CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 6ª Região Caruaru/PE Interessado(s) 1: José Antônio da Silva Interessado(s) 2: Coletivo São Cristóvão Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Temas Gerais Procurador oficiante: Ulisses Dias de Carvalho RECURSO ADMINISTRATIVO. FGTS MATÉRIA DE FEIÇÃO INDIVIDUAL. Evidencia-se dos autos situação que retrata lesão meramente individual que não reclama a intervenção obrigatória do Ministério Público do Trabalho. Pelo conhecimento e não provimento do recurso administrativo e pela homologação da promoção de arquivamento sub examine. RELATÓRIO Trata-se de inquérito civil instaurado com gênese em denuncia formulada por José Antônio da Silva em desfavor da empresa Coletivos São Cristóvão Ltda., dando conta da falta de recolhimento do 1

2 FGTS no período de afastamento do denunciante por suposto acidente de trabalho. Narra a denúncia sic (fl. 04/04v): Estou empregado nesta empresa há sete anos desde 17/09/05. Trabalhei cinco anos, quando em outubro de 2010 sofri um acidente de trabalho, quando o ônibus em que eu estava de cobrador colidiu na traseira de outro veículo, onde bati fortemente a cabeça e desmaiei. Acordei no Hospital. Fiz vários exames, onde acusou lesão cerebral extensa e desde este acidente não voltei mais a vida laboral, pois fiquei com várias sequelas. Mesmo assim o INSS ainda não me concedeu a aposentadoria por invalidez. Estou recebendo auxílio doença previdenciário até a data que está prevista para 11/01/2014. Mais o fato da minha denúncia é que desde que fui afastado do trabalho e empreza deixou de depositar meu FGTS, o qula sei que tenho direito dados tanto pela Constituição como pelo Ministério do Trabalho; e aqui na cidade este tipo de processo é muito lento. Então estou apelando para que este órgão competente possa tomar as atitudes cabíveis como multa para esta empresa que já está acostumada a fazer estes tipos de fraudes contra os funcionários, como também fazer com que eles cumpram as leis que será de fazer todos os depósitos que deixaram de fazer na minha conta do FGTS desde outubro de 2010 até o presente momento e continuar a fazer os depósitos até que a minha perante a eles ou o INSS seja resolvida.. Em apreciação prévia, a i. Procuradora do Trabalho, Dra. Jailda Eulídia da Silva Pinto, indeferiu liminarmente do feito nos seguintes termos (fls. 08/10): Tratam os presentes autos de denúncia formulada pelo Sr. José Antônio da Silva, segundo a qual a 2

3 empresa Coletivos São Cristóvão Ltda. estaria cometendo as seguintes irregularidades trabalhistas: a) não recolhimento do FGTS devido ao Representante durante o periodo de gozo de beneficio previdenciário (Auxilio Doença). É o relatório. Consoante o disposto no art. l. da Resolução 64/2007 do CSMPT c/c o artigo 5., alinea "a" da Resolução n 69/2007 do CSMPT, no sentido de otimizar o recebimento e o processamento das denúncias, deixa-se de determinar a instauração de procedimento preparatório ou de inquérito civil em virtude de a narração dos fatos não ensejar a atuação do Ministério Público do Trabalho. Ora, o Parquet age na defesa da sociedade. Portanto, sua intervenção somente se justifica para resguardar interesses maiores da coletividade, que não seriam adequadamente defendidos apenas pelos seus titulares, individualmente, pelo sindicato ou por outros entes competentes. Respeitado entendimento em contrário, não vislumbro no caso em questão lesão de caráter coletivo capaz de ser combatida mediante a propositura de ação civil pública. Na hipótese, os interesses em questão podem ser defendidos pelo seus titulares, individualmente, ou pelo sindicato, que possui legitimidade concorrente, na defesa da categoria de trabalhadores. Com efeito, a teor do inciso III do art. 8. da Constituição Federal, "ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas". Em outras palavras, depreende-se que a denúncia não traz elementos que demandem a atuação do Ministério Público do Trabalho, por não ter relevância social, já que o trabalhador pode buscar a s alegado direito 3

4 por meio de seu próprio sindicato, t denúncia de questão meramente individual. Isso porque não é qualquer violação ã legislação trabalhista que acarreta a atuação do Ministério Público do Trabalho, sendo imperiosa a demonstração de que a prática denunciada implica violação de interesses de maior monta, que atinja grande massa de trabalhadores. Nesse sentido é o Precedente 17 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, que assim reza: "Violação de direitos individuais homogêneosatuação do Ministério Público do Trabalho- Discricionariedade do Procurador Oficiante. Mantém-se por despacho, o arquivamento da Representação quando a repercussão social da lesão não for significativamente suficiente para caracterizar uma conduta com conseqüências que reclamem a atuação do Ministério Público do Trabalho em defesa de direitos individuais homogêneos. A atuação do Ministério Público deve ser orientada pela "conveniência social". Ressalvados os casos de defesa judicial dos direitos e interesses de incapazes e população indígena." Some-se a isso o volume de denúncias diariamente recebidas pela PTM de Caruaru, afigurando-se crucial que o Parquet filtre os procedimentos, para possibilitar maior atenção às denúncias que envolvam direitos individuais homogêneos, coletivos e difusos. Mobilizar a onerosa estrutura desta Instituição em prol da defesa de direito de reduzido número de trabalhadores significaria desviá-la do atingimento de suas metas de atuação prioritária, mister que já representa, por si só, um grande desafio para o seu diminuto quadro de Procuradores. À luz de todo o exposto, INDEFIRO a abertura de inquérito civil contra a empresa COLETIVOS 4

5 SÃO CRISTÓVÃO LTDA., com fundamento no art. 5., alínea a da Resolução n. 69, de 12 de dezembro de Intimado do arquivamento (fl. 12), o denunciante interpôs recurso administrativo, asseverando o seguinte (fl. 13/14). Redistribuídos os autos ao i. Procurador do Trabalho Ulisses Dias de Carvalho (fl. 20), restou mantido o arquivamento à fl. 21. Ltda. Apresentou contrarrazões às fls. 23/42. Devidamente notificada, a Coletivos São Cristóvão autos a esta Relatora (fl. 45). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Em que pese apresentar-se hábil e tempestivo (fls. 12v e 13/14), o recurso administrativo interposto pelo denunciante não merece lograr êxito no mérito, pelas razões a seguir expostas. 5

6 Pelos elementos de informação constantes nos presentes autos resta suficientemente clarificada situação de caráter nitidamente individual. Dessa forma, tanto a denúncia quanto o recurso administrativo interposto pelo denunciante não trouxeram notícia de prática reiterada da conduta empresarial denunciada, senão que questionaram as circunstâncias de serem suspensos os recolhimentos do FGTS à sua conta vinculada-individualizada, em decorrência da interrupção do contrato de trabalho, em razão de afastamento de suas atividades laborais, imposto por consequência de acidente de trabalho. Ainda que eventual afronta ao direito individual do denunciante indicar lesão metaindividual à coletividade laboral, por se tratar de valores devidos à composição do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. In casu, a tarefa investigatória ao encargo deste Parquet laboral não se impõe, porquanto, há necessidade de exame individualizado da questão referente ao afastamento do empregado e a suspensão dos rwspectivos depósitos fundiários, o que encobre o presente caso de feição meramente individual. promoção de arquivamento ora em exame. Ante o exposto, cabe manter-se, por homologação, a 6

7 CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO no sentido de CONHECER e NÃO PROVER o Recurso administrativo adunado à fls. 13/14, e de HOMOLOGAR a promoção de arquivamento subscrita pela Exma. Senhora Procuradora do Trabalho, Dra. Jailda Eulídia da Silva Pinto, às fls. 08/10, determinando o retorno dos autos à origem para as providências de estilo. Cientifiquem-se os interessados e a Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho de origem. Brasília, 20 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Coordenadora da CCR RELATORA mjql 7