A Evolução da Tributação do Valor Adicionado desde 1988 Os casos do Brasil, China e Índia
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1 A Evolução da Tributação do Valor Adicionado desde 1988 Os casos do Brasil, China e Índia Seminário 30 Anos da Constituição: Federalismo Brasileiro em Perspectiva Ricardo Varsano 13 de dezembro de 2018
2 Sumário da Apresentação Os IVAs do Mundo As Melhores práticas O que havia até 1988: Brasil, China e Índia Mudanças após 1988: China, Índia e Brasil Não há conclusões. Cada um tire as suas para discutirmos
3 Os IVAs do Mundo O principal evento tributário da segunda metade do século XX foi a adoção do IVA por um grande número de países Até 1960: só a França Atualmente: cerca de 170 países Único país economicamente grande que não adotou o IVA: Estados Unidos IVAs mais recentes (ex: África do Sul, Austrália, Bahamas, Canadá, Nova Zelândia, países da Comunidade do Golfo) são em geral mais simples e de melhor qualidade que os mais antigos (União Europeia, Brasil, maioria dos demais países da América Latina) Quase todos os IVAs são do tipo consumo, cobrados pelo método de crédito fiscal, com princípio de destino.
4 O Que É Melhor Qualidade? As Melhores Práticas em Matéria de IVA Base ampla inclui todos os bens e serviços a menos que explicitamente excluídos Poucas idealmente nenhuma exclusões ou isenções Uma única alíquota positiva Alíquota zero aplicada apenas a exportações Bens de capital não são onerados Limiar suficientemente alto para excluir micro e pequenas empresas Regime simplificado (mas não privilegiado) para pequenas empresas Procedimentos expeditos para restituição de créditos líquidos de imposto
5 O que havia até 1988: Brasil (I) Brasil foi um pioneiro na adoção de tributação do valor adicionado: IPI em 1964, após França (1948/1954), Costa do Marfim (1960) e Senegal (1961) Brasil foi o primeiro país a adotar um tributo sobre o valor adicionado subnacional (ICM em 1967) Modelos para o IPI e ICM: impostos franceses de 1948 e 1954 (não incluíam serviços) e proposta do Relatório Neumark para a CEE (princípio de origem restrito) O Imposto dinamarquês (1967) e o francês (1968) foram os primeiros a incluir serviços A CEE jamais adotou o princípio de origem restrito. Adotou temporariamente o princípio de destino; e muito depois o perpetuou O ICM já nasceu com duas importantes deficiências serviços excluídos e princípio de origem (em parte) nas transações interestaduais que continuam a existir 52 anos depois
6 O que havia até 1988: Brasil (II) Outras importantes deficiências Exportações de produtos agrícolas e industrializados semi-elaborados eram tributadas Critério de crédito físico: só insumos que se incorporam fisicamente aos produtos vendidos ou consumidos no processo produtivo têm direito a crédito Insumos importantes excluídos: combustíveis, energia elétrica, minerais (eram sujeitos aos impostos únicos) Bens de capital onerados Principais alterações introduzidas pela Constituição de 1988 Base do imposto ampliada com a inclusão de combustíveis e lubrificantes, energia elétrica, minerais, e serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, todos anteriormente sujeitos exclusivamente a impostos federais, que foram extintos (ICM passou a ser ICMS). Estados passaram a ter autonomia para determinar suas respectivas alíquotas incidentes nas operações internas (única restrição: não poderiam ser inferiores às alíquotas aplicáveis a operações interestaduais, fixadas pelo Senado)
7 O que havia até 1988: China Começou a experimentar várias alternativas de tributação do valor adicionado em 1979 As experiências foram realizadas com poucos produtos e em determinadas localidades As experiências duraram até 1993
8 O que havia até 1988: Índia (I) Federação composta por 28 estados e 7 territórios da União (inclusive Déli) Alto grau de autonomia fiscal dos estados Constituição fixa as competências para tributar do governo central e dos estados. Municípios não têm competência para tributar a menos que os estados onde se situam deleguem tal poder Governo central tinha um imposto sobre produtos manufaturados, cumulativo (semelhante ao imposto de consumo brasileiro, que deu lugar ao IPI), substituído em 1986 pelo MODVAT MODVAT era cobrado pelo método do valor adicionado mas com crédito restrito a algumas matérias primas
9 O que havia até 1988: Índia (II) Estados tinham um imposto sobre vendas internas ao seus respectivos territórios, em cascata A União cobrava um imposto sobre vendas interestaduais (CST) Imposto sobre vendas internas + CST (semelhante ao IVC, substituído pelo ICM) Estados também cobravam o Octroi, um imposto sobre a entrada de bens em determinadas áreas (imposto de importação local) Não havia imposto sobre serviços
10 Mudanças após 1988: China (I) 1994: o IVA é criado Bens de capital tributados 4 alíquotas: 17%, 13%, 11% e 6% Restituição de créditos líquidos a exportadores é parcial ( fator de restituição ) Serviços excluídos da base. Sujeitos a imposto local (como o ISS brasileiro) 25% da receita do IVA destinada a governos locais Limiar para registro: 5 milhões de yuan (igual aproximadamente a US$ 725 mil) 1999: aquisições de bens de capital passam a ter direito a crédito do IVA pago 2012 a 2016: incorporação progressiva dos serviços à base do IVA; eliminação do imposto local sobre serviços; e aumento, de 25% para 50%, na participação de governos locais no IVA 2017: alíquota de 13% é eliminada 2018: alíquotas de 17% e 11% reduzidas para 16% e 10%
11 Mudanças após 1988: China (II) Principais desafios a enfrentar, percebidos pelas autoridades, para aprimorar o IVA Redução do número de alíquotas para duas Redução dos benefícios fiscais do IVA Eliminação do fator de restituição Regularização do pagamento das restituições
12 Mudanças após 1988: Índia (I) MODVAT Passa a ter crédito de imposto para bens de capital 2000 Crédito expandido para outros insumos. Nome mudado para CENVAT Imposto sobre serviços (IS) é criado em 1994 Incidia apenas sobre telecomunicações, seguros e corretagem de ações, com alíquota de 5% A lista positiva cresceu e em 2012, quando já tinha cerca de 120 serviços, foi substituída por uma lista negativa. A alíquota já havia aumentado para 12% Em 2017, quando foi eliminado, a alíquota era 15% Era cobrado pelo método do valor adicionado (diferentemente do ISS brasileiro) O IS sobre serviços que são insumos para produtos manufaturados podiam ser creditados contra débitos de CENVAT e vice versa
13 Mudanças após 1988: Índia (II) 1999 tomada a decisão de adotar um IVA em substituição ao imposto em cascata. Foi criado o Empowered Committee of State Finance Ministers para conceber e gerir o imposto Depois de sucessivos adiamentos, o IVA entra em vigor Necessidade de acordo entre estados e limitações constitucionais afetaram muito a qualidade do IVA (ainda assim muito melhor que a dos impostos substituídos) Base não incluía serviços pois estados não tinham competência para tributá-los 3 alíquotas positivas (12,5%, 4% e, só para ouro, 1%) e isenções para 46 bens, 10 dos quais escolhidos individualmente pelos estados entre os constantes em uma lista e os demais comuns a todos Princípio de destino não pôde ser corretamente implementado pois estados não tinham competência para tributar importações do exterior ou de outros estados (CST cobrado pela união sobre fluxos interestaduais) Estados não concediam créditos de imposto para importações de outros estados
14 Mudanças após 1988: Índia (III) Foi proposto um IVA dual (GST) inspirado no vigente em Quebec e no proposto no Brasil em 1995 (PEC 175/95) 2017 Depois de muitos adiamentos e da passagem da necessária emenda constitucional em 2016, a GST entrou em vigor, substituindo 15 impostos Governo central e estados usam a mesma base 4 alíquotas (5,12, 18 e 28%) mais 2 exclusivamente para ouro e pedras precisas (3 e 0,5%) Limiar: faturamento anual de aproximadamente US$ 30 mil Bebidas alcoólicas excluídas da base (competência exclusiva dos estados) União manteve um imposto seletivo sobre produtos de tabaco e alguns bens de consumo suntuários Princípio de destino Tributação interestadual por procedimento semelhante ao CVAT (modelo barquinho proposto na PEC 175/95) Governo central paga, por cinco anos, compensação aos estados que perderem receita (semelhante ao seguro-receita da Lei Kandir original)
15 Mudanças após 1988: Brasil (I) Certas ações dos Estados pioraram muito (destruíram?) a tributação sobre o valor adicionado estadual CONFAZ praticamente transformado em um fórum para concessão de isenções acordadas por todos os estados Guerra fiscal: isenções a revelia do CONFAZ Substituição tributária abusiva Inúmeras alíquotas Algumas alíquotas absurdamente altas (Rio de Janeiro chegou a ter alíquota efetiva de quase 60% sobre serviços de comunicações!) Não restituição de créditos líquidos de ICMS Principais alterações introduzidas pela L.C. 87/96 (Lei Kandir) Substituiu critério físico de crédito do ICMS por critério financeiro Exonerou os bens de capital Exonerou todas as exportações
16 Mudanças após 1988: Brasil (II) Alterações introduzidas pela Lei Kandir foram parcialmente desfeitas: Bens de capital: crédito de imposto diluído ao longo de 4 anos (ao invés de imediato) Vigência do critério de crédito financeiro sucessivamente postergada (atualmente até 2020) IPI e ISS: nenhuma alteração estrutural importante Invenção brasileira: o IVA semi-cumulativo PIS e COFINS nasceram como tributos em cascata sobre o faturamento e a receita bruta, respectivamente PIS reformado a partir de 2003 e COFINS a partir de 2004 Para algumas atividades (essencialmente os serviços), foi mantida a tributação original Para as demais, foi adotada a tributação do valor adicionado Método de subtração (e não o de crédito fiscal) A partir de 2004, PIS e COFINS passaram a incidir também sobre importações PIS e COFINS não-cumulativos têm alíquotas únicas Aquisições de bens de capital: crédito não é imediato
17 Mudanças após 1988: Brasil (III) Simples Nacional Importante contribuição à destruição da tributação estadual do valor adicionado Legislação do ICMS não prevê um limiar para registro. Na prática, o Simples Nacional, introduzido em 2007, provê um limiar O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido previsto pela Lei Complementar nº 123, de 2006, aplicável às Microempresas e às Empresas de Pequeno Porte São Empresas de Pequeno Porte aquelas com receita bruta anual superior a R$360 mil e igual ou inferior a R$ 4,8 milhões R$ 4,8 milhões equivalem atualmente a cerca de US$ 1,25 milhões. É o limiar de IVA mais alto do mundo A Rússia tem um esquema semelhante ao Simples Nacional. Empresas de Pequeno Porte são aquelas que, além de outras condições, têm receita bruta não superior a RUB 60 milhões (aproximadamente US$ 900 mil). É o segundo mais alto limiar de IVA do mundo. O limiar do IVA de Singapura (terceiro) é SGD 1 milhão (cerca de US$ 730 mil). O do Reino Unido, o mais alto da União Europeia, é 83 mil (cerca de US$ 105 mil) Consequências do Simples Nacional: 1) forte erosão da base do ICMS; 2) grande número de empresas sujeitas a imposto distorcivo (cumulativo)
18 Obrigado
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