Vantagem competitiva baseada em operações
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- Felipe Castel-Branco Chagas
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1 Resenha HAYES, Robert; PISANO, Gary; UPTON, David; WHEELWRIGHT, Steven. Operations, strategy, and technology pursuing the competitive edge. Hoboken: Wiley & Sons, p. Dirk Boehe Vantagem competitiva baseada em operações A área de gestão internacional carece, até hoje, de obras sobre estratégia de produção e logística internacional. O livro intitulado Operations, strategy, and technology pursuing the competitive edge de Hayes, Pisano, Upton e Wheelwright da Harvard Business School discute os princípios básicos de estratégias de operações inseridas em um mundo globalizado com base na perspectiva da economia norte-americana do início do século XXI. Os autores evocam as condições competitivas, turbulentas e incertas em um mundo de negócios pós-pontocom e penetrado por redes de empresas de presença global. A visão dos autores vai além da transformação de inputs em outputs por meio de processos manufatureiros e aborda os fundamentos das decisões estratégicas no desenvolvimento, na produção e no gerenciamento de fluxos de produtos e serviços. O livro foi escrito também para os que não estão diretamente envolvidos com operações, já que tornar as operações de uma empresa em uma fonte de vantagens competitivas requer o envolvimento de todos (p. 27). Com isso, o livro pode ser considerado como uma tentativa de valorização da área de Operações, uma vez que essa, defendem Hayes e colegas, apesar de ter sido responsável pelos sucessos 165
2 Dirk Boehe comerciais de inúmeras empresas, tem sido relegada a um papel secundário, se comparada às áreas de Marketing, Vendas e P&D. O livro consiste em 11 capítulos. No primeiro capítulo, parte introdutória ao tema, os autores formulam uma crítica devastadora ao paradigma das best practices ou world class manufacturing sejam elas as melhores práticas americanas fundamentadas na produção em massa dominante até os anos 70, sejam elas os métodos de gerenciamento da qualidade total (TQM), just-in-time (JIT), Kanban, Seiketsu, Kaizen associados ao Sistema Toyota de Produção, sejam elas as melhores práticas do sistema oriental ocidentalizadas e transformadas em re-engenharia, lean & mean ou produção enxuta. Uma crítica pertinente, considerando os exemplos de fracasso e as inconsistências dessas práticas citadas no livro. Apesar do mérito dessa crítica, ela nem sempre convence porque os autores associam a estagnação do Japão nos anos 1990 e o colapso da bolha especulativa em 2001 às deficiências da abordagem das melhores práticas na produção; um exagero que parece ignorar o fato de que a economia financeira se desacoplou da economia real nesses momentos. O livro fica aprisionado a um paradigma antigo que data dos anos 1960: a abordagem contingencial, que se baseia na premissa de que as organizações ajustam suas estruturas a fatores contingenciais, como a incerteza ambiental, a estratégia, a estrutura, a tecnologia, o porte da empresa, entre outros. Assim, empresas cujas operações não se adaptem aos fatores contingenciais terão desempenho inferior. Conseqüentemente, a busca por melhores práticas é insuficiente, e as empresas devem tomar decisões estratégicas que lhes distingam da grande massa dos seus concorrentes e que lhes provejam vantagens competitivas únicas. É nesse sentido que foi construído o operations strategy framework, uma abordagem que defende que as empresas escolham um enfoque estratégico, tentando alinhar suas estratégias operacionais com as estratégias de negócios e, acima de tudo, desenvolver capacidades dinâmicas, únicas e inimitáveis em operações. 166
3 Resenha Os capítulos que seguem são subdivididos em três partes principais, que trazem o parecer dos autores sobre a estrutura e a estratégia de operações (capítulos 2 a 5), o gerenciamento de tecnologias operacionais (capítulos 6 a 8) e abordagens para o gerenciamento de melhorias em operações (capítulos 9 a 11). Na primeira parte, os autores fundamentam o seu framework para pensar estratégias operacionais (capítulo 2), discutem estratégia de capacidade em produção e prestação de serviços (capítulo 3), os fatores estratégicos que influenciam a decisão de fazer ou comprar (capítulo 4) e os fatores que alicerçam o desenho de redes de operações (capítulo 5). A segunda parte aborda os temas da tecnologia de informação (capítulo 6), desenvolvimento de processos (capítulo 7) e gestão de projeto em operações (capítulo 8). A terceira parte inicia com a avaliação qualitativa e quantitativa das operações (capítulo 9), desenvolve abordagens de melhoria e aprendizagem (capítulo 10) e conclui com recomendações para o desenvolvimento de uma estratégia de melhorias (capítulo 11). Desses temas, destacamos alguns a seguir. Um tema importante do livro é o foco nas relações interfirma e redes de operações, uma vez que a incerteza, um dos principais fatores contingenciais, faz com que as empresas reduzam o seu grau de integração vertical e se organizem em redes de empresas mais flexíveis. Os autores dão ênfase à coordenação e à estrutura da rede, considerando a localização das unidades operacionais, o número, a especialização e o tamanho das unidades, o grau de centralização e descentralização, entre outros. Fiéis à abordagem contingencial, Hayes e colegas afirmam que não existe uma única e melhor forma para organizar uma rede, já que diferentes estruturas de redes possuem diferentes vantagens e desvantagens ; logo, é preciso avaliar os trade-offs entre as características de diferentes estruturas. A análise desses trade-offs é essencial para empresas com unidades em várias regiões ou países, quando tomam decisões sobre a localização, a especialização, o escopo e a escala dessas unidades. Deve-se destacar ainda a discussão dos impactos da tecnologia de 167
4 Dirk Boehe informação no mundo de negócios em geral e as operações em particular. Os autores afirmam que a TI tem contribuído para a ampliação do escopo geográfico das operações para o mundo inteiro e facilita assim outsourcing e offshoring. Além da discussão do desenho de uma estratégia de TI, eles explicam também como os principais fatores competitivos nas operações custo, qualidade, velocidade de entrega, flexibilidade e inovação mudam de significado ao passar dos negócios reais para os virtuais. Assim, a onipresença da TI exige o desenvolvimento contínuo de novos produtos e serviços e sua chegada cada vez mais rápida no mercado global. Conseqüentemente, a gestão de projetos ocupa uma crescente proporção das atividades empresariais e passa, portanto, para o primeiro plano, enquanto outras, tais como a melhoria de processos existentes, passam para o segundo. É por isso, que Hayes e colegas dedicam dois dos seus 11 capítulos criar um diferencial competitivo mediante a gestão superior de projetos e avaliação e justificação de investimentos em capital a esse assunto. Assim como em outros capítulos, os quatro professores de Harvard não deixam de formular críticas contra the one best way. Dessa vez, o alvo são os programas ERP, qualificados como liquid concrete, produzidos por poucas empresas globais, que reduzem as escolhas estratégicas e as oportunidades de criar um diferencial competitivo, competitive edge, dos seus clientes. Nos dois últimos capítulos, os autores dão especial ênfase à melhoria por meio de diferentes estratégias de aprendizagem na área de operações, pois a complacência é a maior causa singular pela desaceleração da melhoria operacional (p. 317). De forma consistente, mas nem sempre isenta de cortes abruptos entre as seções, Hayes e colegas partem de uma classificação de diferentes tipos de melhoria operacional, discutem criticamente abordagens opostas como a re-engenharia e o gerenciamento da qualidade total (TQM) e propõem uma receita de bolo própria para a criação de diferentes tipos de estratégia de melhoria. Embora se trate de uma receita genérica, o que garante que ela não acaba em mais uma dessas melhores 168
5 Resenha práticas? O livro se encerra ao mostrar que diferentes trajetórias de melhoria podem fomentar distintas capacidades organizacionais e operacionais; capacidades estas que afinal alicerçam vantagens competitivas únicas. Para ilustrar essa idéia, Hayes e colegas comparam a introdução de um sistema operacional puxado, como o Just-In-Time, com a introdução de um sistema MRP, um sistema de planejamento de materiais e de produção informatizado: enquanto o sistema puxado favorece o desenvolvimento de capacidades em solução de problemas no chão-de-fábrica e melhorias contínuas, o sistema MRP favorece a criação de capacidades em gerenciamento de grandes bases de dados. O livro é voltado para a área de operações, mas ele foi escrito para aqueles que trabalham em ou estudam outras funções que devem interagir com operações (p. 28). Nesse sentido, a obra também é de grande valia para os que estudam temas relacionados com a internacionalização de empresas ou empresas multinacionais. Escrito diante dos desafios decorrentes da integração global de fluxos de mercadorias e informações e da competição acirrada entre países de baixo custo (China, Índia) para a área de operações de empresas dos EUA, o livro possui implicações relevantes para a conjuntura brasileira atual: o que vale para empresas estadunidenses há vários anos, hoje também vale para o Brasil, onde a euforia inicial pela parceria Brasil- China deu lugar à temida China nos principais jornais e no falar dos empresários. Em vez de cultivar o medo e a imitação de melhores práticas dos demais, a resposta a esses desafios passa pela implementação de estratégias operacionais originais para enfrentar a concorrência internacional. Hayes, Pisano, Upton e Wheelwright orientam na busca, na avaliação e na melhoria dessas estratégias. O que faz deste livro uma experiência de leitura agradável são suas passagens metafóricas, divertidas, vividamente ilustradas, tornando seu público acadêmico e gerencial mais amplo. Embora nem a abordagem paradigmática nem todos os conteúdos da obra sejam radicalmente novos, 169
6 Dirk Boehe mas aproveitamentos do grande acervo de trabalhos anteriores dos autores, essa síntese é algo único na literatura, bastante coerente e útil para o desenho de estratégias operacionais próprias ou a reflexão sobre elas. 170
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