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda. interpõe recurso adesivo requerendo a majoração dos honorários sucumbencial fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para o importe de 20% do valor discutido nos autos. Pois bem. No que se refere a fixação dos honorários, resta atraída a aplicação do artigo 20, 4º, do CPC, que prescreve que nas causas de pequeno valor, nas que não houver condenação e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do Juiz, atendidas as normas das alíneas do 3º, do mesmo artigo. Assim, atento aos parâmetros legais, e considerando o grau de zelo do profissional, o tempo de tramitação do processo, a complexidade do trabalho desenvolvido, entendo que o arbitramento em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) merece ser majorado, considerando o labor exigido do causídico. Desse modo, levando-se em conta as peculiaridades do litígio, acolho em parte a súplica recursal, para fixar em R$ 10.000,00 (dez mil reais), os honorários de sucumbência devidos ao patrono do embargado. Fl. 8 de 10
Assim, conheço de ambos os recursos, e NEGO PROVIMENTO ao apelo interposto por Mauro Mendes Ferreira, e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso adesivo manejado por Ribeiro Miguel Sutil Auto Posto Ltda. Fl. 9 de 10
A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Relator), DES. DIRCEU DOS SANTOS (Revisor) e DES. JOSÉ ZUQUIM NOGUEIRA (Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO MAURO MENDES FERREIRA DESPROVIDO, APELO DE RIBEIRO MIGUEL SUTIL AUTO POSTO LTDA, PROVIDO PARCIALMENTE. DECISÃO UNÂNIME. Usou da palavra o Sr. Dr. Diego Gomes da Silva Lessi. Cuiabá, 17 de junho de 2015. ------------------------------------------------------------------------------------------ DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA - RELATOR Fl. 10 de 10