Deputado Edson Ezequiel PMDB/RJ 19/05/2014 Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Venho a esta tribuna para falar de um assunto altamente preocupante para o nosso país. Trata-se do CUSTO BRASIL, assunto recorrente na pauta das pessoas preocupadas com o desenvolvimento e com a produção de riqueza. Apesar de contarmos com importante parque fabril, de praticarmos uma agricultura moderna e pujante, de possuirmos um mercado interno de 180 milhões de pessoas e que cada dia demanda mais consumo, continuamos patinando e não conseguimos nos transformar no tão falado País do futuro. Porque estamos perdendo para nações que aparentemente não possuem os recursos humanos, minerais, territoriais e climáticos que possuímos? Porque os brasileiros preferem pegar um avião e ir fazer compras em outro país e com a diferença nos preços das compras pagam as despesas e ainda fazem turismo? Porque está tudo tão caro no Brasil? Imóveis, veículos, roupas, alimentação, lazer, educação, turismo, saúde, em geral tudo que uma pessoa precisa para viver bem? Serão os impostos o grande vilão do nosso pesadelo? Os impostos são um dos responsáveis, visto que 1% de aumento na carga tributária, segundo o IPEA, reduz 3,8% do PIB no longo prazo. Segundo a Revista KPMG Business Magazine cobramos mais 42,6% de impostos que os Estados Unidos, a Nação mais rica do mundo. O Brasil fica atrás da França, Itália e Japão em cobranças de impostos e cobra mais que a Rússia, China, Índia e México, países os quais competimos diretamente. Em março de 2013, a FIESP Federação das Indústrias de São Paulo produziu um estudo sobre a competitividade dos produtos brasileiros e concluiu que os manufaturados aqui produzidos são 34,2% mais caros que os similares importados de nossos parceiros comerciais.
Vejam Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, em 2012 o consumo brasileiro cresceu 8,4% no varejo e a industria brasileira de transformação recuou 2,5%. Curiosamente no período de 2008 a 2010, as importações de bens manufaturados cresceram 40% e somente no ano de 2011, cresceram 100%. O fraco desempenho da indústria de transformação brasileira pode ser atribuído fundamentalmente ao Custo Brasil e à valorização do Real. O Custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que independem da competência e de estratégias das empresas, pois decorre de deficiências em fatores sistêmicos, as quais somente podem ser dirimidas com políticas de Estado. O Custo Brasil tem sido apontado como a principal causa da perda de competitividade da economia e sobretudo da indústria de transformação. Os principais fatores que influenciam no Custo Brasil são: câmbio e inflação; custo de capital de giro; matérias primas; energia; custos de serviços a funcionários; serviços e infraestrutura logística e outras ineficiências sistêmicas. São consideradas ineficiências sistêmicas a corrupção administrativa pública elevada; a manutenção de taxas de juros reais elevadas; o déficit público elevado; a burocracia excessiva para criação e manutenção de empresa; o spread bancário exagerado (no caso do Brasil, é um dos maiores do mundo); a burocracia excessiva para importação e exportação, que dificulta o comércio exterior; os altos custos trabalhistas e do sistema previdenciário; a legislação fiscal complexa e ineficiente; a insegurança jurídica e a infraestrutura precária. Não é necessário detalhar todas as ineficiências, são de conhecimento geral, porém, algumas situações beiram o absurdo e é preciso que todos conheçam. Em artigo publicado na revista Gerente de Cidades estima-se que em sistemas eficientes a perda de energia elétrica seja de 4%. No Brasil é de 17%. Em relação à água, a perda aceitável deve ser em torno de 20%. Em muitos municípios brasileiros esta perda chega a 42% da água disponibilizada.
Segundo a Abimaq, um estudo que mensurou o Custo Brasil para produtos agrícolas concluiu que apenas a falta de infraestrutura logística para o transporte de grãos ocasiona uma perda estimada em 4 bilhões de dólares. Tiago Ornaghi, em matéria publicada na Folha de São Paulo, estima em 6% a perda de grãos durante o transporte das safras até o mercado de destino, chegando o desperdício a 7 milhões de toneladas. Outro importante gargalo com impacto no Custo Brasil, é a condição das estradas brasileiras, uma vez que a predominância do transporte de cargas no Brasil é rodoviário. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) 41% das estradas estão em estado deficiente, 25% estão ruins e 16,8%, em péssimo estado. Segundo o professor José Vicente Caixeta Filho, da Escola superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, em longas distâncias o transporte ferroviário é 30% mais barato que o rodoviário e o transporte hidroviário é 50% mais barato que o rodoviário. Mas como trocar o transporte rodoviário pelo ferroviário, se reduzimos a malha ferroviária de 34.207 km para 29.706 km? Como integrar a rede ferroviária se operamos com 4 tipos de bitolas? A Revista Brasil Econômico divulgou matéria que demonstra que o sistema ferroviário brasileiro, localizado ao longo da costa, não se interliga. Além disso, as ligações com os portos brasileiros ainda são precárias e a malha ferroviária nacional precisaria dobrar para suprir a demanda. Atualmente os 29 mil quilômetros de ferrovia transportam 25% da produção agrícola. Os portos brasileiros são um desastre esta é a expressão da Revista Exame, que acompanhou a viagem de um navio do Amazonas até Santa Catarina e observou: Longas filas de espera para atracar; Poucas horas de operação quando o navio é atracado é preciso interromper as operações à meia-noite de sexta feira, pois a Receita Federal não trabalha nos finais de semana; Falta de espaço nos pátios para os contêineres - o espaço é disputado por caminhões e trens;
Que os armazéns ficam distantes do ponto de atracação, o que prolonga a transferência da carga para a embarcação. Diante de tantos problemas, não é de se surpreender que o Brasil tenha ficado em 130º (centésimo trigésimo) lugar entre os países avaliados no quesito qualidade dos portos, no último relatório do Fórum Econômico Mundial. De 2000 a 2010 o Brasil não inaugurou nenhum porto relevante e a Índia inaugurou 5 novos portos, dobrando a capacidade de movimentação de carga. A China inaugurou recentemente um terminal com a capacidade de movimentar 30 milhões de contêineres por ano, enquanto o porto de Santos, o maior do Brasil, conseguiu movimentar 2,8 milhões de contêineres em 2010. A construção e exploração de portos privados com movimentação de carga para terceiros só foi possível a partir de 5 de julho de 2013, com a sanção da Lei 12.815 (Lei dos Portos). Ainda assim, o Brasil transporta por navio apenas 11% de suas cargas, enquanto a China transporta 48%, a Europa 37% e os Estados Unidos 28%. Finalmente chegamos ao transporte de carga aéreo, imaginando que ele seria solução para importação e exportação rápidas e eficientes. Contudo, a FIERJ Federação das Industrias do Rio de Janeiro divulgou estudo onde mostra que o tempo médio de liberação de mercadorias em cinco grandes aeroportos brasileiros é de 175 horas. Essa espera parece absurda, se comparada com os aeroportos de Londres, que libera em 8 horas, dos Estados Unidos, em 6 horas, e da China, em apenas 4 horas. No comércio exterior somente as mercadorias mais caras são transportadas de avião. No Brasil isso representa 1% da carga transportada e 10% do valor transportado. Através dos aeroportos só chegam ou saem mercadorias que precisam ser entregues com urgência. Mas infelizmente não é o que acontece no Brasil, onde a pressa perde para a burocracia. Os órgãos responsáveis pela liberação dessas mercadorias, como por exemplo a Receita Federal, trabalham somente no horário de expediente e muitos departamentos trabalham apenas 6 horas por dia, de segunda a sexta feira, ao contrário
da maioria dos países, nos quais esse trabalho é de 24 horas por dia, e sete dias por semana. Os custos de armazenagem das mercadorias, as perdas, os atrasos e a estocagem desnecessária são outros complicadores. Por exemplo, uma carga paga para desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro 40 vezes mais do que para desembarcar no aeroporto de Singapura, um dos mais ágeis do mundo. Encerrando, esbarramos na burocracia. Podemos definir burocracia como um excesso de procedimentos que uma pessoa ou empresa deve tomar para desenvolver suas atividades. Geralmente é resultado da falta de eficiência dos órgãos governamentais. E a burocracia excessiva impõe dificuldades para abrir e manter uma empresa ou impõe perdas. Com base em informações extraídas do Portal de Contabilidade, constatamos que para a abertura e manutenção de empresas existem aproximadamente 100 obrigações fixas, além daquelas que podem ser geradas a partir delas. Segundo uma pesquisa do IBPT Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a cada hora são expedidas em média 2 normas, inovando ou alterando regras tributárias, trabalhistas, previdenciárias ou assemelhadas. O custo médio para se abrir uma empresa no Brasil é de R$ 2.038,00 (dois mil e trinta e oito reais). Na China é de R$ 280,00; na Rússia R$ 559,00; na Índia R$ 1.176,00. Se compararmos o Brasil com os demais países do BRICs, ele fica em último lugar. Ao direcionar tempo e dinheiro às exigências do estado ineficiente, as empresas contribuem menos do que poderiam ao desenvolvimento do país. O relatório Doing Business do Banco Mundial divulgou um ranking com 189 nações, em ordem crescente de burocracia. O Brasil ficou em 116º (centésimo, décimo sexto) lugar. Se comparado ao México, que ficou em 51º (quinquagésimo primeiro) lugar e que tem o PIB e as condições de desenvolvimento parecidos com o Brasil, percebemos que há muito a ser melhorado.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, concluímos que para baixar o Custo Brasil precisamos de ações públicas reais e não paliativas e periféricas. Obrigado.