Palavras-chave: Hanseníase, Instituição de Longa Permanência do Idoso, Direitos Humanos
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- Alfredo Vilaverde Garrau
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1 O CONTEXTO DA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS ILPI DO SÃO JULIÃO NA GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DE PESSOAS QUE ADOECERAM COM HANSENÍASE. Walquiria da Cruz Batista Lima 1 Priscilla Fernandes Fagundes 2 Estela Márcia Rondina Scandola 3 RESUMO: Introdução: Este artigo contextualiza a garantia dos direitos humanos de pessoas que adoeceram com hanseníase em tempos de internação compulsória e, que, atualmente são atendidos na ILPI do São Julião. É importante na medida em que o Estado brasileiro foi o principal violador de direitos, posto que a segregação impediu o convívio social e impôs a separação familiar, limitando as relações sociais ao hospital e aos que dele fazem parte. A Constituição de 1988 delimitou os papeis das políticas de saúde e de assistência social coexistindo novas responsabilidades na proteção e garantia dos direitos humanos e, nesse caso, os sujeitos que tiveram hanseníase. As discriminações acerca das pessoas acometidas pela hanseníase, presentes na sociedade e nas políticas públicas, demonstram que não houve a mudança cultural sobre a doença e a relação com as pessoas, mantendo-se o estigma. Objetivo: Contextualizar a ILPI do São Julião na garantia dos direitos humanos de pessoas que adoeceram com hanseníase. Materiais e Métodos: Pesquisa qualitativa de base documental de normas, leis, documentos institucionais, diários de campo e trabalhos de conclusão de curso do Serviço Social. Análise na perspectiva sócio-histórica. Resultados: O ILPI existente no interior do Hospital São Julião foi constituído a partir da campo de atenção que era da política de saúde. O reordenamento das práticas constitui um processo longo na medida em que os usuários desse serviço também vivenciam outros tipos de discriminação advindos da hanseníase. Conclusões: A definição dos papéis das políticas de saúde e de assistência social foi um marco na garantia dos direitos humanos das pessoas vitimadas pela hanseníase no Brasil. Embora os direitos dos usuários do ILPI estejam garantidos nas normativas, o estigma da doença ainda é um fator impeditivo do acesso aos direitos, especialmente no convívio social. Palavras-chave: Hanseníase, Instituição de Longa Permanência do Idoso, Direitos Humanos 1 Assistente Social, especializanda na Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital São Julião. Emeio: wal.quirialima@hotmail.com 2 Assistente Social especializanda na Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital São Julião. Emeio: priscilla_assistentesocial@hotmail.com 3 Doutora em Serviço Social, tutora na REMUS/UFMS/HSJ/Escola de Saúde Pública. Emeio: estelascandola@yahoo.com.br
2 2 GRUPO DE TRABALHO: Políticas Públicas e Direitos Humanos 1. INTRODUÇÃO Este artigo contextualiza a garantia dos direitos humanos de pessoas que adoeceram com hanseníase em tempos de internação compulsória e, que, atualmente são atendidos na ILPI do São Julião. O Estado brasileiro, na política de saúde para a hanseníase, foi o principal violador de direitos, posto que a segregação impediu o convívio social e impôs a separação familiar, limitando as relações sociais ao hospital e aos que dele faziam parte. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) foi importante para a denúncia das condições de discriminação e não garantia de direitos. No entanto, a sociedade brasileira não conseguiu reparar os danos profundos causados às pessoas atingidas pela epidemia. Com a Constituição de 1988 que delimitou os papéis das políticas de saúde e de assistência social, explicitaram-se novas responsabilidades na proteção e garantia dos direitos humanos e, nesse caso, os sujeitos que tiveram hanseníase. Com a criação do Sistema Único de Assistência Social, a tipificação dos serviços previu a constituição das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e, com isso, passou-se a atender na concepção de garantia de direitos as pessoas que tiveram os seus violados. As discriminações acerca das pessoas acometidas pela hanseníase, presentes na sociedade e nas políticas públicas, no entanto, demonstram que não houve a mudança cultural substancial sobre a doença e, portanto, ainda são afetadas pelo estigma impingidos desde os tempos da internação compulsória. 2. OBJETIVO Contextualizar a ILPI do São Julião na garantia dos direitos humanos de pessoas que adoeceram com hanseníase. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Pesquisa qualitativa de base documental de normas, leis, documentos institucionais, diários de campo e trabalhos de conclusão de curso do Serviço Social. Análise na perspectiva sócio-histórica. 4. RESULTADOS A década de 1930 foi importante para o Brasil em vários aspectos históricos de política pública e, para a política de saúde, um dos fatos mais demarcatórios do que estabelecia como política pública foi a lei de internação compulsória para os leprosos. Como afirmam Rocha e Alfeu (2006, pp ), a lei foi proposta após a Revolução de
3 e não importava as circunstâncias que se encontrava o paciente ou os métodos usados para convencê-los. Muitos sucumbiam a falsas promessas de cura feitas por médicos em outros hospitais. A política da época também previu a construção dos asilos-colônia em diversas regiões do país e o São Julião é resultante daquele período. Inaugurado em 1941, pessoalmente pelo então Presidente Getúlio Vargas, constam nos registros da Instituição que embora pomposa cerimônia [...] os primeiros 21 internos que ali estavam não puderam participar da festa. Foram então obrigados a se contentar observando de longe, enfiados no mato (ROCHA e ALFEU, 2006, p.17). O autor ainda afirma que muitos que estavam na festa sabiam que seria o lugar dos esquecidos. O São Julião está localizado na região norte de Campo Grande, em uma área de 250 hectares a 15km de distância do centro da cidade e era considerado afastado o suficiente da cidade para que não houvesse o contágio em outras pessoas, como também para facilitar a vigilância e conter as fugas no período da internação compulsória. Como afirmam Rocha e Alfeu (2006), no caso de algum paciente do hospital que desejasse fugir para ir a Campo Grande, este seria caçado como um animal e provavelmente estaria de volta na mira de um revólver. A violência era resolvida com segurança armada. Ali as leis eram escritas na base do tiro e ameaças. O medo acompanhava médicos, enfermeiros, guardas (que também eram internos) e pacientes daquele hospital que havia se tornado uma cidade fantasma. (ROCHA E ALFEU, 2006, p.29) Até os anos de 1970 foi gerido pelo Governo Federal ( ) e Estadual ( ) e, a partir dessa década, com a chegada da Operação Mato Grosso, composta de religiosos italianos, o hospital passou a remodelar-se não somente do ponto de vista dos seus prédios (em escombros) como também o trabalho com os internados com a doença lepra. O advento da poliquimioterapia (PQT) nos anos de 1980 também trouxe mudanças importantes na atuação do já denominado Hospital São Julião, cuja mantenedora é a Associação de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos (HOSPITAL SÃO JULIÃO, S/D). Atualmente, o hospital está cercado por bairros e conjuntos habitacionais da periferia e convive com as contradições da história segregacionista da lepra e a transformação em hospital de referência para diferentes especialidades. Com foco na humanização dos serviços, tem investido na transformação para hospital-escola com as Residências Médicas, Residência Multiprofissional em Saúde em Cuidados Continuados Integrados (CCI) e cenário de práticas para diferentes cursos universitários e
4 4 profissionalizantes (UFMS, 2013). Além disso, mantém o histórico de referência no atendimento ambulatorial de hanseníase e internação em casos mais graves. Com o advento da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), as políticas sociais passaram a responder com setores específicos e, com a designação da seguridade social, a saúde, a assistência social e a previdência social passaram a ter responsabilidades específicas. No caso da AARH passou-se a reordenar os serviços com vistas a atender as configurações do campo da saúde e do campo da assistência social, especialmente visando atender as pessoas que, acometidas pela lepra/hansen e que tiveram os direitos sociais aviltados pela política segregacionista do Estado brasileiro. É a partir da tipificação dos serviços socioassistenciais que se constituiu a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) (BRASIL, 2009), cujos participantes são onze (11) pessoas que, no mesmo espaço físico do Hospital São Julião, são destinatários da Política de Assistência Social. (BRASIL, 2005) O ILPI existente no interior do Hospital São Julião foi constituído a partir da campo de atenção que era da política de saúde, vinculado a Secretaria de Municipal de Assistência Social (SAS). O reordenamento das práticas constitui um processo longo na medida em que os usuários desse serviço também vivenciam outros tipos de discriminação advindos da hanseníase. A Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) acolhe os idosos com 60 anos ou mais, ambos os sexos, com ou sem dificuldades, independente de graus de dependências. De natureza para longa permanência à pacientes abandonados, em que foram esgotadas todas as possibilidades de retorno ao convívio familiar. Trata-se de pacientes que tiveram a doença e que foram internados compulsoriamente em hospitais no período de 1920 até (HOSPITAL SÃO JULIÃO, S/D) A ILPI da AARH acolhe e garante a proteção integral a hansenianos com ou sem vínculo familiar, no intuito de garantir aos idosos que passaram pela internação compulsória e que se encontram fora do convívio e vínculo familiar, a proteção integral por meio de respeito a individualidade, estrutura física adequada, convivência social com cuidador, funcionários e demais internos. 5. CONCLUSÕES O ILPI existente no interior do Hospital São Julião foi constituído a partir da
5 5 campo de atenção que era da política de saúde. O reordenamento das práticas constitui um processo longo na medida em que os usuários desse serviço também vivenciam outros tipos de discriminação advindos da hanseníase. É possível garantir que, ao abrigar as pessoas que foram afetadas pela doença lepra/hansen, realiza-se parte da reparação dos direitos humanos cujo principal violador foi o Estado brasileiro por meio de sua política segregacionista. A articulação entre o SUS, SUAS e Previdência Social podem efetivar direitos que foram violados, mas é no campo das políticas de educação e cultura que poder-se-á enfrentar o estigma que mantém e aprofunda a discriminação. No entanto, nenhuma política será eficaz se o mando constitucional de garantia de dignidade não for efetivado com a participação dos próprios cidadãos e cidadãs em condições de falarem por si próprios. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social PNAS/2004 e Norma Operacional Básica NOB/SUAS. Brasília/DF: p.. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS. Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Resolução Nº 109, de 11 de Novembro de Brasília/DF: p. HOSPITAL SÃO JULIÃO. História de Solidariedade. S/D. Disponível em: < Acesso em: 12 Agosto de ROCHA, D e ALFEU, C. Confissões para o esquecimento.. Campo Grande, MS Hospital São Julião. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL. Ministério da Educação. Projeto Pedagógico Programa de Residência Multiprofissional ou em área Profissional da Saúde. Residência Multiprofissional de Cuidados Continuados Integrados. UFMS: HSJ, 2013.
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