CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 11ª Região Interessado(s) 1: Ministério Público do Trabalho e Emprego / Superintendência Regional do Trabalho no Amazonas (SRTE-AM) Interessado(s) 2: Aliança Engenharia Ltda. Assunto(s): Meio Ambiente do Trabalho / Procuradora oficiante: Safira Cristina Freire Azevedo Carone MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. Relevância ou Repercussão Social como determinantes à atuação do Ministério Público do Trabalho. Permanência de irregularidades no âmbito da empresa investigada, confirmadas em sede de inspeção in loco empreendida pelo Órgão Fiscal. Necessidade de adequação. Pela não homologação da promoção de arquivamento sub examine. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em ofício encaminhado ao Ministério Público do Trabalho pelo 1

2 Ministério do Trabalho e Emprego (Superintendência Regional do Trabalho no Amazonas), noticiando a ocorrência de acidente de trabalho envolvendo quatro trabalhadores (queda de elevador) e a existência de inúmeras outras irregularidades relacionadas ao meio ambiente do trabalho, quais sejam: 1. Deixar de dotar os elevadores de passageiros de interruptor no fim de curso superior e/ou inferior, conjugado com freio automático eletromecânico; 2. Permitir a operação de equipamento de movimentação ou transporte de materiais por trabalhador que não seja qualificado ou deixar de anotar a função de operador de equipamento de movimentação ou transporte de materiais na CTPS do empregado; 3. Permitir o transporte simultâneo de carga e passageiros no elevador de passageiro; 4. Utilizar elevador cujo cabo de tração não tenha no mínimo 6 voltas enroladas no tambor em qualquer posição da cabina. Às fls. 34, o ilustre órgão ministerial oficiante determinou a realização de fiscalização in loco no âmbito da denunciada com vistas à verificação das providências tomadas quanto à adequação de seu meio ambiente laboral. Em resposta à requisição ministerial, a SRTE/AM encaminhou o relatório fiscal de fls. 44/45, noticiando, em síntese, verbis: Verificou-se, no tocante às adequações do meio ambiente de trabalho exigidas no ofício em epígrafe, que a empresa efetivamente passou a adotar elevadores do tipo 2

3 cremalheira, os quais estavam de acordo com as disposições da Norma Regulamentadora NR 18. Concernente a outros itens de saúde e segurança dos trabalhadores, ressalta-se que dois dos quatro canteiros fiscalizados foram embargados. Em 09/07/2012, procedeuse ao embargo da obra para construção das Quatro torres do Condomínio Residencial Paradise River (Termo de Embargo nº004/2012) e em 24/04/2012, ao embargo da obra para construção das Três Torres do Condomínio Residencial Paradise Lake (Termo de Embargo 006/2012). Cumpridas as medidas de segurança por parte da empresa e afastada a situação de grave e iminente risco de morte e lesão grave em razão da queda dos trabalhadores, os referidos embargos foram levantados respectivamente em 17/07/2012 e 07/08/2012. Destaca-se, por fim, que foram lavrados 23 (vinte e três) autos de infração em face da empresa em razão das irregularidades encontradas nos canteiros, quais sejam, falta de manter a área de vivência em perfeito estado de conservação e limpeza; presença de aberturas no piso sem fechamento provisório; deixar de instalar proteções contra queda de trabalhadores nas periferias das edificações e de construir escadas de uso coletivo com corrimão e rodapé; utilizar andaimes com piso de trabalho irregular e sem guarda-corpo e rodapé, próximo à periferia da edificação; usar mangueira para soldagem sem mecanismo contra o retrocesso das chamas; manter lâmpadas de iluminação da carpintaria e da área de trabalho da armação de aço sem proteção contra impactos; deixar de proteger as transmissões de força mecânica da serra circular; permitir o uso da escada de mão próximo a vãos ou aberturas; permitir que trabalhador opere máquina ou equipamento que o expõe a riscos sem que seja identificado por crachá; não instalar barreira com as medidas corretas em todos os acessos de entrada à torre do elevador; deixar de dotar o ponto de descarga da calha de dispositivo de fechamento; prorrogar a jornada normal de trabalho além do limite legal de 02 (duas) horas diárias, sem justificativa legal grifos nossos. 3

4 O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento do procedimento sob os seguintes fundamentos (fl. 116), verbis: Trata-se de Inquérito Civil instaurado a partir de relatório da SRTE-AM constando cópias de autos de infrações emitidos em razão de acidente ocorrido em um dos elevadores no canteiro de obras do empreendimento The Place envolvendo 04 trabalhadores (fls. 4/24). Notificada à comprovar se havia regularizado às infrações, a empresa juntou defesa aos autos alegando a contratação de uma empresa terceirizada para proceder as correções que deram causa ao acidente, passando a adotar no canteiro de obras o elevador tipo cremalheira, sem contudo, anexar os documentos probatórios (fls. 32). Pelo exposto, foi requisitado à SRTE-AM nova fiscalização na empresa a fim de comprovar se foram tomadas as providências necessárias para a adequação ao meio ambiente de trabalho conforme alegado na defesa da empresa (fls. 34/35). Em relatório de fiscalização do dia a SRTE-AM relata que a empresa efetivamente passou a adotar elevadores do tipo cremalheira, os quais estavam de acordo com as disposições da Norma Regulamentadora NR 18. (fls. 44). Ante o exposto, tendo sido comprovada a regularidade das infrações, proponho o ARQUIVAMENTO do presente Inquérito Civil, nos termos do PRECEDENTE nº 12, do CSMPT autos a esta Relatora (fl. 120). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os 4

5 É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Com a devida vênia, não há como concordar com a posição adotada pelo i. Parquet oficiante para justificar a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Em que pesem as louváveis diligências empreendidas pela i. Procuradora oficiante na instrução do presente expediente, tem-se que o encerramento das investigações, ao menos neste momento, revela-se medida precipitada, sobretudo em razão da relevância dos ilícitos denunciados. Com efeito, apesar da peça de ingresso relatar somente irregularidades relacionadas ao uso de elevador em construção civil em desconformidade com os ditames da Norma Regulamentadora nº18 do Ministério do Trabalho e Emprego (o que motivou, inclusive, a ocorrência de acidente de trabalho), certo é que, ao longo da instrução do procedimento, inúmeros outros ilícitos laborais, de igual relevância, foram constatados no âmbito da denunciada pelo Órgão Fiscalizador. 5

6 Da leitura do relatório fiscal de fls. 44/115, depreende-se claramente a existência de diversas inadequações no meio ambiente de trabalho da empresa investigada. Se, por um lado, houve adequação de conduta quanto ao uso do elevador do tipo cremalheira, por outro lado, nada foi feito quanto às demais irregularidades apontadas pela SRTE/AM em sede de fiscalização, as quais ensejaram, inclusive, a lavratura de 23 (vinte e três) autos de infração em face da denunciada. Neste sentido é válido recordar os termos do resultado da ação fiscal, consoante descrição feita pela Auditora Fiscal do Trabalho Samantha Vasconcelos Naves às fls. 44/45, verbis: 6 Destaca-se, por fim, que foram lavrados 23 (vinte e três) autos de infração em face da empresa em razão das irregularidades encontradas nos canteiros, quais sejam, falta de manter a área de vivência em perfeito estado de conservação e limpeza; presença de aberturas no piso sem fechamento provisório; deixar de instalar proteções contra queda de trabalhadores nas periferias das edificações e de construir escadas de uso coletivo com corrimão e rodapé; utilizar andaimes com piso de trabalho irregular e sem guarda-corpo e rodapé, próximo à periferia da edificação; usar mangueira para soldagem sem mecanismo contra o retrocesso das chamas; manter lâmpadas de iluminação da carpintaria e da área de trabalho da armação de aço sem proteção contra impactos; deixar de proteger as transmissões de força mecânica da serra circular; permitir o uso da escada de mão próximo a vãos ou aberturas; permitir que trabalhador opere máquina

7 ou equipamento que o expõe a riscos sem que seja identificado por crachá; não instalar barreira com as medidas corretas em todos os acessos de entrada à torre do elevador; deixar de dotar o ponto de descarga da calha de dispositivo de fechamento; prorrogar a jornada normal de trabalho além do limite legal de 02 (duas) horas diárias, sem justificativa legal grifos nossos. Sendo assim, concessa venia dos argumentos esposados pelo i. Órgão Ministerial oficiante na promoção arquivatória de fls. 116, não há como proceder ao encerramento das investigações sem a completa ciência da correção de todos os demais ilícitos existentes no meio ambiente laboral da denunciada. Isto posto, a não homologação da promoção de arquivamento sub examine é medida que se impõe. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a promoção de arquivamento sub examine, determinando o retorno dos autos à origem para regular processamento. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 7

8 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. providências pertinentes e necessárias. Ao Órgão oficiante de origem para as Brasília, 11 de abril de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR/MPT - Relatora ffpam 8