Carta Mensal Iporanga Março de 2015
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- Vitória Aveiro Carvalhal
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1 O mês de Março foi marcado pela alta volatilidade em diferentes classes de ativos, grande parte desses movimentos é explicada pelos anúncios sobre a política monetária dos diversos bancos centrais, que nem sempre corresponderam às expectativas dos mercados. Brasil A presidente parece ter se decidido sobre sua posição em relação a economia, com um discurso claro e alinhado à posição do ministro Levy. No entanto, com um apoio político e popularidade fracos, os preços dos ativos tornaram-se mais sensíveis do que nunca à evolução da situação política. Aguardada com ansiedade por todo o Brasil desde que estourou o escândalo de corrupção na Petrobrás, a lista de políticos suspeitos de participar da fraude foi divulgada na primeira semana do mês. O PMDB - segundo maior partido da base - foi atingido em cheio com a inclusão dos dois dirigentes das Casas Legislativas na referida lista: Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros, presidente do Senado. Em um movimento de demonstração de força, com oposição velada ao governo, o presidente do Senado devolveu a MP 669, que altera as alíquotas de desoneração das folhas de pagamento, colocando mais pressão sobre a já frágil situação fiscal do governo. De acordo com dados da Receita Federal, esta MP evitaria uma renúncia fiscal no montante de R$ 25 bi em O fluxo de notícias econômicas negativas continuaram. Atividade fraca, inflação persistentemente alta, crise hídrica, deterioração do mercado de trabalho, ciclo de alta de juros, maior IOF e a determinação da nova equipe econômica em reduzir o papel do BNDES: todos esse sinais indicam que haverá mais moderação na atividade em
2 A confiança do consumidor da FGV atingiu 82,9, vindo de 85,4 no mês anterior. Confiança no setor industrial caiu 8,2% no mês, depois de cair 3,4% em fevereiro, ficando em 76,2, nível mais baixo desde Fevereiro de As arrecadações de impostos totalizaram R$ 90 bi, mostrando acréscimo de 0,5% YoY. Vale notar que este crescimento é em grande parte inflado pelo resultado de uma receita extraordinária de R$ 4,6 bi da transação entre Banco do Brasil e Cielo. Excluindo a transação, as receitas nominais cairiam 4,7% YoY. O Governo, que esperava uma melhora devido à reversão de alguns subsídios (a redução do IPI e o imposto de gasolina) e aumentos em outros impostos (IOF em empréstimos pessoais, tarifas de importação), viu os gastos acelerarem 13.7% YoY em Fevereiro de 2015, levando o resultado primário a um déficit de R$2.3bi (-0.70% do PIB acumulado de 12 meses), e aumentar a dívida bruta em 1.10 ponto percentual, para 65.6% do PIB. Lembramos que a meta proposta pelo Ministro é de R$66.3 bi para o superávit primário, o que equivale a 1.2% do PIB na estimativa do começo de O Banco Central do Brasil surpreendeu e decidiu diminuir o volume ofertado na rolagem de swaps cambiais em $2.0bi - antes rolados integralmente. Este movimento aliado à turbulência política levou o Real à desvalorizar-se em 12.5% frente ao dólar no mês, e nem mesmo o anúncio de manutenção da nota de risco soberano pelo S&P (BBB-, com perspectiva estável) foi capaz de evitar. Estados Unidos O Federal Reserve (FED) não dá indicação, ainda, de quando os juros começarão a subir. A ata deixa claro que não existe a possibilidade de subir a taxa na reunião de Abril, indicando que seria prematuro normalizar as taxas em um momento que dados mais fracos podem colocar em risco o mandato duplo de inflação e emprego. No entanto deixa a entender que na reunião de Abril ou Junho de 2015 a data será comunicada. Na ata de Março todas as variáveis macroeconômicas foram revisadas para 2
3 baixo, incluindo PIB e Inflação (core-pce) de 2016 e O desemprego também foi revisado para um patamar entre 5.0% - 5.2% (5.2% - 5.3% em Dezembro de 2014), considerado agora como o novo intervalo de pleno emprego almejado pelos economistas do FED. A presidente do FED, Janet Yellen, comentou durante a coletiva após o anúncio que espera uma subida nos preços após a economia atingir o pleno emprego. Os bancos centrais, em sua maioria, estão brigando contra o ambiente de baixa inflação e isso traz cada vez mais desafios aos formuladores de política econômica. Vale notar que tanto US como UK, que eram consideradas economias distantes das pressões deflacionárias em comparação com os outros mercados desenvolvidos durante o 1H2014, estão vendo os seus headlines de inflação arrefecerem rapidamente (UK CPI YoY: 0.0% em Fev15 vs 0.3% em Jan15, e US CPI YoY: 0.0% em Fev15 vs -0.1% em Jan15). Entretanto, analisando o núcleo do índice de preços - sem alimentação e energia -, a figura é outra. O núcleo de US aumentou (1.7% YoY em Fev15 vs 1.6% YoY in Jan15), enquanto o núcleo de UK desacelerou (1.2% YoY em Fev15 vs 1.3% YoY em Jan15). Os caminhos que a inflação desses países tomaram a partir de 2H2014 mostram que a economia americana tem maior capacidade de anular a pressão deflacionária global com a sua demanda doméstica. Isso cria um suporte para o nosso cenário de que o FED será o primeiro banco central na direção de normalização da politica monetária, na segunda metade deste ano. Zona do Euro O Banco Central Europeu (BCE) iniciou o seu programa de compra de ativos na segunda semana do mês de Março. O banco central comprará 60 bilhões de euros por mês até setembro de 2016 ou até que a inflação aumente para perto, mas abaixo da meta de 2%. O banco também revisou a previsão de crescimento em 2015 de 1,0% para 1,5%, e 2016 para 1,9%, de 1,5%. 3
4 A publicação dos atos legais deram mais detalhes sobre o programa, chamado de ECB s Public Sector Purchase Programme (PSPP): 1- Cada National Central Bank (NCB) será responsável pela compra de seu próprio título soberano e doméstico. O ECB coordenará todas as compras de ativos através do Eurosystem, que permitirá à eles forçar os NCBs que estiverem aquém das cotas propostas, a se enquadrarem. 2- O programa prevê compras de State Owned Enterprises (SOE). 3- As compras de ativos podem acontecer com taxas de até -0.20%. 4- Os prazos são de 2 yrs a 30 yrs. 5- Será aplicado limite de 25% por emissor nos primeiros 6 meses, e depois revisto. 6- As compras serão ponderadas pelo valor nominal em aberto no mercado, minimizando o impacto direto na curva de compras do BCE. Os Níveis de Confiança do Consumidor na Europa estão em patamares que não eram vistos desde o começo de 2007 e mais de 9 pontos acima da média histórica (Eurozone Consumer Confidence veio em -3.7 em Mar15 contra -6.7 em Fev15). Esperamos que esta mudança de patamar possa ser traduzida em maiores vendas no varejo, melhorando assim a perspectiva de inflação e PIB para 2015 e China Na China as expectativas de crescimento do PIB deterioraram fortemente à luz dos dados macroeconômicos apresentados durante o mês. As vendas no varejo e a produção industrial, ambos de Fevereiro de 2015, vieram fracos. Vendas no varejo desacelerando para +10.7% YoY e Produção Industrial recuando para +6.80% YoY. O consenso de crescimento do PIB encontra-se em 6.0% para 2015, mas destacamos que existe espaço para revisões para baixo. As taxas de financiamento no mercado local continuam altas. O menor crescimento econômico, aliado a uma pressão deflacionária persistente, nos leva a 4
5 pensar que a China tem espaço para desvalorizar ainda mais sua moeda em relação ao USD. Uma desvalorização moderada, puxada por um relaxamento nas taxas fixas de curto prazo, seria, talvez, a melhor maneira de fazer com que o país encontre equilíbrio nas contas externas e maximize suas exportações. Os preços das commodities metálicas continuam em queda: no dia 30 de Março o minério de ferro foi negociado a US$ 52.70/ton, o nível mais baixo desde Essa cotação está próxima da banda inferior das previsões mais pessimistas do mercado, podendo atingir o nível pscicológico de US$ 50/ton, o que se sustentado por um longo período inviabilizaria a atividade de muitas mineradoras. Mantêm-se, portanto, o cenário desafiador para os países altamente dependentes de exportação de commodities metálicas. Posições Câmbio Mantivemos nossa alocação long USD contra as moedas AUD, EUR e ZAR. Diminuímos em 2/3 nossa posição comprada em opção de USDBRL dado o forte movimento de desvalorização da moeda no período. Juros Zeramos nossa posição aplicada em NTN-B 22. Bolsa Mantivemos a nossa posição comprada em bancos privados, seguradoras e empresas de celulose e vendida em consumo discricionário, shoppings e geradoras de energia elétrica. 5
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