CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO Origem: PRT 11ª Região Interessado(s) 1: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas Interessado(s) 2: Jornal do Conércio Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Temas Gerais Procurador oficiante: Marselha Silvério de Assis RECURSO ADMINISTRATIVO. Descumprimento de Convenção Coletiva de Trabalho Possui a entidade de classe, respectiva, meios ou instrumentos processuais próprios e específicos para a devida correção da situação por ela declarada. Portanto, justificada a prescindibilidade da atuação imediata do MPT em matéria que, por lei, legitima a entidade sindical regularizar. Recurso conhecido e não provido. Indeferimento homologado. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia formulada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas em face da Empresa Jornal do Comércio Ltda. Noticiando o não pagamento de horas extras, a ausência de 1

2 controle de jornada e a contratação indevida de estagiário (fls. 03/07), verbis: (...) Empresa Joranl do Comércio Ltda. Problemas encontrados que descumprem com a legislação da prefissão e a Convenção Coletiva de Trabalho 2012 dos prefissionais jornalistas na redação do Jornal do Comércio: 1. SEM RELÓGIO DE PONTO, SEM PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. Empresa Jornal do Comércio Ltda. não tem relógio de ponto, Nenhum jornalista profissional da redação faz uso de ponto eletrônico, bem como os Repórteres Fotográficos, os Diagramadores e os Ilustradores. Portanto, nenhum jornalista da empresa pode registrar sua presença diária em ponto eletrônico. Sem relógio de ponto as horas extras deixam de ser computadas diariamente aos jornalistas e, por consequência, não são pagas pela empresa. 2. Contratação de Estagiário (estudante) para atuar na redação sem nenhum vínculo com a empresa, recebendo pouco mais de 1 (um) salário Mínimo, constituindo mão-de-obra barata e retirando postos de trabalho e pressionando os salários para baixo em cargos e funções dos profissionais na redação. 3. O jornal do Comércio desenvolve alguns trabalhos paralelos como cadernos especiais. Neste ano, não fez acordo com os profissionais na programação dos Cadernos Especiais em Comemoração ao Aniversário da Suframa e a Feira Internacional da Amazônia. Em sede de apreciação prévia, o i. Procurador oficiante indeferiu, liminarmente, a instauração de inquérito civil, sob os seguintes fundamentos (fls. 24/25), verbis: Trata-se de notícia de fato autuada a partir de ofício (032/2013/SJPAM) encaminhado a esta procuradoria pelo Sindicato do Jornalistas Profissionais no 2

3 Amazonas, apontando irregularidades trabalhistas, supostamente praticadas pelas empresas JORNAIS CALDERARO LTDA., EDITORA ANA CÁSSIA LTDA., NORTE EDITORA LTDA. E JORNAL DO COMÉRCIO LTDA.. Ao deliberar acerca da questão, a Exa. Sra Procuradora Chefe desta Regional constatou a existência dos procedimentos NF e NF , cujas linhas investigativas abarcam as mesmas infrações aqui relatadas pela entidade sindical, e que se encontram atualmente arquivados. Determinou, ainda, a autuação em separado das empresas, sendo distribuída a esta banca o feito com relação ao JORNAL DO COMÉRCIO LTDA. Em síntese, narra o sindicato noticiante que o mencionado periódico se furta em pagar as horas extras devidas aos empregados, além de não possuir relógio de'ponto e contratar indevidamente estagiário. Pois bem. Da análise dos fatos trazidos, vislumbra-se que as supostas irregularidades fundam-se em lesões a direitos exclusivamente patrimoniais dos obreiros, circunstância que inibe a legitimidade deste parquet trabalhista para atuar no caso em tela. No tocante ao relógio de ponto, não é demais relembrar que a legislação não obriga o empregador a adotar esta forma de controle dos horários dos empregados, sendo-lhe facultada a utilização de registro manual, mecânico ou eletrônico (art.74, 2o da CLT). Portanto, a conduta noticiada não se revela liminarmente irregular. Em relação ao não pagamento das horas extraordinárias, muito embora tal situação configure violação a direitos individuais homogêneos dos trabalhadores, cuja defesa é afeta ao Ministério Público do Trabalho, em decorrência do disposto nos arts. 6o, VII, a' e d, 83, I e III e 84, caput e II, da Lei Complementar n 75/93, imperioso observar que o entendimento adotado por este órgão ministerial é no sentido de ser necessária a devida repercussão social da lesão apontada, capaz de justificar a intervenção do MP. 3

4 Ademais, mister observar que o sindicato representante da categoria profissional prejudicada, ora denunciante, detém plena legitimidade para buscar a reparação dos, direitos ofendidos, através dos meios próprios para tal. Por sua' vez, se o Ministério Público do Trabalho não se detiver e concentrar sua atenção nos graves problemas que afligem a sociedade e constrangem o Estado - como a exploração do trabalho infantil, o trabalho em regime de escravidão, as fraudes trabalhistas, as graves lesões ao meio ambiente de trabalho e as graves lesões aos direitos metaindividuais - corre-se o risco de se perder a racionalidade e efetividade de atuação, sem se alcançar o desiderato maior. Por derradeiro, quanto a noticia acerca da contratação indevida de estagiários, o denunciante informa que há apenas um estagiário no estabelecimento denunciado, fato que, de igual forma, denota a ausência de repercussão social da suposta irregularidade. Desse modo, uma vez que a atuação do Ministério Público somente se justifica quando a questão cuidar de interesses que possuam relevância social, e no presente caso tal pressuposto afigura-se inexistente, não rsta a esta Procuradora outra alternativa, senão indeferir a presente notícia de fato.. Devidamente notificado da decisão de encerramento da atividade persecutória, o denunciante interpôs recurso administrativo às fls. 29/30. Despacho do Órgão Ministerial às fls. 32/32-v mantendo o indeferimento da representação sob os mesmos fundamentos. 4

5 autos a esta Relatora (fl. 34). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO - FUNDAMENTAÇÃO O Recurso Administrativo apresentado pelo denunciante apresenta-se hábil e tempestivo (fls. 28-v e 29), que merece conhecimento. No entanto, no mérito, não cabe ser provido pelos fundamentos, a seguir, adotados. Ademais, a denúncia rerealta o descumprimento de Convenção Coletiva de Trabalho, e, neste caso, impende ressaltar que em decorrência do quanto prescrito pelo art. 872 e seu parágrafo único, da CLT, a regularização da conduta patronal há de ser buscada pela via da Ação de Cumprimento, para a qual estão legitimados os empregados lesados e/ou seus sindicatos, dispensando-se, assim, a intervenção do Ministério Público do Trabalho. A situação dos autos, ao menos no estado em que se encontra o presente procedimento, não está a reclamar/autorizar a intervenção persecutória do Ministério Púbico do Trabalho, até porque, as 5

6 circunstâncias, como postas, legitimam o próprio sindicato denunciante para o manejo de medidas, sejam judiciais e/ou extrajudiciais, voltadas à tutela dos interesses supostamente lesados da categoria que representa. Tem-se, ainda, que o irresignado não trouxe aos autos elementos de convicção mínimos a suportar a tese recursal, razão pela qual improcede o recurso sub examine, que sem referidos elementos torna-se inócuo e vazio. A justificativa contida no indeferimento de instauração de inquérito civil exarada às fls. 24/25 é suficiente a ensejar o encerramento do presente feito. Portanto, restou clarificada a prescindibilidade da atuação do Parquet, diante da legitimidade concorrente da própria entidades sindical para sanar as questões denunciadas nestes autos. CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO no sentido de CONHECER e NÃO PROVER o Recurso administrativo sub examine, e, em atividade revisional, VOTO pela HOMOLOGAÇÃO do indeferimento de instauração de inquérito civil às fls. 24/25, pelos seus próprios 6

7 fundamentos, determinando o retorno dos autos à origem para as providências de estilo. Cientifiquem-se os interessados, o douto Procurador oficiante e a Chefia da Procuradora Regional do Trabalho de origem. Brasília, 24 de março de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora mjql 7