História da Instituição Escolar. Proposta de ensino integrado alicerçado em um projeto pedagógico resistente ao Golpe Militar de 1964
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- Ana Clara Sá Leveck
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1 História da Instituição Escolar Proposta de ensino integrado alicerçado em um projeto pedagógico resistente ao Golpe Militar de 1964
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4 Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt 2015 Carlos Antônio Barbosa Firmino Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. F518 Firmino, Carlos Antônio Barbosa História de Instituição Escolar: Proposta de ensino integrado alicerçado em um projeto pedagógico resistente ao Golpe Militar de 1964/Carlos Antônio Barbosa Firmino. Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. ISBN: Escola 2. Professor 3. Educação 4. Ensino-aprendizagem I. Firmino, Carlos Antônio Barbosa. Índices para catálogo sistemático: Educação 370 Professores CDD: 370 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal
5 AGRADECIMENTOS A produção do conhecimento em educação não se faz isoladamente, sem diálogo e discussão com as pessoas que acreditam que ela possa ser facilitadora de transformações sociais. Assim, para a elaboração dessa obra que registra a história da escola que foi responsável por parte significativa de nossa formação, contamos com a colaboração de várias pessoas e, especialmente a algumas delas gostaríamos de agradecer. Ao Professor Doutor Edilson Fernandes de Souza, nosso orientador de doutoramento, pela experiência compartilhada e pela dedicação em nos conduzir nesse empreendimento de pesquisa. Ao Professor José Carlos de Souza Araújo da Universidade Federal de Uberlândia que colocou à nossa disposição um vasto material de pesquisa sobre o processo educacional no município de Uberlândia. À Professora da Universidade Federal da Paraíba, Ana Paula Pontes que, apesar de não militar no campo da história da educação, contribuiu com suas críticas pedagógicas na escrita e na conclusão desta obra. Aos nossos entrevistados que colaboraram de forma unilateral com suas memórias e documentos para a elucidação de nossas questões de pesquisa. Por último, à minha família, especialmente minhas filhas Isadora e Anaisa, pela ausência nos momentos de dedicação a este trabalho.
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7 Sumário Apresentação...11 Introdução Origem do problema O contexto do problema O problema A abordagem teórico-metodológica Os procedimentos adotados...60 CAPÍTULO I 1. O espectro da educação no brasil da década de 1960 a Categorias determinantes da análise de uma educação contra-hegemônica Um currículo escolar de duas faces antagônicas: a que reproduz e a que emancipa...74 CAPÍTULO II 1. História da Escola Estadual Professor José Ignácio de Sousa na década de 60: da origem à estruturação do projeto A Escola Estadual Professor José Inácio de Sousa: como tudo começou? A consolidação da identidade nominativa: a era Maria Conceição Proposta de uma identidade escolar progressista: a era Miracy Gustin A operacionalização da proposta pedagógica da escola inovadora: o trabalho no cotidiano escolar com os temas-problemas...147
8 1.5 A equipe pedagógica: uma escolha ideológica? A vertente profissionalizante: um modelo pedagógico inovador? Os primeiros passos de uma proposta inovadora: a escola num contexto ampliado Um olhar sobre a gestão: administração identificada com o controle e a supervisão ou com a autonomia do trabalho docente? A continuidade da proposta implantada: a manutenção de uma tradição familiar em educação CAPÍTULO III 1. História da Escola Estadual Professor José Ignácio de Sousa nas décadas de 70 e 80: a consolidação do projeto Continuidades e rupturas de um projeto inovador: a era Normy Barbosa A configuração da gestão escolar: avanço ou retrocesso? Uma nova equipe de trabalho: composição e critérios de escolha A força do modelo pedagógico hegemônico: mudanças significativas? A consolidação do Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Professor José Inácio de Sousa: a recontextualização do projeto original A vertente profissionalizante: uma concepção articulada entre formação geral e profissional? Projetos que fizeram diferença?...325
9 CAPÍTULO IV 1. História da Escola Estadual Professor José Ignácio de Sousa nas décadas de 70 e 80: a derrocada do projeto O fim de uma escola de identidade inovadora: interferência política e resistência confirmada CAPÍTULO V 1. Análise conclusiva sobre a construção da história da Escola Estadual Professor José Ignácio de Sousa nas décadas de 70 e CAPÍTULO VI 1. Uma pedagogia propositiva de ensino integrado contra-hegemônico a partir da história da Escola Estadual Professor José Inácio de Sousa Forma da organização curricular Matriz curricular Plano de implantação da proposta Estrutura e funcionamento Bibliografia...405
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11 APRESENTAÇÃO Como o meu tempo como professor da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica me tornou mais exigente, sinto nesse momento em que publico este livro, fruto do meu trabalho de pesquisa de doutoramento, a necessidade de assinalar, resumidamente, meu percurso nessa empreitada de ousadia, mas também de muita complexidade e de desgastes, que foi o resgate das memórias e, por meio delas, a escrita da história da Escola Estadual José Inácio de Sousa EEPJIS, situada na cidade de Uberlândia, estado de Minas Gerais. Quando relembramos o passado por meio de nossas memórias procuramos, segundo Le Goff, os esquecimentos e os silêncios da história com vistas à confirmação do que fomos e do que somos, isto é, procuramos questionar as lembranças de nossa caminhada. Mas como ressalta a poetisa Cora Coralina o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher, consolido o meu percurso investigativo pela escrita da história da EEPJIS ciente que fiz o melhor que pude em prol da semeadura de um projeto político e pedagógico escolar alicerçado na perspectiva de uma formação humana, emancipatória, capaz de preparar os indivíduos para intervirem historicamente na sociedade em que vivem, exercendo um compromisso contra a exploração e o controle da natureza e dos seus semelhantes. Por certo, se um projeto de humanização não está presente na educação, então não é educação. Nesse sentido, para que ela seja exercida em sua plenitude, é necessário que primeiro entendamos o que é ser humano, o que ele foi, está sendo e deverá ser, pois, segundo Lent decifrar o mistério que nos torna humanos é o primeiro passo para impedir que um dia possamos ser desumanizados. Se estamos indo nessa direção por meio do ensino que oferecemos aos nossos alunos, isso já é humano. 11
12 Carlos Antônio Barbosa Firmino Sobre o assunto, Charles Chaplin no filme O Grande Ditador, de 1939, já nos advertia: Pensamos em demasia e sentimos pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido. Para ilustrarmos como a educação pode contrariar a premissa de formação humana, citamos o relato de um professor do doutorado na UFPE em ocasião de sua participação numa banca de defesa de tese. Disse ele: Um menino de dez anos, baleado no estômago e agonizando, dá entrada num hospital público e é atendido por um aluno residente do curso de medicina. A criança assustada, tremendo de medo sobre uma maca, se reporta ao médico estudante: Doutor, eu estou com medo de morrer! O senhor pode segurar a minha mão? O médico imediatamente responde: Para quê! Essa não é a mão que você segurava a sua arma? Esse fato, de tamanha frieza, demonstra a situação deturpada em que se encontra a sociedade contemporânea e que a escola reproduz. Uma sociedade do simulacro, do efêmero, do tudo superficial, descartável, substituível, inclusive as relações humanas. Nela, os indivíduos navegam conforme seus próprios interesses. Essa necessidade de substituição constante das coisas, esse consumo desenfreado, é que tem comandado, infelizmente, as ações humanas e tornado o mundo fragmentado e sem sentido. Conforme assinala Palangana, as imagens que estimulam o consumo acompanham o indivíduo do nascimento à morte. As palavras de ordem nessa sociedade não são mais as guardadas nos livros santos, tampouco as de escritores seculares, mas sim as marcas comerciais de produtos prontos para o consumo. Dentro dessa perspectiva, no projeto recuperado da História da Escola Estadual Professor José Inácio de Sousa, de onde brota a ética e a sensatez na formação, seria sempre desaprovador e ontologicamente incompreensível para seus educadores que um aprendiz a médico que estuda para salvar vidas não 12
13 História de Instituição Escolar tenha um mínimo de sensibilidade para entender que aquela criança já nasceu condenada à morte, não pelas enfermidades naturais, mas pela crueldade da ordem social vigente. Do médico residente a criança queria apenas a atenção, o carinho, que a sociedade não lhe deu durante sua breve vida e que ele, que estudava para salvar vidas, antagonicamente lhe estava negando no seio de morte. Destarte, como assinala Chanel, para ser insubstituível na vida, você precisa ser diferente, quando me apossei dessa crença, desvelada na pesquisa, de que há possibilidade de realizar uma educação que se contraponha a essa tendência de formação individualista e economicista, que estimule as escolas a adotar um compromisso com a construção de um saber escolar mais vinculado com o desenvolvimento da inteligência e da independência do pensamento dos alunos, idealizei uma proposta pedagógica de ensino médio integrado ao ensino técnico profissionalizante e a apresento no capítulo final do livro que visa, por meio da transdisciplinaridade e da superação das disciplinas escolares, uma formação que preserve o caráter espiritual, filosófico, metafísico, privilegie nossas escolhas e desnude os arranjos sociais existentes, disseminadores de atitudes machistas, racistas e de exploração humana. Nela, rechaço a formação controlável, que se transforma a si mesma em norma e em qualificações como uma cultura geral degenerada. A escola que ela almeja não deve perder jamais seu caráter de espontaneidade para aliar-se aos mecanismos de controle social da natureza. Deve ser construída coletivamente para que, conforme ressalta Martins, os professores orientem o seu trabalho e identifiquem, com maior clareza, o que sustenta os seus sentimentos e a opção política que embasa o seu ato pedagógico. Nessa perspectiva, prezados leitores, consubstanciado nos ensinamentos do filósofo e poeta romano Cícero de que a minha consciência tem mais peso para mim do que a opinião do mundo inteiro, destaco a responsabilidade profissional que tenho como 13
14 Carlos Antônio Barbosa Firmino servidor público que preza a obrigação velada com a alteridade, com o sonhar, com certeza, um mundo melhor e mais feliz, sem miséria e sem ignorância aos nossos semelhantes, para anunciar convicto, que todas as experiências recuperadas na história de vida dos educadores e alunos da EEPJIS nos serão proveitosas, todos os caminhos nos levarão ao enriquecimento do nosso aprendizado como seres justos e socialmente planetários. Esse será, sem sombra de dúvidas, o nosso maior reconhecimento. Por isso, não devemos entender o mundo apenas pela razão. A sensibilidade e a espiritualidade podem ajudar-nos a desnudar o aviltamento político que envergonha nossa sociedade pelos escândalos de colarinho branco administrados pelos que outrora os condenavam, pela corrupção galopante, pelo futuro que queremos construir melhor, mais livre, democrático, solidário, próspero e principalmente justo. Pode até ser um sonho, movendo nossos sentimentos de confiança e de esperança. Ainda que seja, sempre vale sonhar. Sonhar com a transformação dessa sociedade consumista, produzida sob as distorções das etnias, nutrida pelos privilégios, pelo paternalismo do compadrio, náufraga da história, pressupõe riscos. Mas como nos ensina Carnegie, você tem que tentar a sua sorte! A vida é feita de oportunidades. O homem que vai mais longe é quase sempre aquele que tem coragem de arriscar. Foi essa coragem de arriscar que me moveu e não me deixou sucumbir diante das dificuldades para persistir e reivindicar aqui, por meio da tese de um ensino integrado sem disciplinas, a possibilidade de mudança de uma concepção de educação tradicional e reprodutivista para uma progressista e histórico-crítica. Ungido pela consciência dessa formação integral e cidadã que proponho, desejo que ao final da leitura cada um possa refletir sobre as condições de se erigir uma nova escola geradora de felicidade, de resgate de projetos alinhados com os encantamentos da simplicidade da natureza: o cheiro da terra molhada, o desabrochar das flores, o canto dos pássaros, o voo 14
15 História de Instituição Escolar das borboletas, o choro de uma criança, esses pequenos milagres que nos cercam dia a dia. Desejar, sobretudo, que a formação para o trabalho seja de não alienação com os preceitos do mercado e dos arranjos distorcidos que ele subsidia e possa fomentar a realização das promessas da liberal democracia de uma humanidade sem status e sem exploração. Terminamos com as palavras de Confúcio: examina bem os teus pensamentos e, se os vires puros, puro será também o seu coração. Mas concordando com Eça de Queiroz de que é também o coração que faz o caráter, com o coração repleto de pensamentos saudosistas sobre uma educação sustentada na ética da humanização, desejo-lhes uma leitura reflexiva sobre a história de um projeto político e pedagógico sustentado no pensamento divergente que estimulou a criatividade e a capacidade de fazer caminhar o conhecimento com autonomia. Um projeto que emoldurou no tempo uma série de alternativas para dar respostas a estas questões educacionais intermitentes que historicamente nunca tiveram solução. E sabemos, conforme ressalta Silva, que é no encontro da teoria com a História que residem nossas esperanças de uma educação e de uma sociedade mais democrática. Advirto, porém, que sem que façamos uma reflexão profunda nas nossas escolas sobre este estado coisificado pelo espírito de feitiço da mercadoria, que inculca nas pessoas a necessidade ilimitada do consumo desnecessário, da efemeridade dos objetos e do pensamento universal e homogêneo, continuaremos investindo indefinidamente em propostas educacionais que nunca alcançarão a qualidade de ensino tão propalada e, por conseguinte, uma formação ética que resgate nos indivíduos o dom da solidariedade e lhes devolva uma racionalidade verdadeiramente desinteressada e humana. Carlos Antônio Barbosa Firmino 15
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