O ESTÁGIO CURRICULAR EM GEOGRAFIA: OS CAMINHOS DA APRENDIZAGEM DA PROFISSÃO DOCENTE

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1 O ESTÁGIO CURRICULAR EM GEOGRAFIA: OS CAMINHOS DA APRENDIZAGEM DA PROFISSÃO DOCENTE Profª Drª Maria Edivani Silva Barbosa Universidade Federal do Ceará RESUMO Este trabalho tem como objeto de análise o estágio curricular realizado no curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará. O Estágio I acontece no quinto semestre do curso e tem como proposta o conhecimento do espaço escolar mediante pesquisa. Objetivou-se analisar o estágio curricular e a escola como espaços para a aprendizagem da profissão docente. O objetivo específico foi identificar as principais aprendizagens dos licenciandos em contextos reais de prática. As coordenadas teóricas estão fundamentadas em estudos de Pimenta e Lima (2009), Lima (2012), Tardif (2012), que discutem sobre estágio, pesquisa na formação docente e saberes da experiência. A metodologia fundamentou-se na abordagem qualitativa com a análise de dados descritos pelos licenciandos nos relatórios de estágio. Conclui-se que as aprendizagens sobre a profissão docente, quando situadas no chão da escola, são diversas, pois provêm das mais diferentes fontes, quais sejam: da observação do espaço escolar, do diálogo com os escolares, da leitura dos documentos das escolas, das leituras dos textos acadêmicos e, em especial, do diálogo proporcionado nos encontros de mediação. Os licenciandos desenvolvem postura e habilidades de professor pesquisador; compreendem o estágio como momento de reflexão da prática docente. A trajetória do licenciando é cheia de incertezas sobre a docência, mas a partir do primeiro estágio ele começa a pensar a sua identidade profissional, às vezes para afirmar a escolha, às vezes para repensar. No chão da escola, o estagiário ressignifica sua identidade. Neste momento, os estagiários refletem, problematizam, ensinam, aprendem e propõem mudanças para a escola e o ensino que nela se realiza. Palavras-chave: Estágio Curricular. Profissão Docente. Aprendizagens. 1 Introdução Os estágios curriculares oferecem oportunidade de aproximação dos licenciandos com o futuro campo de trabalho, bem como permitem articular os saberes da prática e da teoria, ampliando a compreensão das vivências no âmbito da escola e da Universidade. Nóvoa (1995, p.26) compartilha a ideia de que A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando. Assim, colocamos o estágio curricular como objeto de análise. Como professora orientadora de dois estágios no curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizamos uma análise dos aprendizados proporcionados pelos 5097

2 2 estágios. Os Estágios Curriculares Supervisionados em Geografia I e IV acontecem no quinto e no oitavo semestres, possuem uma carga horária de 80 h/a e 144h/a, respectivamente. Nosso estudo, porém, está focado no primeiro Estágio realizado no período de O Estágio I tem uma proposta de análise, por meio da pesquisa, do espaço escolar e sua relação com a Geografia no Ensino Fundamental. Nossas preocupações estão centradas em dois aspectos: Como o estágio curricular contribui para a aprendizagem da profissão docente? Quais as principais aprendizagens de um estágio realizado com pesquisa? Problematizar a escola, mediante a pesquisa no estágio, é um dos caminhos para tecer reflexões acerca da escola, das práticas de ensino, dos trabalhos dos professores de Geografia perante os desafios impostos pela sociedade contemporânea. Assim, propomos como objetivo geral analisar o estágio curricular e a escola como espaços para a aprendizagem da profissão docente. O objetivo específico foi identificar as principais aprendizagens dos licenciandos em contextos reais de prática. No que se refere às questões teórico-metodológicas, este estudo está fundamentado numa abordagem qualitativa, pois tem como fonte a análise dos relatórios de estágios dos licenciandos. Portanto, são dados designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas [...] (BOGDAN e BIKLEN (1994, p.16). Para a compreensão desses dados, realizamos levantamento bibliográfico de autores como Pimenta e Lima (2009), Lima (2012), Tardif (2012), que discutem sobre estágio, pesquisa na formação docente e saberes da experiência. As aulas teóricas dos estágios ocorreram às segundas-feiras no horário de 14h-16h, contabilizando 32 horas. Os 17 licenciandos desenvolveram seus estágios em escolas das redes de Educação Básica do Município de Fortaleza-CE e Região Metropolitana somando 48 horas de estágio nas escolas, para cada licenciando. O texto está organizado em quatro seções. Na segunda sequente à Introdução para balizar a análise em questão, sistematizamos as concepções de estágio e de professor; na terceira, procedemos com a análise dos aprendizados dos licenciandos; na quarta, incluímos as Considerações Finais e, por fim, as Referências. 2 Estágio: a pesquisa na formação docente 5098

3 3 A análise do espaço escolar, realizada durante os estágios curriculares, constitui importante etapa da prática dos cursos de licenciatura, porque propicia aos licenciandos e professores orientadores problematizarem este espaço e dialogarem com os professores supervisores no sentido de levantar questões a respeito da prática de ensino de Geografia, reveladas no contexto concreto das escolas. Essa prática apresentase como uma possibilidade de busca por soluções para a escola e para o ensino que nela se realiza por meio do diálogo. Nesse sentido, Lima destaca a importância do professor da escola que recebe o estagiário assegurando que o [...] professor da escola de ensino fundamental e médio junto aos estagiários é de essencial importância. Estes profissionais, em seu trabalho solitário, muitas vezes se apoiam nos estagiários e assim, estabelecem com eles uma relação de troca [...] (2012, p.74). Viabilizar o diálogo entre os sujeitos da escola e da universidade sugere transpor a ideia da formação técnica dos professores, compreendida muitas vezes como uma formação prática apreendida através de modelos prontos e acabados. A perspectiva de estágio da qual compartilhamos amplia a concepção de estágio compreendida neste estudo como atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis (PIMENTA e LIMA, 2009, p.45). O estágio, assim concebido, atribui especial atenção à pesquisa, porque é por meio desta que os licenciandos problematizam o espaço escolar e refletem sobre a prática docente, ao mesmo tempo em que se preparam para a inserção profissional. A pesquisa, segundo explicam as referidas autoras, Como método de formação [...] se traduz na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisadores a partir das situações de estágio [...] (Idem, p. 46). Os licenciandos, munidos dos instrumentos de pesquisa, são orientados a conversar com os professores supervisores, no sentido de que estes venham partilhar suas experiências e ajudá-los na realização da prática, fazendo-os mobilizar estes saberes experienciais como forma de superar os desafios a serem enfrentados na escola. Segundo Tardif (2012, p.52), [...] os professores são levados a tomar consciência de seus próprios saberes experienciais, uma vez que devem transmiti-los e, portanto, objetivá-los em parte, seja para si mesmos, seja para seus colegas. Para além dessa concepção de estágio, a ocasião também nos oferece a oportunidade de rever a concepção de professor, que não mais se encerra naquele profissional que se apropria de um conhecimento produzido por outro e repassa aos alunos no contexto da sala de aula. A nossa análise reporta-se à concepção do 5099

4 4 professor como profissional reflexivo, que valoriza os saberes da prática docente (SCHÖN, 1992 apud PIMENTA e LIMA, 2009, p. 47). Com isso, abre-se a perspectiva [...] para a valorização da pesquisa na ação dos profissionais, colocando as bases para o que se convencionou denominar professor pesquisador de sua prática. (Idem, p.48). 3 Os licenciandos e a aprendizagem da profissão docente Nesta seção, sistematizamos alguns dos aprendizados dos licenciandos proporcionados pelo Estágio I. Na análise dos conteúdos dos relatórios, procuramos analisar a concepção de estágio e de professor que tinham quando iniciaram o estágio e, por conseguinte, as aprendizagens que obtiveram mediante a proposta de estágio com pesquisa, tendo a escola e o ensino de Geografia como temática de estudo. O primeiro dos aprendizados está associado à desconstrução que detinham sobre estágio considerado de forma unânime como a hora da prática. Isso se revela em um dos depoimentos relatados nos seguintes termos: [...] através de observação e pesquisa em uma escola da rede municipal de ensino, foi de suma importância, pelo fato de possibilitar o estudo e construção de ideias, baseando-se em autores que discutem a Geografia escolar e estágio supervisionado. Através destes textos, pôde-se apreender uma nova perspectiva de estágio, que foge à hora da prática. Foi-nos permitido, através dos encontros de mediação, perceber o elo existente entre a teoria e a prática. Nessa perspectiva, o professor não é mero reprodutor de ideias; ele é um profissional crítico, reflexivo, transformador. (RRDS. Aluno do curso de Geografia Licenciatura, ). Outro licenciando coloca o Estágio num patamar relevante para a formação docente na perspectiva da pesquisa: Através desta pesquisa é possível pôr em evidência a importância do Estágio na formação dos alunos de licenciatura, a abordagem investigativa da pesquisa inserida na realidade escolar, proporciona a compreensão da realidade escolar e o diálogo entre Universidade, Escola e Comunidade. Transformando a linguagem acadêmica em proposições para melhoramento da escola, se constata a importância desse componente curricular na formação de educadores. (IRB. Aluno do curso de Geografia Licenciatura, ). Dentre os vários aprendizados, destacamos a postura e as habilidades de professor pesquisador aguçado pelo olhar investigativo na procura por problematizar as 5100

5 5 situações escolares. Isso pode ser revelado em todas as descrições. Como representativo dessa aprendizagem, citamos o relato de uma das licenciandas: A proposta de pesquisa no [...] estágio I foi de extrema importância para minha formação, pois se revelou como possibilidade real e desmistificadora da ideia de que o professor não faz pesquisa, e que na verdade existe uma dicotomia entre a teoria do que se é ensinado e a realidade que vivenciarei enquanto futura docente de Geografia. (GCSF. Aluna do curso de Geografia Licenciatura, ). Ademais, as aprendizagens sobre a profissão docente, quando situadas no chão da escola, são diversas, pois provêm das mais diferentes fontes, quais sejam: da observação do espaço escolar, do diálogo com os escolares, da leitura dos documentos das escolas, das leituras dos textos acadêmicos e, em especial, do diálogo proporcionado nos encontros de mediação. 4 Considerações Finais O estágio apresenta-se com diversas possibilidades para aprendizagem da profissão docente, porque está fundamentado na reflexão da prática. A trajetória do licenciando é cheia de incertezas sobre a docência, mas, a partir do primeiro estágio, ele começa a pensar a sua identidade profissional, às vezes para afirmar a escolha, às vezes para repensar. É no chão da escola que o licenciando ressignifica essa identidade. Nesse momento, os estagiários refletem, problematizam, ensinam, aprendem e propõem mudanças para a escola e o ensino que nela se realiza. Referências BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto/Portugal: Porto Editora, LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e aprendizagem da profissão docente. Brasília: Liber Livro, NÓVOA, Antônio. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e a sua formação. Tradução Graça Cunha, Cândida Hespanha, Conceição Afonso e José Antônio Sousa Tavares. Lisboa, Portugal: Publicações Dom Quixote, p PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. 4. ed. São Paulo: Cortez,

6 6 TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,