MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO



Documentos relacionados
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

Trata-se de denúncia formulada contra o Sindicato em epígrafe, que noticia

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCURADORIA GERAL DO TRABALHO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 9ª REGIÃO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

EMENTA CIVIL - DANOS MORAIS - NEGATIVA NA CONCESSÃO DE PASSE LIVRE EM VIAGEM INTERESTADUAL - TRANSPORTE IRREGULAR - INDENIZAÇÃO DEVIDA.

PROCESSO Nº : /2016 ASSUNTO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Assunto: Denúncia sobre possíveis irregularidades na doação de aparas de papel.

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Direito Administrativo Prof. Gustavo Mello Knoplock Fl. 1

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCESSO PGT/CCR/ ICP/ 17664/2013

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE : ANNA CRISTINA TORRES FIUZA DE ALENCAR RELATOR : DES

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Projeto de Lei nº 7.093, de 2014

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº DE 2005 VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO REGIS DE OLIVEIRA

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 13ª Junta de Recursos

Superior Tribunal de Justiça

Tribunal de Contas da União

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Superior Tribunal de Justiça

PGT-CCR

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

AMS PE ( ). RELATÓRIO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO FEITO PGT/CCR/PP/Nº 17514/2012

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL OBRIGATORIEDADE

Nº COMARCA DE CACHOEIRINHA A C Ó R D Ã O

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social Conselho Pleno

Nota Técnica nº 446/2010/COGES/DENOP/SRH/MP. ASSUNTO: Averbação de tempo de serviço. Referência: Processo Administrativo nº

2ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA - DF TERMO DE AUDIÊNCIA. Processo nº

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 18ª Junta de Recursos

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO EMENTA

JT REOAC PB Página 1 de 5

Processo Administrativo nº 05/08

Resumo Aula-tema 07: Negociação coletiva e greve. Dissídio individual e coletivo.

5Recurso Eleitoral n Zona Eleitoral: Recorrentes:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. AÇÃO DE COBRANÇA C/C INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. BENEFICIÁRIO DO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO. Processo PGT/CCR /PP nº /2010

Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Primeira Câmara Cível

Coordenação-Geral de Tributação

P.º R. P. 22/2009 SJC-CT-

V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de

Nº COMARCA DE CACHOEIRINHA

2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO B

TRT RO

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 388, DE 2013

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

RECURSOS IMPROVIDOS.

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO A

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

ASSESSORIA JURÍDICA. PARECER N 7/AJ/CAM/2002 Brasília (DF), 11 de junho de Senhora Presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO - 4ª REGIÃO RIO GRANDE DO SUL Fl ª Vara do Trabalho de Porto Alegre

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

RESOLUÇÃO Nº CLASSE 19 BRASÍLIA DISTRITO FEDERAL

APELAÇÃO CÍVEL N ( ) COMARCA DE AURILÂNDIA APELANTE

PARECER/CONSULTA TC-038/2004 PROCESSO - TC-2840/2004 INTERESSADO - BANESTES S/A ASSUNTO - CONSULTA

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 13ª Junta de Recursos

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

SENTENÇA. Vistos, etc. CLAUS PETER DE OLIVEIRA WILLI ajuizou a presente AÇÃO ORDINÁRIA contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL INSS.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO 2ª CÂMARA

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO PROCESSO n.º 211/

PARECER HOMOLOGADO Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de 5/4/2010, Seção 1, Pág. 44. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

Custeio de capacitação dos servidores públicos pelo Legislativo Municipal CONSULTA N

CÓPIA. Coordenação Geral de Tributação. Relatório. Solução de Consulta Interna nº 11 Cosit Data 8 de maio de 2013 Origem

LUIZ ANTONIO SOARES DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR

ATA DE JULGAMENTO DOS RECURSOS

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador AUGUSTO BOTELHO I RELATÓRIO

Superior Tribunal de Justiça

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 4.481, DE 2012 VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO ROBERTO SANTIAGO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Supremo Tribunal Federal

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Parecer nº 015/98 - JMS Processo CMRJ nº 04355/97

DIREITO ADMINISTRATIVO Prof. Danilo Vieira Vilela. Processo Administrativo Processo Administrativo. Lei n 9784/1999. Conceito. Fases.

2ª fase- Direito Administrativo. 02/ CESPE

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Superior Tribunal de Justiça

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Interessados: RESPONSÁVEIS: João Paulo Bastos Hildebrandt e Paulo Macedo de Carvalho Mesquita

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (3ª Turma) GMMGD/rmc/ef

ASPECTOS DA DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA E POR INTERESSE SOCIAL.

Transcrição:

PROCESSO PGT/CCR/PP/Nº 3676/2013 ORIGEM: PTM DE SANTA MARIA - PRT 4ª REGIÃO PROCURADORA OFICIANTE: DRA. BRUNA IENSEN DESCONZI INTERESSADO 1: ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO INTERESSADO 2: SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ENCRUZILHADA DO SUL ASSUNTO: Liberdade e Organização Sindical (08.01.02.) RECURSO. SINDICATO RURAL. DECLARAÇÃO DE ATIVIDADE RURAL PREVISTA EM LEI. COBRANÇA DE TAXA. LEGALIDADE. A atuação ministerial, no caso, não reveste ingerência indevida na atividade sindical, mas a garantia de direito dos trabalhadores rurais representados. A declaração de desempenho da atividade rural apresenta-se necessária para a aposentadoria pelo INSS do trabalhador rural, sendo prevista em lei, que dispõe sobre a possibilidade dessa comprovação se dar mediante declaração do Sindicato respectivo. Trata-se, portanto, de atuação da entidade sindical na defesa de interesse e de direito de integrante da categoria representada, o que se insere entre as atribuições que lhe são inerentes, que não podem ocorrer mediante cobrança de taxa, onerando o trabalhador. Ademais, a cobrança da referida taxa se dá de forma genérica, sequer para justificar despesas havidas em face das dificuldades inerentes. É salutar lembrar que os sindicatos têm o compromisso social de bem representar e proteger os direitos daqueles que compõem a classe profissional 1

representada. Recurso a que se dá provimento para não homologar o arquivamento do feito. I RELATÓRIO Trata-se de denúncia encaminhada pela Advocacia-Geral da União (Procuradoria Seccional de Santa Maria/RS), em face do SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ENCRUZILHADA DO SUL, em razão de a entidade sindical estar cobrando dos trabalhadores rurais que representa taxa para emissão de declaração de exercício de atividade rural e a organização dos documentos específicos, com vistas ao requerimento da aposentadoria junto ao INSS. O Órgão oficiante indeferiu liminarmente a representação, mediante os seguintes fundamentos, verbis: Verifica-se que tal declaração não é indispensável para a comprovação do exercício de atividade rural (art.106, III, da Lei 8.213/91). Ainda, assiste ao interessado o direito de ajuizar ação judicial declaratória perante a Justiça do Trabalho (art. 11, 1º, da CLT). A matéria diz respeito à autonomia sindical prevista no art. 8º, I, da CF/88; não tendo sido recepcionadas as disposições da CLT que restringiam tal autonomia. A conduta do sindicato não afronta a liberdade sindical, eis que o documento sequer é imprescindível. A assistência judiciária a ser prestada pelo sindicato limita-se ao âmbito da Justiça do Trabalho (art. 14 da lei nº 5.584/70). Por fim, o valor cobrado é razoável aos fins a que se destina. (fl. 52) Em virtude da decisão proferida, o denunciante apresentou recurso administrativo às fls. 55/60. Instado, o Sindicato denunciado apresentou contrarrazões (fls. 145/147). 2

É, em síntese, o relatório. II ADMISSIBILIDADE O apelo foi apresentado de forma tempestiva, motivo pelo qual dele conheço. III VOTO A denúncia noticia que o Sindicato em questão estaria exigindo retribuição pecuniária para emissão da Declaração de Exercício de Atividade Rural para o trabalhador rural requerer a aposentadoria junto ao INSS. O Órgão oficiante indeferiu a representação, considerando, em síntese, que referida declaração não é indispensável para a comprovação da atividade rural, cabendo ao próprio interessado, se for o caso, ajuizar ação declaratória perante a Justiça do Trabalho a fim de reconhecer o período trabalhado e, por fim, entendeu que a matéria diz respeito à autonomia sindical, sendo razoável o valor cobrado aos fins a que se destina (fl. 52). Inconformado com a decisão, o INSS apresenta petição, requerendo, inicialmente, a reconsideração da decisão, e, caso esta não ocorra, seja recebida como recurso (fls. 55/60). Reporta-se à Instrução Normativa nº 45/INSS/PRES, de 06.08.2010, em especial, seus arts. 87, 115 a 133, sustentando que: Na praxe previdenciária, observa-se que a apresentação de uma declaração emitida pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais influencia, e muito, a concessão de benefício, tanto na via administrativa quanto judicial. Tanto que não são raros os casos de segurados que acreditam ter se aposentado pelo Sindicato. 3

Por fim, diz que: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO... o Sindicato que cobra pela declaração está vinculando a sua emissão ao pagamento: só será emitida declaração para aquele que pagar, independentemente de ele ser trabalhador ou não. Pessoas que não são trabalhadores rurais, sequer foram filiadas ao Sindicato, podem, assim, obter facilmente a declaração, mediante simples pagamento, visando constituir prova para obtenção de benefício previdenciário. Em tese, se a declaração é emitida para qualquer um que pagar o Sindicato, essa declaração põe em risco o interesse público, com provável concessão de um benefício indevido. Ademais, se a autonomia sindical é irrestrita e sem limites, a ponto de não se ver qualquer irregularidade no possível comércio de declarações de atividade rural, emitidas pelo Sindicato a favor de qualquer um que por elas pagar, o INSS terá de rever a confiança depositada nestas instituições. O Órgão oficiante manteve o arquivamento do feito (fl. 62), emitindo as seguintes considerações sobre os fundamentos do apelo: No caso apontado pelo INSS, e conforme se comprova pelos documentos juntados às fls. 32 e 42, há material que informa a investigação da Polícia Civil de outro Estado da Federação em face do Sindicato, a título de estelionato; bem como de e-mails que demonstram que a declaração não foi suficiente para comprovar a situação de seguro especial. Nota-se ainda que a esfera do Judiciário Estadual por vezes contesta a declaração emitida, não concedendo qualquer valor probatório, ou seja, tal matéria não está afeta à Justiça do Trabalho e assim este Órgão Ministerial não possui atribuição à tal investigação. Ademais, caso o INSS discorde da declaração emitida por esta não refletir à realidade, há um crime sendo tipificado, ao qual o Ministério Público do Trabalho não possui legitimidade para propor qualquer ação, aliado ao fato desta declaração não ser obrigatória para a comprovação da condição de segurado especial. Ao Sindicato cabe a cobrança da arrecadação via imposto sindical, bem como à possibilidade de filiação a este, ao qual repercute na concessão de direitos e deveres aos filiados, como o pagamento de mensalidade sindical. Se o Sindicato atesta que tal segurado é especial e tal 4

assertiva não é verdadeira, como dito acima, isto é crime ao qual não é este Ministério Público o legitimado para tanto. Em suas contrarrazões ao recurso (fls. 145/147), o Sindicato denunciado diz que a declaração em questão não é essencial à comprovação do exercício de atividade rural do segurado, o qual, alternativamente, pode utilizar de qualquer um dos documentos elencados no referido dispositivo legal (fl. 146). Invoca para tanto o art. 106, III, da Lei nº 8.213/91. Afirma, ainda, que não há impedimento legal para a cobrança de taxa para a emissão da declaração, sendo o valor cobrado razoável em face do considerável dispêndio de documentação e tempo para investigar a veracidade das informações prestadas pelo segurado, no sentido de comprovar de forma robusta o efetivo exercício de sua atividade (fl. 146). Sobre a autonomia sindical, cita trecho de José Carlos Arouca, da obra indicada, em que este afirma que autonomia, num primeiro momento tem a ver com a liberdade frente ao Estado, mas aí, não como poder concorrente e sim como direito de não se subordinar a seu comando, ficando a salvo, pois de qualquer ingerência em sua administração ou intervenção capaz de comprometer suas atividades (fl. 146). Por fim, nega veementemente que estaria fornecendo declaração a quem não integra a categoria representada. Junta cópia do Estatuto Social. De fato, os sindicatos são instituições reconhecidas constitucionalmente, possuindo autonomia e liberdade de organização e administração (CF, art.8º), sendo vedada qualquer interferência do Estado, aliás, como bem observa José Carlos Arouca, citado pelo Sindicato. 5

No entanto, isso não significa que os sindicatos detêm total e ampla liberdade, uma vez que, como qualquer organização, se pauta pelo disposto em seu estatuto social e pelos princípios e regras específicas da legislação pátria. No caso, não há no Estatuto Social da entidade qualquer cláusula que autorize a cobrança de contribuições por serviços prestados que se relacionem às atribuições que lhe competem. Ademais, a Consolidação das Leis do Trabalho não autoriza a cobrança de qualquer contribuição, senão aquelas previstas em lei, o que não é o caso. Por outro lado, o disposto no art. 513, alínea e, da CLT, não lhe dá respaldo, uma vez que a disposição se atém aos limites impostos no art. 8º, da Constituição Federal, e as contribuições associativa e assistencial se limitam aos associados, exceção feita à contribuição sindical prevista no art. 579 da CLT. E, mesmo esta, ainda que cobrada compulsoriamente de todos os integrantes da categoria, associados e não associados, encontra destinação específica, a teor do que preconiza o art. 592, do mesmo diploma legal. Assim sendo, vê-se que, muito embora seja frequente a discussão jurídica sobre a revogação ou não de determinados artigos previstos na CLT referentes ao Titulo Organização Sindical, entendo, data venia, que permanecem em vigor os dispositivos citados. Deve-se ressaltar também que é o Sindicato que, em seu Estatuto Social diz ser prerrogativa da entidade, entre outras, colaborar com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com as atividades da categoria profissional que representa (art. 2º, III). E, no caso, a Instrução Normativa do INSS, a que se reporta o recorrente, ao considerar a declaração emitida pelo Sindicato como documento hábil para a 6

apreciação do pedido de aposentadoria, solicitada por trabalhador rural, reconhece esse papel, assim como privilegia a atribuição da entidade como seu legítimo representante, conhecedor, portanto, das condições de trabalho específicas, para o seu acesso a benefício da previdência social. Nesse sentido, caminha a atuação do órgão ministerial, que, em nenhum momento, se apresenta de controle ou de fiscalizador da entidade sindical, mas de defesa do direito do trabalhador de buscar e obter a representação sindical devida, sem que isso lhe traga ônus adicionais, sequer discutidos e avalizados pela assembleia dos interessados. É direito do trabalhador discutir e decidir com os demais pares quanto à eventual obrigação por contribuições para o Sindicato. Este não pode é impor de livre arbítrio contribuições para a prestação de serviços que lhe são inerentes. A tanto não chega a autonomia e liberdade sindicais que, frise-se mais uma vez, encontra limites na lei e no estatuto social da entidade. É salutar lembrar que os sindicatos têm o compromisso social de bem representar e proteger os direitos daqueles que compõem a categoria profissional respectiva. Logo, deverão sempre prestar gratuitamente a necessária assistência ao trabalhador, sem jamais condicionar sua atuação a qualquer pagamento, excepcionadas, como já exposto, as contribuições previstas em lei. Feitas essas colocações, tem-se que o fato de a declaração em discussão não ser indispensável para a comprovação do exercício de atividade rural, uma vez que ela pode ser emitida por outras autoridades, conforme a citada Instrução Normativa do INSS, não justifica o procedimento do Sindicato. Observe-se que a previsão de o Sindicato poder atestar o exercício da atividade profissional é um reconhecimento do seu papel de representante do 7

trabalhador rural e defensor dos seus interesses e direitos. Ademais, embora o art. 106, III, da Lei nº 8.213/91, não fale em indispensabilidade da declaração, ele é expresso em dizer que a comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, entre outros documentos, por meio de declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural. Portanto, ela, efetivamente, se apresenta como um documento hábil e facilitador para o trabalhador rural. Em decorrência, dizer que o trabalhador rural pode ajuizar a ação competente perante a Justiça do Trabalho para buscar o reconhecimento de sua atividade rural não simplifica a questão, uma vez que o acesso à justiça não se concretizará sem a devida assistência sindical, o que retorna ao Sindicato. Mais simples e menos oneroso para este e para o trabalhador é a própria entidade sindical emitir a declaração. De outro lado, correto o Órgão oficiante quando diz que, em caso de declaração que não corresponda à realidade, a circunstância tipifica crime, o que afasta a atuação ministerial (fl. 62). No caso, entretanto, discute-se a cobrança pelo Sindicato de valor para emitir a declaração e legalidade dessa cobrança, o que, s.m.j., se insere nas atribuições ministeriais por envolver o direito do trabalhador de ser representado pelo seu ente de classe sem ônus, salvo as contribuições legalmente previstas, considerando-se a condição de filiado ou não e, em decorrência, de a entidade sindical cumprir para com o seu representado o seu papel de defensor dos seus interesses e direitos. Registre-se que essa atuação se dá no exercício das atribuições que competem ao órgão ministerial de defender os interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF) e de promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção... de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, CF). Em nenhum momento, essa atuação implica em ingerência na administração sindical ou em intervenção capaz de comprometer suas atividades, preservadas totalmente, nos 8

exatos termos da doutrina preconizada por José Carlos Arouca, referência do Sindicato recorrido. Diante do exposto, dou provimento ao recurso para não homologar o arquivamento do feito. IV CONCLUSÃO Nessas condições, conheço do recurso e, no mérito, dou-lhe provimento. Em consequência, deixo de homologar o arquivamento do feito. Brasília, 30 de agosto de 2013. Eliane Araque dos Santos Relatora 9