PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Voto n A~A NA^ DE JU STIÇA DE SÃO PAULO ACÔRDAO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N u*»,oui» Obrigação de fazer. Devido processo legal observado. Cerceamento de defesa não caracterizado. Registro de alteração contratual Inadmissibilidade. Quotas sociais que constam do pretenso instrumento não mais pertenciam ao sócio referido. Pretensão dos apelantes não tem supedâneo. Questões outras são irrelevantes para o desfecho da demanda. Apelo desprovido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL n , da Comarca de SÃO JOÃO DA BOA VISTA, em que são apelantes JOSÉ PROCOPIO LIMA AZEVEDO SOBRINHO E OUTROS, sendo apelados SUPERMERCADO PORTO REAL LTDA E OUTROS: ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime: "NEGAR PROVIMENTO AO APELO", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. 1. Apelação interposta tempestivamente, co) base na r. sentença de fls. 222/226, aclarada pelos embargos de flí ARTES GRÁFICAS -TJ

2 232, que julgou extinto o processo, sem alcançar o mérito, em ação de obrigação de fazer. Inicialmente, os apelantes fizeram menção sobre a não juntada de petição, bem como reiteraram agravo retido contra a interlocutória que indeferiu o pedido de tutela antecipada. A seguir alegaram que a sentença é nula, pois não houve oportunidade para a dilação probatória, ocorrendo, assim, o cerceamento de defesa. Continuando declararam que o falecido não era pessoa estranha à sociedade, já que a alteração do contrato social foi elaborada e firmada por todas as partes envolvidas, sendo que a ausência de registro ou arquivamento é mera irregularidade, incapaz de afastar-lhe a eficácia. Prosseguindo expuseram que não há que se falar em ilegitimidade ativa e falta de interesse processual no arquivamento pretendido, haja vista a disposição testamentária sobre as quotas sociais, com respaldo na Décima Segunda alteração contratual. Em seqüência mencionaram que a irregularidade na representação processual pode ser sanada, ante o disposto no artigo 13 do Código de Processo Civil, requerendo, afinal, o provimento do apelo. O recurso foi contra-arrazoado, rebatendo integralmente a pretensão dos apelantes, fls. 255/264. É o relatório. 2. A r. sentença apelada merece ser mantida. O agravo retido não está em condições de sobressair, uma vez que não estão presentes os requisitos para a antecipação da tutela, sobretudo porque a pretensão do referido instituto, após a decisão de mérito desfavorável aos agravantes, configura inobservância de técnica processual mais apurada, já que a verossimilhança em relação à sentença não se faz presente. ft / \ Apelação Cível n ARTES GRÁFICAS - TJ

3 3. Quanto ao alegado cerceamento de defesa, a pretensão dos apelantes não encontra suporte, haja vista que a prova documental é suficiente para a entrega da prestação jurisdicional no mérito, e nada há nos autos que demonstre a desconstituição da doação que originou a alteração contratual n. 12, fls. 77/84, portanto, alegações genéricas e superficiais são insuficientes para obstar a entrega da prestação jurisdicional no mérito. A jurisprudência assim entende: "O STF já de há muito se posicionou no sentido de que a necessidade de produção de prova em audiência há de ficar evidenciada para que o julgamento antecipado da lide implique em cerceamento de defesa. A antecipação é legítima se os aspectos decisivos da causa estão suficientemente líquidos para embasar o convencimento do magistrado. " (RTJ 115/789) "Processo civil. Julgamento antecipado da lide. Suficiência da prova documental. Possibilidade. Agravo desprovido. Não há ilegalidade, nem cerceamento de defesa, na hipótese em que o juiz, verificando suficientemente instruído o processo e desnecessária a dilação probatória, julga o mérito deforma antecipada, nos termos do art. 330,1, CPC. " (AgRg no Ag /PR; Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2001/ Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Quarta turma. 05/11 /2002) ~ 4. A alegação dos apelantes sobre a não juntada de petição em nada alterou o conteúdo da decisão, por conseguinte^ Apelação Cível n ARTES GRÁFICAS-TJ

4 m Ljl PODER JUDICIÁRIO não se identifica nenhuma lesividade, haja vista que o fator preponderante é a ausência de quotas pertencentes a um dos sócios que constara no instrumento que os recorrentes pretendiam levar a registro, sendo inadmissível a alteração contratual pretendida. O espólio de Adolpho Alberto Lima Azevedo, por ocasião da abertura da sucessão, não era mais titular de quotas do Supermercado Porto Real Ltda., já que doara anteriormente referidas quotas sociais, como demonstra oi instrumento de fls. 78, e isso ocorreu em 19 de fevereiro de 2003, enquanto que o óbito aconteceu em 07 de dezembro de 2006, fls. 18. Assim, o sócio Adolpho Alberto de Lima Azevedo deixou de ter participação no capital da referida empresa, consequentemente, se ocorreu nova alteração contratual, como mencionado na inicial, item 05, fls. 04, não está em condições de sobressair, uma vez que o pretenso sócio majoritário não mais o era, e nem minoritário, já que nada mais possuía em relação ao capital do Supermercado Porto Real Ltda., como constou expressamente do instrumento de fls. 77/84. O malabarismo retórico e contorcionismo dialético expostos pelos apelantes não dão respaldo à modificação da doação ocorrida e instrumentalizada a fls. 77/84, mesmo porque, a partir da doação efetivada por Adolpho Alberto de Lima Azevedo, nada mais tinha para doar no que corresponde ao capital social do Supermercado Porto Real Ltda., consequentemente, o pleiteado pelos recorrentes configura manifestação aleatória. No mais, a pretensa inventariante, Maria Fernanda de Lima Azevedo, não comprovou estar no exercício/flo cargo por ocasião da propositura da ação, conforme termo de fls. 15, consequentemente, o espólio autor não tem a devida representação, V Apelação Cível n ARTES GRÁFICAS-TJ

5 os argumentos expostos não dão guarida ao requisito essencial para a validade e eficácia da representação no processo, uma vez que não se trata de legitimação extraordinária ou substituição processual. A doutrina assim entende: "O autor deve ter título em relação ao interesse que pretende seja tutelado. Por outras palavras, o autor deverá ser titular do interesse que se contém na sua pretensão com relação ao réu. Assim, a legitimação para agir em relação ao réu deverá corresponder a legitimação para contradizer deste em relação àquele. Ali, legitimação ativa; aqui, legitimação passiva. Reproduza-se o artigo 3 o do Código de Processo Civil: 'Para propor ou contestar a ação é necessário ter interesse e legitimidade'. São legitimados para agir, ativa e passivamente, os titulares dos interesses em conflito; legitimação ativa terá o titular do interesse afirmado na pretensão; passiva terá o titular do interesse que se opõe ao afirmado na pretensão. Fala-se então em legitimação ordinária, porque a reclamada para a generalidade dos casos." (Moacyr Amaral Santos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. I o vol. Editora: Saraiva Pág. 167). Ademais, a essência da pendência, confi pedido certo e determinado, é o arquivamento de alteração de contrat da sociedade empresarial Supermercado Porto Real Ltda., contudo Apelação Cível n ARTES GRÁFICAS-TJ

6 conteúdo de fls. 31/32 não está apto ao arquivamento, bastando simples leitura de seu conteúdo para demonstrar notório conflito, a ponto, inclusive, de no item I, fls. 31, tratar Walderez Neusa Lima Azevedo como nova sócia, enquanto que referida pessoa já era sócia da mencionada empresa pelo menos desde 19 de fevereiro de 2003, segundo documento de fls. 77/84, e a pretensa alteração contratual tem data manuscrita de 02 de agosto de 2006, fls. 32, portanto, não pode sobressair a pretensão do polo ativo. Assim, não se vislumbra a legitimidade pretendida, por conseguinte, nada há para ser alterado na sentença em exame, haja vista que o polo ativo vem em busca de formalismo exacerbado para dar amparo ao seu pedido, o que não pode sobressair. provimento ao apelo. 5. Com base em tais fundamentos, nega-se O julgamento teve a participação dos Desembargadores TEIXEIRA LEITE (Presidente sem voto), FRANCISCO LOUREIRO e ÊNIO SANTARELLIZULIANI. São Paulo, 13 de maio de /2007 NATANZÊinfíSCHfPBliRRUDA [Ti Apelação Cível n ARTES GRAFICAS-TJ