Processo Administrativo nº 05/08
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- Martín Godoi Aveiro
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1 Processo Administrativo nº 05/08 Envolvida: Alpes Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários S.A. Assunto: Cadastramento e Identificação de Investidores Não-Residentes Conselheiro-Relator: Eduardo Lucano dos Reis da Ponte Relatório Trata-se de processo administrativo originado por notificação feita pela Gerência de Auditoria de Participantes e Agentes ("GAPA"), em 09/11/2007, para que a Alpes Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários S.A. apresentasse esclarecimentos acerca de irregularidades nos cadastros de investidores não-residentes mantidos nos moldes da ICVM nº 419/05. Após atendimento parcial das informações pedidas, a Corretora apresentou, em 28/11/2007 e 13/12/2007, solicitações de prazos adicionais para regularização, o que foi deferido pela BSM. Transcorrido o prazo adicional, em 29/01/2008, foi instaurado o inquérito administrativo nº 05/08, cuja instrução foi feita pelo Relatório de Auditoria nº 011/08, que apontou não terem sido sanadas as irregularidades nos cadastros de um total de 9 (nove) investidores não residentes e que foram executadas ordens transmitidas por esses clientes após o prazo concedido para regularização. Em 13/02/2008, o Relatório da Comissão de Inquérito sugeriu a instauração de processo administrativo, o que ocorreu em 15/02/2008. Em 22/02/2008, a Corretora foi informada sobre a instauração do processo administrativo e, em 24/03/2008, apresentou sua defesa propondo a celebração de Termo de Compromisso para fins de regularização dos cadastros e extinção do processo administrativo. Em 25/04/2008, foi elaborado o Relatório de Auditoria nº 058/08, que apontou novas irregularidades no cadastro de investidores não residentes que realizaram operações por intermédio da Corretora no período de janeiro a março de Em virtude de tais constatações, o Conselho de 1
2 Supervisão da BSM rejeitou a proposta de celebração de Termo de Compromisso. Assim, o processo administrativo nº 05/08 foi encaminhado para julgamento. O Diretor de Auto-Regulação, em seu julgamento, determinou, com base no art. 2º, IX, e no art. 43, XV, do Estatuto Social da BSM, a aplicação de multa de R$ 5.000,00 para cada contrato firmado com intermediário estrangeiro não informado à BSM, em número de 12 (que representam 191 investidores não residentes), aplicando-lhe, portanto, multa no valor de R$ ,00, segundo as comprovações abaixo sintetizadas: (i) Os Relatórios de Auditoria nº 011/08 e 058/08 apontaram falha nas obrigações referentes aos controle, cadastro e identificação de seus clientes não-residentes, sendo o objetivo de tais exigências a prevenção à lavagem de dinheiro, à ocultação de bens, direitos e valores e ao financiamento do terrorismo. (ii) A Corretora infringiu: a) o art. 9º, 1º da ICVM nº 387/03; b) o art. 12-A da mesma Instrução, incluído pela ICVM nº 419/05; c) o art. 10, I, da Lei nº 9.613/98, combinado com o art. 3º da ICVM nº 301/99; e d) os itens e do Regulamento de Operações da BVSP. (iii) Agrava a situação da Corretora o fato de não sanear as irregularidades após os apontamentos apresentados pela GAPA e descumprir a determinação de não executar ordens enviadas pelos investidores com cadastro irregular até a devida regularização. (iv) Além disso, a Corretora praticou novas infrações ao executar ordens de outros investidores nãoresidentes cadastrados de forma irregular no curso do processo administrativo, inclusive após apresentar a proposta de celebração de Termo de Compromisso. (v) Em sua defesa, a Corretora apenas alegou estar tomando as providências para a regularização dos cadastros dos clientes. (vi) É evidente, portanto, a negligência da Corretora em relação às normas regulamentadoras do mercado e às determinações da BSM. Em virtude disso, a Corretora deverá se sujeitar às sanções 2
3 administrativas previstas no art. 46 do Estatuto Social da BSM. (vii) O art. 8º da ICVM nº 301/99, combinado com o art. 12 da Lei nº 9.613/98, prevê a pena de multa. O art. 46 do Estatuto Social da BSM fixa parâmetros para sua quantificação. (viii) Deve-se levar em conta que não houve operação propriamente irregular da Corretora, mas, somente, inobservância das formalidades atinentes ao cadastramento de seus clientes. Por isso, não se mostra razoável utilizar como critério para a quantificação da multa o volume movimentado pelos investidores não residentes com cadastro irregular. A Corretora interpôs recurso ao Pleno do Conselho de Supervisão, sustentando a necessidade de reforma da R. Decisão com base nas alegações a seguir sumarizadas: (i) Inicialmente, destacou que o art. 9, 1º da ICVM nº 387/03 não determina que as Corretoras devam manter em seus arquivos os documentos de identificação e do cadastro atualizado de seus clientes não-residentes, mas que os mesmos devem ser fornecidos às bolsas quando solicitados, conforme confirmação dos representantes da "AMBID" (supõe-se que o autor do Recurso queria se referir à ANBID - Associação Nacional dos Bancos de Investimentos) e CBLC em seminário realizado na sede da BOVESPA, em (ii) Apresentou à BSM os documentos que possuía, quando requisitada, e que solicitou os demais aos representantes legais dos investidores não-residentes, mas que não foi prontamente atendida pelos mesmos. (iii) No referido Seminário, foi destacada a grande dificuldade de obter os documentos e as informações sobre investidores não-residentes. (iv) No referido Seminário, foi também objeto de grande debate, sem definição concreta, a questão dos documentos necessários e obrigatórios para cadastramento de investidores não-residentes. (v) Verifica-se que a lista de documentos e medidas exigidas pelos auditores da BSM, quanto ao 3
4 cadastro de clientes não-residentes, é "plasível" (supõe-se que o autor do Recurso tenha pretendido dizer passível) de questionamento, tendo em vista que o critério adotado é o bom senso das corretoras e da Bolsa quanto aos documentos e informações necessárias. (vi) O objetivo de fornecimento de dados cadastrais dos investidores não-residentes é permitir sua identificação, o que é possível com informações obtidas junto à CVM, eis que tais investidores para operarem em território nacional devem obter autorização e inscrição (código CVM) junto ao referido órgão. (vii) Asseverou ainda que não ficou inerte diante dos apontamentos da BSM, tomando as seguintes medidas: "I regularização imediata de todas as fichas cadastrais e contratos relacionados a investidores não residentes; II regras de controle e conhecimento de investidores não residentes, definindo programas de visitas periódicas aos seus representantes e pesquisa de informações exatas sobre os clientes; III proceder com comunicação periódica à Bovespa dos contratos firmados com investidores nãoresidentes, informando a forma de cadastramento (ICVM nºs 387/03 ou 419/05); IV contratação de escritório de advocacia para regularização dos cadastros de investidores e treinamento dos funcionários do cadastro." (viii) Destacou que, em , a BSM deferiu pedido de não interrupção das operações dos investidores apontados no relatório de auditoria e inquérito administrativo e não há, a posteriori, revogação expressa de tal decisão. Sendo assim, não houve descumprimento da ordem da BSM no tocante à não execução de ordens dos investidores não-residentes apontados no relatório de auditoria. (ix) Finalmente, a Recorrente ressalta: que não causou prejuízos a terceiros, que não tem histórico de condenações, que as irregularidades não são propriamente infrações, mas falta de controles internos. E pede a reforma da Decisão recorrida mediante a sua revogação total ou a redução do valor da respectiva multa aplicada. 4
5 Esse é o relatório. Voto Trata-se de recurso interposto pela Fator S.A. Corretora de Valores ao Pleno do Conselho de Supervisão da Bovespa Supervisão de Mercados BSM, contra decisão proferida pelo Diretor de Auto-Regulação, em primeira instância, no julgamento do processo administrativo nº 05/08, que envolve infrações relacionadas ao cadastramento de investidores não-residentes. Por ser desnecessário novo relato do processo, reporto-me ao relatório elaborado por este Relator e enviado à Recorrente no dia 22/08/08, documento que contém a narração dos fatos que embasaram a abertura, a condução e o julgamento do referido processo administrativo, além da síntese da decisão recorrida e de um resumo das razões recursais da Recorrente. A primeira alegação (i) da Recorrente para a necessidade de reforma da R. Decisão quedase incompreendida porque não lhe foi exigida nenhuma comprovação de arquivamento. Assim, por que explicitar que tal arquivamento não pode ser exigido? O que lhe foi exigido pela BSM é o que a própria alegação admite ser obrigação da Corretora: a apresentação das informações cadastrais dos investidores não-residentes às bolsas, quando solicitada. E foi o descumprimento dessa exigência que deu origem à multa aplicada pelo Diretor de Auto-Regulação, objeto do Recurso. Assim, a primeira alegação não traz nenhum motivo a rever a Decisão do Diretor de Auto-Regulação. A segunda alegação (ii), de que não foi atendida pelos representantes legais dos investidores, não justifica o fato de ter deixado de apresentar os documentos e informações de clientes não-residentes, quando solicitada pela BSM. Tal cadastramento é de responsabilidade da Corretora e deve ser feito antes de iniciar as operações para investidores não-residentes. Caso o pedido de dados cadastrais não seja atendido, não é permitido aceitar as ordens de tais investidores. Assim, também a segunda alegação não traz nenhum motivo a rever a Decisão do Diretor de Auto- 5
6 Regulação. As três alegações seguintes (iii, iv e v) questionam a falta de clareza e a dificuldade de entendimento das normas como razões para seu não cumprimento. Não há como concordar com essas alegações. Em primeiro lugar porque estamos nos referindo a uma Lei Federal, a Instruções CVM e ao Regulamento de Operações da BVSP - todos normativos de elevada qualidade técnica. Em segundo lugar, porque a maioria das Corretoras está procedendo ao cumprimento desses normativos adequadamente, sendo excepcional o descumprimento. Em terceiro lugar, porque admitido o princípio da dificuldade de entendimento como motivo para o descumprimento de normas, a maior parte delas perderia sua eficácia. Assim, as terceira, quarta e quinta alegações também não trazem nenhum motivo a rever a Decisão do Diretor de Auto-Regulação. A sexta alegação (vi), de que a CVM tem as informações sobre os investidores, não pode ser levada em consideração. A responsabilidade por apresentar as informações e dados dos investidores não-residentes às bolsas é inequivocamente da Corretora. Quaisquer dados em poder da CVM não têm nenhuma relação com aquele fato. Assim, também a sexta alegação não traz nenhum motivo a rever a Decisão do Diretor de Auto-Regulação. Na sétima alegação (vii), a Recorrente afirma que tomou medidas para cumprimento das normas diante dos apontamentos da BSM. Entretanto, os casos concretos de descumprimento das obrigações, que constituíram a razão da multa aplicada, não são especificamente contestados, levando a crer que também a sétima alegação não traz nenhum motivo a rever a Decisão do Diretor de Auto-Regulação. Não procede também a oitava alegação (viii), de que a BSM deferiu, em 13/12/2007, pedido de não interrupção das operações dos clientes não-residentes com cadastros irregulares, por prazo indeterminado. Em primeiro lugar, porque havia um prazo de 15 dias úteis para regularização, de acordo com o relatório do Diretor de Auto-Regulação. Em segundo lugar, porque tal autorização, em caráter permanente, equivaleria a uma revogação casuística dos normativos da CVM, de uma lei federal e de alteração do Regulamento de Operações da Bovespa, o que seria obviamente uma pretensão descabida da Recorrente. 6
7 Finalmente, na nona alegação (ix) a Recorrente ressalta pontos que são pacíficos no entendimento que fundamenta o presente voto e que devem ser considerados efetivamente como atenuantes da pena aplicada - que não causou prejuízos a terceiros, que não tem histórico de condenações, que as irregularidades não são propriamente infrações, mas falta de controles internos. Entretanto, todos esses pontos já foram considerados pelo Diretor de Auto-Regulação ao proferir sua Decisão. Não devem ser, assim, ser motivo para sua reforma. Conclusão Nego provimento ao recurso pelas razões expostas no voto. Submeto ao Pleno do Conselho de Supervisão da BSM - Bovespa Supervisão de Mercados a manutenção da multa fixada pelo Diretor de Auto-Regulação de R$ 5.000,00 por cada contrato celebrado com intermediário estrangeiro que a corretora deixou de informar à BSM, aplicando-lhe, portanto, multa no valor de R$ ,00 (sessenta mil reais). São Paulo, 08 de setembro de Eduardo Lucano dos Reis da Ponte Conselheiro-Relator 7
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