Parecer pela denegação do mandado de segurança.
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- Domingos Camelo Malheiro
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1 Ministério Público Federal Procuradoria-Geral da República OBF PGR Mandado de Segurança DF Relator: Ministro Luiz Fux Impetrante: Cláudio Topgian Rollemberg Impetrado: TCU Mandado de segurança. Concessão de bolsa de estudo no exterior a doutorado pelo Cnpq. Descumprimento de obrigação pactuada. Responsabilização pelo ressarcimento ao erário. Não se configura a aplicação retroativa de normas constitucionais e legais. A incursão do Judiciário no controle dos atos administrativos circunscreve-se ao exame da legalidade ou abuso de direito: não há, no caso, indícios de erro na decisão condenatória suficientes à suspensão da execução ou retirada do nome do impetrante do cadastro de devedores das entidades federais. Parecer pela denegação do mandado de segurança. Trata-se de mandado de segurança impetrado contra decisão do TCU, relativa a condenação de ressarcimento ao erário.
2 I I Em procedimento de tomada de contas especial, o TCU apurou o descumprimento de compromisso assumido pelo impetrante, quando do recebimento de bolsa de estudo, concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Cnpq, em 1987, para realização de doutorado na Universidade de Paris, consistente na não comprovação de defesa de tese e conclusão do curso. Condenou-o ao ressarcimento ao erário dos valores recebidos. O impetrante requer seja resguardado seu direito de dar continuidade aos seus estudos, a suspensão da execução da dívida e a exclusão de seu nome do Cadastro Informativo de Créditos não quitados de Órgãos e Entidades Federais - Cadin. O pedido de liminar foi indeferido. A autoridade coatora prestou as informações. Reafirma não haver direito liquido e certo a ser tutelado; tampouco ilegalidade ou abuso de direito na conduta do Tribunal de Contas. I I I Não tem consistência a tese da aplicação retroativa da Constituição de 1988 e da Lei 8.442/1992, que não existiam à época em que firmado o contrato, em O Cnpq concedeu bolsa de estudo ao impetrante para realizar curso de doutorado em universidade no exterior, no período de 1º a , prorrogado até O impetrante, contudo, descumpriu o contrato. A bolsa de estudo foi concedida com base na Res. Normativa 5/1987, cuja cláusula 5.11 previa: os bolsistas somente serão considerados com seus deveres quitados com este Cnpq, quando além de estarem com relatórios, comprovantes e exemplares de sua teses em dia, remeterem declaração de suas instituições de origem, de haverem cumprido eventuais compromissos de tempo de serviço ou qualquer contrapartida para com as mesmas. 2
3 Encerrado o período de concessão da bolsa, o impetrante não comprovou a defesa da tese e a conclusão do curso. Em 2001, o impetrante solicitou nova prorrogação do prazo para defesa da tese e conclusão do doutorado, até 31 de outubro de O pedido foi deferido. Entretanto, até o presente momento não foi comprovada a defesa de tese, nem apresentado o certificado de conclusão do curso, expedido pela universidade capacitante. Não há dúvidas, portanto, do descumprimento do contrato firmado, de acordo com a sua regência à época. Ao solicitar e preencher os formulários para concessão da bolsa, de natureza contratual, assumiu os deveres ali especificados. Entre as imposições estavam o dever de defesa da tese e a conclusão do curso, até então não cumpridos. O custeio de bolsas de estudo no exterior justifica-se para aprimoramento de recursos humanos nacionais, que agregarão e disseminarão novos conhecimentos, em auxílio ao desenvolvimento do País. Trata-se de mecanismo de compensação ao financiamento público de estudos especializados. Segue-se disso não ser admissível que o poder público dispenda recursos para aprimoramento que não se concretiza. Esse tipo de relação jurídica de financiamento ou concessão de bolsa de estudos no exterior incorpora um elemento lógico, mais do que de pertinência, de verdadeira inerência: o financiado retornar ao país para aplicar os conhecimentos obtidos lá fora. Obtidos por efeito de investimento público 1. É contra a natureza das coisas, o entendimento pretendido pelo impetrante de que não lhe cabe qualquer responsabilização pela devolução dos valores percebidos, em razão de a cláusula 5.11 traduzir obrigação sem sanção definida. Num contrato de prestações sinalagmáticas, a atividade de uma das partes encontra razão na da outra: descumprida uma prestação, não há motivo ou causa jurídica para a subsistência da outra. 1 Trecho do voto do Min. Ayres Britto do MS
4 Apesar de a concessão da bolsa ter ocorrido no início de 1988, em período anterior à promulgação da Constituição da República, o maior volume de desembolso de recursos ocorreu sob sua vigência, quando já havia modelo fiscalizatório instituído para o Tribunal de Contas e regulamentado pela Lei 8.442/1992. Ademais, a Constituição anterior já previa a competência do TCU para julgar contas dos responsáveis por bens e valores públicos 2. Se isso não bastasse, ao ser notificado da irregularidade de sua situação, o impetrante solicitou, em 2001, prorrogação do prazo para conclusão do curso até Portanto, correta a aplicação da Lei 8.442, para a defesa da coisa pública, buscando o ressarcimento do dano causado ao erário, após o decurso do prazo prorrogado. Agregue-se o fato mencionado pelo em. Relator de que a obrigação ainda não foi adimplida. Se perduram os efeitos da mora do contrato, por se tratar de recursos públicos, é indiscutível na verdade, é obrigatória a atuação fiscalizatória do TCU e a devolução pelo impetrante dos valores repassados, em face da não conclusão do doutorado. IV As dificuldades de ordem pessoal alegadas pelo impetrante para a não conclusão do curso, por sua vez, não são hábeis a impedir o ressarcimento das verbas. No máximo, serviriam, como aliás, já foi considerado pelo Cnpq, à prorrogação do prazo para o cumprimento da obrigação. Isso porque se vê irremediavelmente frustrado o interesse público esperado pelo investimento de recursos na 2 Art. 71 da Constituição de 1969: A fiscalização financeira e orçamentária da União será exercida pelo Congresso Nacional através de controle externo, dos sistemas de controle interno do Poder Executivo, instituídos por lei. 1º -O controle externo do Congresso Nacional será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas e compreenderá a apreciação das contas do Presidente da República, o desempenho das funções de auditoria financeira e orçamentária, e o julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos. 4
5 qualificação profissional. Assim, impõe-se o ressarcimento ao erário. A boa-fé não pode se prestar a justificar o enriquecimento sem causa de quem quer que seja 3. A ausência de previsão expressa de prazo para apresentação da defesa da tese e certificado de conclusão do curso não se sustenta. Embora não exista cópia integral do contrato assinado, não há que se admitir que a universidade admitisse a perpetuação do impetrante no curso de doutorado, o que somente se conclui com a apresentação da tese. De resto, o ônus dessa prova é do impetrante. A bolsa foi concedida por período determinado, prorrogado até Posteriormente, o impetrante requereu novo prazo para apresentação da tese e certificado de conclusão do curso. Esses dados convergem para a existência de prazo para conclusão do curso; caso contrário, não haveria porque ser requerida a dilação do prazo pelo próprio impetrante. V Não fosse isso, já transcorreram mais de dez anos da nova prorrogação do prazo, circunstância que demonstra a existência de tempo suficiente e razoável ao cumprimento da obrigação, que, por óbvio, não poderia se estender ad aeternum, sob pena de inviabilizar o retorno almejado pelo investimento público. A inclusão do impetrante no Cadin é a providência decorrente do trânsito em julgado do acórdão condenatório e da não comprovação do pagamento da dívida. A incursão do Judiciário no controle dos atos administrativos circunscreve-se ao exame da legalidade, de desvio de poder ou de atos exorbitantes. Não há, no caso, indícios de que os valores cobrados pelo TCU sejam indevidos. 3 Trecho do voto do Min. Eros Grau no julgamento do MS VI
6 VII A suspensão da execução também não prescinde do exame da legalidade ou abuso de direito do ato administrativo, que, como já demonstrado, não se perfazem no caso. VIII Por fim, em casos análogos, o STF vem aplicando entendimento no mesmo sentido, a partir do raciocínio desenvolvido nos debates promovidos por ocasião do julgamento do MS , de relatoria do Min. Ricardo Lewandowski, DJe , cuja ementa está assim redigida: Mandado de segurança. Tribunal de Contas da União. Bolsista do Cnpq. Descumprimento da obrigação de retornar ao país após término da concessão de bolsa para estudo no exterior. Ressarcimento ao erário. Inocorrência de prescrição. Denegação da segurança. I - O beneficiário de bolsa de estudos no exterior patrocinada pelo Poder Público, não pode alegar desconhecimento de obrigação constante no contrato por ele subscrito e nas normas do órgão provedor. II - Precedente: MS , Rel. Min. Eros Grau. III - Incidência, na espécie, do disposto no art. 37, 5º, da Constituição Federal, no tocante à alegada prescrição. IV - Segurança denegada. 6
7 IX O Ministério Público Federal opina pela denegação da segurança. Brasília, 18 de novembro de Odim Brandão Ferreira Subprocurador-Geral da República mlvs 7
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