PREFEITURA MUNICIPAL DE EUNÁPOLIS - ESTADO DA BAHIA SUPERINTENDÊNCIA DE LICITAÇÕES E CONTRATOS. Decisão

Transcrição

1 Decisão Processo Administrativo nº. 212/2017 Concorrência Pública nº. 003/2017 Objeto: Contratação de empresa para construção de colégio municipal com quadra poliesportiva coberta no bairro Moisés Reis. Ref.: Impugnação ao edital (art. 41, 2.º, Lei Federal n.º 8.666/93) Impugnante: ALFFA TERRAPLANAGEM LTDA-ME. Trata-se de impugnação ao edital da epigrafada concorrência pública, ora promovida pelo Município de Eunápolis-BA, cujo objeto é a construção de colégio municipal com quadra poliesportiva coberta no bairro Moisés Reis. Ao teor do petitório, verifica-se que, no mérito, a impugnante alega a existência de disposição editalícia com caráter restritivo da competição entre os interessados, ora traduzida na exigência de atestados de capacidade técnico-operacional dos licitantes, relativos à execução de obras com características similares àquela pretendida pela Administração Municipal, com a comprovação de, no mínimo, 780 m2 (setecentos e oitenta metros quadrados) de área trabalhada, o que corresponde a 30% (trinta por cento) da referida obra a ser licitada. Ademais, sustenta ainda que o instrumento convocatório exige dos interessados a comprovação do mencionado percentual de capacidade técnico-operacional através de um único atestado, o que seria vedado pela jurisprudência das Cortes de Contas.

2 Por fim, aduz que o registro dos atestados exigidos para a comprovação da capacidade técnico-operacional no competente Conselho Profissional é indevido, impondo-se a sua supressão no edital. É o que, em síntese, cumpria registrar. Em sede preliminar, verifica-se que a impugnação é tempestiva e formalmente apta a provocar a produção dos seus efeitos típicos, vez que observada a norma contida no art. 41 da Lei Geral de Licitações e Contratos Administrativos. Assim sendo, passa-se ao exame do seu mérito. parcial. Em análise das razões impugnatórias apresentadas, impõe-se o seu acolhimento Isso porque, inobstante a comprovação de capacidade técnico-operacional mediante a apresentação de atestados da execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com características semelhantes não detenha previsão explícita na Lei Geral de Licitações e Contratos Administrativos, é entendimento pacífico na doutrina e jurisprudência pátrias que, sendo pertinente e necessária à consecução das finalidades públicas, sua exigência se harmoniza com o ordenamento jurídico vigente, notadamente em face das peculiaridades do regime administrativo aplicável às contratações públicas, fazendo com que exsurja a necessidade de maior controle sobre as qualidades pessoais dos fornecedores de bens e serviços aos órgãos da Administração, a fim de evitar prejuízos ao interesse coletivo. Nesse sentido está a ilustre lição doutrinária: A Administração não pode fazer exigências indevidas e impertinentes para a habilitação do licitante. A própria Constituição, ao referir-se ao processo de licitação, indica que este somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (art. 37, XXI). No mesmo sentido, já decidiu o STJ que as exigências na licitação devem compatibilizar-se com seu objetivo (...). Depois, temos a capacidade técnica, que é meio de verificar-se a aptidão profissional e operacional do licitante para a execução do que vier a ser contratado, e pode ser genérica, específica e operativa. A primeira diz respeito à inscrição no órgão de classe (o CREA, por exemplo); a segunda serve para comprovar que o candidato já prestou serviço idêntico a terceiros, o que é feito através de atestados fornecidos por pessoas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais competentes (art. 30, 1º, do Estatuto); e a

3 terceira, para comprovar que a estrutura da empresa é compatível com o vulto e a complexidade do objeto do contrato 1. Corroborando ainda tal argumento, o enunciado sumular n.º 263 do Egrégio Tribunal de Contas da União explana que: Para a comprovação da capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que limitada, simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com características semelhante, devendo essa exigência guardar proporção com a dimensão e complexidade do objeto a ser executado. Vislumbra-se, no caso concreto, que o instrumento convocatório exige das licitantes a comprovação de terem realizado obras de no mínimo 780m2 (setecentos e oitenta metros quadrados), com as mesmas características do objeto da referida concorrência pública, quantitativo equivalente a 30% (trinta por cento) da obra a ser contratada, o que se revela razoável e pertinente em face da complexidade e extensão da necessidade pública descrita nos autos, amparando-se inclusive nos elementos técnicos constantes do processo administrativo correlato e fornecidos pelo órgão municipal solicitante. Nesse sentido, cumpre manter a exigência editalícia no que concerne à comprovação pelas licitantes do quantitativo mínimo originalmente previsto, observando-se a necessária similitude entre as obras já desenvolvidas e aquela que se pretende contratar através do procedimento licitatório em epígrafe. Contudo, não se pode olvidar que a jurisprudência pátria veda, em regra, a limitação à quantidade de atestados apresentados para a comprovação da sobredita capacidade técnico-operacional, o que só se excetua com a devida demonstração de seu cabimento e expressa previsão no edital. Para o cabível esclarecimento sobre o tema, colaciona-se o seguinte aresto: TCU Acórdão n.º 1.983/2014 Enunciado 1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 25 ed., rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 281.

4 Não configura irregularidade a inexistência de regra expressa no edital permitindo o somatório de atestados de capacidade técnica. O impedimento à utilização de mais de um atestado é que demanda, além da demonstração do seu cabimento por parte do contratante, estar expressamente previsto no edital. Voto 2. A representante aponta irregularidades no exame dos atestados de qualificação técnica da (...), assim sintetizadas: a) permissão para o somatório de atestados de capacidade técnica, apesar de o edital não trazer tal regra, prejudicando a avaliação da licitante quanto à sua real capacidade de execução das atividades requeridas simultaneamente; (...) 5. O entendimento desta Casa é o de que, na aferição da experiência das licitantes por meio de atestados de serviços realizados, deve-se permitir o somatório desses nos casos em que a demonstração satisfatória da aptidão técnica do concorrente demande a apresentação de mais de um atestado. Ou seja, em condições normais, aceita-se o somatório de atestados para o fim de comprovação de capacidade técnica, a não ser que haja motivo bastante para justificar a exigência de atestado único ou a imposição de outras limitações (Acórdãos 1.237/2008, 2.150/2008, 2.882/2008 e 1.231/2012, todos do Plenário). 6. Na mesma linha temos o Acórdão 849/2014-2ª Câmara, mencionado pela unidade técnica, cujo voto condutor traz consignado que é vedada a imposição de limites ou de quantia certa de atestados ou certidões para fins de comprovação da qualificação técnica, a menos que a natureza e a complexidade técnica da obra ou do serviço mostrem ser indispensáveis tais restrições, devendo a Administração, nesses casos, comprovar da pertinência e a necessidade da fixação de limites ou de não permitir o somatório de atestados no exame da qualificação técnica do licitante. 7. Diante disso, a inexistência de regra expressa no Edital 24/2014 permitindo o somatório não configura, a meu ver, violação ao princípio da vinculação ao instrumento convocatório, já que justamente o impedimento à utilização de mais de um atestado, por implicar algum tipo de restrição à competitividade do certame, é que demandaria, além da demonstração do seu cabimento por parte do contratante, estar expressamente previsto no edital. (...) Acórdão 9.1. conhecer da representação para, no mérito, considera-la improcedente.

5 (Relator: José Múcio Monteiro; Data do Julgamento: 30/07/2014). Por conseguinte, pode-se afirmar que, de acordo com a jurisprudência da Egrégia Corte de Contas da União, a Administração contratante até pode exigir a comprovação da capacidade técnico-operacional mediante número limitado de atestados ou certidões, vedando-se o seu somatório, desde que motive tal restrição e faça prever expressamente no instrumento convocatório, o que não é o caso dos autos, haja vista que a cláusula editalícia ora impugnada apenas prevê a exigência de apresentação de atestados de quantitativo mínimo, correspondente a 30% (trinta por cento) da obra licitada, ora realizado anteriormente pelas licitantes, com similitude de características do objeto a ser contratado, sem restringir o número de documentos comprobatórios da pertinente expertise dos interessados. Desta feita, tendo em conta que a restrição ao somatório de atestados/certidões não se encontra explícita no instrumento convocatório, nem motivada nos autos, observando-se o entendimento jurisprudencial acima expendido, convém acolher a impugnação analisada para esclarecer aos interessados que não há limitação para a apresentação dos documentos comprobatórios da capacidade técnico/operacional, ou ainda para o seu somatório, desde que os mesmos demonstrem fidedignamente a experiência das licitantes com a execução de obras com as mesmas características do objeto licitado, sem prejuízo das demais exigências editalícias. Por último, deve-se rejeitar a impugnação feita à necessidade de registro no competente Conselho Profissional dos atestados/certidões para efeito de comprovação da capacidade técnico-operacional, uma vez que, no caso concreto, a entidade autárquica de fiscalização profissional desempenha controle individualizado sobre os trabalhos a serem tomados como paradigma para a demonstração de experiência operacional das licitantes, sendo notório que a legislação específica impõe a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) junto ao pertinente Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) das obras e serviços de engenharia, com amparo na jurisprudência do TCU 2. Ante o exposto, conhece-se da impugnação ora apreciada para, no mérito, julgá-la PARCIALMENTE PROCEDENTE, apenas para esclarecer aos interessados que não há limitação para a apresentação dos documentos comprobatórios da capacidade técnico-operacional, ou ainda para o seu somatório, desde que os mesmos demonstrem 2 Informativo de Jurisprudência n.º 246.

6 fidedignamente a experiência das respectivas licitantes com a execução de obras com as mesmas características do objeto licitado, sem prejuízo das demais exigências editalícias. Publique-se. Eunápolis, 27 de novembro de Sandra Mara Rocha de Oliveira Ramos Presidente da COPEL HebertJener Lima Santos Membro da COPEL Matheus Rodrigues Borcard Membro da COPEL