PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCESSO PGT/CCR 16575/2012

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1 Origem: PRT 4ª Região Membro Oficiante: Dr. Viktor Byruchko Junior Interessado 1: MPT Interessado 2: Cardioclínica Pronto Socorro e Clinica Cardiolog. Ltda. Assunto: Temas Gerais EMENTA: FGTS. AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DE CONTAS. CONVÊNIO CAIXA/MPT Nº 001/2012. RELEVÂNCIA SOCIAL. LEGITIMIDADE DO MPT. ARQUIVAMENTO SUMÁRIO. Necessária a atuação do Ministério Público do Trabalho quanto aos recolhimentos do FGTS, por se tratar de direito social do trabalhador, conforme entendimento consolidado pela CCR, inclusive no tocante à investigação sobre possível ausência de individualização dos valores depositados nas contas vinculadas, a teor de previsão contida em Convênio firmado pelo MPT com o agente operador do FGTS (CEF). Precedentes. Promoção de arquivamento não homologada. I RELATÓRIO O Procurador do Trabalho Viktor Byruchko Junior promoveu o arquivamento da Representação /5 (fls. 13/15), instaurada em decorrência de solicitação lançada na PROMO nº /6, que versa sobre a individualização de contas do FGTS, de que tratam os artigos 15 e 16 da Lei nº 8.036/90, tendo em vista o Convênio de Cooperação Técnica nº 001/2012, celebrado pela Caixa Econômica Federal e o Ministério Público do Trabalho. Na motivação de arquivamento, o douto Membro oficiante entendeu, em síntese, que: a) A Lei 8.036/96 prevê o depósito de valores no FGTS sem a titularidade definida, que se incorporam aos recursos disponíveis para a consecução de relevantes finalidades sociais; b) O próprio sistema do FGTS permite recolhimentos sem individualização, não cometendo as empresas ilegalidade ao assim procederem; c) Não cabe a atuação do Ministério Público do Trabalho diante à inexistência de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos. 1

2 A Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho CONAFRET, atendendo diligência lançada por esta relatoria, manifestou-se pela não homologação do arquivamento do feito, afirmando, fundamentadamente, que é obrigatório ao empregador não apenas efetuar o recolhimento do valor global a título de FGTS, mas também identificar quais são os trabalhadores titulares desse direito e os respectivos valores. É o breve relatório. II FUNDAMENTAÇÃO O Procurador do Trabalho Viktor Byruchko arquivou liminarmente a presente Representação, instaurada a partir de solicitação expedida na PROMO nº /6, decorrente do Convênio de Cooperação Técnica firmado entre a Caixa Econômica Federal e o Ministério Público do Trabalho. O douto Órgão oficiante entendeu que não há irregularidade quanto ao recolhimento do FGTS sem a individualização do trabalhador beneficiário, inexistindo lesão que possa ensejar a atuação qualificada do Ministério Público do Trabalho. Com a devida vênia, não merece prosperar o entendimento esposado na promoção de arquivamento. Na esteira da manifestação exarada nestes autos pela CONAFRET, as irregularidades quanto ao recolhimento do FGTS podem favorecer lesões de ordem pública, prejudicando interesses socialmente relevantes, motivando assim a atuação do MPT, mesmo quando se tratar apenas da inexistência de individualização dos titulares das contas vinculadas. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço constitui direito social do trabalhador (CF, 7º, III), cuja defesa incumbe zelar o órgão ministerial, de acordo com o artigo 127 da Constituição Federal. Nesse sentido, o Convênio de Cooperação Técnica entre a CEF e o MPT foi firmado com o objetivo de buscar a efetividade das normas específicas que regem os procedimentos de recolhimento do FGTS, inclusive no tocante à necessária individualização dos trabalhadores, de modo a propiciar a plena concretização dessa garantia constitucional. 2

3 Segundo a Lei nº 8.036/90, é obrigação atribuída ao empregador efetuar o recolhimento do FGTS em conta vinculada do trabalhador: Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965." A Caixa Econômica Federal CEF, na condição legal de órgão operador do FGTS, expediu a Circular nº 548, de , publicada no DOU de , Seção 1, prevendo no item que a omissão da individualização do recolhimento do FGTS caracteriza irregularidade do empregador, in verbis: A não individualização dos valores devidos ao trabalhador ou o não atendimento imediato de sua regularização, por qualquer motivo, caracterizará irregularidade da empresa perante o FGTS, sujeitando-a às penalidades previstas na legislação de regência do FGTS. Em que pese a possibilidade de incorporação dos valores não individualizados do FGTS ao patrimônio de fundo, os quais serão aplicados em melhorias sociais (art. 9º, 2º, da Lei 8.036/90), o saldo da conta vinculada, quando não individualizados os valores dos depósitos, não corresponderá efetivamente ao direito do trabalhador, causando sim prejuízos diante de eventual necessidade de sacar imediatamente o dinheiro, nas hipóteses legalmente previstas. O recolhimento mensal irregular do FGTS implica lesão a interesses s dotados de relevância social. Aliás, o Tribunal Superior do Trabalho firmou entendimento acerca da legitimidade do Ministério Público do Trabalho para atuar em questões referentes aos recolhimentos ao FGTS, em que pese o disposto no artigo 1º da Lei nº 7.347/85, quando configurada, inclusive, lesão a direitos individuais homogêneos, conforme se verificado do acórdão exarado nos autos do E-RR (Relatora Ministra Rosa Maria Weber SBDI-I - DEJT ). 3

4 Ademais, oportuno transcrever excerto da manifestação do Vice- Coordenador Nacional da CONAFRET, o Procurador Regional do Trabalho João Batista Machado Júnior que, balizado em sólidos fundamentos, defende a atuação do MPT em face do citado Termo de Convênio, consoante a fundamentação seguinte: O certo é que um direito trabalhista assegurado constitucionalmente ao trabalhador, o FGTS, não vem sendo observado pelos empregadores, que, apesar de efetuarem o recolhimento do valor global devido, impedem, por uma irregularidade sua na hora do cumprimento dessa obrigação, como já demonstrado acima, que o valor depositado seja efetivamente recolhido na conta vinculada de cada um dos empregados com vínculo para aquela competência [mês] recolhida. Milhares de trabalhadores estão nessa situação nos diversos Estados Brasileiros. Quando da celebração do Termo de Convênio de Cooperação Técnica entre o Ministério Público do Trabalho MPT e a Caixa Econômica Federal CEF [fls. 03v./05v.], o valor não individualizado era de aproximadamente R$ ,00 [seiscentos milhões de reais]. Como o recolhimento do FGTS é uma obrigação mensal, para cada competência recolhida irregularmente [ sem a obrigatória individualização] haverá um grupo de empregados com o seu direito ao FGTS violado pelo empregador, exatamente os que trabalharam no mês daquela competência. Sendo assim, se nada for feito para impedir que o empregador permaneça recolhendo irregularmente, nos meses seguintes a lesão será renovada. Surge, então, um interesse coletivo dos trabalhadores desses empregadores que não observam a Lei e demais regulamentos do FGTS, que é exatamente no sentido de obrigá-los a recolher o FGTS formalmente, cessando essa irregularidade. Com relação aos depósitos já efetuados sem a necessária individualização, há trabalhadores certos, ou seja, passíveis de identificação, que já foram prejudicados, que já sofreram a lesão. Estes também merecem a atuação do Ministério Público do Trabalho. O recolhimento mensal de forma irregular vem a origem comum da lesão ao interesse individual homogêneo de cada um dos empregados do grupo [art. 81 p. único, III, da Lei nº 8.078/90]. O Supremo Tribunal Federal, em acórdão da relatoria do Ministro Maurício Corrêa, reconhece expressamente que os direitos individuais homogêneos constituem uma subespécie dos interesse coletivos [2ªT. RE /SP], afigurandose presente a legitimação do Parquet para postulá-los em juízo em 4

5 defesa de pessoas vinculadas a uma mesma relação jurídica-base, cuja lesão é interindividual, ou seja, atinge o grupo do qual são componentes. Inegável, portando, que tratando-se de direito social do trabalhador, previsto na Constituição da República [art. 7º, III], é legítima a atuação do Ministério Público do Trabalho, na forma dos artigos 127, caput, e 129, III, da CF; e 6º, VII, d, 83, I e III, e 84, II, da Lei Complementar nº 75/93. De outra parte, a Câmara de Coordenação e Revisão, em recentes pronunciamentos, já deliberou contrariamente ao arquivamento de feitos envolvendo o tema ora em tela, consoante decorre das seguintes ementas: EMENTA: Supostas irregularidades em individualização de contas de FGTS por parte de municípios piauienses e saques indevidos nos respectivos ectivos valores. Existência de outros procedimentos em trâmite na Regional. Necessidade de obtenção de informações quanto aos procedimentos já em trâmite no MPT versando sobre a individualização das contas de FGTS e as providências já adotadas em face dos entes municipais denunciados. Pelo provimento do recurso. (Processo PGT/CCR 2531/2013 Relator: Dr Maonel Orlando de Melo Goulart) FGTS. CONVÊNIO FIRMADO ENTRE O MPT E A CEF. AUSÊNCIA DE INVESTIGAÇÃO. A atuação ministerial se impõe, no caso, com respaldo no art. 127 da Carta Magna, uma vez que o presente procedimento envolve direito fundamental do trabalhador, qual seja, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGTS, cuja efetividade deve estar garantida com o recolhimento pelo empregador na forma e nos prazos previstos na legislação específica. O convênio firmado pelo Ministério Público do Trabalho e a Caixa Econômica Federal apresenta-se como um instrumento desta efetividade. Arquivamento do feito não homologado. (Processo PGT/CCR/3255/2013 Relatora: Eliane Araque dos Santos) Portanto, o indeferimento sumário da representação não merece ser chancelado por este Órgão de revisão, devendo ser prestigiado o Convênio firmado com a CEF, que visa a conferir efetiva garantia de direito social do trabalhador, buscando-se o integral cumprimento de normas legais e regulamentares atinentes à individualização dos depósitos fundiários, quer por 5

6 meio de atuação extrajudicial ou judicial do Ministério Público do Trabalho, máxime por se tratar da defesa de interesses coletivos dos trabalhadores, aí inserida a subespécie interesses individuais homogêneos, o que recomenda o prosseguimento das investigações. III CONCLUSÃO À vista do exposto, voto pela não homologação da promoção de arquivamento, devolvendo-se os autos à PRT de origem, para as providências cabíveis. Brasília, em 18 de abril de Antonio Luiz Teixeira Mendes Membro da CCR Relator 6

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