COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº DE 2005 VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO REGIS DE OLIVEIRA

Transcrição

1 COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº DE 2005 Torna obrigatório o exame de ordem para todos os que quiserem inscrever-se como advogado. Autor: Deputado Almir Moura Relator: Deputado Marcelo Ortiz VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO REGIS DE OLIVEIRA Trata-se de projeto de lei que busca tornar universal a obrigatoriedade de exame de ordem para os que quiserem se inscrever nos quadros da OAB. Entende o proponente, o digno deputado Almir Moura, que, através do Provimento n. 81/96 o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil dispensou do exame os oriundos da magistratura e do ministério público e os integrantes das categorias jurídicas elencadas no parágrafo 1º do art. 3º da lei n /94, o que é esdrúxulo. O ilustre relator, deputado Marcelo Ortiz exarou parecer, no qual opina pela constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa das proposições e, no mérito, pela aprovação do PL e pela rejeição dos PLs apensados. O PL 5.801/05 objetiva eliminar o exame da OAB. O PL 6.470/06 busca equiparar o estágio ao exame da OAB, feito em defensorias públicas ou procuradorias municipais, estaduais ou federais. O PL 7.553/06 dá nova redação ao inciso II do art. 44 da lei da OAB para dar exclusividade de representação aos advogados em todo o país. É o relatório. VOTO 1

2 . Os projetos em apenso não deveriam, realmente, receber parecer favorável. O exame da Ordem tem-se revelado excelente dispositivo para impedir que bacharéis despreparados possam defender direitos em questionamentos. Com tal providência, elimina-se a possibilidade que profissionais sem qualquer tempero profissional possam estar cuidando de interesses relevantes sem o preparo ao menos razoável. Nada mais correto que, no âmbito da corporação atribuir a esta competência para disciplinar a liberação profissional. O projeto de lei que recebeu parecer favorável do relator é o que universaliza o concurso de ingresso nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. A lei outorga à OAB a regulamentação do exame. De acordo com o art. 44 da lei n /94 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil) cabe à OAB promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil (inciso II). A esta corporação esta afeta a seleção de seus filiados, cabendo-lhe, de seu turno, editar e alterar o Regulamento Geral, o Código de Ética e Disciplina, e os Provimentos que julgar necessários (inciso V do art. 54 da mesma lei). Por fim, cabe ao Conselho Federal da OAB disciplinar o exame de ordem em provimento (parágrafo 1º do art. 8º da lei em tela). Como se vê, é ao Conselho que são afetas as atribuições para estabelecer distinções necessárias para cumprimento, à exaustão, dos requisitos necessários para que alguém se sinta habilitado para tornar-se advogado. Cumprindo com seus deveres estatutários, o Conselho Federal da OAB editou o Provimento n. 81/96, através do qual disciplinou o exame de ingresso e dispensou-o para estagiários que comprovassem satisfazer condições ali mencionadas, bem como membros oriundos da magistratura, do ministério público e de categorias elencadas no parágrafo 1º do art. 3º da lei 8.906/94. Sábio foi o provimento ao eximir do exame da OAB carreiras paralelas e que desempenham atividades correlatas com a advocacia, como é a magistratura, o ministério público e advogados públicos (procuradoria pública advocacia geral da União, procuradorias, consultorias e defensorias, etc.). A disposição normativa veio a atender o salutar princípio da isonomia. No exato dizer de Celso Antônio, por via do princípio da igualdade, o 2

3 que a ordem jurídica pretende firmar é a impossibilidade de desequiparações fortuitas ou injustificadas ( O conteúdo jurídico do princípio da igualdade, ed. RT, 1978, pág. 25). Ao explicitar o que a lei não continha, por força de competência haurida no inciso V do art. 54 da lei n /94, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil cumpriu, à saciedade o quanto lhe competia e também atendeu ao princípio maior inserido na Constituição da República. É palmar que os integrantes da magistratura, do ministério público e das diversas procuradorias e advocacias públicas, por força de sua opção profissional, não podem exercer a advocacia, em face das incompatibilidades e impedimentos arrolados nos arts. 27 a 29 da lei própria. Se determinada profissão é incompatível com o exercício profissional da advocacia, não pode o bacharel inscrever-se ou filiar-se na OAB e, pois, não lhe cabe sujeitar-se ao concurso de ingresso ou o exame de ordem. É, pois, impedido, ao longo da vida, de exercer a advocacia, o que é pertinente, uma vez que a atividade é estranha a ela e, ao mesmo tempo, correlata, uma vez que cuida ou da defesa de interesses ou da decisão isenta. A distinção entre as atividades reside nas pessoas, fatos ou situações, pois as diferenças de tratamento só se justificam perante fatos e situações diferentes (Celso Antônio, ob. cit., pág. 43). Acrescenta o ilustre autor que o ponto nodular para exame da correção de uma regra em face do princípio isonômico reside na existência ou não de correlação lógica entre o fator erigido em critério de discrímen e a discriminação legal decidida em função dele (ob. cit., pág. 47). No caso em exame, o critério de diferenciação recai sobre: a) impossibilidade jurídica do exercício da atividade, por se cuidar de caso de incompatibilidade com o exercício da advocacia; b) exercício de atividade que pressupõe qualificação técnica para o desempenho futuro da advocacia. Vê-se, claramente, que há pertinente critério discriminatório que guarda fina compatibilidade com o que se busca discriminar. A lei não poderia conceder tratamento vantajoso em atenção a traços peculiares de uma categoria, se não houvesse adequação racional entre o critério discriminatório e a categoria discriminada. No entanto, todas as exceções mencionadas no Provimento questionado são atividades jurídicas incompatíveis com o exercício da advocacia. A saber, se e enquanto o profissional estiver no exercício de cargo na magistratura, no ministério público ou 3

4 em procuradoria ou advocacia pública, não pode exercer a advocacia, por incompatibilidade. No entanto, nada mais natural e jurídico que, cessada a causa do impedimento ou da incompatibilidade, abra-se a possibilidade da inscrição nos quadros da OAB, independentemente do exame de ordem. A qualificação profissional já foi demonstrada em concurso assemelhado em que foram comprovados, não apenas requisitos objetivos de idoneidade (atestados de boa conduta, certidões de não sujeição a processo civil ou criminal, certidões de inexistência de protestos, etc.), como também sujeição a provas de habilitação e conhecimento jurídico. Ademais disso, ao longo do tempo, a pessoa demonstrou, seja pela sua atividade técnica, seja por seu comportamento social, amplo atendimento a requisitos exigidos para o indivíduo tornar-se profissional da advocacia. Em suma, o critério erigido pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil atendeu a critério de discriminação compatível com os direitos estabelecidos na Constituição federal. Pode-se falar, por conseqüência de uma inconstitucionalidade reversa, isto é, o projeto de lei busca equiparar situações não assemelhadas. Daí ser atingido pela inconstitucionalidade formal. A incompatibilidade do texto com a Constituição da República decorre da circunstância de a proposta buscar equiparar situações que, em absoluto não são parelhas, sendo assimétricas. Não se pode dizer, pois, como consta da fundamentação da proposta, que houve exorbitância da competência por parte do Conselho Federal da OAB, pois teria criado distinção não prevista na lei. Ora, a atividade interpretativa outorgada a referido Conselho, uma vez que lhe cabe a edição de Provimentos, outra coisa não fez que atender ao objetivo maior da Constituição, qual seja, identificar situações e pessoas que ficariam eximidas de sujeição ao exame de ordem. De seu turno, o longo tempo de atividade em outra profissão pode dar qualificação necessária a que tais indivíduos dela integrantes estejam capacitados para o exercício da advocacia. Caso se entenda incompatível a discriminação apontada, deve-se entender, no mérito, contrariamente ao projeto, uma vez que não há problema real na sociedade que deva ser resolvido, e, pois, não se deve mexer na situação que está pacificada. 4

5 Demais disso, o exame de ordem busca aferir a capacitação técnica do profissional, isto é, se conhece ele os diversos ramos de direito em sua dimensão mínima. É um concurso público, pode-se dizer, de aferição corporativa. Ora, as demais atividades referidas na lei e isentas, por força de provimento, prestaram concurso público, demonstrando sua qualificação técnica. Uma e outra se equivalem. Nenhum sentido tem, pois, a presente proposição, que deve ser tida por inconstitucional e, no mérito, ser rejeitada. As demais proposições também devem ser rejeitadas, subscrevendo-se, neste passo, o parecer do digno relator. É como voto. Sala das Comissões, em 24 de abril de 2007 Deputado Regis de Oliveira 5